INTRODUÇÃO
As alterações atribuídas ao processo de envelhecimento, podem levar a uma fragilidade multiorgânica e em termos cardiopulmonares, estas alterações podem ser verificadas na diminuição da distensibilidade da parede torácica, do reflexo de tosse, na redução da atividade ciliar, no aumento do risco de infeção pulmonar, na diminuição da capacidade vital e na consequente redução da capacidade de desempenho das atividades da vida diária1.
Estas alterações, normais no processo de envelhecimento, podem ser intensificadas por uma situação de doença, causando desta forma um declínio funcional, de difícil resolução se não for devidamente assistido1.
A reabilitação, como especialidade multidisciplinar, permite recuperar a máxima independência e funcionalidade das pessoas de modo a diminuir o impacto das incapacidades instaladas, devido a patologias agudas ou crónicas, com vista à reintegração social2.
A reabilitação respiratória procura assegurar que as alterações fisiológicas resultantes dos desequilíbrios da relação ventilação/perfusão sejam resolvidas para que não existam repercussões funcionais3.
Os principais objetivos da reabilitação respiratória são reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas e em doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica, incluem o treino de exercício, o aconselhamento nutricional e a educação4.
Na reabilitação respiratória são usados exercícios com técnicas posturais, manuais e cinéticas dos segmentos torácicos e abdominais5, que permitem prevenir e corrigir posições viciosas, promover o relaxamento e o controlo ventilatório, com a redução da tensão psíquica e muscular, assegurar a permeabilidade das vias aéreas e permitir uma reeducação para o esforço com exercícios de conservação de energia na realização de atividades da vida diária3. Estes exercícios atuam no processo mecânico da ventilação, isto é, a partir da ventilação externa é possível melhorar a ventilação alveolar3.
Os programas de reabilitação respiratória permitem a melhoria da capacidade de exercício e da capacidade funcional, com aumento da participação em atividades físicas e sociais e consequente aumento da qualidade de vida das pessoas6.
Contudo, cada programa de reabilitação respiratória deve ser adaptado individualmente, tendo em conta a patologia em questão, a idade da pessoa, a capacidade de aprendizagem e motivação, história clínica, familiar e social, as comorbilidades existentes, os objetivos e resultados esperados3,5, pois só assim é possível atingir os níveis máximos de independência e de funcionalidade6.
Definiu-se como objetivo desta revisão sistemática da literatura identificar intervenções de reabilitação respiratória suscetíveis de melhorarem o desempenho respiratório e a capacidade funcional nas pessoas idosas em contexto de agudização, tendo em conta a falta de revisões sistemáticas da temática referida.
METODOLOGIA
Revisão sistemática da literatura tendo por base as instruções do Joanna Briggs Institute (JBI)7,8.
Foi realizada uma primeira pesquisa acerca da temática na plataforma de EBSCOhost, tendo em conta a disponibilidade de texto integral com publicação nos últimos cinco anos. O objetivo da primeira pesquisa foi identificar as intervenções suscetíveis de melhorarem o desempenho respiratório e a capacidade funcional nas pessoas idosas.
Posteriormente e com base na estratégia PICO - População, Intervenção, Comparação e Resultados (outcome), foi formulada a questão “quais os benefícios (O) da reabilitação respiratória (I), realizada por profissionais de saúde, em pessoas idosas (P), em contexto de agudização de doença (C)?”, a qual norteou a segunda pesquisa (Quadro 1), no sentido de identificar os benefícios concretos para as pessoas idosas resultantes dessas mesmas intervenções.
PICO | |
---|---|
Pessoa / População | Adultos e Idosos |
Intervenção | Reabilitação respiratória |
Contexto | Cuidados agudos |
Outcome - Resultado | Benefícios |
A pesquisa foi realizada entre os dias 1 de janeiro de 2021 e 6 de maio de 2021 e recorreu-se aos descritores Medical Subject Heading (MeSH), organizados com o operador booleano AND e NOT, com a seguinte sequência de pesquisa:
respiratory therapy AND breathing exercises [698 artigos];
respiratory therapy AND breathing exercises AND aged [158 artigos];
respiratory therapy AND breathing exercises AND aged NOT children [144 artigos].
Na pesquisa realizada na plataforma EBSCOhost com a utilização dos descritores mencionados, foram identificados inicialmente 144 artigos [MEDLINE Complete (115), CINAHL Complete (21), SPORTDiscus with full test (2), Complementary Index (1), Academic Search Complete (1)].
Posteriormente os artigos foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão e exclusão demonstrados no quadro 2.
Critérios de inclusão | Critérios de exclusão |
---|---|
• Intervenções de reabilitação respiratória dirigidas a pessoas adultas e idosas com patologia respiratória ou outras comorbilidades que afetem a função respiratória • Intervenções realizadas em cuidados de ambulatório • Estudos quantitativos • Limite temporal: 2015- 2021 • Artigo redigido em língua portuguesa ou inglesa • Revistas analisadas pelos pares • Texto integral disponível |
• Intervenções realizadas em cuidados intensivos • Intervenções realizadas em doentes com ventilação assistida • Intervenções realizadas em lares • Pacientes submetidos a cirurgia cardiotorácica |
Dos 144 artigos identificados, foram posteriormente selecionados os artigos disponíveis em texto integral (84) e analisados por pares (82) dentro do limite temporal 2015-2021, restando 31 artigos. Destes, foi eliminado 1 artigo escrito em chinês, 1 artigo escrito em espanhol e outro por se encontrar repetido, restando 28 artigos. Três artigos foram excluídos por abordarem doentes com ventilação mecânica assistida e 3 de doentes sujeitos a cirurgia cardiotorácica. Dois artigos foram excluídos por serem revisões integrativas, ficando 20 artigos. Após a leitura destes artigos, 13 foram excluídos por não abordarem a temática de acordo com os critérios pré-estabelecidos, restando 7 artigos que cumpriam os critérios de inclusão. A figura 1 descreve o processo de seleção dos artigos, com recurso ao PRISMA Flow Diagram.
Após a seleção dos artigos e para determinar a confiabilidade dos mesmos, foi realizada a avaliação metodológica dos estudos e determinado o seu nível de evidência segundo as normas de JBI7, aplicando as Checklists Critical Appraisal Tools, com o objetivo de avaliar a qualidade metodológica do estudo e determinar a sua confiabilidade, relevância e avaliar a evidência dos resultados dos artigos publicados (JBI, 2020) igualmente com a utilização do documento JBI Levels of Evidence9. Com base no documento JBI Grades of Recommendation10) determinou-se o grau de recomendação dos 7 artigos. As tabelas 1 e 2 apresentam, os níveis de evidência e grau de recomendação de todos os artigos incluídos.
Estudo | Ano | Nível evidência | Grau de recomendação |
---|---|---|---|
11 | 2015 | 1.c - Randomized controlled trial | strong |
12 | 2020 | 1.c - Randomized controlled trial | strong |
13 | 2020 | 4.b - Cross-sectional study | strong |
14 | 2018 | 1.c - Randomized controlled trial | strong |
15 | 2020 | 2.c - Quasi-experimental prospectively controlled study | strong |
16 | 2018 | 2.c - Quasi-experimental prospectively controlled study | strong |
17 | 2021 | 1.c - Randomized controlled trial | strong |
Estudo | Q1 | Q2 | Q3 | Q4 | Q5 | Q6 | Q7 | Q8 | Q9 | Q10 | Q11 | Q12 | Q13 | X% |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
11 | Y | Y | Y | U | N | U | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | 90,9 |
12 | Y | Y | Y | Y | N | U | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | 91,6 |
13 | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | 100 |
14 | Y | Y | Y | Y | U | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | 100 |
15 | Y | Y | Y | Y | N | Y | Y | Y | Y | ___ | ___ | ___ | ___ | 88,9 |
16 | Y | Y | Y | N | Y | Y | Y | Y | Y | ___ | ___ | ___ | ___ | 88,9 |
17 | Y | Y | Y | N | N | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | Y | 84,6 |
Legenda: Y- Yes; N- No; U- Unclear.
E | Pessoa/População | Contexto/ Período | Objetivos | Intervenções de reabilitação respiratória /pulmonar | Quem interveio | Resultados Benefícios |
---|---|---|---|---|---|---|
11 | 62 pacientes (31 grupo experimental, 31 grupo de controlo), com média de idade 70 anos, conscientes com DPOC, com dispneia. | Dois serviços de internamento de pneumologia Taiwan 11/2011 a 4/2012 |
Avaliar os efeitos de exercícios de reabilitação respiratória na dispneia, tosse, tolerância ao exercício em idosos com DPOC, hospitalizados | Intervenções de reabilitação respiratória com 6 componentes: Consciencialização da doença; técnicas de limpeza de vias aéreas, técnica de respiração com lábios semicerrados, exercícios de membros superiores com respiração profunda, treino de marcha, e educação para a saúde. Sessões 2 vezes por dia durante 10 minutos, durante 4 dias. |
Enfermeiros e médico | Ao 4º dia o grupo experimental apresentava menos dispneia, menos frequência de tosse e maior tolerância ao exercício. |
12 | 21 pacientes entre os 35 e 80 anos, com Acidente Vascular Cerebral fraqueza dos músculos respiratórios, disfagia ou disartria. Grupo controlo n= 10, grupo experimental n=11 | Hospital em Taiwan Abril 2016 a outubro 2018 |
Avaliar eficácia do treino dos músculos respiratórios em relação à deglutição, função pulmonar, desempenho funcional e disartria em pacientes com AVC | Treino de músculos inspiratórios e expiratórios com dispositivo de treino de músculos respiratórios (Dofin Breathing Trainer), treino postural, controlo de respiração, técnica de tosse. Conjunto de exercícios durante 6 semanas. |
Médico e técnico | O treino dos músculos respiratórios melhorou a capacidade vital forçada, o volume expiratório forçado por segundo e melhorou a fadiga em doentes com AVC. |
13 | 16 pacientes com DPCO leve a moderada, com dispneia leve a moderada, fumadores. Participantes com média de idades superior a 60 anos. | Departamento de Fisioterapia da Faculdade de ciências da saúde Allied. Tailandia. Uma avaliação |
Avaliar os efeitos da respiração com os lábios semicerrados e diferentes posturas do tronco, nos volumes pulmonares e ventilação em pacientes com DPOC. | Monitorização dos volumes pulmonares e da ventilação em diferentes posturas, ereta e sentado com inclinação do tronco a 45º e com 2 padrões respiratórios com uma respiração espontânea e inspiração pelo nariz e expiração pela boca com os lábios semicerrados. |
Equipa de investigadores do Departamento de Fisioterapia da Faculdade de ciências da saúde Allied. Tailandia. |
A inspiração pelo nariz e expiração pela boca com lábios semicerrados alterou positivamente os volumes pulmonares e a ventilação em pacientes com DPOC leve a moderada. |
14 | 14 pacientes com doença de Parkinson de forma leve a moderada, entre os 52 e os 79 anos. | Departamento de fisioterapia da Universidade Federal de Pernanbuco, Brasil O estudo foi realizado durante quatro dias não consecutivos com intervalo de sete dias |
Avaliar os efeitos das técnicas de Breath Stacking e inspirometria de incentivo nas variações de volume da parede torácica em pacientes com doença de Parkinson | Ensino/treino sobre a realização da técnica de Breath Stacking e inspirometria de incentivo e avaliação das pressões inspiratórias e expiratórias máximas, a partir do volume residual e capacidade pulmonar total e avaliado o volume da caixa torácica, toraco abdominal e abdominal. | Equipa investigadores do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernabuco, Brasil. | Após a aplicação da técnica de Breath Stacking e inspirometria de incentivo verificaram um aumento do volume corrente nos doentes com doença de Parkinson. Não se verificaram diferenças entre as técnicas. |
15 | 18 pacientes no grupo experimental e 16 pacientes no grupo de Controlo. Participantes com idade média superior a 40 anos. |
Ambulatório/ domicílio, Taiwan 12 semanas |
Avaliar a eficácia do treino dos músculos respiratórios nos resultados funcionais e redução da fadiga em pacientes com miastenia gravis. | Treino dos músculos respiratórios com Dofin Breathing Trainer, (dispositivo portátil de limite de pressão) foi aplicado para gerar força expiratória para a função da tosse e esforço muscular inspiratório para as deficiências da ventilação pulmonar |
Terapeuta | Verificaram um aumento significativo da capacidade vital forçada, do volume expiratório forçado no primeiro segundo, da distância de caminhada de 6 minutos e diminuição da fadiga segundo a escala Multidimensional Fatigue Symptom Inventory-Short Form (MFSI-SF) |
16 | 26 pacientes, em 2 grupos um com medição de circunferência abdominal =>102cm e outro com medição <102cm. Pacientes com idade média superior a 40 anos. |
Hospital em São Paulo, Brasil Uma sessão |
Avaliar o efeito da fisioterapia respiratória em homens com DPOC, relacionando com a medida de circunferência abdominal. | Treino de técnica de respiração diafragmática e treino de expiração com lábios semicerrados; vibrocompressão torácica, mobilização dos membros superiores: flexão e extensão de ombro, associada a respiração diafragmática e expiração com lábios semicerrados e treino de marcha durante um minuto. |
Fisioterapeuta | A razão entre volume expiratório forçado em 1 segundo e capacidade vital forçada, aumentou. Verificaram aumento da pressão inspiratória máxima e aumento da amplitude toracoabdominal. |
17 | 60 pacientes com asma entre os 45 e os 60 anos | Ambulatório Taiwan 12 semanas |
Comparar os efeitos de exercícios respiratórios convencionais e do treino dos músculos inspiratórios nos sintomas de doentes asmáticos | 1º grupo: -Realização de exercícios de alongamento dos músculos torácicos -Realização de inspiração nasal com expiração com lábios semicerrados e respiração diafragmática. 2º grupo: -Treino dos músculos inspiratórios com início de cada respiração pelo volume residual até à pressão inspiratória máxima, através do uso de um dispositivo de treino dos músculos inspiratórios. |
Enfermeiros | Não se verificaram alterações na capacidade vital forçada e no volume expiratório forçado em um segundo, em ambos os grupos. Nos dois grupos foi verificado aumento da pressão expiratória máxima, contudo só houve aumento da pressão inspiratória máxima no grupo de treino dos músculos inspiratórios. Nos dois grupos houve aumento da capacidade de marcha durante 6 minutos. Não se verificou diferença na saturação de oxigénio ou frequência cardíaca. |
Legenda: E- Estudo
RESULTADOS
De acordo com os critérios de inclusão e exclusão pré-definidos e a partir da revisão da literatura foram selecionados sete artigos publicados entre 2015 e 2021, cujos resultados estão apresentados na tabela 3, analisados a partir do protocolo de pesquisa PICO.
Os artigos resultaram de estudos realizados em Taiwan, Brasil e Tailândia e a intervenção de reabilitação respiratória foi realizada em indivíduos adultos e idosos por vários grupos profissionais. Num artigo as intervenções foram realizadas por enfermeiros; noutro artigo as intervenções foram realizadas por terapeutas; noutro artigo as intervenções foram realizadas por fisioterapeutas; noutro artigo as intervenções foram realizadas por médicos e enfermeiros e noutro por médicos e técnicos, sem que seja clarificado qual o profissional que realizou cada uma das intervenções e por fim, noutros 2 artigos as intervenções foram realizadas por investigadores sem que seja especificado o grupo profissional.
No que se refere à duração das intervenções verificou-se uma grande variabilidade, dois dos estudos relatam apenas uma única sessão de intervenções e os restantes estudos relatam sessões que variaram entre 4 dias e 12 semanas.
DISCUSSÃO
A análise dos estudos selecionados permitiu identificar alguns dos benefícios concretos da reabilitação respiratória em pessoas adultas e idosas utilizando intervenções individualizadas em função do ciclo da vida das pessoas, mas também da condição de saúde das mesmas e baseadas na melhor evidência científica4,18.
Os artigos analisados demonstraram que a reabilitação respiratória, promove a redução dos sintomas e deste modo aumenta a capacidade de desempenho nas atividades da vida diária e nas atividades sociais com ganhos na qualidade de vida das pessoas com patologia respiratória.
A reabilitação respiratória deve ser idealmente implementada por uma equipa multidisciplinar constituída por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas19 e as intervenções devem ser adaptadas à fase de doença, à pessoa em causa e à sua capacidade de aprendizagem, ao local onde são realizadas e aos meios disponíveis6.
Esta revisão da literatura evidenciou que a reabilitação respiratória foi realizada por vários profissionais de saúde, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas, técnicos e médicos11,12,15,16.
Os sintomas mais frequentes das patologias respiratórias, que levam as pessoas a procurar cuidados de saúde foram a dispneia, a tosse e a intolerância ao exercício6. A presença de dispneia, a intolerância ao exercício e a limitação nas atividades da vida diária, levam a uma perda progressiva da capacidade funcional e à adoção de estilos de vida sedentários e são estes critérios que estão normalmente presentes na decisão para implementação de um programa de reabilitação respiratória20.
Nos artigos analisados, para além destes sinais ou sintomas, outros, como a tosse ineficaz, a intolerância ao esforço11, a fraqueza muscular dos músculos respiratórios e dos músculos que intervêm na deglutição12,15, a diminuição dos volumes pulmonares 13,14, o aumento da fadiga15 e a diminuição da capacidade vital em geral17 foram as manifestações que determinaram a necessidade de intervenção de reabilitação respiratória.
As pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), foram na maioria dos casos os alvos principais destas terapias18. A análise dos estudos que incluíram esta revisão, para além dos benefícios nos doentes com DPOC11,13,16) identificou também benefícios em pessoas com outras patologias como o acidente vascular cerebral (AVC)12, a doença de Parkinson14) a miastenia gravis15, a obesidade16 e a asma17, situações que cursam com patologias respiratórias crónicas ou que apresentam risco de desenvolver uma perda progressiva da capacidade funcional levando a pessoa a adotar estilos de vida sedentários promotores de isolamento social e que por isso são suscetíveis de beneficiar de reabilitação respiratória20.
Quando nos referimos à reabilitação respiratória estamos a englobar várias intervenções integrantes como a reeducação funcional respiratória, o treino de tolerância ao exercício, a otimização da terapia inalatória e a assistência respiratória5. Como as intervenções são personalizadas segundo as necessidades de cada doente, nem todos os elementos da reabilitação respiratória precisam de ser aplicados18.
A reeducação funcional respiratória baseia-se na associação do controlo da respiração, do posicionamento e do movimento, ou seja, no restabelecimento funcional da respiração21. De acordo com um dos estudos, em doentes com DPOC e dispneia moderada as intervenções relacionadas com estes exercícios tiveram como resultados nos doentes a melhoria dos volumes pulmonares e melhoria da ventilação13
Noutros doentes com DPOC, a consciencialização da doença13, as técnicas de limpeza de vias aéreas, a técnica de respiração com lábios semicerrados, os exercícios de membros superiores com inspiração profunda, o treino de marcha e a educação para a saúde tiveram como benefícios para os doentes a diminuição da dispneia, a diminuição da frequência de tosse e maior tolerância ao exercício11,13.
A dispneia é uma das causas que levam as pessoas com problemas respiratórios a procurar cuidados de saúde com maior frequência. Nos estudos analisados, a técnica de controlo da dispneia mais utilizada foi a respiração com os lábios semicerrados22. Esta técnica, pode ser incluída durante a realização das atividades da vida diária e exercícios como caminhadas23. Ao permitir o aumento do volume corrente e o controlo do padrão respiratório, esta técnica permite aumentar o tempo expiratório, esvaziando de forma mais eficaz o ar acumulado nos pulmões24. No estudo de Ubolnuar e colaboradores (2020), o uso desta técnica permitiu aumentar o volume corrente e o aumento do fluxo inspiratório e expiratório médio em doentes com DPOC13.
Com o avançar da idade, mas também por disfunção neurológica, o reflexo de tosse pode ficar mais deprimido e os doentes ficam mais suscetíveis a infeção respiratória3. Os músculos inspiratórios e expiratórios que funcionam como os outros músculos esqueléticos tendem a diminuir a força, o que também pode acontecer por malnutrição e com a imobilidade3.
Os músculos expiratórios são recrutados para manter níveis elevados de ventilação durante o exercício de manobras expiratórias forçadas, como no treino da tosse6. Adicionalmente o treino de músculos inspiratórios através do uso de dispositivos, na medida em que estes permitem o uso de pressões mais elevadas que causam resistência à inspiração acabam por permitir posteriormente pressões normais durante a expiração, cujo resultado é uma expiração mais próxima do normal e mais relaxada6. Este tipo de benefícios também foi conseguido em doentes com AVC associando ao treino dos músculos o treino postural e a técnica da tosse com melhorias na capacidade vital e na fadiga destes doentes12.
Em doentes com miastenia gravis, o treino de fortalecimento de músculos inspiratórios e expiratórios pelo uso de pressões durante três meses também demonstrou ser eficaz na redução da fadiga física e consequente melhoria funcional15. Em doentes com asma, verificou-se um aumento da capacidade de marcha durante seis minutos17.
Embora alguns autores reconheçam os benefícios do uso de dispositivo para treino dos músculos inspiratórios15,17, outros defendem que o uso destes dispositivos ainda que melhore a fadiga e os volumes pulmonares, é uma técnica viável como terapia adjuvante, mas que deve ser complementada com outras técnicas de reabilitação respiratória, para melhores resultados12.
Um dos objetivos da reabilitação respiratória, prende-se com a eliminação de secreções e a manutenção da permeabilidade das vias aéreas, quando há problemas obstrutivos25. A limpeza das vias aéreas engloba não só a expulsão, mas também a mobilização das secreções brônquicas4, isto é, técnicas de limpeza de vias aéreas.
O programa de reabilitação de Liao e colaboradores (2015) proporcionou aos doentes com DPOC11 ensinos sobre técnicas de limpeza de vias aéreas, como a drenagem postural, tanto ao doente como familiar, de forma a permitir uma assistência adequada.
Tal como já foi referido, a dispneia é uma das causas mais frequentes que levam as pessoas a procurar os cuidados de saúde. A técnica de controlo da dispneia mais utilizada é a estratégia de respiração com os lábios semicerrados22. Esta técnica permite aumento do volume corrente, controlo do padrão respiratório e o esvaziamento máximo dos alvéolos, uma vez que os elementos de menor calibre da via aérea inferior, permanecem abertos por períodos mais prolongados durante o tempo expiratório, permitindo assim aumentar o tempo expiratório e esvaziando de forma mais eficaz o ar acumulado nos pulmões24.
Ubolnuar e colaboradores (2020)13 demonstram que o uso da técnica de respiração com os lábios semicerrados permite um aumento do tempo inspiratório e expiratório. O uso desta técnica em conjugação com outras, como a coordenação com a respiração abdominodiafragmática aumentam a eficiência do diafragma e diminuem a assincronia toracoabdominal verificada durante os períodos de dispneia, tendo como resultado a sua melhoria(3, 11,16).
A conjugação da técnica de controlo respiratório com a técnica de abertura costal global também permite a redução de dispneia e aumento de tolerância ao exercício proposto11,16.
Ribeiro e colaboradores (2018)14 fazem menção às técnicas de inspirometria de incentivo e breath staking para promoção de expansão pulmonar. Esta última tem como objetivo a expansão pulmonar através da utilização de uma máscara facial que envolve o nariz e a boca e é conectada a uma válvula unidirecional, que permite a entrada do ar inspirado e bloqueia o ar expirado, sendo as pessoas instruídas a realizarem inspirações a partir da capacidade residual funcional até à capacidade pulmonar total26. Esta técnica permite melhorar a função respiratória com aumento do volume pulmonar e normalização da frequência respiratória26.
A inspirometria de incentivo frequentemente usada nos períodos pré e pós cirúrgico, com a finalidade de diminuir o risco de complicações respiratórias, associadas à diminuição do volume pulmonar após a cirurgia27, também foi utilizada em doentes com patologias do foro neurológico5,14, com efeitos benéficos nos seus volumes correntes14. Ficou demonstrado também que os resultados são semelhantes entre as duas técnicas (inspirometria de incentivo e breath staking) e a escolha é influenciada de acordo com o estado de consciência e cooperação dos doentes para a realização destas técnicas, tendo em conta que a inspirometria de incentivo exige maior colaboração da pessoa14.
CONCLUSÃO
Os estudos analisados permitem concluir que as técnicas de reabilitação respiratória usadas como forma de tratamento não farmacológico para controlo dos sintomas têm como resultados nos doentes adultos e idosos a redução da fadiga e diminuição da dispneia, o aumento da tolerância ao esforço, as alterações nos volumes e capacidades pulmonares, bem como alterações nas pressões inspiratória e expiratória máximas.
Não foram apenas as pessoas com patologia respiratória que beneficiaram das intervenções de reabilitação respiratória, uma vez que os mais idosos ou as pessoas com patologias do foro neurológico também obtiveram resultados na melhoria no desempenho das suas atividades da vida diária.
Como limitações para a pesquisa, podemos referir o baixo número de artigos enquadrados na temática desenvolvida e o facto de a mesma ter sido conduzida apenas na plataforma EBSCOhost. Sugerimos a realização de mais estudos de verificação da eficácia das diferentes intervenções de forma que a prática de reabilitação respiratória seja conduzida de acordo com a melhor evidência científica.