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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.209 Lisboa dez. 2013

 

Imigração brasileira contemporânea: discursos e práticas de imigrantes brasileiros em Londres

Contemporary Brazilian migration: discourses and practices of Brazilians in London

 

Angelo Martins Junior* e Gustavo Dias*

*Goldsmiths College, University of London, Reino Unido. E-mails: martins.ajunior@gmail.com e tentonidias@yahoo.com.br

 

RESUMO

Imigração brasileira contemporânea: discursos e práticas de imigrantes brasileiros em Londres.Este artigo discute como os migrantes brasileiros em Londres, que migraram com o projeto inicial de trabalhar, economizar e regressar, reformulam os seus objetivos após um tempo de estadia na sociedade recetora. O texto pretende compreender os limites apresentados pelos estudos migratórios brasileiros centrados no modelo teórico push-pull, os quais destacam fatores macroeconómicos como razões principais para definir a imigração brasileira. Por meio de observação participante e entrevistas, foi possível compreender de que forma esses migrantes, uma vez introduzidas novas prioridades nas suas vidas, redefinem os seus estilos de vida em Londres, deixando para segundo plano a ideia inicial de trabalhar/ganhar dinheiro/retornar.

Palavras-chave: brasileiros em ­Londres; migrações internacionais; trabalho; projetos migratórios.

 

ABSTRACT

This article reflects on how Brazilians in London, who moved on the migratory project of working, saving money and return, readapt their aims after a period in the host society. Therefore, the text aims to understand the limits of analysis on Brazilian immigration based on the theoretical framework push-pull, which highlight economic reasons as the main points to define Brazilian migrants. Through participative observations and interviews, it was possible to comprehend how Brazilians once introduced new priorities in their lives, and thus reshape their lifestyle in London, their initial idea of working/saving money become somehow secondary.

Keywords: Brazilians in London; international migrations; work; migratory projects.

 

INTRODUÇÃO

 

Nos estudos sobre fluxos migratórios contemporâneos, a década de 80 do século passado pode ser vista como o início de um novo boom migracional. Fatores como o avanço nos sistemas de comunicação e, principalmente, de transportes, a troca de informação e a possibilidade de superar longas distâncias geográficas num curto espaço de tempo possibilitaram um aumento no fluxo populacional pelo globo (Cresswell, 2006; Urry, 2008). Como afirma Urry (2008), parece que o mundo todo está em movimento e que está no ar o sentimento de que há uma estrutura de “mobilidades”. Sendo assim, nos últimos trinta anos, a migração e a mobilidade tornaram-se questões relevantes dentro das agendas políticas e académicas. Uma variedade de disciplinas passou a dar atenção a diferentes aspetos presentes nos movimentos migratórios. Conforme apontam Castles e Miller (2009):

 

[…] researchers who base their work on quantitative analysis of large data-sets (such as censuses or representative surveys) will ask different questions and get different results from those who qualitative studies of small groups. Those who examine the role of migrant labour within the world economy using historical and institutional approaches will again get different findings. Each of these methods has its place, as long as it lays no claim to be the only correct one [Castles e Miller, 2009, pp. 21].

 

Não por coincidência, nas últimas três décadas, a emigração surgiu como um fator relevante no Brasil. De acordo com dados do Ministério Brasileiro de Relações Exteriores (2009), um número considerável de brasileiros ­residiria no exterior, aproximadamente 3,5 milhões, sendo os principais destinos os Estados Unidos (1 280 000), o Paraguai (500 000), o Japão (280 000), e os países europeus, como o Reino Unido (180 000), Portugal (137 000), Espanha (125 000), Alemanha (89 200), Itália (70 000), França (60 000), Suíça (57 500) e a Bélgica (42 000). Em relação aos que migraram para o continente europeu, podemos constatar pelos dados apresentados que o Reino Unido apresenta atualmente a maior comunidade, superando países que tradicionalmente são conhecidos por receber um grande número de imigrantes brasileiros como, por exemplo, Portugal e Espanha (Padilla, 2006a, 2006b; Cavalcanti, 2012).

Todavia, a migração brasileira no Reino Unido é formada por uma população que, em geral, pode ser classificada pelo que Pai (2008) define como sendo de imigrantes invisíveis. Por outras palavras, são imigrantes maioritariamente jovens que entram no território britânico como turistas ou estudantes e permanecem no país mesmo depois de os seus vistos caducarem, ou, então, que possuem cidadania portuguesa, espanhola e/ou italiana. Em ambos os casos, a sua identificação como brasileiro acaba por ser omitida como uma medida de segurança (Bloch, Sigona e Zetter, 2009). Dessa forma, eles acabam por formar um grupo difícil de ser evidenciado no cenário britânico, e as estimativas sobre esse grupo acabam por ser imprecisas. Entretanto, segundo Evans et al. (2007), os imigrantes brasileiros estariam entre as mais diversas nacionalidades que vêm crescendo em Londres na última década. O que viria a colocá-los como um dos grupos que compõem a chamada nova imigração, que tanto contribuiu para a emergência do fenómeno conhecido como superdiversidade, em ­Londres, a partir do final da década de 1990 (Vertovec, 2007).

Na tentativa de traçar um perfil socioeconómico do brasileiro em Londres, o Departamento de Geografia da Queen Mary University of London (Evans et al., 2007) realizou o relatório Brasileiros em Londres: Relatório para a ­Campanha de Estrangeiros a Cidadãos (Strangers into Citizens). De acordo com este documento quantitativo, 25% dos brasileiros entrevistados foram para ­Londres a fim de estudar e trabalhar; 24% para trabalhar e poupar; 21% com o objetivo de ficar em Londres para sempre; 16% tinham apenas interesse em estudar a língua inglesa; 8% declararam outros interesses. Já em relação à ocupação, foi constatado que 63% dos brasileiros entrevistados (de ambos os sexos) trabalham em período integral (de 35 a 48 horas), seja como motoristas e baby-sitters, em empregos relacionados com limpeza (conhecidos como cleaners), ou em hotéis, restaurantes e na construção civil. Por outras palavras, a grande maioria desses imigrantes estaria concentrada em trabalhos classificados pela bibliografia como unskilled jobs (Margolis, 1994; Bloch, Sigona e Zetter, 2009) ou, então, como o próprio grupo investigado classifica, trabalhos para imigrantes.

Portanto, ao analisar esses dados quantitativos, os brasileiros que vivem em Londres encaixar-se-iam, a priori, exatamente no modelo de migrante presente nas teorias económicas neoclássicas, o do “migrante económico”, que migra de uma região com mão de obra abundante e mal remunerada para um local com escassez desse serviço e com salários mais atrativos, no qual trabalha um elevado número de horas com a clara intenção de acumular capital e retornar em seguida ao país de origem (Knowles, 2003). Contudo, por mais que muitos dos brasileiros que estejam em Londres realizem, inicialmente, extensas jornadas de trabalhos em empregos informais e de baixa qualificação, e a questão económica apareça, para alguns, como um dos fatores decisivos para migrar, há sempre mais de uma razão relacionada com o “projeto migratório” (Togni, 2012; Frangella, 2012). Dentre elas, podemos destacar a facilidade para o consumo, a maior mobilidade e o acesso aos bens e serviços (bens materiais e simbólicos como serviços públicos de boa qualidade, viagens, novas formas de sociabilidade) (Martins Jr, 2012). Assim, o projeto migratório, quando analisado na comunidade brasileira residente em Londres, vai além do desejo inicial de migrar para trabalhar por alguns anos e retornar. Diversas metas são incluídas nesses projetos migratórios ao longo do tempo na sociedade recetora, o que nos faz considerar a necessidade de analisá-los como algo flexível ou, nos termos de Frangella (2012), como algo mutante e constantemente remodelado.

Similar situação pode ser observada no relatório apresentado acima (Evans et al., 2007), em que a maioria dos entrevistados chegou ao país com o objetivo de permanecer temporariamente. Todavia, o que se verifica é que muitos acabam permanecendo mais do que o tempo previsto, sem saber dizer ao certo a razão pela qual estendem os seus projetos migratórios e/ou quando retornarão ao Brasil. Isso seria um indicativo de um constante processo de construção e reconstrução dos objetivos de vida desses migrantes (Martins Jr, 2012).

É dentro desse contexto, somado às observações de Castles e Miller (2009) e de Knowles (2003) sobre a necessidade de investigar projetos migratórios sob diferentes perspetivas, que procuramos discutir a migração brasileira para Londres para além dos modelos macroeconómicos, que se focam numa análise exclusiva do trabalho e dos motivos económicos como fatores de atração e repulsão de fluxos migratórios. Sabendo da diversidade de imigrantes brasileiros em Londres, com as suas diferentes experiências e razões migratórias (Martins Jr, 2012), analisamos aqui o “projeto migratório” somente daqueles que migraram com o interesse inicial de trabalhar, acumular capital e, então, retornar ao Brasil, mas que mais tarde reformularam os seus planos. Dito de outra forma, pretendemos discutir como o discurso inicial de “migrar para trabalhar”, fortemente assumido por esses migrantes, se apresenta nas suas práticas cotidianas iniciais; e como, após um período de vivência na sociedade recetora, esses mesmos sujeitos passam a inserir novas prioridades nas suas vidas, pelo que o trabalhar para acumular dinheiro deixa de ser o motivo principal do estar “lá”.

Partimos da hipótese de que os projetos migratórios representados pelo tripé discursivo inicial “trabalhar/acumular/retornar”, assim como os estilos de vida desses migrantes, sofrem mudanças e redefinições durante o tempo de estadia na sociedade recetora (Knowles e Harper, 2009), e propomo-nos refletir sobre o trabalho de campo realizado em Londres no qual os migrantes brasileiros devem ser analisados para além de meros market-players (Castles e Miller, 2009) dotados de escolhas racionais e projetos fixos, que não sofreriam influência da dinâmica social presente na sociedade londrina. Conforme apontam as entrevistas realizadas para este estudo, os indivíduos que acabaram de chegar à capital britânica ou, então, que têm um menor tempo de migração, tendem a estar mais focados no trabalho. Por outro lado, aqueles que têm maior tempo de experiência migratória reduzem as suas cargas horárias de trabalho e passam a dedicar mais tempo a outras atividades sociais, que, em geral, podem ser classificadas como lúdicas.

 

METODOLOGIA

 

A pesquisa foi realizada a partir de dois momentos distintos na capital inglesa. O primeiro momento decorreu entre 2008 e 2009, quando um dos pesquisadores fez uma incursão etnográfica de nove meses, convivendo com brasileiros em Londres, e realizando anotações acerca dos trabalhos do grupo de imigrantes e dos problemas de adaptação por eles enfrentados. Foi realizada uma “participação observante” (Wacquant, 2002) em diversos tipos de trabalho como empregado de limpeza, assistente de cozinha e empregado de mesa; convivendo ainda socialmente com trabalhadores brasileiros fora do trabalho e observando as “táticas de sobrevivência e permanência” que eles utilizam no seu quotidiano. Esta vivência/convivência permitiu o acesso a informações mais detalhadas, como, por exemplo, observar os desafios enfrentados por esses imigrantes no que compete tanto ao uso do idioma local, quanto à obtenção de emprego, já que muitos não possuem documentação para trabalhar legalmente. Portanto, nesses nove meses foi realizado um trabalho etnográfico que observava não só o dia a dia desses imigrantes brasileiros, mas também partilhava os seus desafios e as suas dificuldades. Segundo Whyte (2005, p. 304), referindo-se ao seu trabalho de campo: “para encontrar as pessoas, passar a conhecê-las, encaixar-me em suas atividades, tinha que gastar tempo com elas [e, apenas] sentando e ouvindo, soube as respostas às perguntas que nem eu mesmo teria tido a ideia de fazer se colhesse apenas por entrevistas”.

O segundo momento da pesquisa deu-se em 2011, durante um período de três meses, quando foram realizadas trinta entrevistas em profundidade, buscando resgatar a trajetória de vida do grupo de trabalhadores brasileiros contactados na estadia anterior. Essas entrevistas versaram sobre os seguintes pontos: as suas vidas antes de saírem do Brasil, o processo de deslocamento (chegada e adaptação), a procura de trabalho e a convivência com o outro, e, por fim, as perspetivas em relação ao futuro. No que diz respeito à escolha dos participantes, foi utilizada a metodologia “bola de neve” (Singer, 1999), na qual um entrevistado indicava outros para entrevista. Para este artigo, especificamente, trabalhamos com a trajetória daqueles que, inicialmente, tinham como ideia de projeto migratório a tríade trabalhar-acumular-retornar1.

 

EMIGRAÇÃO BRASILEIRA COMO OPÇÃO ECONÓMICA

 

Os primeiros estudos sobre emigração brasileira (Sales, 1991; 1995; ­Margolis, 1994; Goza, 1992; Torresan, 1994) consideravam a crise económica da década de 80 e primeira metade da década de 90 do século XX como o fator principal desse movimento de saída de trabalhadores em busca de melhores condições de vida e trabalho em outros países. Ou seja, era uma migração de trabalhadores, pertencentes a alguns segmentos sociais da população, que estavam desiludidos com a situação do Brasil e decidiram buscar melhores oportunidades fora; eram os “exilados da crise” económica que abasteciam o mercado de trabalho informal dos EUA, Europa Ocidental e Japão (Assis, 1995; Fusco, 2007). Segundo o Instituto de pesquisas migratórias e estudos interculturais (IMIS),“in 1995 the number of Brazilians living legally in the USA, Japan, ­Portugal, Italy, Spain, Germany, Canada and other countries was estimated to be over a million (Focus migration, 2008, pp. 5)”. O poder económico das moedas americana, japonesa e europeias em relação à brasileira era considerado pelos brasileiros como a oportunidade de melhorar as suas vidas no ­Brasil num curto espaço de tempo; e a literatura sobre o tema indica que a ideia de migrar era encarada como uma solução temporária pelos que podiam arcar com os custos da viagem e as tensões envolvendo a distância familiar (Evans et al., 2007; Tsuda, 2003).

Como consequência, os primeiros estudos a respeito tinham como foco o trabalho desenvolvido por esses imigrantes na sociedade recetora. Eram estudos de âmbito macroeconómico e mais gerais que buscavam demonstrar as razões que impulsionaram esses brasileiros e os tipos de trabalhos em que estavam inseridos nos Estados Unidos, Japão e Europa. Conforme afirma Padilla (2012), esses primeiros estudos classificavam os brasileiros como uma categoria geral e diretamente associada ao fator trabalho, como no caso das pesquisas sobre migração brasileira para o Japão, cujas análises eram exclusivamente focadas nos trabalhos precários desenvolvidos nas fábricas nipónicas (Ocada, 2000; Tsuda, 2003). Similar enfoque foi seguido nos estudos realizados nos Estados Unidos, em que as análises evidenciavam os brasileiros imigrantes trabalhando em serviços classificados como manuais, desqualificados, e por isso recusados pela população nativa (Sales, 1995; Margolis, 1994). Portanto, tais pesquisas dedicadas à discussão de fluxos migratórios e seus diversos mecanismos de mobilidade e fixação tenderiam a adotar como base teórica inicial, para seus respetivos estudos de caso, o processo de globalização e deslocamentos exclusivamente sob uma perspetiva económica.

De certa forma, essas pesquisas dialogavam com as perspetivas económicas neoclássicas, que consideravam o fenómeno da migração como resultado de um fator único vinculado ao económico. Num plano macro, esses fluxos migratórios buscariam um equilíbrio global das economias por meio da repulsão e atração de trabalhadores; os países periféricos funcionariam como polos de repulsão de trabalhadores, enquanto os países centrais atuariam como áreas de atração dos mesmos (Castles e Miller, 2009). No plano micro, Borjas (1990) traz a ideia de um global migration market, no qual os indivíduos são atores racionais que decidem migrar a partir de um cálculo que visa o máximo retorno financeiro possível. O cálculo envolveria a probabilidade de encontrar emprego, bem como os custos (materiais, sociais e psicológicos) da viagem, de modo que os indivíduos decidiriam emigrar quando o cálculo resultasse em ganhos financeiros (Fusco, 2002).

Embora a maioria dos migrantes ocupem nichos de mercados que a população local se recusa a ocupar, e o ganho económico seja um dos fatores que influenciam na decisão de migrar, há algumas constatações empíricas que colocam limites à interpretação neoclássica (Knowles e Harper, 2009; McGovern, 2007). Em algumas situações, por exemplo, a maior propensão para a migração nem sempre vem dos mais pobres, mas dos mais qualificados, podendo até contribuir para ampliar as desigualdades entre o país de destino e o de origem (McGovern, 2007). Esse é o caso dos imigrantes brasileiros apontados pelas pesquisas como jovens de classe média e com um elevado nível educacional para os padrões nacionais (Sales, 1995; Assis, 1995; Martes, 1999; Soares, 1995; Fusco, 2007). Margolis (1994), por exemplo, demonstra que os migrantes brasileiros não se enquadravam no estereótipo de pobreza presente na imaginação do público americano. Pelo contrário, na sua maioria eram brancos e proveniente da classe média urbana das grandes cidades. De acordo com a autora, o típico imigrante brasileiro em Nova Iorque na década de 1990 era “an immigrant who was not escaping extreme poverty or political repression. Brazilians are economic refugees fleeing from a chaotic economy back home” (Margolis, 1994, pp. xx). Similares constatações foram feitas por Padilla (2006a, 2008) e Machado (2005) nos seus respetivos estudos sobre brasileiros em Portugal, os quais, de modo geral, viram nessa mudança a oportunidade de continuar as suas carreiras como dentistas, publicitários e programadores.

A partir do final da década de 90, os estudos sobre a emigração brasileira começam a apontar outros fatores para além da crise económica como razão para migrar. As pesquisas passam a incidir sobre a forma como as redes sociais auxiliam na compreensão não só dos motivos que levam esses indivíduos a migrar, mas também das razões da escolha do local, da maneira como se articulam quando chegam ao país recetor, e de como os laços sociais proporcionam facilidades e ganhos num deslocamento (Padilla, 2006b, 2008; Siqueira, 2009). O sucesso daqueles que migraram no período de crise teria funcionado como motivação para que parentes e amigos seguissem o seu exemplo, ou seja, já não era tanto a crise em si o motor da decisão de migrar, mas o próprio “migrante pioneiro” que construiu um elo com os que ficaram (Fusco, 2002; Soares, 2002). Conforme escreveu Levitt (2001), uma vez que iniciado o movimento, ele dissemina-se por meio de redes migratórias. Essas redes informais seriam capazes de conetar novos migrantes, retornados e não-migrantes em diferentes espaços por meio de relações de parentesco e amizade. Contudo, muitos desses estudos ainda tinham como foco o migrante trabalhador que se desloca a partir da constituição de laços sociais, em alguns casos até condicionando a sua mobilidade à existência de uma estrutura (redes sociais) que “levaria” o indivíduo ao seu destino.

A partir 2005, sensivelmente, novos estudos começam a separar o brasileiro imigrante da figura macro de um trabalhador que se desloca por meio de uma rede migratória em busca de emprego, e passam a focar-se em identidades cada vez mais fragmentadas. Assim, a imigração brasileira, inicialmente centrada na imagem de um indivíduo masculino e com um projeto migratório exclusivamente focado no trabalho, passa a incorporar outros sujeitos e os seus estilos de vida particulares. Entre estas pesquisas destacam-se as que focam mulheres, travestis, jovens e crianças brasileiras e suas respetivas experiências e projetos migratórios (Assis e Kosminsky, 2008; Assis e Siqueira, 2009; Piscitelli et al., 2011 ). Nesses estudos, a própria noção de necessidade assume diferentes conceções, de acordo com o estilo de vida que o indivíduo leva (Knowles, 2003). Nem sempre o desejo de migrar é apenas económico, e muitas vezes a necessidade/desejo inicial é modificada ao longo da trajetória desses indivíduos, ou seja, a ideia da existência de um projeto migratório está a todo o momento a ser ressignificada.

Em resumo, as pesquisas académicas têm apontado para a necessidade de refletir a condição de existência do imigrante não totalmente centrada no espaço que compõe o trabalho, mas também noutras localidades que são somadas na medida em que os seus estilos de vida na sociedade recetora são transformados. Conforme demonstra Dias (2010), há outros lugares e espaços que também compõem a vida diária de imigrantes na sociedade recetora. Frequentar lugares como clubes, jogos de futebol, locais religiosos ou outras formas de espaços de sociabilidade proveria algumas possibilidades de atividades sociais desses sujeitos, o que influenciaria o estilo de vida que passam a levar e a maneira como os seus objetivos iniciais são reformulados, ou não. É a partir desta perspetiva que expomos a seguir os relatos daqueles que migraram para Londres com a intenção de trabalhar, acumular e retornar para o Brasil num período de até dois anos, mas que, com a vivência num novo espaço, reconfiguraram os seus projetos migratórios.

 

AJUSTES E ADAPTAÇÕES NO PROJETO MIGRATÓRIO:

ACHADOS EMPÍRICOS

 

De acordo com Portes (2004), os fluxos migratórios seriam encorajados graças à existência de um “encaixe” produzido pela necessidade de mão de obra por parte dos países desenvolvidos e pelo desejo de melhorar os padrões de consumo do mundo “não desenvolvido”. Os indivíduos são expostos e seduzidos pelos benefícios do consumo moderno, mas, ao mesmo tempo, são-lhes negados os meios económicos para atingir tais níveis de consumo. Assim, a migração aparecia para alguns como uma das saídas encontradas para conseguir capital fora e obter um padrão de consumo quando retornassem. De certa forma, essa perspetiva aproxima-se, inicialmente, do caso de brasileiros que encontraram na migração para Londres um meio de atingir determinadas expectativas de consumo na sociedade de origem, que dificilmente conseguiriam apenas trabalhando no Brasil, dada a sua situação económica.

Quando ouvimos as histórias daqueles que migraram para Londres nos anos 2000, com o intuito inicial de trabalhar, acumular capital económico e retornar ao país de origem, vários casos se assemelham aos dos estudos sobre redes sociais e migração: alguns pioneiros migraram no período de crise e depois retornaram ao país de origem com muito dinheiro e consumindo produtos que demonstravam o seu sucesso no exterior (Sasaki, 2006; Tsuda, 2003). Este retorno não só serve para estimular mais viagens, como resulta também na consolidação de redes sociais internacionais que facilitam o movimento de novos migrantes (Massey e Goldring, 1992; Levitt, 2001), como no caso dos primos Guilherme e Bernardo, moradores numa pequena cidade do interior de São Paulo. Na década de 90, algumas pessoas dessa cidade migraram para fora do país e voltavam sempre com dinheiro, facto que fez com que muitos dos jovens dessa localidade tivessem o sonho de sair do Brasil, trabalhar por um tempo nos EUA ou na Europa, acumular o dinheiro ganho, e depois retornar para poder consumir alguns produtos que gostavam e não tinham acesso; nos termos de Guilherme:

 

Era muito comum você escutar de alguém que foi para Portugal, sempre você ouvia falar do Japão, EUA também, então eu tinha que sair. Eles voltavam, compravam carro, compravam terreno, desfilavam, e eu vim de uma família muito pobre, então eu via como uma oportunidade para mim [Guilherme].

 

Bernardo, o primo mais velho, foi o primeiro a migrar. Em 2004, com 26 anos de idade, ele trabalhava numa fábrica de motor de tanquinhos e armários na sua cidade, ganhava R$ 560,00 reais por mês e dizia que naquela empresa não teria futuro algum. Como tinha um vizinho a morar nos EUA, primeiro tentou o visto para aquele país, o qual foi negado. Com os contactos dos “­pioneiros” da sua cidade que moravam na Inglaterra, conseguiu ir para ­Londres com visto de turista:

 

Eram três que moravam aqui [em Londres] há treze anos, eram os irmãos Fadiga. Eles iam para o Brasil direto, para a minha cidade, compravam uns carrões para dar um rolé [dar voltas]. Por fim eles foram e se apertaram lá e eu comprei um carro deles quando estavam voltando para Londres. Só que eu dei metade do dinheiro, que eles precisavam na hora, e falei que pagava o resto aos poucos. Nesse negócio de dever o dinheiro nós ficamos amigos. Mandei um pouco, depois mandei outro pouco e perguntei para ele: “como que é aí?” Ele falou: “Ah, aqui tem emprego para todo mundo”… Eu decidi ir, e eles iam-me ajudar, até porque eu devia para eles e se tivesse lá do lado deles trampando [trabalhando], eu ia pagar [Bernardo].

 

A presença de Bernardo em Londres facilitou, três anos mais tarde, em 2007, a ida de seu primo Guilherme, com 25 anos, também ele interessado em “ganhar a vida na Europa”. Na época, Guilherme trabalhava num posto de gasolina, e também não via muita perspetiva de crescimento no seu trabalho; assim, vendeu a sua moto e foi para Londres, com o objetivo de trabalhar arduamente, para regressar ao Brasil no máximo passados cinco anos:

 

Quando eu vim para Londres, eu não sabia ligar um computador. Celular eu tive só um no Brasil, porque o trabalho exigia, pra marcar hora extra, se não, nunca teria tido um celular. A imagem que se tem é que quando você vem pra cá, você vai ficar quatro ou cinco anos, e não dá pra tomar uma coca-cola porque é caro, tem que economizar. Economizar, sem sair, sem gastar nada. A ideia inicial era essa, ficar quatro, cinco anos, juntar o máximo de dinheiro que der, ir mandando para o Brasil e depois voltar. Tinha aquela ideia dos caras que vão para o Japão, não comem, não dormem. Eu achava que funcionava assim aqui. Lembro que no dia que eu cheguei meu primo falou: “amanhã a gente vai comprar um celular para você”. Eu não queria celular não, não posso gastar dinheiro com ligação, mas ele me falou: “véio, sem celular em Londres você não vive”. No outro dia eu entendi o porquê. A gente comprou o celular e cinco minutos depois uma menina que morava com a gente e sabia que eu estava sem trabalho, ligou para o meu primo para falar que tinha um trabalho de lavador de prato para mim no Soho [região central de Londres]. Aí eu entendi porque era importante um celular aqui, por causa dos contatos, mas até então eu não sabia mexer em nada e agora tenho um monte de coisa aqui [Guilherme].

 

O contacto ao qual Guilherme se refere é importante porque quase sempre o primeiro trabalho vem dos laços que foram criados inicialmente. Conforme Durham (1984) demonstra, é por meio dos grupos de relações primárias – parentes e amigos – que o migrante recém-chegado obtém e ordena informações sobre oportunidades de trabalho. Esse grupo de relações primárias funciona como mediador entre os indivíduos e a sociedade, sendo o único ponto de apoio com que os migrantes contam para iniciar o processo de ajustamento nessa nova vida. Sobretudo, entre aqueles que não falam a língua local, como no caso de Max:

 

Nunca conseguia trabalho porque os caras falavam que eu não sabia inglês, então não tinha como trabalhar. Era a única coisa que eu entendia, cara, “Se num sabe falar inglês, não pode trabalhar”… Com dois meses e meio que eu tava aqui nós tínhamos 5,00 libras no bolso, eu falei para minha esposa que se a gente não conseguisse trabalho em uma semana a gente ia embora. Eu liguei para o meu amigo do Capão e falamos que a gente estava precisando de trabalho. Um deles trabalhava de cleaner e disse que ia conversar lá no trabalho dele. No outro dia, à noite, ele ligou para nós e disse “Ó, eu tenho um emprego para sua esposa, manda ela vir trabalhar em tal lugar no final do [ônibus] 189” Na hora eu pensei “Graças a Deus é no 189, porque a gente não sabe ir para outro lugar!”. Ela foi, encontrou com ele na Oxford [Street]. Na mesma semana a gerente dela, uma portuguesa, falou para ela me levar para trabalhar lá também [Max].

 

Conforme as entrevistas demonstram, uma vez adquirido o primeiro trabalho, os migrantes recém-chegados passam a ter uma devoção inicial àquela ocupação. Assim, eles trabalham o maior número de horas possível e sempre “pegando pesado” para não desapontar aqueles que o empregaram, pois, como a maioria entra no país com visto de turista e não pode trabalhar legalmente, sentem uma gratidão em realção aos patrões:

 

Era um ambiente legal, pessoal tudo latino, boliviano, colombiano. O dono era um espanhol explorador. Um velho explorador, que já contrata ilegal para pagar metade. Exatamente a metade. Trabalhava oito horas, ganhava na época 150 pounds [libras] por semana quando eu teria que ganhar 290, 300. […] Eu entrava às quatro da tarde e saía à meia-noite. Tinha um dia de folga na semana… Meu primo me levou para o cara lá, um brasileiro, para tirar os documentos falsos, pegar o que precisa para trabalhar e tal, porque eu queria arrumar outro trabalho. Arrumei um cleaning da madrugada. Foi foda, porque eu saía de lá do restaurante à meia-noite, chegava em casa, coisa de uma hora da manhã, tomava um banho, e sempre meu primo tava em casa, sempre a gente conversava. Eu ia dormir por volta de três da manhã. E lá no cleaning eu entrava às seis da manhã. Tinha que sair às cinco horas de casa, e quando acabava tinha que correr para o restaurante [Guilherme].

 

Bernardo chegou a trabalhar de graça um mês no seu primeiro emprego para provar ao patrão que podia desempenhar a função e conseguir um segundo trabalho:

 

Os irmãos Fadiga me arrumaram um trabalho para limpar escritório na madrugada, depois me levaram para trabalhar no campo de críquete que um deles era gerente. Só que como eu não falava inglês e não tinha documentação, eu tive que trabalhar um tempo sem ganhar nada [Bernardo].

 

Muitos, no início, seguem essa mesma prática apresentada nas entrevistas de Guilherme e Bernardo: fazem extensas jornadas de trabalho, chegam a trabalhar mais de oitenta horas semanais, sentem gratidão pelo trabalho conseguido e ainda competem entre eles para ver quem trabalhou mais horas na semana. Na realidade, era justamente essa a ideia que tinham quando se deslocaram: trabalhar o máximo que aguentassem para retornar o mais rápido possível. Contudo, com um tempo de convivência na sociedade recetora, e com o aumento da rede de sociabilidade desses imigrantes, na grande maioria dos casos entrevistados, os seus estilos de vida vão-se transformando e, assim, o projeto migratório inicial passa a ser revisto, ganhando novas prioridades. O projeto inicialmente centrado somente no trabalho passa a perder força na medida em que outras metas surgem na vida desses sujeitos. Como afirma Guilherme: “Eu não tinha essa ideia de ter essas coisas [produtos eletrónicos], nunca. Vivendo aqui as coisas vão mudando, a sua cabeça muda muito”. Ou seja, a ideia inicial de trabalhar e acumular dinheiro em Londres, a fim de consumir e melhorar de vida no Brasil, é revista, e a possibilidade de consumir “um novo estilo de vida” na própria sociedade recetora ganha destaque na fala dos entrevistados.

