SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número185A reclusão de mulheres e a indústria de reintegraçãoReclusão e laços sociais: discursos no feminino índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  n.185 Lisboa  2007

 

A defesa institucional numa instituição total: o caso de um centro de internamento de menores delinquentes **

Tiago Neves *

 

Este ensaio baseia-se em trabalho etnográfico desenvolvido durante cerca de um ano numa instituição de internamento e reeducação de menores delinquentes — o Centro Educativo de Santo António.

O ensaio procura analisar e discutir a articulação entre a defesa institucional, identificada como processo central de organização do quotidiano do centro educativo, e o processo de reeducação, que é parte integrante dos objectivos da instituição. A noção de defesa institucional aqui introduzida tem as suas raízes no projecto de defesa social de Adolphe Prins, no conceito de burocracia de Weber e na lógica managerialista, actualmente importante tanto na esfera da justiça juvenil como na esfera educativa.

Palavras-chave: etnografia; instituição total; menores delinquentes; defesa institucional.

 

 

La défense institutionnelle dans une institution totale: le cas d'un centre d'internement de mineurs délinquants

Cet essai se fonde sur un travail ethnographique réalisé pendant près d'un an dans une institution d'internement et rééducation de mineurs délinquants _ le Centre Educatif de Santo António.

L'auteur essaye d'analyser et de discuter l'articulation entre la défense institutionnelle, identifiée comme étant le processus central d'organisation quotidienne du Centre Educatif, et le processus de rééducation qui fait partie intégrante des objectifs de l'institution. La notion de défense institutionnelle ici introduite puise ses racines dans le projet de défense sociale d'Adolphe Prins, dans le concept de bureaucratie de Weber et dans la logique managérialiste, d'importante actualité tant dans la sphère de la justice juvénile que dans la sphère de l'éducation.

Mots-clé: ethnographie; institution totale; mineurs délinquants; défense institutionnelle.

 

 

Institutional defence in a total institution: the case of an internment centre for under-age delinquents

This essay is based on ethnographic work carried out over about a year in an institution for the internment and re-education of under-age delinquents — the Centro Educativo de Santo António (St. Anthony's Educational Centre).

The essay analyses and discusses the linkages between institutional defence, identified as a core process in the day-to-day organization of the Education Centre, and the re-education process, which is an integral part of the institution's objectives. This idea of institutional defence is rooted in Adolphe Prins' social defence project, in Weber's concept of bureaucracy and in the logic of managerialism, which is important currently not only in the sphere of juvenile law-making as in the educational sphere.

Keywords: ethnography; total institution; under-age delinquents; institutional defence.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

Bibliografia

Agamben, G. (1993), A Comunidade que Vem, Lisboa, Editorial Presença.         [ Links ]

Agra, C. da (1986), Science, maladie mentale et dispositifs de l'enfance — du paradigme biologique au paradigme systemique, Lisboa, INIC.

Asquith, S. (2004), «Justice, retribution and children», in J. Muncie, G. Hughes e E. McLaughlin (orgs.), Youth Justice — critical readings, Londres, Sage e Open University.

Ball, S. (1993), «La gestión como tecnología — un análisis ludista», in S. Ball (org.), Foucault y la Educación — disciplinas y saber, Madrid e La Coruña, Ediciones Morata e Fundación Paideia.

Bittner, E. (1967), «The police on skid-row: a study of peace-keeping», in American Sociological Review, 32, 5.

Brantingham, P. J., e Brantingham, P. L. (1981), Environmental Criminology, Londres, Sage.

Duarte-Fonseca, A. C. (2005), Internamento de Menores Delinquentes, Coimbra, Coimbra Editora.

Foucault, M. (1997), Vigiar e Punir, Petrópolis, Editora Vozes.

Foucault, M. (1999), Les anormaux — cours au Collège de France, 1974-1975, Paris, Gallimard/Le Seuil.

Furtado, L., e Guerra, P. (2001), O Novo Direito das Crianças — um recomeço, Lisboa, Centro de Estudos Judiciários.

