«Um centro na margem»: o caso do cinema português

Jacques Lemière*

Este trabalho defende a ideia de que as ligações especiais que o cinema mantém no âmbito local têm uma dimensão nacional, entendida, em primeiro lugar, no seu sentido subjectivo, mas que é, simultaneamente, parte de um mecanismo específico de produção e recepção. Desde o início, o cinema (arte ou indústria, arte e indústria) tem-se caracterizado quer pelas suas raízes nacionais, quer pelas suas relações internacionais (obras, recursos humanos, capitais). Este paradoxo é analisado tendo como referência o caso do cinema português, como exemplo de uma construção intencional, defendida durante mais de trinta anos, de uma excepção cinematográfica nacional: os artistas-cineastas de um pequeno país, sem indústria cinematográfica, têm resistido e, ao mesmo tempo, têm sido obrigados a submeterem-se parcialmente ao modelo europeu, nos aspectos da produção e do trabalho.

Palavras-chave: Cinema, Portugal, Teoria do cinema, Aveiro.

«Un centre en marge»: le cas du cinéma portugais

Ce travail défend l’idée que les liaisons spéciales du cinéma au niveau local ont une dimension nationale, entendue, tout d’abord, dans son sens subjectif, mais qui fait, simultanément, partie d’un mécanisme spécifique de production et de réception. Dès ses débuts que le cinéma (art ou industrie, art et industrie) s’est caractérisé soit par ses racines nationales, soit par ses rapports internationaux (ouvrages, ressources humaines, capitaux). Un tel paradoxe est examiné en prenant comme référence le cas du cinéma portugais, en tant qu’exemple d’une construction intentionnelle, défendue pendant plus de trente ans, d’une exception cinématographique nationale: les artistes-cinéastes d’un petit pays, sans industrie cinématographique, ont résisté et, en même temps, ont dû se soumettre partiellement au modèle européen, en matière de production et de travail.

«A centre at the margin»: Portuguese cinema

This article argues for the notion that cinema’s special links to the local have a national dimension. This has to be understood in its subjective sense first of all, but at the same time is part of a specific mechanism of production and reception. From the outset, cinema (art or industry, art and industry) has been characterized by its national or international roots (works, human resources, capital). The article analyses this paradox using Portuguese cinema as its point of reference, as an example of the intentional construction, over a period of over thirty years, of a national cinematographic exception: the artist-filmmakers of a small country, with no cinematographic industry, have survived and, at the same time, have been obliged to submit in part to the European model as far as production and labour are concerned.

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* Faculdade de Ciências Económicas e Sociais da Universidade de Lille 1.