INTRODUÇÃO
A Medicina Intensiva, é uma especialidade multidisciplinar e interprofissional, que está orientada para o cuidado e tratamento de pessoas, com ou em risco de desenvolver disfunção orgânica aguda, que implique risco de vida. Recorre a um conjunto de tecnologias de suporte à falência de vários sistemas corporais, particularmente, os sistemas pulmonar, cardiovascular e renal1.
Nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), o desmame da Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) é uma preocupação dos profissionais responsáveis pelos cuidados ao doente crítico. Cada vez que um Desmame Ventilatório (DV) é atrasado, os custos e o risco de complicações provenientes da VMI aumentam. Noutra perspetiva, um DV prematuro, também pode colocar em causa a segurança do doente e aumentar o risco de reintubação. O tempo gasto neste procedimento, é responsável por 40% do tempo total do doente que está sob suporte ventilatório. Daí ser essencial otimizar o desmame da ventilação mecânica invasiva2.
Para que o doente tenha condições de efetuar o DV adequado, é necessário que este apresente: nível de consciência, grau de colaboração, estabilidade hemodinâmica, boa perfusão tecidual, independência de vasopressores (doses baixas e estáveis são toleráveis) e ausência de insuficiência coronária descompensada ou arritmias com repercussão hemodinâmica. Além disso, deverá ter adequadas trocas gasosas [PaO2(Pressão Parcial de Oxigênio) > 60 mmHg com FiO2(Fração Inspirada de Oxigênio) < 0,4 e PEEP (Pressão Expiratória Final Positiva) ≤ 5 a 8 cmH2O], ser capaz de iniciar os esforços inspiratóriose evidenciar capacidade de mobilizar e eliminar as secreções3.
Uma forma de facilitar o DV ou evitar a falha deste, em doentes que requerem uma ventilação mecânica prolongada (VMP), é o uso da traqueostomia. Esta, para além de diminuir as complicações associadas à presença de um tubo endotraqueal de forma prolongada (pneumonia associada ao ventilador, sinusite, danos na traqueia e laringe), permite um acesso mais eficaz às vias aéreas e diminui a resistência destas; facilita o acesso mais eficaz e a eliminação de secreções brônquicas; reduz o trabalho respiratório e diminui a resistência das vias aéreas; melhora o conforto do doente, diminuindo a necessidade de sedação e promove a continuidade de cuidados dentro e fora da UCI4.
O desmame de doentes traqueostomizados, de uma VMP, não se traduz apenas num desafio, mas também em grandes custos financeiros, estando associada a mortalidade e morbilidade significativas, que aumentam com o período de VMI. Estes doentes, representam 6-10% de todos aqueles que estão ventilados, consumindo 37 a 50% dos recursos de uma UCI5.
Mais recentemente, foi desenvolvida uma tecnologia que permite fornecer ao doente oxigénio, a partir de um sistema de alto fluxo por meio de cânula nasal, como meio alternativo à oxigenoterapia convencional. Esta foi denominada de Oxigenoterapia de Alto Fluxo por Cânula Nasal (ONAF), amplamente aceite, melhorando a hipóxia e o prognóstico dos doentes com Insuficiência Respiratória Aguda Hipoxémica (IRAH)2. Fornece ao doente concentrações de oxigénio mais elevadas, que as técnicas convencionais de oxigenoterapia6. Tem sido utilizada no período pós-extubação em doentes ventilados e após cirurgia cardiotorácica. Para além do fornecimento por cânula nasal, esta técnica de alto fluxo, pode ser implementada através de traqueostomia, assumindo a designação de Oxigenoterapia de Alto Fluxo por Traqueostomia (OTAF)7.
A ONAF, tem sido associada à menor necessidade de entubação endotraqueal, baixa mortalidade e à redução do risco de admissão e tempo de permanência nas UCI, baixas taxas de reintubação por IRAH e redução de complicações relacionadas com a VM6. Fisiologicamente, esta aumenta o volume pulmonar expiratório final, devido à geração de pressão positiva dependente dos fluxos utilizados. O alto fluxo contínuo (até 60l/min), com um FiO2que pode variar de 21 a 100%, por sua vez, promove a eliminação do dióxido de carbono das vias respiratórias superiores, reduzindo o espaço morto anatómico e o trabalho respiratório. A própria humidificação (44 mg H2O/l) e aquecimento (entre 31 e 37°C) ativos e a interface confortável, melhoram o desconforto provocado pela secura das vias aéreas. Esta humidificação aumenta o conteúdo de água do muco, facilitando assim a remoção das secreções, evitando simultaneamente a dissecação e lesão epitelial, com o consequente aumento do conforto para o doente8.
Frequentemente utilizada nos últimos anos e com sucesso no desmame de doentes sob VMI, a ONAF tem-se mostrado mais eficaz, quando comparada, com a oxigenoterapia convencional e com a Ventilação Não Invasiva (VNI)4. Embora mais recentemente, a OTAF já mostrou que melhora o trabalho respiratório, que constitui um auxilio à ventilação e oxigenação, podendo ser útil no DV9. No entanto, faltam ainda evidências seguras acerca do seu contributo por traqueostomia, de forma isolada ou combinada com a VNI, na facilitação do processo de DV em pessoas traqueostomizadas4.
Neste sentido, definiu-se como objetivo deste estudo, descrever a evidência existente sobre o uso da OTAF no desmame ventilatório.
METODOLOGIA
Este estudo é umaScoping Review, que seguiu as recompensações doJoanna Briggs Institute Reviewer’s Manual, caracterizando-se por fazer um mapeamento da evidência preliminar existente sobre um determinado assunto10. É portanto, uma primeira análise da evidência emergente, quando esta ainda não está claramente apresentada, destinando-se a identificar a natureza e a abrangência das potenciais evidências11.
Na redação do estudo, foi utilizado o instrumentoPRISMAExtension for Scoping Reviews(PRISMA-ScR)12.
A pesquisa foi efetuada em 3 bases de dados: CINHAL, PubMed e LILACS, tendo sido realizada no mês abril de 2021, com um espaço temporal de janeiro de 2016 a abril de 2021. A opção por este espaço temporal esteve relacionada com o investimento efetuado nos últimos anos em relação ao uso da oxigenoterapia de alto fluxo por traqueostomia no desmame ventilatório. Os critérios de inclusão utilizados foram: estudos em texto completo e acesso gratuito nas bases de dados referidas, nos idiomas de português, inglês e espanhol e que tinham como população/amostra em estudo adultos traqueostomizados em desmame ventilatório. Foram excluídos documentos como cartas ao editor, resumos de conferências e estudos que não apresentavam como objeto de estudo a oxigenoterapia de alto fluxo por traqueostomia durante o desmame ventilatório.
Para a definição da pergunta de pesquisa utilizou-se a estratégia PCC (Quadro 1), tendo-se definido a seguinte questão:“Quais as evidências disponíveis acerca da utilização da Oxigenoterapia de Alto Fluxo por Traqueostomia no Desmame Ventilatório?”.
P (Population) | Doentes traqueostomizados em desmame ventilatório |
C(Concept) | Oxigenoterapia de alto fluxo por traqueostomia |
C (Context) | Contexto Hospitalar |
Para a realização da pesquisa nas bases de dados, os descritores utilizados foram extraídos do vocabulário DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde): 1. Oxigenoterapia; 2. Traqueostomia; 3. Desmame do Respirador; 4. Enfermagem; 5. Reabilitação (Português) ou 1.Oxygen Inhalation Therapy; 2.Tracheostomy; 3.Ventilator Weaning; 4.Nursing; 5. Rehabilitation(Inglês). Para a conjugação dos descritores foram utilizados de forma lógica o operador booleano e truncador: AND e *.
Posteriormente, para extração dos dados dos artigos selecionados, foi elaborado um protocolo.Foi realizado o registo do protocolo na Open Science Framework a 22 de junho de 2021 sendo atribuído o número osf.io/2tkzm e o seguinte DOI, 10.17605/OSF.IO/WMQJN. Para além da estratégia de pesquisa, o protocolo apresenta a estratégia de extração de dados que agrega os seguintes aspetos: país; ano de publicação; objetivo do estudo; tipo de estudo; critérios de elegibilidade; local de realização da intervenção; população; métodos para a implementação da intervenção; medidas utilizadas para avaliar a intervenção; níveis de evidência e resultados.
De modo a responder à questão de pesquisa, dos artigos selecionados, foram extraídas as seguintes informações: 1) título do artigo, 2) tipo de estudo, 3) objetivos e 4) resultados.
Importa referir que durante o processo de análise dos estudos, dois revisores independentes procederam à avaliação crítica, extração e síntese dos dados, sendo que em caso de discordância, se recorreu a um terceiro revisor.
Os estudos foram classificados quanto aos níveis de evidência, de acordo com oInstituto Joanna Briggs10e os resultados foram apresentados de forma descritiva, com recurso a tabelas, figuras e gráficos.
RESULTADOS
Dos 49 estudos encontrados nas diferentes bases de dados foram incluídos neste estudo 4 artigos (Figura 1).
Dos quatro estudos incluídos, três são ensaios clínicos controlados randomizados (A1, A3, A4) e um estudo de caso (A2). Estes estudos foram realizados entre 2016 e 2020, em países da Europa, Japão e Austrália. Nos diferentes grupos o total das amostras foram 378 doentes (Figura 2).
O quadro 2 caracteriza os estudos incluídos de acordo com o país de origem, ano de publicação, tipo de estudo, principais objetivos e resultados, bem como os níveis de evidência de acordo com o Joanna Briggs Institute10.
No Quadro 3 podem consultar-se o contexto da intervenção e as metodologias utilizadas.
Artigo | Título do artigo (resumo avaliado) | Tipo de estudo | Ano | País | Objetivo | Resultados | Nível de Evidência |
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A113 | High-flow oxygen via tracheostomy improves oxygenation in patients weaning from mechanical ventilation: a randomised crossover study | Ensaio clinico controlado randomizado | 2017 | Austrália | Demonstrar que a OAF melhora a oxigenação em doentes traqueostomizados em DV. | A OAF pode ser útil para aumentar a oxigenação durante o DV, no entanto, o desvio da laringe e das vias aéreas superiores pode anular alguns dos seus efeitos benéficos. Conclui-se ainda que são necessários mais ensaios clínicos controlados para se comprovar que a OAF é útil para reduzir o tempo de ventilação mecânica e diminuir dias de internamento em UCI. | 1C |
A214 | High-flow oxygen via tracheostomy facilitates weaning from prolonged mechanical ventilation in patients with restrictive pulmonary dysfunction: two case reports | Estudo de caso | 2018 | Japão | Verificar se a utilização da OAF facilita o desmame ventilatório em doentes traqueostomizados com patologia pulmonar restritiva. | A OTAF reduz o esforço inspiratório e aumenta o volume corrente quando comparada com oxigénio por peça em T, facilitando desta forma o DV em doentes com patologia pulmonar restritiva. | 4D |
A315 | Physiological efects of high-fow oxygen in tracheostomized patients | Ensaio clinico controlado randomizado | 2019 | Itália | Demonstrar que a OAF em doentes traqueostomizados apresenta benefício fisiológico ao nível da ventilação. | Em comparação com a oxigenoterapia nasal convencional, em OTAF é necessário um fluxo de 50l/min para melhorar a oxigenação, reduzir a frequência respiratória e fornecer pressão expiratória positiva nas vias aéreas. | 1C |
A416 | High-Flow Oxygen with Capping or Suctioning for Tracheostomy Decannulation. | Ensaio clinico controlado randomizado | 2020 | Espanha | Comprovar que a OAF contínua é mais eficaz do que a oxigenoterapia de alto fluxo intermitente nos doentes traqueostomizados em processo de descanulação. | Os doentes do grupo de intervenção têm mais benefício ao receber terapia de OAF contínuo do que os doentes no grupo de controle. Basear a decisão de descanulação na frequência de aspiração e na terapia de oxigênio de alto fluxo contínuo, em vez de testes de limitação de 24 horas e terapia de oxigênio de alto fluxo intermitente, reduziu o tempo de descanulação, sem evidência de diferença entre os grupos na incidência de falha de descanulação. | 1C |
Observou-se que em todos os estudos o objetivo principal era averiguar o efeito da OTAF no processo do DV em contexto de cuidados intensivos.
Relativamente aos fluxos de oxigénio utilizados eles variaram entre os 10l/min e os 50l/min, sendo a sua utilização intermitente ou contínua13,14,15. Durante o processo de DV, verificou-se que num estudo foi utilizada pressão de suporte noturna14e outro oxigenoterapia convencional13.
Constatou-se ainda que os parâmetros de monitorização mais frequentes foram: frequência respiratória, FiO2, SpO2(Saturação Periférica de Oxigénio), PaO2e a PaCO2(Pressão Parcial de Dióxido de Carbono)13,14,15.
Num dos estudos controlados randomizado15, 26 doentes traqueostomizados foram submetidos à oxigenoterapia padrão e à OAF com fluxo de 10, 30 e 50l/min. Cada etapa durou 30 minutos. Foram randomizados cinco doentes e as monitorizações repetidas durante a OAF antes da descanulação da traqueostomia e, imediatamente após, durante a oxigenoterapia nasal de alto fluxo. Tal como em outros estudos, a PaO2, PaCO2, SpO2, relação PaO2/FiO2, a frequência respiratória e a pressão traqueal foram monitorizadas dentro de cada etapa. No presente estudo, demonstrou-se que em comparação com o oxigênio padrão, OTAF atenua o balanço negativo na pressão das vias aéreas durante a inspiração, e quando o fluxo é estabelecido em 50l/min, melhora a oxigenação e reduz levemente a frequência respiratória. Tal facto também foi comprovado em outros estudos incluídos na revisão14,16, onde osautores referem que apesar de faltarem dados sobre os benefícios clínicos da OTAF, um fluxo de 50l/min, melhora a oxigenação, reduz a frequência respiratória, fornece um pequeno grau de pressão expiratória positiva nas vias aéreas, diminui o número de aspirações de secreções e melhora o transporte mucociliar.
A OAF mostrou ser vantajosa em relação à oxigenoterapia convencional no que diz respeito à diminuição do tempo de DV e consecutiva descanulação15. Houve ainda um estudo controlado randomizado que ao comparar a OAF contínua e OAF intermitente demonstrou que há maior sucesso na utilização da OAF contínua por diminuir consideravelmente o tempo de descanulação da traqueostomia16.
Um outro estudo controlado randomizado com 20 doentes traqueostomizados13demonstrou os efeitos da OAF a 50l/min por traqueostomia no volume pulmonar expiratório final, volume corrente, pressão das vias aéreas, oxigenação (relação PaO2 / FiO2), ventilação [dióxido de carbono expirado (etCO2)], frequência respiratória, frequência cardíaca e dispneia subjetiva em comparação com oxigênio convencional a 15l/min através de peça em T. A relação PaO2 / FiO2 melhorou significativamente com OTAF em comparação com peça em T. A pressão das vias aéreas durante OAF foi significativamente maior 15 minutos após o início da OAF do que em peça em T, melhorando desta forma os níveis de oxigenação e facilitando o processo de DV. Neste estudo a frequência respiratória e etCO2 mantiveram-se inalterados durante a OTAF, indicando que a resistência das vias aéreas e o trabalho respiratório também não se alterou13.
No estudo de caso14com dois doentes traqueostomizados com disfunção pulmonar restritiva onde foi aplicado OTAF, os autores relataram um DV bem-sucedido. Neste estudo um dos doentes após longo período de ventilação com pressão de suporte foi submetido a OTAF com fluxo inicial de 40l/min por traqueostomia durante 16 dias até ao fluxo final de 15l/min e o outro doente foi submetido a OTAF a 40l/min durante 12 dias até ao fluxo final de 20l/min. Tal como no estudo anterior foram monitorizados os seguintes parâmetros: relação PaO2/FiO2, PaO2, PaCO2, Volume corrente, etCO2 e frequência respiratória, tendo-se concluído que as pressões das vias aéreas foram continuamente positivas e não se tornaram negativas mesmo durante a inspiração, sugerindo que o oxigénio de alto fluxo por traqueostomia reduz o esforço inspiratório. A PaCO2 e frequência respiratória foram gradualmente reduzindo durante a OTAF, enquanto o volume corrente aumentou gradualmente.
DISCUSSÃO
Verificou-se que a preocupação geral dos estudos era o impacto da OTAF no DV. A escolha correta do método utilizado para o DV terá efeito no seu sucesso e tempo necessário para o mesmo2.
A realização de traqueostomia tem sido apontada por vários autores como facilitadora do desmame da ventilação mecânica invasiva devido à diminuição do trabalho respiratório, com decréscimo significativo da dispneia, frequência cardíaca e respiratória17. Esta conclusão vai ao encontro dos resultados verificados pelos estudos analisados13,14,15.
Observou-se que a maioria dos estudos conclui que a utilização de OTAF é benéfica para o DV13,14,15. Apesar de ainda existirem poucos estudos em relação à OTAF, constatou-se que para a ONAF já existem várias pesquisas que suportam a sua utilização nesta fase18. A OAF pode reduzir o tempo necessário para o desmame ventilatório, reduzindo também o tempo necessário para passar o teste de respiração espontânea e diminuir a taxa de reintubação2.
Efetivamente, em todos os estudos há evidência da eficácia da utilização da OAF no DV em doentes traqueostomizados, sendo que em 3 artigos são demonstrados efeitos benéficos quer a nível da oxigenação, volume corrente, pressão expiratória nas vias aéreas, frequência respiratória e esforço inspiratório13,14,15. Outro estudo refere também que a OAF melhora a oxigenação e previne atelectasias19.
Relativamente aos protocolos utilizados, eles variaram entre diferentes fluxos e tempo de utilização. Quanto ao fluxo, observou-se que fluxos de oxigénio entre os 40l/min e os 50l/min apresentam melhores resultados durante este processo13,15. Verificou-se também que a utilização de OAF, isolada ou associada, a outros modos ventilatórios, ainda não é consensual20,21. A implementação de protocolos ajuda a diminuir o tempo de desmame e aumenta o seu sucesso22.
Ficou evidente que a pressão nas vias aéreas inferiores é maior e mais variável quando fluxos elevados são administrados através de cânula nasal do que por traqueostomia15. Isto sugere que o mecanismo de criação de pressão expiratória durante o alto fluxo de oxigênio não depende apenas do fluxo, mas também da maior resistência oferecida pelas vias aéreas superiores e fluxo expiratório do doente. Em doentes traqueostomizados, a resistência é limitada e a pressão é mínima3,15.
Outro fator que pode contribuir para o sucesso do DV e posterior remoção de traqueostomia é a presença de secreções e o número de vezes que o doente é aspirado. Num dos estudos analisados, um protocolo baseado no número de aspirações de secreções e OAF contínuo, contribuiu para um desmame seguro16. Uma das particularidades da OAF é a humidificação e aquecimento do oxigénio fornecido ao doente. Quando comparado com sistemas não aquecidos, verificou-se que o aquecimento contribuiu para diminuir a frequência e a necessidade da aspiração de secreções23.
Além da estratégia utilizada na OTAF durante o DV vários autores sugerem que a realização concomitante de programas de reabilitação respiratória, cuja implementação deve ser multidisciplinar, se revela de extrema importância17,20. Estes, reduzem a duração da VMI, melhoram o conforto e facilitam a alta precoce do doente20.
Neste sentido, este processo é facilitado pela presença de enfermeiros de reabilitação nas unidades de cuidados intensivos, nomeadamente através do desenvolvimento de planos de cuidados individuais baseados numa crescente produção científica24. Programas de reabilitação e mobilização precoce em unidades de cuidados intensivos por enfermeiros de reabilitação revelaram-se seguros e com ganhos em saúde, nomeadamente na prevenção de complicações associadas à imobilidade25.
Encontra-se demonstrada a eficácia e necessidade da reabilitação respiratória durante este processo, nomeadamente no sucesso do DV26. Por outro lado, a ventilação mecânica prolongada poderá ter implicações neurológicas a longo prazo sendo necessário programas de reabilitação mais intensos e prolongados27.
CONCLUSÃO
Esta revisão permitiu concluir que a oxigenoterapia de alto fluxo por traqueostomia contribui para o sucesso e diminuição do tempo do desmame ventilatório, respondendo à nossa questão de pesquisa.
As principais contribuições da oxigenoterapia de alto fluxo por traqueostomia no desmame ventilatório são: melhoria da oxigenação, diminuição do trabalho respiratório, aumento do volume corrente, diminuição do tempo de desmame e melhoria da eficácia da limpeza das vias aéreas.
A utilização de protocolos para o desmame também se revelou essencial. A utilização de fluxos de oxigénio entre os 40-50l/min, a humidificação e o aquecimento facilitam o desmame ventilatório.
A presença de enfermeiros de reabilitação com a implementação de programas de reabilitação respiratória individualizados durante este processo contribui para o sucesso do mesmo.
A principal limitação deste estudo foi o número reduzido de artigos publicados sobre a temática. A OTAF sendo uma abordagem recente de utilização no desmame da VMI, trouxe-nos algumas dificuldades/ limitações, mesmo assim os resultados obtidos foram satisfatórios.
Consideramos de extrema relevância a realização de novos estudos, bem como, associando outras intervenções, nomeadamente programas de reabilitação respiratória e reeducação funcional motora.