Goffman, E. (1999 [1961]), Manicómios, Prisões e Conventos, São Paulo, Editora Perspectiva.

Goifman, K. (2002), «Killing time in the Brazilian slammer», in Ethnography, 3, 4.

Gomes, C. (coord.) (2004), Os Caminhos Difíceis da «Nova» Justiça Tutelar Educativa. Uma avaliação de dois anos de aplicação da Lei Tutelar Educativa, Coimbra, Observatório Permanente da Justiça Portuguesa e Centro de Estudos Judiciais.

Jacobs, J. B. (1977), Stateville — the penitentiary in mass society, Chicago, The University of Chicago Press.

Lipovetsky, G. (2000), Le crépuscule du devoir — l'éthique indolore des nouveaux temps démocratiques, Paris, Gallimard.

Lopes, J. T. (coord.), e Carmo, D. S. (2001), A Tutoria do Porto — estudo sobre a morte social temporária, Porto, Afrontamento.

Muncie, J., e Hughes, G. (2004), «Modes of youth governance — political rationalities, criminalization and resistance», in J. Muncie, G. Hughes e E. McLaughlin (orgs.), Youth Justice — critical readings, Londres, Sage e Open University.

Queloz, N. (1991), «Protecção, intervenções e direitos das crianças e dos jovens», in Infância e Juventude, 4, 91.

Pais, L. (2005), Uma História das Ligações entre a Psicologia e o Direito em Portugal: perícias psiquiátricas médico-legais e perícias sobre a personalidade como analisadores, Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, tese de doutoramento não publicada.

Pedroso, J., e Gersão, E. (1998), Relatório do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, vol. iv, A Justiça de Menores: as crianças entre o risco e o crime, Coimbra, Centro de Estudos Sociais.

Pimentel, A. (2001), A Acção Social na Reinserção Social, Lisboa, Universidade Aberta.

Prins, A. (1986 [1910]), La défense sociale et les transformations du droit pénal, Genebra, Edition Médecine et Hygiene.

Rose, N. (1990), Governing the Soul — the shaping of the private self, Londres e Nova Iorque, Routledge.

Sacks, H. (1978), «Notes on police assessment of moral character», in P. K. Manning e J. van Maanen (orgs.), Policing: a view from the street, Santa Monica, Goodyear.

Scraton, P., e Haydon, D. (2004), «Challenging the criminalization of children and young people», in J. Muncie, G. Hughes e E. McLaughlin (orgs.), Youth Justice — critical readings, Londres, Sage e Open University.

Sykes, G. M. (1999 [1958]), The Society of Captives — a study of a maximum security prison, Princeton, Princeton University Press.

Tulkens, F. (1988), Généalogie de la défense sociale en Belgique (1880-1914), in F. Tulkens (org.), Généalogie de la défense sociale en Belgique (1880-1914), Bruxelas, Éditions Story-Scientia.

wacquant, L. (2002), «The curious eclipse of prison ethnography in the age of mass incarceration», in Ethnography, 3, 4.

Weber, M. (1968 [1925]), Economy and Society — an outline of interpretive sociology, vol. I, Nova Iorque, Bedminster.

 

* FPCE-UP

** Texto elaborado a partir da comunicação apresentada no colóquio «A prisão, a psiquiatria e a rua», realizado no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, nos dias 6 e 7 de Junho de 2005.

Antes de mais, devo agradecer ao Instituto de Reinserção Social a autorização que me concedeu para realizar um trabalho de investigação no Centro Educativo de Santo António, no Porto. Agradeço também à direcção do referido Centro Educativo, que, ao permitir-me uma grande liberdade de movimentação e ao disponibilizar-me os apoios solicitados, contribuiu decisivamente para que a instituição total se apresentasse como instituição observável.

É importante ter presente, portanto, que a análise que seguidamente desenvolvo só se tornou possível graças ao grau de exposição a que o Centro Educativo aceitou submeter-se.

 

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons