1. Introdução
A preparação de famílias por enfermeiras, para revelar a condição soropositiva do HIV/AIDS a criança, é uma problemática de saúde pública sensível que requer o envolvimento de toda a equipe de saúde. Portanto, constata-se uma escassez de materiais de consulta rápida em tempos de inclusão digital e uso de ferramentas para traduzir conhecimentos científicos e torná-los facilmente disponíveis aos seus usuários. Entre essas ferramentas destaca-se o vídeo como uma alternativa, que conjuga som (áudio) e imagem em movimento (visual), a ser integrada no encontro terapêutico da enfermeira com a família, nos diferentes cenários de cuidado.
A integração do vídeo ao processo de informar e educar em saúde promove reflexão e torna a aprendizagem mais motivadora, revitaliza conhecimentos esquecidos, reforça a aprendizagem de técnicas instrumentalizadoras de cuidados, além de melhorar a literacia em saúde. (Newsom, Proctor, Marshall & Liao, 2019; Brockfeld, Müller & de Laffolie, 2018; Isumi, Fujiwara, Sampei, 2019).
Nesse sentido, o vídeo já vem sendo produzido no campo da promoção de saúde em diferentes países para disseminar informação em saúde e contribuir para fomentar o diálogo sobre processos de saúde e doenças. Contudo, essas produções baseiam-se mais na perspectiva de profissionais (de saúde e comunicação) do que em experiências de pacientes. Além disso, a literatura sobre produção e validação de vídeo na saúde utiliza, em sua maioria, abordagem quantitativa (Campoy et al., 2018; Rodrigues Junior et al. 2017; Lima et al., 2017; Rosen, Albin & Sicherer, 2014).
Para além de um vídeo educativo, as potencialidades da linguagem visual e dos dramas de um curta-metragem são pouco explorados como tecnologia educacional em movimento. Nesse tipo de linguagem, os dramas movimentam as cenas constituindo histórias com início, conflito e resolução. O espectador pode transportar-se para a cena, criando com ela uma identidade que os leva à construção de suas próprias interpretações da realidade. Porém, observa-se que há lacunas no desenvolvimento de estudos qualitativos que considerem a subjetividade dos usuários como fator importante no desenvolvimento desta tecnologia.
Portanto, traçou-se como questão de investigação: como enfermeiros e enfermeiras pediátricos avaliam o curta-metragem "Nossas Histórias" para uso na consulta de Enfermagem? E como objetivo: avaliar o curta-metragem “Nossas Histórias”, sobre preparação de famílias para a revelação à criança HIV soropositiva, por enfermeiros e enfermeiras.
2. Metodologia
Estudo qualitativo de avaliação de inovação tecnológica implementado com o Método da Roda. Segundo Campos (2015), esse método proporciona espaços coletivos de encontro e diálogos grupais onde os participantes valorizam seus saberes na criação de estratégias coletivas de mudança. A roda produz um movimento circular orientado para a tomada de decisão coletiva, mediada pelo diálogo simultâneo e contínuo que favorece a coleta e análise, reflexão e circulação das informações e intercâmbio de ideias entre os participantes (Campos, 2015).
O Método da Roda estimula a criticidade, capacidade analítico-reflexiva e inventiva de novos modos de viver e de produção de novos saberes. A produção dos dados estrutura-se na escuta das falas, na observação do agir, na leitura dos signos e nas representações do grupo sobre o tema. Cada sessão pode ter um tempo de duração de até duas horas para que sejam examinadas criticamente as dificuldades e sucessos na implementação da tarefa definida pelo grupo. Além disso, identificam-se novos temas de análise que poderão produzir uma síntese agregada de novos valores ao modo de pensar e operar dos participantes (Campos, 2015).
2.1 Operacionalização do Método da Roda
Operacionalizou-se a pesquisa em três encontros grupais, um total de três rodas de conversa com quatro enfermeiras (12 participantes). Nenhuma enfermeira participou duas vezes de uma mesma sessão. Os encontros duraram em média 30 minutos e aconteceram com intervalo de uma semana, sendo todos gravados e transcritos.
O espaço destinado à sessão assumiu uma configuração simulando uma roda. Projetou-se o curta-metragem, com aproximadamente dez minutos. Nele, o telespectador acompanha uma enfermeira na consulta de enfermagem de três grupos de pacientes, em dois momentos diferentes. Eles são familiares em processo de preparação para revelar o HIV a criança, já diagnosticada e em acompanhamento regular da condição soropositiva. Cinco dramas são encenados por três grupos de familiares: um homoafetivo feminina soroconcordante; outro cisheteronormativa; e ainda outro monoparental. As narrativas inspiraram-se em histórias reais de familiares que questionam sobre como conduzir a revelação do HIV à criança. Na consulta de enfermagem, ao deparar-se com esses dramas, a enfermeira desenvolve uma abordagem compreensiva de cuidado em favor do melhor interesse da criança.
Após assistir o filme, os participantes da roda debateram quatro temas sobre sua estrutura - cenário, personagens e tempo - e conteúdo - dramas. No giro da roda, introduziu-se cada tema foi debatido simultaneamente, com criticidade na medida em que as informações circulavam, para melhor organizar a discussão da pergunta disparadora: Como vocês avaliam o - cenário, conteúdo, personagens… - do curta-metragem?
2.2 Participantes da Pesquisa
Os participantes foram captados no Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente, da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPESC/EEAN/UFRJ), um espaço onde se reúnem pesquisadores, estudantes de todos os níveis de formação (nacionais e estrangeiros), enfermeiros de serviços hospitalares e atenção primária, com atuação na área da infância e adolescência. Após aplicar os critérios de inclusão: ter graduação em enfermagem, atuar em pediatria por um período mínimo de três meses e estar inserido em pesquisa científica na área, 15 participantes foram contatados por telefone para agendamento dos encontros. Desses, 12 confirmaram presença, sendo os grupos de quatro pessoas organizados de maneira aleatória, conforme disponibilidade dos mesmos. No dia programado, os grupos reuniram-se presencialmente em uma sala da Escola de Enfermagem Anna Nery. Ressalta-se que nenhum dos participantes havia trabalhado com a pesquisadora previamente.
2.3 Análise de dados
O corpus textual foi submetido aos procedimentos da análise temática manual, como proposto por Minayo (2012), em três etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação. A pré-análise consistiu em leitura flutuante e exaustiva do material coletado; constituição do corpus de análise pela exaustividade, homogeneidade, pertinência e representatividade; formulação de hipótese. Definiram-se palavras ou expressões chave que permitiram o agrupamento de registros com padrões convergentes de significados para categorizar e proceder a análise interpretativa (Minayo, 2012).
Nas 18 páginas de material transcrito buscaram-se enunciados para organizar e sistematizar o corpus textual, resultando em sete páginas cuja análise foi conduzida pela hipótese: o vídeo apresentou elementos técnicos e de conteúdo adequados à tradução de evidências científicas sobre o preparo da família para revelar o HIV/AIDS da criança para ela. As palavras-chave que permitiram o agrupamento dos registros foram vídeo, conteúdo, personagens, técnica. Optou-se pela categorização temática ao organizar os resultados.
Na exploração do material, procede-se a codificação, ou seja, na identificação de tema, frase ou palavra que permite classificar e agregar os dados, alcançando assim o núcleo compreensivo do texto. Na sequência, procedeu-se ao que Minayo (2012) recomenda para tratamento dos resultados e interpretação, ou seja, o cruzamento dos dados para destacar informações convergentes e interpretá-las.
Portanto, nessa etapa adotou-se o destaque colorimétrico do conteúdo das falas dos especialistas sobre os personagens com a cor ciano; aspectos técnicos, na cor cinza, e assim por diante. Em seguida, organizaram-se essas falas em unidades de registro representadas por frases, transversalizadas pelas unidades de contexto. Por semelhança de núcleos de sentido procedeu-se uma nova agregação para constituir os temas. Os enunciados individuais foram aproximados por significados convergentes e agrupados como unidades de enunciados de uma multiplicidade de vozes de participantes.
3. Resultados
Entre os 12 participantes, 11 eram do sexo feminino e um do masculino, com média de idade de 36 anos (25 a 41 anos). A conclusão do curso de graduação em enfermagem ocorreu em dois momentos: com os familiares em 1997 (banco de dados) e com os especialistas no ano de 2016. Duas enfermeiras eram especialistas na área de saúde da criança, duas possuíam o mestrado e duas o doutorado, três cursaram o mestrado e três o doutorado. Quanto à experiência profissional, cinco eram docentes em Saúde da Criança; seis tinham experiência clínica. Dez participantes trabalhavam no setor público e uma era estudante somente.
Os cinco temas relacionados ao curta-metragem envolvem o cenário, conteúdo do roteiro e público-alvo, indissociabilidade entre personagens e conteúdos e indissociabilidade entre personagem e técnica.
3.1 Conjunto da Ferramenta
Os especialistas consideraram o curta-metragem como estratégico na tradução de evidências científicas sobre o preparo da família para a revelação do HIV/AIDS à criança. A linguagem audiovisual é autoexplicativa, interessante e acessível. A combinação da narrativa dos dramas com a imagem em movimento permite o entrelace das histórias. Percebe-se que os dramas estão coesos e desenvolvidos no tempo adequado de consulta de enfermagem, sem cansar o espectador.
Eu gostei do vídeo. Foi interessante. Eu não percebi problemas com o roteiro. A linguagem acessível, explicativa, com bom vocabulário. O tempo está ótimo. Não é muito curto, o que você pensa: já acabou? E não é longo demais para ser cansativo (E1a, E2a, E3a, E4a, E5b, E7b, E8b, E9c, E10c, E11c e E12c).
Em seguida, novos elementos foram sendo incorporados no processo avaliativo do curta-metragem do giro da roda de conversa.
3.2 Cenário
Para avaliar o cenário, as enfermeiras se reportaram às suas vivências na atenção primária e hospitalar ambulatorial. O ambiente das cenas reflete um lugar vazio, sem cor e com pouca informação visual nas paredes. Metade dos especialistas consideraram que o ambiente neutro poderia aplicar-se às salas de consultas e de espera de um ambulatório do hospital ou de uma unidade básica de saúde. Porém, faltavam elementos para que fosse representativo daqueles ambientes de cuidados.
Eu achei a sala de espera vazia. O fundo da parede branco e as cadeiras pretas. A sala de espera tem pessoas passando e gente sentada, gente circulando, agente comunitário de saúde conversando com família. Eu senti falta de algum cartaz de vacinas, teste de sífilis, de HIV; coisas que servem para a população em geral. Eu fiquei pensando no ambulatório do hospital. Eu achei a mesa da sala de consulta muito vazia, não tinha um livro de ocorrência (E5b, E6b, E7b, E10c, E11c e E12c).
Já o cenário neutro, com escassez de informação e pouco mobiliário, foi avaliado como positivo.
Eu gostei da sala de consulta porque é limpa, não tem muita informação, não tem muita mobília (E1a e E9c).
Como sugestão, destacaram melhorias no cenário de encenação dos dramas e identificação da sala de consulta de enfermagem para dar visibilidade e reconhecimento da atuação da enfermeira na preparação de famílias na revelação do HIV a criança soropositiva.
Sala de espera de posto de saúde tem muita informação…(E10c, E11c e E12c).
… uma placa escrita consulta de enfermagem na porta da sala que a enfermeira atende, para saber que [é]… uma enfermeira em uma consulta de enfermagem (E2a).
3.3 Conteúdo do Roteiro e Público-Alvo
Avaliou-se que na linguagem visual e dramas do curta-metragem, as cenas contextualizam os conteúdos científicos traduzidos na narrativa da personagem enfermeira. As imagens eram esteticamente agradáveis, a profissional mostrava-se disponível e atenta, desenvolvendo uma escuta qualificada de todo os grupos familiares. O encontro terapêutico foi dinâmico, compreensivo e resolutivo ao responder a demanda sobre como os familiares poderiam preparar-se para revelar a criança que ela vivia com o HIV.
… passa o recado, está bem feito. A informação não está jogada. A gente consegue identificar o foco [no] profissional [ao] se mostrar disponível, atento, ter uma escuta qualificada (E1a e E12c).
A diversidade de gênero, orientação sexual (grupo familiar homoafetivo feminina) e racial (com familiares de raça/cor branca e negra) foram representados nos dramas do curta-metragem e avaliados como positivos e agregaram valor à inovação tecnológica como ferramenta educacional.
foram ótimas, a representatividade no casal homoafetivo, uma mulher negra (E5b, E6b e E8b).
A variedade de situações encenadas explorou diversas facetas do fenômeno da preparação de familiares para a revelação do HIV, início, conflito e resolução bem demarcados pela passagem do tempo. Manter o telespectador atento aos desfechos dos dramas de cada um dos grupos familiares foi avaliado positivamente.
O vídeo tem diversidade, composição muito boa. A situação inicial é disparadora, … passam-se cinco anos e mostra o que aconteceu. Tem uma e outra situação que foi revelada. Esses “Cinco anos depois...” é interessante porque prende [a atenção do] telespectador (E6, E8, E9c, E10c e E11c).
A mensagem de esperança no desfecho dos dramas, mediada pela personagem da enfermeira no encontro terapêutico da consulta de enfermagem com os grupos familiares, foi avaliada como positiva. O conteúdo científico traduzido indica um deslocamento da concepção do viver com HIV, como uma condição fatal, para uma condição crônica, com possibilidades de futuro.
… legal terminar com a parte de ‘constituir família’ [reforço positivo sobre viver com o HIV]. Hoje, tem tratamento, [a pessoa com HIV] tem uma vida normal (E3a, E6b, E9c e E11c).
O cenário e o modo de apresentar-se (vestir, atitude e comportamento) da profissional de saúde na história e a centralidade do seu protagonismo na condução de cada consulta destacaram o enfermeiro como o público-alvo direto, para uso da ferramenta. Além disso, os familiares e seus acompanhantes foram visualizados como destinatário indireto da ferramenta.
O vídeo é para o enfermeiro, mas acaba sendo útil para o familiar (E1a, E2a, E3a, E4a e E11d).
Sugeriu-se ainda sobre a necessidade de se produzir curta-metragem projetado especificamente para familiares.
3.4 Indissociabilidade Personagens e Conteúdos
A personagem da enfermeira demonstrou segurança, falou pausadamente e manteve o olho-no-olho na interação com os grupos familiares durante parte da consulta de enfermagem que abordou o modo de os familiares se prepararem para a revelação do HIV à criança. Todo o tempo, manteve-se disponível a escutar as pessoas e responder os questionamentos.
Eu gostei da personagem enfermeira, ela demonstra segurança, ela fala pausadamente. Ela está sempre disposta a ouvir as pessoas, a olhar nos olhos (E1a, E2a, E3a, E5b, E8b, E10c).
A personagem da Enfermeira aplicou os princípios de comunicação em saúde na consulta, com empatia, escuta ativa e sensível. Observou-se que o processo de preparação para a revelação foi gradual, sem pressa, respeitoso e encorajador. Abordou-se um tema de cada vez e em dias diferentes, sempre direcionando para cada etapa do desenvolvimento da criança.
A Enfermeira está encorajando os pais a iniciar essa conversa com a criança aos pouquinhos, gradativo, respeitando e direcionando à faixa etária. Ela mostra estágios do desenvolvimento que vai revelar. Acho que ela falou de maneira prática, aplicada [à situação] como revelar: ‘Fale pouca coisa, uma coisa de cada vez e em diferentes dias’ (E2a, E8b, E9c, E10c e E11c).
Em cada uma das histórias encenadas, a enfermeira sugeriu que o familiar usasse uma linguagem comunicativa simples na abordagem da revelação à criança, baseando-se somente na narrativa verbal.
Ela fala sempre de utilizar a linguagem mais simples; mas, ela não exemplifica de que forma e como poderia ser abordado. Por exemplo: brinquedos, desenhos. […] (E1a, E2a, E3a).
O fato de a enfermeira não ter sugerido que o familiar incluísse brinquedos e desenhos, para explicar a seropositividade da criança, foi avaliado como aspecto negativo do curta-metragem.
3.5 Indissociabilidade Personagens e Técnica
Exploraram-se na avaliação dos especialistas, a expressão facial e dramatização, plano de gravação, sotaque e dicção, aparência dos personagens e figurino.
Sobre a expressão facial e dramatização, destaca-se a homogeneidade nas reações das atrizes ao interpretar os personagens. Uma avaliação de que poderia influenciar a falta identificação dos telespectadores com os dramas encenados pelos personagens dos grupos familiares.
… as atrizes que interpretaram as personagens Clarissa e Joana sorriram para a câmera em um momento dramático. Ao mesmo tempo, faltou emoção à personagem Isabel. Aquela mãe vestida com a blusa verde e depois estava com um vestido, ela estava rindo (E2a e E3a).
Sugeriu-se a heterogeneidade de reações dos personagens que representaram os grupos familiares como possibilidade de maior engajamento e identificação com outros dramas, em diferentes estágios do processo de preparação da revelação.
… pensar [em] diferenciar as reações para que as pessoas possam se encontrar também nessas reações (E2a).
Quanto ao plano de gravação, sugeriu-se que todos os personagens se mantivessem em um mesmo plano. Porém, decidiu-se manter o ângulo de filmagem com mudança de planos, por razões técnicas e por ser estratégico para evitar a monotonia do filme.
Acho que a posição da mãe e da companheira do Manoel ficou melhor. Está mais de frente que no casal heterossexual. O plano que filmaram não favoreceu (E5b, E7b e E8b).
O sotaque carioca e problemas com a dicção de alguns atores, que interpretaram os grupos familiares, foram avaliados como obstáculos à compreensão da fala dos personagens. Esses aspectos poderiam limitar o uso da ferramenta para uma audiência mais ampliada, com aplicabilidade em serviços de saúde localizados em outras regiões do Brasil.
… é uma tecnologia que pode e possivelmente vai ser usada por diferentes famílias em diferentes locais, o sotaque carioca precisaria ser amenizado (E11c).
Quanto à aparência dos personagens e figurino, destacou-se o fato de que mesmo com a passagem do tempo, uma personagem, de um dos grupos de familiares, encenou com a mesma roupa.
Quando mudou para cinco anos, a personagem não mudou a roupa e nem a cor do batom dos outros personagens. Então, tirou um pouco da realidade (E2a, E4a e E5b).
Sugeriu-se atenção ao figurino e maquiagem dos atores para acompanhar as mudanças do tempo de cada drama na encenação dos personagens quando do desfecho do conflito.
4. Discussão
O curta-metragem foi avaliado positivamente pelos enfermeiros nos aspectos técnicos que envolveram o tempo e extensão das histórias, marcadores temporais de passagem do tempo; na demarcação do público-alvo, adequação do roteiro e diálogo com o conteúdo científico.
Em estudo metodológico, Campoy et al. (2018) produziu e avaliou um vídeo sobre a reabilitação intestinal em indivíduos com lesão de medula espinhal. Os resultados apontaram índice de concordância alto (94%) entre os experts nos itens que se referem ao conteúdo abordado. Tanto indicadores quantitativos como qualitativos podem sugerir uma melhor caracterização dos personagens nas cenas dos dramas, no entanto, predominam evidências quantitativas. Por isso, a discussão não apresenta estudos qualitativos na área.
Os achados de indissociabilidade de personagens e conteúdo indicaram avaliações positivas e negativas. Por indissociabilidade, compreende-se que a conceptualização de personagens depende do conteúdo e dos enunciados, uma vez que a linguagem confere identidade às personagens, demonstrando quem são no desenvolvimento do curta-metragem. A personagem da enfermeira foi avaliada positivamente, porque apresentou diretrizes concretas de como revelar a soropositividade da criança com HIV, envolvendo o modo de revelar (gradual, em dias diferentes) o respeito a idade e a etapa de desenvolvimento da criança, o uso de uma linguagem comunicativa simples e coloquial, em local protegido e privativo. Contudo, a avaliação negativa deveu-se ao fato de a enfermeira não ter sugerido a aplicação de recursos (brincadeiras e desenho) mediadores do diálogo entre o familiar, que revela a condição, e a criança.
Esse tipo e abordagem para explicar o HIV no corpo da criança com uma história de herói (antirretroviral) e bandido (HIV) (Sariah et al., 2016; Beima-Sofie et al., 2014) reforça o estereótipo de que o corpo é um campo de batalha e que ele está em constante guerra. Nesse sentido, Gachanja e Buckholder (2016) propõem uma linguagem simplificada e coloquial, considerando o modo como a criança se expressa e não como o adulto espera que ela se expresse. Assim, a recomendação das participantes do estudo foi compreendida como desconhecimento da recomendação científica atual. E, por isso, não houve mudança desse aspecto no curta-metragem.
Na versão final do curta-metragem disponível em http://www.eean-nupesc.com.br, decidiu-se por não modificar a narrativa para romper com estruturas de conhecimentos não baseadas em evidências científicas.
O módulo de finalização trata da revisão externa, consultoria a organizações profissionais relevantes e experts; plano de manutenção do material produzido e sua produção propriamente dita (Harrison, Graham, Fervers, Hoek, 2013), foi mantida por ser aderente ao contexto local de onde os dramas emergiram. Essa etapa é incorporada no ciclo da ação do modelo teórico da tradução do conhecimento de Straus, Tetroe, Grama (2013).
A dramatização é uma representação cênica de um tema, em que atores podem ou não ter treinamento profissionalmente. Nos achados, os enfermeiros se referiram a técnica cênica e criticaram a performance dos atores e não o conteúdo da cena em si. Ressaltamos que isso pode ser solucionado com a contratação de atores profissionais.
5. Conclusões
O curta-metragem “Nossas Histórias” é um recurso inovador com potencial de aplicação clínica do cuidado de advocacia pela enfermeira na consulta de enfermagem. Como pontos positivos do curta-metragem destacam-se a diversidade de tipos de famílias, etnia e raça, o tempo curto e a estética agradável. É necessário ajustes no cenário, encenação e enquadramento para que esteja adequado à realidade das enfermeiras. A alteridade construída pelas participantes, com base nos conhecimentos científicos e na experiência prática, circulou no espaço dialógico do método da roda. Ao mesmo tempo, a roda funcionou como um dispositivo metodológico de avaliação do curta-metragem, uma ferramenta com aplicabilidade na prática do cuidado clínico em diferentes cenários de interação da enfermeira com familiares de crianças em preparação para a revelação do HIV/aids.