1.Introdução
A segunda fase de uma pesquisa qualitativa iniciada em 2014 que deu origem a ideia de que o processo de triangulação da pesquisa qualitativa pode ser compreendido a partir do metafenômeno como gênese (2016), objetivou estudar os olhares múltiplos e diversificados da complexidade a que foram sujeitados os atores sociais e seus ambientes pessoais e laborais. Contudo esse panorama tem sido cada vez mais modificado com o advento das tecnologias da informação e comunicação - TIC e o avanço da internet, sobretudo, das plataformas de mídias sociais digitais. Na época, o estudo se propunha apresentar uma nova possibilidade metodológica qualitativa, tendo como perspectiva o sujeito, o objeto e o fenômeno na pesquisa triangular. Tuzzo e Braga (2016) defenderam que ao fazer a pesquisa e a triangulação, um novo problema poderia ser gerado e de forma randômica, fazendo com que esse novo problema originasse uma nova pesquisa qualitativa ou quantitativa ou até uma nova triangulação, num processo dialético. O que os pesquisados não imaginavam é que poucos anos depois, a interferência da tecnologia nos fenômenos sociais seria tão forte a ponto de alterar a relação existente entre sujeito, objeto e fenômeno. Desta forma, na continuidade dos estudos iniciados em 2014 é possível confirmar a possibilidade de uma triangulação das pesquisas qualitativas firmadas nelas mesmas; contudo, não é possível mais confirmar a manutenção da mesma perspectiva original com relação aos sujeitos que não são mais os mesmos. Assim, ele (o sujeito) ainda continua sendo sujeito da pesquisa, mas sua relação com os múltiplos objetos do mundo social foi substancialmente alterada e agora falamos de uma mediação tecnológica em todos os sentidos da vida cotidiana. O que antes poderia ser uma relação quase mediada, conforme dizeres de Thompson (1995), agora se fala de interações mediadas online. Perspectiva que Thompson (2018) atualiza em seu texto A interação mediada na era digital. Em outros termos, se as interações foram alteradas em função da tecnologia, o que dizer dos sujeitos, dos objetos e dos fenômenos em uma nova ambiência altamente tecnológica, que em nossa perspectiva garante a triangulação? Ao expormos o andamento das pesquisas, sugerimos em 2014 que as investigações estavam baseadas no tripé: métodos, sujeitos e fenômeno. O objeto que aflora neste tripé de investigação estava contemplado anteriormente no eixo fenômeno. Desta forma, constatamos que o fenômeno é complexo, o método é plural e os sujeitos são mutáveis, absolutamente dependentes do ambiente e das condições sociais onde a pesquisa se realiza e onde outras interferências do meio podem gerar mutações no fenômeno pesquisado. Contudo, a nova ambiência tecnológica alterou a relação entre sujeito, objeto e fenômeno. A proposta de conceituar o sujeito, o objeto e o fenômeno, tendo como referência a noção fundante de metafenômeno como gênese se mantém, entretanto, de modo atualizado, pois o sujeito, o objeto e o fenômeno foram alterados e consequentemente a noção de um metafenômeno como gênese, também.
2.Triangulação de métodos qualitativos em uma sociedade complexa
Este é um trabalho complexo pela multiplicidade de agentes sociais envolvidos para se pensar em suas respostas. A complexidade aqui considerada baseia-se nos estudos de Morin (2005, p. 334), para quem a complexidade não produz nem gera a inteligibilidade, ela pode incitar a estratégia/inteligência do sujeito pesquisador a considerar a complexidade da questão estudada. A complexidade de que fala Morin (2005) não está no objeto, mas no olhar do pesquisador, na forma que ele estuda seu objeto e na maneira como ele aborda os fenômenos, agora mais complexo do que antes. Entende-se que a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigorosamente estruturada, permitindo que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a proporem trabalhos que explorem novos enfoques, sugere que a pesquisa qualitativa oferece ao pesquisador um vasto campo de possibilidades investigativas que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Esta ideia reafirma a certeza de que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo. Todavia, esse mundo de que falamos está agora interligado em tempo real. A noção de distâncias geográfica e linguística, por exemplo, desapareceu em função da mediação tecnológica dada à complexidade que só se torna possível ultrapassar com a adoção de multimétodos que permitem um olhar multifacetado das pesquisas. Tuzzo (2016) afirma que a complexidade do mundo moderno exige uma complexidade de metodologias capazes de considerar os olhares e prismas sobre um mesmo objeto, que possui vários lados e muitas formas de ser contemplado e, por diversas vezes, impossível de ser visto em sua totalidade a partir de apenas um ângulo. Aqui a autora já preconizava a perspectiva de se considerar múltiplos prismas para dar conta da complexidade do mundo social. E novamente salientamos que tudo se tornou ainda mais complexo com a tecnologia. Agora o mundo está no touch da tela do computador. A totalidade pode ser somente uma representação do total, por isso a ideia central de que ao se fazer uma pesquisa pelo método de triangulação, um novo problema pode ser gerado, algo que não havia sido considerado no início das buscas de dados e informações; esse novo problema pode originar uma nova pesquisa qualitativa ou quantitativa ou até uma nova triangulação. Tuzzo (2016) afirma que pesquisar é como um raio de luz que ao iluminar um objeto nos oferece uma perspectiva, mas se a luz for aumentando poderemos ver outros ângulos, outros lados... e assim nossa percepção também vai sendo ampliada podendo mudar a nossa ideia quanto à forma, o tamanho, a cor. Pesquisar é escrever um soneto de luz. A luz que parte do objeto, mas que se concretiza na clareza de novas ideias de um universo multifacetado de pesquisas, de arte e de vida. A multiplicidade de coletas que a pesquisa qualitativa permite, gera uma possibilidade de triangulação, também trabalhada por autores como Duarte (2009), que, ao afirmar que na pesquisa qualitativa o destaque não está na busca da quantidade, não se baseando em números e estatísticas, mas enfatizando a qualidade e a profundidade de dados e descobertas a partir de fenômenos.
2.1 Conceituando (meta)fenômeno, sujeito e objeto
Para conceituar o metafenômeno, ponto principal de discussão deste estudo, vamos considerar o pensamento de Benjamin (1985), teórico da Escola de Frankfurt, que descreveu o processo do aqui e agora (hic et nunc), em seu texto A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica de 1936. A ideia é de que o metafenômeno só pode ser compreendido dentro de um contexto social, onde nesta perspectiva as características de cada pesquisa precisam considerar o hic et nunc. Tentando fazer uma analogia e adequação ao termo, respeitamos a ideia de Benjamin (1985) ao colocar que o aqui e agora consideram a presença física e o local onde algo foi produzido a fim de afiançarem a unicidade de uma obra de arte, considerando, inclusive, o seu tempo de duração, a tradição, modos, costumes e história, podendo até se estender para uma ligação religiosa, que o autor chamou de aura, conferindo à obra de arte uma idolatria de culto e de exclusividade. Benjamin (1985) argumenta, ainda, que ao ser reproduzida, perderia e não seria mais a obra de arte. Mas ainda trabalhando com a ideia de que seja fundamental o contexto social onde as pesquisas são desenvolvidas, adotamos o consagrado termo hic et nunc para explicar a importância do sujeito no processo e toda a complexidade que envolve a existência humana. Aristóteles já pregava a relação complexa entre o todo e as partes sempre preocupado em unir e distinguir. Morin (2005, p. 18-19) afirma que a cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada/organizadora via o veículo cognitivo da linguagem, a partir do capital cognitivo coletivo dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E vai além, desenvolvendo os estudos sobre o “paradigma da complexidade” (Morin, 2005, p. 310), que explica a dependência do que aqui chamamos de sujeitos, objetos e fenômenos e a interdependência que existe entre eles que, ainda que explicados separadamente, só podem ser compreendidos de forma integral. Falar em complexidade é falar em relações simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias. Diante disso, este trabalho também tem base nos estudos de Kerckhove (2009) para quem os sentidos e as sensações são fundamentais no processo comunicacional da sociedade atual. O autor encontra respaldo em um dos mais importantes aforismos cunhados por McLuhan (1964) que afirmava que na era da eletricidade, usamos toda a humanidade como nossa pele. Kerckhove (2009) explica que essa extensão eletrônica do corpo, ou seja, uma percepção sobre a pele, faz com que ela deixe de ser somente proteção e passe a ser um dispositivo de comunicação, capaz de processar informações mais rapidamente do que a nossa mente. Isso reafirma a ideia do hic et nunc e do fundamental papel do pesquisador para a realização das pesquisas. Assim, o metafenômeno pode ser compreendido como um feixe de forças, um experienciar além da consciência, conforme Gil (2005), ou seja, um lugar de vivência, de acontecimentos e fatos que incorporados à realidade do mundo social suporta, comporta e possibilita o funcionamento psicossocial dos sujeitos. É ele (o metafenômeno) que incorpora e oferece à pesquisa todos estes elementos, dando margem ao pesquisador de identificar as demais categorias do vértice sujeito, objeto, fenômeno. Importante destacar que os sujeitos (pesquisados) podem ser múltiplos (pessoas, documentos, reportagens impressas, televisivas etc) e complexos, conforme colocado por Morin (2005). Dito de outra forma, aqui os sujeitos da pesquisa perpassam todos e tudo aquilo que pode ser investigado em razão do recorte (ou não) adotado no levantamento dos dados. Adotando como lógica o método qualitativo para as investigações, devemos considerar que os sujeitos são participantes efetivos da pesquisa em toda sua complexidade e que certamente necessitará de multimétodos. So assim será possível identificar, coletar e se apropriar das informações necessárias para o processo de interpretação e conclusão dos dados de uma pesquisa, tendo em vista que tudo o que determinamos como composição de uma complexidade para o pesquisador sujeito, também se aplica a um sujeito investigado. Em relação ao objeto, terceiro e último tripé deste constructo, retomamos a noção de metafenômeno, onde este oferece ao pesquisador o fenômeno que será investigado, aqui denominado de objeto. Ou seja, é o objeto/fenômeno que suportará todo o processo investigativo adotado na arquitetura metodológica proposta. Dito de outra de forma, objeto e fenômeno se assemelham em forma e conteúdo. São indissociáveis no ato da pesquisa. É no fenômeno que se identificam os sujeitos pertencentes; o metafenômeno que origina e suporta o próprio fenômeno e o objeto que é em essência a gênese do próprio fenômeno. É, portanto, no sujeito e no objeto que o fenômeno se instala, se operacionaliza e se constrói enquanto lugar de pesquisa. Posto esse construto teórico, percebemos que o fenômeno ainda é parte do metafenômeno, que por sua vez é também o objeto. O que não podemos nesta nova realidade da tecnologia é desconsiderar o papel da internet e de seus aparatos e plataformas. Os fenômenos foram substancialmente alterados e compartilhados em escala global. A noção de localidade se desconstrói e é suplantada pela noção de globalidade. Aspectos culturais tão importantes na compreensão dos fenômenos e dos objetos foram (re) significados pela ruptura das barreiras culturais. Nunca o hic et nunc foi tão possível a todos. O aqui e agora de que falou Benjamim (1985) em A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica passou a ser aqui e agora para todos e mais, o aqui e agora também passou a ser produção de todos. A exclusividade do locus deixou de existir e todos têm acesso. Tão verdadeiro que a etnografia agora também é digital: falamos da netEtnografia. A ida a campo para uma observação não participante ficou possível pelo Google Earth. Já não é necessário o deslocamento ao mundo real. O real se ampliou e ficou acessível ao movimento do mouse e/ou a um toque na tela touch screen.
2.2 Proposta metodológica de triangulação: sujeitos - objetos - fenômenos
O método de triangulação sistemática pode ser compreendido em Flick (2009), a partir da combinação de perspectivas e de métodos de pesquisa adequados, que sejam apropriados para levar em conta o máximo possível de aspectos distintos de um mesmo problema, sendo determinantes quatro aspectos: definição do tipo de pesquisa, dos instrumentos de coleta adequados; da população-alvo para construção da amostragem1; e dos métodos de análise. Sobre a pesquisa bibliográfica, autores como Minayo (2000), Marconi e Lakatos (2007); Flick (2009), defendem sua importância com relação ao suporte para realização das pesquisas empíricas. No que se refere às pesquisas de Campo ou Empírica são elas responsáveis pela transformação social. O material de pesquisa está na sociedade e o coloquial é um grande laboratório. Hohlfeldt (2011) afirma que optar pela pesquisa empírica obriga-nos a sair da tranquilidade da cátedra ou de nossa casa. Dispormo-nos a ir a campo, ver e ouvir os outros. Mas ainda autores como Braga e Campos (2016); Havelais (2011); ou Dencker e Da Viá (2001) complementam dizendo que a principal finalidade da pesquisa empírica é responder às perguntas colocadas acerca de fenômenos sociais. É na pesquisa empírica que a realidade atual se transformou. O que era ontem, hoje já não é mais. As mudanças ocorrem na velocidade da tecnologia. O acesso ao campo foi alterado e permitiu novas visibilidades. Todavia, se tornou muito mais complexo. A ida ao campo também pode ser uma ida ao computador. Todos os campos se encontram de certo modo lá representados. O que antes exigia do pesquisador um deslocamento físico, não é mais necessário. Aqui a pesquisa empírica, se por um lado tornou-se democrática, por outro corre o sério risco da banalização, da superficialidade. Exige-se do pesquisador um cuidado redobrado. Os fenômenos circulam nas redes sendo alterados e modificados pelos seres actantes de fala Latour (2013). Sobre os instrumentos de coleta de dados, os pesquisadores Souza (2011); Minayo (2000); Flick (2009) e Triviños (1987) dão as pistas para a produção de roteiro estruturado ou semiestruturado que permite uma pesquisa com base em entrevistas ou grupo focal; estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; storytelling; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais; observação etnográficae mais recentemente netEtnográficas ou participante, que tem por objetivo entender os processos sociais de concepção de um fenômeno pela própria perspectiva do pesquisador e não somente pelo relato de um participante externo. Assim como as possibilidades dos tipos de pesquisas, também os tipos de coleta são múltiplos. A construção da amostra e os métodos de análise completam o processo. Neste contexto, tomamos como referência a teoria da causalidade (diferente da causa e efeito), inspirado na perspectiva estatística, onde esta (a causalidade) sugere que o metafenômeno pode e deve sugerir ao pesquisador o fenômeno de interesse, que nem sempre é óbvio. É sobre a obviedade que nos debruçamos. O óbvio se aproxima do senso comum. É este distanciamento de que necessita o pesquisador para enxergar com lentes de aumento além do óbvio. Mesmo que a causalidade possa ser compreendida como relação entre um evento (a causa) e um segundo evento (o efeito), em que o segundo acontecimento é entendido como uma consequência do primeiro. Optamos pelo olhar de que também é na causalidade que se constrói o lugar desta perspectiva, onde a relação entre um conjunto de fatores (causas) faz surgir um fenômeno (o efeito), que chamamos de objeto - fenômeno. Retomando a perspectiva que norteia este artigo, ou seja, a realização da pesquisa qualitativa a partir dos vértices objeto, sujeito e fenômeno, agora com um olhar mais ajustado aos tempos atuais, tomamos como primeiro exemplo uma pesquisa sobre o jornal impresso. Neste caso os sujeitos são os leitores, o jornal impresso é o objeto e o fenômeno é a leitura, que em dias atuais pode ser realizada pelo papel impresso ou pelas mídias eletrônicas; onde o fenômeno, neste caso, se caracteriza pelo tipo de leitura física, digital ou ambas. Neste sentido surge a noção de metafenômeno, onde o fenômeno é sempre algo que não pode ser dissociado da pesquisa e a triangulação entre fenômeno, objeto e sujeito é a pesquisa qualitativa em três níveis, três vértices de exploração. Na tentativa de buscar uma resposta para a pergunta central: Qual é o papel do jornal impresso em tempos de internet e redes sociais? A pesquisa realizada por Tuzzo entre 2013 e 2016, no Brasil e em Portugal nos mostrou que a triangulação apenas a partir da pesquisa qualitativa é possível. Primeiramente, as pesquisas com leitores realizadas no Brasil a partir de entrevistas e roteiros semiestruturados levaram a uma resposta de que a prática estava associada ao prazer e aos sentidos não somente da leitura, mas da prática social. Na segunda fase, as pesquisas realizadas em Portugal, no método de etnografia se sobressaiu para coleta e análise dos dados. A leitura social que aflorou deste processo foi ponto determinante para além das próprias questões que compunham o roteiro de entrevistas e foi também a descoberta que complementou as pesquisas no Brasil. O fechamento das coletas se fez com entrevistas e roteiros de pesquisa com jornalistas e editores de jornal impresso, a fim de compreender se o mesmo sentido de leitura para os leitores estava em consonância com aqueles que produzem o jornal impresso. Os resultados apontam que este grupo continua a ler jornal impresso em uma sociedade digital, pois gostam do cheiro da tinta; do som de virar as páginas; da textura do papel sendo um prazer para o tato; da calma que traz a leitura no formato impresso do jornal, sendo também uma sensação agradável para a visão. Além disso, não são poucos os que citam o prazer associado a um café. Isso é muito interessante, pois a leitura do jornal passou a aguçar os cinco sentidos, ou seja, a princípio já estimulava a visão, o tato, a audição e o olfato, mas como o paladar não estava presente, o café completa o processo para os leitores brasileiros. A informação ganha um sentido físico-sensorial! (Tuzzo, 2016). Em todas as coletas o objeto que permeou a pesquisa foi o jornal impresso. Os sujeitos (leitores, editores, jornalistas) foram alterados em razão da complexidade da própria pesquisa e o fenômeno: a leitura dos jornais impressos, deu forma e conteúdo à pesquisa. Aqui reside o metafenômeno: a leitura como aquilo que permeia a vida social. Assim, como argumenta Gil (2005), este feixe, este experienciar além da consciência, que significam o metafenômeno, são, em última instância, a essência desta perspectiva de pesquisa qualitativa: os sujeitos, os objetos e os fenômenos. Pelo exemplo da pesquisa, constatamos a complexidade operacional da triangulação, entretanto, as pesquisas privilegiaram, à época, coletas de campo com ida ao campo propriamente dito e coleta documental em bancos de dados. Se reformularmos as questões com novos objetivos para as mesmas pesquisas aqui descritas, vemos ser absolutamente possível operacionalizar esse estudo de modo online, via plataformas digitais, continuando a pensar em uma multi coleta de triangulação pelas pesquisas qualitativas.
3.Considerações Finais
Já é possível afirmar que no mesmo teto da pesquisa qualitativa pode-se ampliar os horizontes e demandar possibilidades de coleta e de análise de modo triangular, amplo e (quase) irrestrito na tentativa de atender as demandas dos fenômenos, ainda mais que os fenômenos acontecem em simultâneo na vida real e nas plataformas digitais. Não se trata mais de uma realidade paralela, pelo contrário, as vidas reais agora são físicas e digitais. Verificamos que a “triangulação” como validação, mas também como forma de integrar diferentes perspectivas no fenômeno em estudo, e ainda como forma de descoberta de paradoxos e contradições, ou, se preferir, como forma de desenvolvimento, no sentido de utilizar sequencialmente os métodos para que o recurso ao método inicial informe a utilização do segundo método, ou seja, parece ser uma perspectiva em discussão, ou pelo menos é o que parece ser segundo Greene, Caracelli e Graham (1989), cuja discussão tem sido empreendia por Duarte (2009). Desde modo a possibilidade da triangulação mesmo em se tratando da mesma perspectiva - qualitativa - parece ser uma abordagem que se sustenta e faz sentido à medida que oferece ao pesquisador olhares múltiplos e diferentes do mesmo lugar de fala. Essa conclusão se fortalece e a ela agregamos novas possibilidades. A triangulação que já destacamos pode se realizar na mesma modalidade de pesquisa - qualitativa, agora se amplia e pode ocorrer de duas formas: de modo físico e de modo digital. O todo e as partes são focos determinantes neste modelo de triangulação. O que aflora nas investigações são os pensamentos de complexidade e de sentidos numa sociedade múltipla na perspectiva de pessoas e acontecimentos. A complexidade dos fenômenos exige outras formas de investigação. Aqui cabe ressaltar a riqueza destas possibilidades quando nos referimos, por exemplo, ao quantitativo de abordagens e de metodologias de análise do universo da pesquisa qualitativa, sugerindo que é no metafenômeno que o fenômeno se constitui, e se abrirmos a possibilidade de múltiplas coletas observando o modo, podemos ampliar a compreensão do objeto, já que sendo o objeto parte do fenômeno, quando este for investigado de modo físico e de modo digital, ampliamos a sua compreensão, permitindo que seja possível triangular sujeito, objeto e fenômeno no ambiente físico e no ambiente digital, com possibilidade de resultados completamente diferentes. Como um fenômeno é apenas parte dos diversos fenômenos que compõem a categoria metafenômeno, eleger um fenômeno, um objeto e um sujeito e escolher o modo (físico / digital) explica e possibilita a realização da pesquisa qualitativa a partir da perspectiva do metafenômeno. É nele que se origina a possibilidade de múltiplas pesquisas, é nele que se compreende a complexidade de pesquisas, é ele a gênese de todo o processo de investigação.