SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número174Os progressos do atraso: Uma nova história económica de Portugal, 1842-1992Espaço Público e Democracia, Comunicação, Processos de Sentido e Identidades Sociais índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  n.174 Lisboa abr. 2005

 

Michael Walzer, A Guerra em Debate, Lisboa, Cotovia, 2004, 221 páginas.

 

Henrique Raposo

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

1 Arthur Schlesinger Jr., The Vital Center, New Brunswick, Transaction Publishers, 1998 [1949]; v. sobretudo pp. 157-188.         [ Links ]

2 São vários os exemplos: o Labour (Inglaterra) e o SPD (Alemanha) só iniciaram a ruptura com a herança marxista no final dos anos 50; o PSI (Partido Socialista Italiano) precisou de assistir ao esmagamento da revolução húngara (1956) pelo exército vermelho para rasgar a aliança com o PCI (Partido Comunista Italiano). Repare-se agora no caso do socialista François Mitterrand na presidência francesa já no princípio dos anos 80: desde o programa governamental de «ruptura com o capitalismo» até à protecção legal concedida a ex-operacionais das Brigadas Vermelhas italianas, o posicionamento de Mitterrand é um exemplo elucidativo, porque tardio, da ambiguidade ideológica da esquerda europeia. Para a constatação destas nuances ideológicas da esquerda europeia, v. Pedro Aires Oliveira, «Social-democracia e democracia cristã no mundo bipolar», in António Reis (org.), Grandes Correntes Políticas e Culturais do Século XX, Lisboa, Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa/Edições Colibri, 2003, pp. 141-149. Para uma crítica da resistência da utopia comunista mesmo após 1989 e consequente desculpabilização dos crimes da URSS, v. Jean-François Revel, A Grande Parada — Porque Sobrevive a Utopia Socialista (trad. António Cruz Belo), Lisboa, Editorial Notícias, 2001.

3 Curiosamente, o islamismo actual sofreu influências do pensamento radical europeu, do qual o comunismo foi uma das faces. Para uma análise da contaminação ideológica do islamismo por escolas do pensamento radical europeu, v. John Gray, Al-Qaeda and What Means to be Modern, Nova Iorque, The New Press, 2003, Ladan Boroumand e Roya Boroumand, «Terror, islam, and democracy», in Journal of Democracy, vol. 13, n.º 2 (Abril de 2002), Ian Buruma e Avishai Margalit, Occidentalism, the West in the Eyes of its Enemies, Nova Iorque, Penguin Books, 2004, pp. 101-136, e Marc Ferro, O Choque do Islão (trad. Duarte da Costa Cabral), Mem Martins, Europa-América, 2004 [2002], pp. 87-104.

4 Michael Walzer é professor de Ciências Sociais em Princeton e editor principal da revista Dissent. É uma das figuras de proa no debate sobre as dimensões morais da guerra e é, sem dúvida, uma das vozes mais respeitadas da esquerda americana. Ao nível da política externa, pode ser considerado líder da corrente liberal intervencionista, adversária do pacifismo (esquerda) e do calculismo realista (direita). Estas correntes recusam aquilo que Walzer considera ser um imperativo ético: intervenções humanitárias.

5 O ponto alto desta atitude crítica perante a esquerda será, porventura, o artigo intitulado «Can there be a decent left?», no qual Walzer critica as reacções da esquerda em relação ao 11 de Setembro e à guerra do Afeganistão (v. Michael Walzer, «Can there be a decent left?», disponível em www.dissentmagazine.org/menutest/archives/2002/sp02/decents.html.

6 Guerra em Debate não é uma obra convencional. É constituída por um conjunto de artigos publicados em revistas intelectuais (exemplos: Dissent, The New Republic). Sob pena de fazermos uma listagem desinteressante dos tópicos abordados, escolhemos debater os temas marcantes do momento e que certamente marcarão a próxima década: o terrorismo e a questão iraquiana.

7 Jean Baudrillard, O Espírito do Terrorismo (trad. Fernanda Bernardo), Porto, Campo de Letras, 2002, p. 9.

8 Adelino Torres, «Terrorismo: o apocalipse da razão», in Adriano Moreira (org.), Terrorismo, Coimbra, Almedina, 2004, p. 19.

9 Walzer desenvolveu este ponto no seu clássico Just and Unjust Wars (v. Michael Walzer, Just and Unjust Wars, Nova Iorque, Basic Books, 1977, p. 203).

10 Aqui fica um exemplo da projecção teórica de Wallerstein para Bin Laden: «Bin Laden é um homem inteligente e está ideologicamente convencido de que está em condições de tirar vantagem das fraquezas estruturais da posição hegemónica em declínio» [cf. Immanuel Wallerstein, «Cinco comentários a propósito dos acontecimentos ocorridos desde o 11 de Setembro», in O Império em Guerra, o Mundo depois do 11 de Setembro (trad. Joana Caspurro), Porto, Campo das Letras, 2002 (2001), pp. 116-117]. Recorde-se que Immanuel Wallerstein defende a seguinte tese: de forma sistemática e à escala mundial, os Estados Unidos têm vindo a revelar fraqueza estrutural desde os anos 70; Bin Laden será então a última prova que Wallerstein julga ter encontrado para comprovar a sua teoria. Para a constatação da obsessão de Wallerstein pelo suposto declínio dos EUA, que estaria, assim, a ser aproveitado por Bin Laden, v. Immanuel Wallerstein, The Decline of American Power, Nova Iorque, The New Press, 2003.

11 Para uma constatação da confusão conceptual e da lógica apolítica de Chomsky basta ler a introdução referente a 2002 de Noam Chomsky, Piratas e Imperadores, Velhos e Novos, Mem Martins, Europa-América, 2003, pp. 17-38.

12 O conceito que utilizamos (anti-ocidentalismo difundido por ocidentais) já foi cristalizado de várias formas. Por exemplo, George Steiner utiliza a expressão «masoquismo penitencial» do Ocidente; Pascal Bruckner isolou a ideia de «remorso do homem branco»; Karl Popper criticou «os profetas cochichantes do pessimismo» e declínio do Ocidente; recentemente, Ian Buruma e Avishai Margalit cunharam o termo occidentalism — o reverso do orientalismo, isto é, o conjunto de clichés que reduzem o Ocidente a uma civilização sem dignidade humana, que, paradoxalmente, tem a sua origem no próprio ocidente [cf. George Steiner, No Castelo do Barba Azul (trad. Miguel Serras Pereira), Lisboa, Relógio d'Água, 1992 (1971), p. 70, Pascal Bruckner, O Remorso do Homem Branco (trad. Emanuel Lourenço Godinho), Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990 (1983), Karl Popper, «Em que acredita o ocidente?», in Karl Popper, Em Busca de um Mundo Melhor (trad. Teresa Curvelo), Lisboa, Editorial Fragmentos, 1992 (1959), p. 192, e Ian Buruma e Avishai Margalit, Occidentalism, the West in the Eyes of Its Enemies, Nova Iorque, The Penguin Press, 2004.

13 O argumento do filósofo inglês Roger Scruton pode ser resumido da seguinte forma: a «cultura do repúdio», vigente no Ocidente, tem a sua base em autores (Rorty, Foucault, Derrida) que devem a sua eminência a um interessante paradoxo, a saber: a sua autoridade intelectual não assenta em argumentos sólidos, mas sim no facto de conferirem autoridade à rejeição de autoridade e ao seu comprometimento absoluto com a impossibilidade de comprometimentos absolutos (v. Roger Scruton, The West and the Rest, Globalization and the Terrorist Threat, Wilmington, ISI, 2002, pp. 68-83).

14 Carl Schmitt, La notion de politique, Paris, Calmann-Lévy, 1972 [1963], pp. 66 e 69.

15 «The incompetent or the incoherent?», in The Economist, 30 de Outubro de 2004, p. 12.

16 Na questão do timing da intervenção, o historiador Niall Ferguson é um excelente complemento para Walzer. (v. Niall Ferguson, Colossus, The Rise and Fall of the American Empire, Londres, Allen Lane, 2004, p. 294).

17 Recorde-se que Gerard Schröeder, chanceler alemão, recusou aceitar o uso da força no Iraque mesmo com o consentimento da ONU, ou seja, desafiou antecipadamente o dito direito internacional.

18 Sun Tzu, A Arte da Guerra (trad. Luís Serrão), Queluz, Coisas de Ler, 2002, p. 31.

19 Como é notório, no desenvolvimento deste posicionamento crítico estamos a seguir o legado de Isaiah Berlin. Provavelmente, a grande demanda da vida académica de Berlin terá sido a destruição da tendência para o universal e para a unidade do racionalismo (religioso ou ateísta) ocidental [v., por exemplo, Isaiah Berlin, «A originalidade de Maquiavel», in Isaiah Berlin, A Apoteose da Vontade Romântica (trad. Teresa Curvelo), Lisboa, Editorial Bizâncio, 1999, pp. 43-99, e A Busca do Ideal (trad. Teresa Curvelo), Lisboa, Editorial Bizâncio, 1998, pp- 43-59].

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons