SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número174Mudança de regime e política externa: Portugal, a Indonésia e o destino de Timor LesteAs bibliotecas da Fundação Gulbenkian e a leitura pública em Portugal (1957-1987) índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  n.174 Lisboa abr. 2005

 

As bibliotecas no liberalismo: definição de uma política cultural de regime**

 

Paulo J. S. Barata*

 

Aborda-se a acção do Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, organismo público criado em 1834 pelo regime liberal para assegurar a arrecadação e a distribuição das livrarias dos conventos extintos, teorizando sobre a existência, subjacente àquela, de uma política cultural estrutural ao próprio regime e que visava o estabelecimento de um sistema integrado de bibliotecas. Esplana-se a coerência dos princípios dessa política, sublinhando-se os constrangimentos, os bloqueios e os desvios que aconteceram na implementação da mesma. Decorrente dessa política, teoriza-se sobre o emergir de um novo paradigma de biblioteca, a biblioteca pública, por oposição ao modelo de biblioteca privada que vigorava no Antigo Regime.

Palavras-chave: Liberalismo, Portugal, Biblioteconomia, Sistemas integrados de bibliotecas, Bibliotecas públicas.

 

Les bibliothèques sous le libéralisme: définition d'une politique culturelle de régime

L'auteur aborde l'action du Dépôt des Librairies des Couvents Eteints, un organisme créé en 1834 par le régime libéral pour assurer le recouvrement et la distribution des librairies des couvents éteints, en théorisant sur l'existence sous-jacente d'une politique culturelle, structurelle au régime et qui visait établir un système intégré de bibliothèques. L'article expose la cohérence des principes de cette politique, tout en soulignant les contraintes, les blocages et les déviances qui se sont produits lors de sa mise en oeuvre. Comme conséquence de cette politique, il théorise sur l'émergence d'un nouveau paradigme de bibliothèque, la bibliothèque publique, par opposition au modèle de bibliothèque privée en vigueur sous l'Ancien Régime.

 

Libraries under the liberal order: a definition of a regime's cultural policy

This article deals with the activities of the Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos (Depository for the Libraries of Abolished Convents), a public body established in 1834 by the liberal government in order to safeguard the storage and distribution of books collected from the libraries of the convents which had been abolished. It speculates on whether these concerns were guided by an underlying cultural policy specific to that regime, the aim of which was to establish an integrated library system. The article explains the cohesiveness of the principles of such a policy, stressing the constraints, the blockages and the diversions which arose as it was implemented. Also discussed in connection with the policy is the theory that a new library model was emerging, that of the public library, as opposed to the private library which prevailed under the Old Regime.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

BIBLIOGRAFIA

Balayé, Simone (1991), «La Bibliothèque nationale pendant la révolution», in Dominique Varry, Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3, pp. 71-83.         [ Links ]

Balbi, Adrien (1822), Essai statistique sur le royaume de Portugal et d'Algarve, Paris, Chez Rey et Gravier, Librairies, 2 vols.

Barata, Paulo J. S. (2001), Os livros e a Revolução Liberal: o Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos e a gestão do património bibliográfico dos conventos como reflexo de uma política cultural do Liberalismo, tese de mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses apresentada em 2001 na Universidade Aberta.

Barata, Paulo J. S. (2003), Os livros e o Liberalismo: da livraria conventual à biblioteca pública: uma alteração de paradigma, Lisboa, Biblioteca Nacional.

Barnett, Graham Keith (1987), Histoire des bibliothèques publiques en Françe de la révolution à 1939, Nantes, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie.

Cabral, Luís, e Meireles, Maria Adelaide (1998), Tesouros da Biblioteca Pública Municipal do Porto, Lisboa, INAPA.

Calazans, José Carlos (1993), «A casa da livraria do Palácio de Mafra», in Boletim Cultural, n.º 92, Mafra, Câmara Municipal, pp. 9-26.

Canaveira, Manuel Filipe Cruz Canaveira (1990), «Período contemporâneo: de Pombal à República», in Maria José Ferro Tavares (coord.), Sociedade e cultura portuguesas, Lisboa, Universidade Aberta, pp. 89-237, vol. 2 («Textos de Base», 24).

Cardoso, António M. de Barros (1995), Ler na livraria de Frei Francisco de São Luís Saraiva, ed. comemorativa do sesquicentenário da morte do cardeal Saraiva, Ponte de Lima, Câmara Municipal de Ponte de Lima.

Catroga, Fernando, e Carvalho, Paulo A. M. Archer de (1996), Sociedade e cultura portuguesas II, Lisboa, Universidade Aberta, 2.º vol. («Textos de Base», 91).

Cavallo, Gugliemo, e Chartier, Roger (dirs.) (1998), Historia de la lectura en el mundo occidental, Madrid, Taurus.

Chartier, Roger (1996), Culture écrite et société: l'ordre des livres (xvie-xviiie siècle), Paris, Éditions Albin Michel («Bibliothèque Albin Michel Histoire»).

Colecção de decretos e regulamentos... 2.ª série (1834), Collecção de decretos e regulamentos mandados publicar por Sua Magestade Imperial o Regente do Reino desde que assumiu a regencia até á sua entrada em Lisboa, 2.ª série, Lisboa, Imprensa Nacional.

Colecção de leis e outros documentos oficiais... 6.ª série (1837), Collecção de leis e outros documentos officiaes publicados desde 10 de Setembro até 31 de Dezembro de 1836, 6.ª série, Lisboa, Imprensa Nacional.

Colecção de leis e outros documentos oficiais... 7.ª série, 1.ª parte (1837), Collecção de leis e outros documentos officiaes publicados no 1.º semestre de 1837, 7.ª série, 1.ª parte, Lisboa, Imprensa Nacional.

Colecção de leis e outros documentos oficiais... 7.ª série, 2.ª parte (1837), Collecção de leis e outros documentos officiaes publicados no 2.º semestre de 1837, 7.ª série, 2.ª parte, Lisboa, Imprensa Nacional.

Dantas, Júlio (1925), «A livraria do bispo Avelar», in Anais das Bibliotecas e Arquivos, s. 2, n.º 24, vol. 6, Outubro-Dezembro, pp. 206-207.

Gandra, Manuel J. (1997), «A biblioteca do Palácio Nacional de Mafra: cosmologia e mnemotecnia», in Boletim Cultural, n.º 96, Mafra, Câmara Municipal, pp. 9-70.

Garcia Ejarque, Luis (1995), «La Biblioteca Nacional de España», in Associación de Bibliotecas Nacionales de Iberoamérica, Historia de las bibliotecas nacionales de Iberoamérica: passado y presente, México, Universidad Nacional Autónoma de México, pp. 239-290.

Gomes, Joaquim Ferreira (1996), Estudos para a história da educação no século XIX, 2.ª ed., Lisboa, Instituto de Inovação Educacional («Memórias da Educação», 4).

Jolly, Claude (1997), «Les idéologues et les bibliothèques», in Frédéric Barbier, Annie Parent-Charon, François Dupuigrenet Desroussilles, Claude Jolly e Dominique Varry (compils.), Le livre et l'historien: études offertes en l'honneur du professeur Henri-Jean-Martin, Genebra, Librairie Droz, pp. 679-689.

Lisboa, João Luís (1991), Ciência e política: ler nos Finais do Antigo Regime, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa («Cultura Moderna e Contemporânea», 7).

Madahil, António Gomes da Rocha (1925), «A biblioteca do Liceu Central de José Falcão em Coimbra», in Anais das Bibliotecas e Arquivos, s. 2, n.º 24, vol. 6, Outubro-Dezembro, pp. 203-205.

Nadaud, Alain (1991), «Le jardin privé», in Richard Figuier (dir.), La bibliothèque: miroir de l'âme, mémoire du monde, Paris, Autrement, pp. 207-212 (série «Mutations», n.º 121).

Neto, Vítor (1998), O estado, a igreja e a sociedade em Portugal (1832-1911), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda (colecção «Análise Social»).

Nóvoa, António (coord.) (1997), Instituto Histórico da Educação, Lisboa, Instituto Histórico da Educação, 3 vols. (relatório do Grupo de Trabalho Arquivo, Museu, Biblioteca e Centro de Estudos em História da Educação, disponível no Instituto Histórico da Educação).

Pereira, António Manuel (1959), Governantes de Portugal desde 1820 até ao Dr. Salazar, Porto, Manuel Barreira.

Peres, Damião (dir.) (1935), História de Portugal, Barcelos, Portucalense Editora, L.da, vol. 7.

Portugal, Ministério da Educação, Secretaria-Geral (1989), Reformas do ensino em Portugal: 1835-1869, Lisboa, ME, Secretaria-Geral, t. 1, vol. 1.

Ramos, Luís A. de Oliveira (1998), «Os monges e os livros no século xviii: o exemplo da biblioteca de Tibães», in Sob o signo das «Luzes», Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, pp. 119-133 («Temas portugueses»).

Rebelo, Carlos Alberto (2002), A difusão da leitura pública: as bibliotecas populares (1870-1910), Lisboa, Campo das Letras.

Ribeiro, José Silvestre (1914), Apontamentos históricos sobre bibliotecas portuguesas, Coimbra, Imprensa da Universidade (t. 19 inédito da História dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal, org. e antiloquiado por Álvaro Neves, 1.º oficial da biblioteca da Academia).

Ribeiro, José Silvestre (1871-1914), História dos estabelecimentos científicos, literários e artísticos..., Lisboa, Typ. da Acad. das Sciencias, 18 vols.

Riberette, Pierre (1991a), «Bibliothécaires en révolution», in Dominique Varry, Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3, pp. 46-49.

Riberette, Pierre (1991b), «De la Commission des Monuments au Conseil de Conservation», in Dominique Varry, Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3, pp. 30-41.

Richard, Hélène (1991), «Des bibliothèques des districts aux bibliothèques municipales», in Dominique Varry, Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la Révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3, pp. 43-59.

Richter, Noë (1982), L'éducation ouvrière et le livre: de la révolution à la libération, Le Mans, Bibliothèque de l'Université du Maine.

Roche, Daniel (1991), «Lumières», in Richard Figuier (dir.) La bibliothèque: miroir de l'âme, mémoire du monde, Paris, Autrement, pp. 93-103 (série «Mutations», n.º 121).

Silva, António Martins da (1997), Nacionalizações e privatizações em Portugal: a desamortização oitocentista, Coimbra, Minerva.

Silva, Armando Malheiro da (1987), «O clero regular e a usurpação: subsídios para uma história sócio-política do miguelismo», in Revista de História das Ideias, Coimbra, n.º 9, pp. 529-630.

Silveira, Luís Espinha da (1980), «A venda dos bens nacionais (1834-1843): uma primeira abordagem», in Análise Social, vol. 16, n.os 61-62 (1.º e 2.º), pp. 87-110. Também publ. na obra colectiva, coordenada por Jaime Reis, Maria Filomena Mónica e Maria de Lourdes Lima dos Santos, e com nota introdutória de A. Sedas Nunes, O século XIX em Portugal: comunicações ao colóquio organizado pelo Gabinete de Investigações Sociais (Novembro de 1979), Lisboa, Editorial Presença, s. d., pp. 87-110).

Sousa, Maria Helena Pais de (1987), «Reforma escolares: ensino primário e secundário», in Cultura: História e Filosofia, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, vol. 6, pp. 261-355.

Varry, Dominique (1991a), «Les confiscations révolutionnaires», in Dominique Varry, Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3, pp. 9-27.

Varry, Dominique (dir.) (1991b), Histoire des bibliothèques françaises: les bibliothèques de la révolution et du xixe siècle, 1789-1914, Paris, Promodis, Éditions du Cercle de la Librairie, vol. 3.

 

* Biblioteca Nacional e Inspecção-Geral da Educação (IGE).

** Este artigo tem por base o capítulo 4 da tese de mestrado do autor referenciada na bibliografia. A bibliografia impressa foi referenciada no final e citada de forma abreviada no corpo do texto. As fontes e a bibliografia manuscrita foram referenciadas em nota. As siglas utilizadas são BN, para Biblioteca Nacional, e BCM, para Biblioteca Central da Marinha. As cotas BN, MSS, e BN, COD, referem-se, respectivamente, às colecções de manuscritos e de códices da Biblioteca Nacional e as restantes referenciam séries documentais do arquivo histórico da BN. Utilizámos a designação Biblioteca Pública, grafada com maiúscula, para nos referirmos à Real Biblioteca Pública da Corte e, mesmo para além de 7 de Dezembro de 1836, à Biblioteca Nacional de Lisboa, de acordo com a persistência do uso na época e, em muitos caos, como forma de evitar a redundância. Pela mesma razão utilizou-se alternadamente a sigla DLEC, a designação Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, Depósito das Livrarias, ou mais simplesmente Depósito, bem como a sigla CADLEC, a designação Comissão Administrativa do Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, Comissão Administrativa, ou mais simplesmente Comissão.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons