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Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online

versão impressa ISSN 2183-8453

Resumo

RIBEIRO, R et al. EXPOSIÇÃO POR PICADA ACIDENTAL AO VÍRUS LINFOTRÓPICO DA CÉLULA HUMANA - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO. RPSO [online]. 2023, vol.16, esub0417. ISSN 2183-8453.  https://doi.org/10.31252/rpso.18.11.2023.

Introdução

A exposição acidental a sangue e outros fluidos biológicos no local de trabalho implica um risco de transmissão de vários microrganismos. O vírus linfotrópico da célula T humana (HTLV) é um retrovírus, com quatro subtipos conhecidos, sendo os tipos 1 e 2 os mais estudados. É transmissível por via vertical, sexual e hematogénica. O subtipo 1 origina doença em humanos, podendo associar-se ao desenvolvimento de Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto ou mielopatia associada ao HTLV-1. A transmissibilidade por via hematogénica torna este agente um potencial infetante de profissionais de saúde em contexto de acidente de trabalho com exposição a sangue e/ou outros fluidos biológicos e, apesar de não ser particularmente prevalente no continente europeu, o risco de exposição pode existir em contexto de trabalhadores que exerçam as suas funções em zonas endémicas ou ganhar relevância no contexto do aumento dos fluxos migratórios a nível global.

Descrição do caso

Trata-se do caso de um médico de 32 anos, sem antecedentes pessoais relevantes que, durante um estágio realizado numa unidade hospitalar distinta da sua habitual, sofreu uma picada acidental, com exposição a sangue, enquanto realizava um procedimento cirúrgico a uma doente infetada com HTLV-1/2. As restantes serologias virais da fonte (VHB, VHC, VIH) eram negativas sendo, no entanto, desconhecido o estado de saúde da doente à data, nomeadamente qualquer dado que pudesse fornecer informação sobre a carga viral. Adicionalmente, não foi feita identificação do subtipo de HTLV com que estaria infetada. Não existindo evidência da eficácia de esquemas de profilaxia após exposição, o trabalhador manteve-se em vigilância durante três meses, realizando teste serológico no final do período de seguimento, que se mostrou negativo.

Discussão/Conclusão

A transmissibilidade do HTLV por via hematogénica, quer por transfusões sanguíneas de dadores infetados, quer por partilha de seringas em utilizadores de drogas endovenosas, encontra-se bem documentada, pelo que é biologicamente plausível a ocorrência de transmissão por corte ou picada acidental no contexto ocupacional. No entanto, uma vez que a transmissão depende do contacto célula-a-célula, é necessário que exista uma transferência de volume suficiente de sangue ou fluidos biológicos infetados que permita a passagem de células da fonte para o acidentado. Seja por este motivo, ou pelas várias limitações nos escassos estudos publicados sobre este tema, no contexto ocupacional, a única revisão sistemática publicada concluiu não existir evidência que comprove de forma significativa a seroconversão após exposição. No caso clínico se apresenta, decidiu-se manter vigilância do trabalhador e realizar serologia aos três meses. Considerou-se que, ainda que não exista evidência nesse sentido, existindo a possibilidade de transmissão, e dada a gravidade dos efeitos no caso de se tratar do subtipo 1, é razoável realizar este seguimento, devendo os casos de seroconversão ser participados como doença profissional. Este seria ainda mais importante no caso de o acidente ter ocorrido em profissional de saúde do sexo feminino em idade fértil, uma vez que, existindo seroconversão surgiria a possibilidade de transmissão à sua descendência por via vertical, havendo indicação para evicção de amamentação/aleitamento materno.

Palavras-chave : vírus linfotrópico da célula T Humana; medicina do trabalho; segurança do trabalho; acidente de trabalho; risco biológico..

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