1. Introdução
Em 2011/12, no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território/IGOT da Universidade de Lisboa foi criado o Projeto Nós Propomos! (PNP). Em 2014, o projeto internacionalizou-se pela primeira vez, no Brasil, e hoje está presente em seis países ibero-americanos e, ainda, num país africano e noutro asiático.
Há uma crescente exigência da sociedade civil, na crítica às democracias representativas, da participação do cidadão comum na definição dos destinos da sua comunidade. Pretende-se “resgatar o espírito democrático de sociedades” em que as decisões acabam por ser exteriores à população (Ferrão & Dasi, 2016, p. 237). A mobilização das populações para as tomadas de decisão públicas, para a governança, é associada a “redes de parcerias e múltiplos agentes” (Fernandes & Chamusca, 2009, p. 29), em que todos são livres e devem participar no processo de desenvolvimento.
Mas educar para a cidadania não é mais um saber disciplinar, “que gera aborrecimento, pois relaciona-se com referentes abstratos e não com problemas quotidianos" (Parra Monserrat & Souto González, 2015, p. 163). Ela é ação na comunidade, num exercício afetivo e moral diante de desafios do cotidiano, que valoriza o “outro social” (Fonseca, 2001, p. 14). Educar para a cidadania é educar “na cidadania “(Figueiredo, 2005, 23), na pertença à comunidade, na partilha da forma como os seus membros perspectivam os problemas comuns e tendo em vista a tomada de decisões.
É na convicção de que a escola deve ter um compromisso efetivo com a comunidade e de que as ciências sociais e, nestas, em particular, a Geografia tem um papel particularmente relevante a desempenhar, que surge o PNP.
Nesse contexto, esse texto tem como objetivo geral fazer uma discussão sobre a educação geográfica em rede com enfoque no Projeto Nós Propomos. Para construção do texto foram utilizadas referências bibliográficas relacionadas com as categorias teóricas estudadas pelo projeto, bem como discussões a partir de fontes empíricas, contendo dados de atividades já desenvolvidas pelo Projeto em diferentes instituições de ensino.
2. Os estudantes no centro de uma metodologia exequível
O PNP assume que a escola e, nesta, a educação geográfica deve contribuir para uma leitura crítica e uma consequente ação cidadã dos jovens sobre o território - e que a mesma educação geográfica será tanto mais reconhecida no sistema educativo quanto mais proativa for.
Desenvolve-se o conceito de cidadania territorial, diretamente vinculado à construção do território (Claudino, 2019). Os estudantes são colocados no centro do processo educativo, ao identificarem problemas concretos que lhes são significativos, ao encontro de uma abordagem interativa das aprendizagens, ao apresentarem propostas perante problemas sócio territoriais concretos, com o desenvolvimento de múltiplas competências de recolha, de tratamento de informações e de apresentação de propostas concretas.
No esforço de aproximação aos estudantes, aos professores e às escolas, o projeto adota uma metodologia intencionalmente exequível, com fases claras: identificação de problemas, realização de trabalho de campo, elaboração e divulgação de propostas. Pretende garantir que o projeto é concretizável na generalidade das escolas, desde logo de bairros ou com públicos escolares mais periféricos.
O projeto valoriza, desde logo, as parcerias entre a universidade, as escolas, e também com o poder local e o próprio Ministério da Educação. Com o alargamento do projeto, ele passou a constituir uma das principais redes ibero-americanas de educação geográfica (Araya, Souto González & Claudino, 2018).
Concretizando os seus objetivos, o PNP pretende: a) aproximar as escolas e o poder local; b) contribuir para um desenvolvimento sustentável local; c) valorizar o Estudo de caso como trabalho experimental sobre problemas locais; d) promover abordagens metodológicas inovadoras; e) mobilizar a utilização de tecnologias de informação e, progressivamente, também se afirmou o objetivo de f) incentivar a atividade de investigação em Geografia. Muito embora tenha surgido com uma base disciplinar, deve-se sublinhar a sua assumida vocação interdisciplinar, como ocorre, designadamente, em Espanha.
Do ponto de vista da concretização do projeto, há três fases obrigatórias: a identificação de problemas territoriais locais; a realização de trabalho de campo e, por último, a apresentação de propostas de intervenção/ação.
Integrar a rede de intelectuais docentes do PNP significa conforme Boudin (1971) superar o inconveniente dos silêncios pela participação revolucionária. “A revolução é o resultado mais lógico da contestação; é também o mais excepcional. O intelectual revolucionário, isto é, aquele que não se contenta com catalisar os descontentamentos e as reivindicações, mas prevê e recorre aos meios de uma transformação radical, é uma espécie rara.” (Boudin, 1971, p. 99).
Neste sentido, apresentamos resultados parciais das atividades do projeto decorrentes de sua expansão no Brasil.
3. A expansão da rede no Brasil
De acordo com dados mais atualizados verifica-se que o PNP está em atividades em 15 estados do Brasil, organizados em 25 instituições de ensino, ou seja, universidades comunitárias, estaduais e federais e também nos Institutos Federais, cujas atividades são realizadas em 36 cidades.
No caso brasileiro, o mesmo já está presente em todas as regiões e quem coordena o projeto é o Professor Dr. Raimundo Lenilde de Araújo, professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí. Nesse país, o projeto foi recepcionado pela primeira vez no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, no ano de 2014, sob a coordenação da Professora Dra. Sandra Mendonça, que fez o seu doutoramento em Portugal, orientada pelo Prof. Dr. Sérgio Claudino Loureiro Nunes (Tazinasso, 2021; Carvalho Sobrinho; 2021; Silva Neto, 2023). Em seguida, o PNP! Chegou ao Tocantins e ao Piauí (Silva Neto, 2023).
Em 2015, tem-se o início do projeto no Estado de Tocantins, via Universidade Federal de Tocantins (UFT), e uma expansão posterior por vários estados, dos quais se pode apontar: Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Acre (Carvalho Filho, 2020).
Na dinâmica do PNP percebe-se que os estados de Goiás, Paraná e São Paulo, aparecem o maior número de cidades, o que alerta positivamente para uma crescente de número de cidades, sendo que esses exemplos direcionam para uma reflexão sobre como a parceria universidade-escola é essencial para o desenvolvimento do projeto e melhoria da educação geográfica.
O estado de Tocantins foi o segundo no Brasil a implementar o PNP firmada a parceria no ano de 2014, mas somente desenvolvido de fato a partir de 2015, sob a coordenação do professor Dr. João Aparecido Bazolli, na cidade de Palmas/TO.
No Estado do Piauí, o projeto foi apresentado pelo Professor Raimundo Lenilde de Araújo na cidade de Teresina/PI, em parceria com a Universidade Federal do Piauí, no ano de 2017. Teve como objetivo o desenvolvimento na disciplina de Geografia no Colégio Técnico de Teresina (CTT) em parceria com a UFPI.
A atividade desenvolvida no CTT foi realizada no ano de 2017, envolvendo estudantes do 3º ano do Ensino Médio do Curso Técnico em Agropecuária, do Colégio Técnico de Teresina, no bairro Ininga, Zona Leste da cidade de Teresina, onde o objetivo do projeto era, segundo Teixeira e Araújo (2019, p. 160), “identificar a importância da atividade econômica para a composição da renda da família de pequenos produtores rurais.”, a partir desse objetivo os estudantes tiveram de pensar quais problemáticas estavam atreladas a essa questão.
Outro exemplo que pode ser citado é a atividade conjunta com os estudantes do Ensino Médio do Câmpus do Instituto Federal do Piauí-IFPI na cidade de Campo Maior no estado do Piauí, a ação de intervenção traz como questionamento “de que forma o estudo dos espaços públicos da cidade de Campo Maior - Piauí/Brasil contribui para relacionar os conhecimentos da Geografia Escolar com o exercício da cidadania?”, a mesma foi realizada através da parceria da Universidade Federal do Piauí-UFPI com o campus do IFPI da cidade de Campo Maior (Portela & Alencar, 2019, p. 644).
No Rio Grande do Norte, o PNP foi implantado em 2017, via Instituto Federal do Rio Grande do Norte-IFRN, Campus de São Paulo Potengi, realizado com turmas de 1º e 2º ano do Ensino Médio Técnico Integrado, dos cursos de Meio Ambiente e Edificações, nas turmas de 1º ano do Ensino Médio, nos municípios de: Riachuelo; São Pedro; São Paulo do Potengi e Lagoa de Velhos. (Tavares, Taumaturgo & Dias, 2019).
O estado do Paraná incorporou o PNP no ano de 2017, sendo o quarto estado brasileiro a adotá-lo. A mediadora foi a professora Dra. Mafalda Nesi Francischett que assumiu o trabalho junto ao projeto na perspetiva da pesquisa, a mesma agregou a Pós-graduação (Mestrado e Doutorado em Geografia e Mestrado em Educação), vinculado ao Grupo Representações, Espaços, Tempos e Linguagens em Experiências Educativas-RETLEE, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE/Francisco Beltrão. (Tazinasso, 2021).
E em 2017, no Rio Grande do Sul, por meio da Profa. Dra. Helena Copetti Callai, a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-UNIJUÍ firmou parceria com o IGOT, para desenvolvimento do PNP vinculado à Pós-Graduação.
O projeto “Nós Propomos - Rio! Cidadania com Inteligência Geográfica”, no estado do Rio de Janeiro, foi implementado no ano de 2017, sob a coordenação do Professor Rui Alberto Azevedo dos Santos, vinculado ao Sistema LABGIS - Núcleo de Geotecnologias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O destaque vai para a atividade de extensão intitulada “Nós Propomos - Rio! Cidadania com Inteligência Geográfica” foi uma proposta para a difusão das geotecnologias no ensino básico, onde o objetivo geral era, desenvolver um conjunto de estratégias que viabilizem a maior difusão do uso das geotecnologias e, portanto, do conceito de inteligência geográfica, nos processos formais e informais de ensino ao nível da educação básica, tendo como contexto de motivação ao uso dessas ferramentas, pelos professores e estudantes, o desenvolvimento de atividades extracurriculares focalizadas no exercício de uma cidadania mais participativa, que se vê sintetizada na expressão "Nós Propomos !".
Em abril de 2019, com a assinatura do Acordo de Cooperação entre a Universidade Estadual do Ceará-UECE, a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação/Crede 10 Russas e a Secretaria Municipal de Educação de Limoeiro do Norte, as atividades do PNP iniciaram na Escola de Ensino Médio Integral Arsênio Ferreira Maia, por meio da UECE, na Unidade da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos-FAFIDAM (Ceará, 2019).
No estado do Ceará as atividades vinculadas ao PNP foram desenvolvidas como proposta de extensão, tendo como parceria o curso de Geografia Licenciatura da FAFIDAM, o Laboratório de Geografia (LAGEO) e o Instituto de Geografia e Ordenamento Territorial da Universidade de Lisboa/Portugal.
No caso do estado de Pernambuco, como o projeto está sempre em expansão e agregando professores que se identificam com suas proposições, foi instalado em 2021.
A expansão do projeto nos estados de São Paulo e Santa Catarina será melhor detalhada na sequência.
4. A ampliação da rede no estado de São Paulo
No estado de São Paulo as ações do projeto foram desenvolvidas, a partir do ano de 2017, no município de Marília, por meio do Centro de Pesquisas e Estudos Agrários e Ambientais (CPEA), da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), coordenadas pela professora Dra. Silvia Aparecida de Sousa Fernandes. Já nos municípios de Ribeirão Preto, Mococa, Ibitinga e Serrana, as ações foram vinculadas ao Grupo de Estudos da Localidade (ELO), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, coordenadas pela professora Dra. Andrea Coelho Lastória. Em 2020, o projeto foi iniciado no município de Ourinhos, por meio do "Núcleo de pesquisa em ensino de Geografia: articulação entre a universidade e a escola de Educação Básica" (NPEG), da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação da UNESP, coordenado pela professora Dra. Márcia Cristina de Oliveira Mello.
Em Marília/SP, o projeto ocorreu em parceria com a Escola Estadual Oracina Correa de Moraes Rodine. Reuniu as ações de dois projetos de extensão universitária, aprovados e financiados pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) da UNESP, além de integrar um projeto de pesquisa, com financiamento pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nos anos de 2020 e 2021, o projeto foi expandido para os municípios de Rincão, Araraquara e Gália, conforme exposto no mapa (figura 1).
Em Ribeirão Preto-SP, a parceria foi realizada entre o Departamento de Educação, Informação e Comunicação (DEDIC) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP), por meio do Grupo de Estudos da Localidade (ELO) e o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), da Universidade de Lisboa, em Portugal.
Em meio ao contexto de pandemia da COVID-19, em Ourinhos o projeto teve início no âmbito do Acordo Geral de Cooperação já existente entre a Universidade de Lisboa e a UNESP. Assim, foi possível regulamentar e concretizar um projeto “Nós Propomos!” integrado ao projeto de extensão universitária “Educa Geo” junto à ETEC Jacinto Ferreira de Sá. Em tal escola, atividades articuladas entre ensino, pesquisa e extensão universitária já eram desenvolvidas desde as últimas décadas.
A proximidade entre as características das atividades de extensão universitária e das pesquisas acadêmicas do curso de Geografia da UNESP do Câmpus de Ourinhos, com a rede PNP foi percebida durante o XIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ENANPEGE), quando em 2019, em São Paulo, na Universidade de São Paulo (USP), o embaixador do Projeto no Brasil - o professor Raimundo Lenilde de Araújo - que coordenava os debates do GT 16 - Formação docente, ensino de Geografia e livro didático, divulgou a rede e foram, logo, descobertas similaridades.
A partir disto foi possível reforçar os aportes teóricos e metodológicos do projeto de extensão universitária, já existente, favorecendo a sua internacionalização.
No ano de 2021 para identificar, pesquisar e apresentar propostas de resolução de problemas territoriais à escala urbana, os estudantes da ETEC iniciaram por conhecer os resultados do projeto já desenvolvido em outra ETEC, localizada em Ribeirão Preto/SP/BR, sob a orientação da Professora Andrea Coelho Lastória e executado pelo professor Odair Ribeiro de Carvalho Filho e participação de aproximadamente 120 alunos. Nesta etapa o professor Odair apresentou as linhas gerais do projeto e fez a mobilização inicial dos estudantes da escola. A primeira tarefa foi o desenvolvimento do concurso de logotipo do PNP! local. Para a escolha do logotipo os estudantes participaram enviando desenhos que representassem a ideia do subtítulo do projeto - Ourinhos: cidade sustentável.
Na etapa seguinte foi selecionada uma turma de 50 estudantes do Curso de Meio Ambiente da ETEC Jacinto Ferreira de Sá. No ano de 2022 os estudantes foram divididos em grupos e se organizaram para apontar os problemas da cidade de Ourinhos que lhes saltavam aos olhos, sob o viés geográfico. Dentre os problemas socioambientais encontrados se destacaram: o descarte inadequado de resíduos sólidos em praças e vias públicas e a eutrofização das águas do Parque Público Municipal. Após estudos e debates sobre as temáticas ocorreu o trabalho de campo por Ourinhos, com paradas pré-definidas em três locais: a Praça Presidente Kennedy; o Parque do Centenário de Ourinhos; e a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Ourinhos.
A participação no projeto propiciou aos estudantes uma relação forte com o cotidiano da cidade e seus problemas. Não seria para isto que servem as aulas de Geografia? Sabemos que sim, mas nem sempre as ações docentes são planejadas para saídas a campo. Por diversos fatores os docentes podem se distanciar da atividade de campo, o que pode se tornar um trabalho custoso para o professor, às vezes solitário e desafiador.
Neste sentido, a rede PNP incentiva processos e atividades de ensino de Geografia cujos roteiros sejam autorais, particulares e que busquem caminhos para práticas pedagógicas interessantes para os estudantes, entre elas o trabalho de campo, o que quase sempre tira os professores e as escolas da zona de conforto. Conforme Kaercher (2008) a Geografia tem muito a contribuir para a leitura do mundo quando traz para a reflexão o cotidiano do estudante em forma de perguntas e espantos. A partir dela os estudantes poderão ter algumas respostas para os problemas socioambientais, mas não só! Poderão ter novas dúvidas e questionamentos (Kaercher, 2011).
As constatações foram registradas pelos estudantes durante o trabalho de campo, no caderno de campo. Sobre a Praça Presidente Kennedy eles apontaram que “No local não existe separação para recicláveis, além do fato das duas lixeiras da praça estarem transbordando e longe da área de alimentação.” (Caderno de campo, 2022, p. 5). Sobre o Parque do Centenário de Ourinhos os estudantes registraram que “Uma boa parte do lago está coberta por aguapés (um grande indicador de poluição na água), graças ao descarte incorreto de lixo na região. Além disso, a falta de árvores no local é um problema.” (Caderno de campo, 2022, p. 5). Na próxima etapa do projeto em Ourinhos as reflexões e proposições poderão chegar ao poder público local.
Neste sentido, foi possível desde o início das atividades do projeto uma interação entre os professores das universidades e das escolas “[...] com o intuito de planejar, discutir e realizar práticas pedagógicas em escola pública e promover o aprendizado da educação geográfica e de temas curriculares mais amplos da educação básica, notadamente os temas vinculados às questões ambientais e aprendizagem sobre a localidade.” (Fernandes, Lastória, & Claudino, 2018, p. 154, apud Carvalho Filho, 2020, p. 111).
Como resultados das práticas realizadas pela rede PNP os três grupos, com sede no estado de São Paulo nos municípios de Marília (CPEA), Ribeirão Preto (ELO) e Ourinhos (NPEG) - avançaram na produção acadêmica divulgando reflexões e ações pedagógicas relativas ao seu desenvolvimento, entre os anos de 2017 a 2023. Tais produções foram materializadas em apresentação de trabalhos em eventos científicos, publicação de trabalhos em anais de eventos nacionais e internacionais, publicação de artigos em periódicos, publicação de livros, em especial O ensino de Geografia e o estudo do local: o “PNP! no estado de São Paulo (Carvalho Filho, 2022) e o almanaque de práticas (Lastória, Rosa, & Kawasaki, 2021), apresentação de trabalho de conclusão de curso, na UNESP de Marília, e defesa de dissertação de mestrado na FFCLRP/USP (Carvalho Filho, 2020).
5. A rede presente em Santa Catarina
O Estado de Santa Catarina está localizado na porção meridional do Brasil e embora seus indicadores socioeconômicos estejam entre os melhores do país, diferentes problemas são evidenciados em seu território. Nessa perspetiva, o PNP Cidadania e Inovação na Educação Geográfica, encontra amplas possibilidades de serem desenvolvidas propostas de intervenções por estudantes, que por meio da cidadania territorial, propõem alterações que visam melhorar a qualidade de vida dos cidadãos na escala local. Nessa direção, em três cidades o projeto é desenvolvido. A saber: Florianópolis, a capital do estado localizada no litoral, Chapecó, a principal cidade da região oeste do estado e Rio do Sul, a cidade polo do Alto Vale do Itajaí.
Como mencionado na seção 3, o estado de Santa Catarina foi pioneiro na adoção do PNP no Brasil, sob a coordenação da Dra. Sandra Mendonça, professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (CA/UFSC), campus Florianópolis. Nele, desde o ano de 2014, os estudantes, por meio de seus projetos, refletem sobre a cidade como espaço passível de transformações qualitativas para a população (Marchi & Mendonça, 2020). Nesse sentido, o PNP é desenvolvido como uma proposta metodológica para o último ano da educação Básica, na ótica de um currículo ativo da educação geográfica e do exercício da cidadania.
Em Florianópolis, além dos professores que acompanham os estudantes em todas as etapas de desenvolvimento do projeto, são oportunizadas aos estudantes palestras e rodas de conversa com especialistas sobre questões urbanas. Para mais, na preparação para o trabalho de campo, são realizadas oficinas com convidados e bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), que versam sobre métodos de localização e mapeamento, além de noções básicas de Geoprocessamento que os auxiliam nas atividades fora de sala de aula.
Além da UFSC, o Nós Propomos expandiu-se no ano de 2018, para a Universidade Federal da Fronteira Sul, no município de Chapecó, na região oeste catarinense, sob a coordenação da professora Dra. Adriana Andreis.
As ações do Nós Propomos estão vinculadas a projetos de pesquisa desenvolvidos com fomento da instituição e com apoio de bolsistas de Iniciação Científica. Neles, persiste a perspetiva de articulação entre a Universidade e a Educação Básica, por meio da pesquisa, ensino e extensão (Andreis & Guido, 2021). Assim, ao longo dos anos, distintos projetos foram implementados abordando diferentes perspectivas, tendo a centralidade da escala local como objeto de estudo. Nesse sentido, entre os anos de 2018 a 2020, foi desenvolvido o projeto de pesquisa: Cidadania territorial em pesquisa: Nós Propomos em Chapecó/SC. Já no período de 2019 a 2021, o projeto de pesquisa: Investigar o lugar para compreender o mundo: um estudo com a escola de Ensino Médio, envolveu ações fundamentalmente sob o viés da cidadania territorial, tendo como espaço empírico, a cidade de Chapecó.
Noutro contexto, no ano de 2022, as ações do Nós propomos UFFS, expandiu-se para o município de Planalto Alegre, localizado próximo a Chapecó, por meio do Projeto de extensão: Nós Propomos! em Planalto Alegre/SC. Articulado também com ações de ensino, pesquisa e extensão, desenvolveu atividades com estudantes do Ensino Fundamental I. No entanto, neste ano, a Secretaria Municipal de Educação, foi a principal parceira do projeto, ao proporcionar as condições necessárias para professores e estudantes colaboradores da UFFS desenvolverem as ações do projeto neste município. Ademais, destaca-se que as experiências desenvolvidas no âmbito do Nós Propomos UFFS/Chapecó, foram amplamente divulgadas em livros, periódicos e eventos locais, regionais, nacionais e internacionais. A figura 4, destaca ações do PNP desenvolvidos na região oeste catarinense.
A última instituição a adotar o PNP no estado de Santa Catarina, foi o Colégio Universitário Unidavi, vinculado ao Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), no ano de 2021. Coordenado pelos Professores: Dr. Adilson Tadeu Basquerote e Me. Éverton Leandro Chiodini, o projeto se configura como uma das ações desenvolvidas no Itinerário Formativo intitulado Sociedade e Cidadania, vinculado à grande área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. No seu primeiro ano, as ações do Nós Propomos Unidavi contou com a participação de 35 estudantes que fizeram estudos sobre o bairro Jardim América, local em que está inserido o colégio, devido às restrições médico-sanitárias impostas pelos protocolos dos órgãos de saúde e da instituição que impedia a livre circulação dos estudantes em outras localidades para a execução dos trabalhos de campo, por conta da Pandemia do Covid19. Nesse ano, foram desenvolvidos 10 projetos que abordaram, sobretudo, as questões de mobilidade e infraestrutura urbana.
No ano de 2022, além das ações desenvolvidas no Itinerário de Sociedade e Cidadania, houve a ampliação das ações do Nós Propomos, por meio de um projeto de extensão específico para o Ensino Médio, que garantiu financiamento para as ações dos estudantes e acompanhamento de um bolsista do mesmo nível de ensino. Nesse ínterim, foram desenvolvidos 12 projetos, que destacaram problemas e soluções na escala local (Basquerote, 2019), com ênfase nas questões de mobilidade e infraestrutura urbana, pessoas e animais em situação de rua, circuitos locais de produção, lixo urbano, enchentes e enxurradas, entre outros. Para mais, os estudantes participaram de eventos científicos locais, regionais, nacionais e internacionais, bem como premiação em concursos, e parte das experiências desenvolvidas foram divulgadas em capítulos de livro e artigos publicados em periódicos. A Figura 5, apresenta estudantes do Colégio Universitário Unidavi, no trabalho de campo, identificando problemas na cidade de Rio do Sul (SC).
6. Considerações Finais
O PNP possibilita o trabalho em rede envolvendo docentes, pesquisadores e estudantes, o que pode viabilizar a organização do currículo escolar a partir da identificação de problemas locais pelos estudantes das escolas envolvidas. Idealizado pelo professor Sérgio Claudino, o projeto tem efetivo compromisso com o desenvolvimento da cidadania territorial.
Nos anos de execução o projeto ganhou fôlego internacional. Dada a abrangência e alcance dos resultados, este texto visou a divulgar a atuação e a participação no projeto de intelectuais docentes da Educação Básica e da Universidade que se reúnem em torno de responsabilidades autênticas com o ensino de Geografia.
Por consequência das ações da rede PNP os intelectuais docentes e as instituições ampliam as suas relações no âmbito do intercâmbio da extensão universitária e da pesquisa acadêmica, além da troca e partilha de experiências de práticas pedagógicas no contexto sociogeográfico favorecendo ampliar elementos e características da formação cidadã.