 

REFORMULANDO O PROJETO MIGRATÓRIO: CONSUMO E LAZER EM LONDRES

 

Nos casos de Guilherme, Bernardo e Max a ideia inicial de trabalhar arduamente para garantir um “futuro” no Brasil foi substituída por uma estada maior no Reino Unido, e um dos fatores para essa mudança terá sido a facilidade de consumo local. Segundo Max, que trabalhava como empregado de mesa no Brasil, o mesmo tipo de emprego possibilitava o acesso a um grande número de bens materiais, que dificilmente poderia ter tido no Brasil. Ademais, a distância da familia pode ser suprida com a possibilidade de viajar uma vez por ano ao Brasil, uma vez que os rendimentos do seu trabalho em Londres possibilitariam tal aquisição. Similar observação é feita por Bernardo, que afirma ter um poder de compra maior em Londres do que teria no Brasil:

 

A vida que eu tenho aqui eu jamais terei lá, com um salário e meio eu comprei uma Kawasaki Ninja [moto] que custa 35 000,00 reais no Brasil, tipo, uma casa lá custa 70, 80 000, e você constrói aquilo para ficar lá a vida toda pagando a casa parcelada. Aqui, com um mês, você compra muita coisa, todo mundo sabe disso, isso é a realidade, por isso que todo mundo vem e para de pensar em voltar. Hoje mesmo eu estava conversando com a Marta na igreja, é uma mulher, já com mais de quarenta anos, ela me disse que vive em um quarto com as duas filhas, vive mal, todo mundo apertado, mas elas têm tudo, ela disse que nunca mais vai voltar para o Brasil, tá ilegal aqui, só que o pessoal da igreja já disse que vai ajudá-la. Aqui elas têm tudo, as filhas dela estão encantadas com a vida aqui. Aqui, se você quiser você faz uma picanha na chapa todo dia, toma uma cervejinha. Lá você tem que comprar salsicha. Mesmo trabalhando de cleaner você faz isso aqui [Bernardo].

 

Como Guilherme afirma na sua entrevista, à medida que o seu tempo de estadia em Londres se ampliava, o seu estilo de vida remodelava-se em função das novas prioridades e, assim, o projeto inicial de trabalhar um grande número de horas para poder retornar logo ao Brasil perdia força. Além disso, menciona ainda a questão dos limites da sua resistência física como outro fator que impede alguém de viver somente para uma vida voltada para o trabalho:

 

Porque tem uma questão aqui que é a seguinte: Londres te dá uma coisa mas te tira outra. Londres te dá o direito de você levar a vida que quiser, mesmo limpando bosta dos outros, mas ela te tira a saúde. Eu sei que em dez anos eu não vou ter a mesma saúde que eu tenho hoje, eu já não tenho a mesma de quando eu cheguei. E se você não tiver saúde aqui, não tiver seu corpo bom, você não tem nada, porque você não vai conseguir acordar cedo e voltar à noite. Ninguém é de ferro. E quem vem para juntar dinheiro tem que se sacrificar… Aliás, todo mundo se sacrifica, principalmente no início, mas depois você não aguenta, principalmente se você não tem família. Agora quem tem família, se sacrifica por um tempo e já vai embora, porque não dá para ficar para sempre. Eu conheci um pessoal que fazia isso, mas eram aqueles que tinham família. Então, é nessa correria que os caras trabalham tomando uns “Red Bull” [gíria utilizada pelo entrevistado para se referir ao uso de cocaína], porque no começo você tá naquela fissura de trabalhar e trabalhar… Esses dias eu tava em um restaurante brasileiro e ouvi os caras conversando, reclamando que trabalham só oito horas por dia e que queriam muito mais horas, queriam fazer vinte horas no dia. Você percebe que é um cara que tá aqui há pouco tempo, porque quem acaba de chegar sempre é nessa correria, principalmente os pobres que vieram para cá devendo dinheiro no Brasil e precisam pagar a galera lá, e ainda tem o medo de que a polícia pode te pegar a qualquer momento e você tem que voltar para o Brasil devendo para todo mundo. Hoje, tem que me pagar muito dinheiro mesmo para trabalhar dobrado, porque não vale a pena, não… no começo eu iria de olhos fechados, hoje não, você consegue ter uma vida muito boa aqui, comprar de tudo, sem trabalhar muito [Guilherme].

 

Os depoimentos apresentados acima sugerem que a facilidade do consumo passa a ser um dos motivos para permanecer em Londres, já que a dificuldade de comprar certos bens, como roupas, calçado e produtos eletrónicos era bem maior no Brasil, enquanto em Londres, mesmo realizando um tipo de trabalho considerado desqualificado, os imigrantes tinham acesso fácil a produtos que não existiam no país de origem. Podemos notar assim que, ao contrário da estratégia migratória apresentada por autores como, por exemplo, Portes (2004) e Mills (1997), em que o consumo se dá na sociedade de origem, as entrevistas aqui apresentadas apontam para um consumo na própria sociedade recetora. Por outras palavras, tal material etnográfico oferece-nos uma perspetiva para além da existência de uma ligação, no projeto migratório, entre o trabalho na sociedade recetora e um consumo posterior realizado no país de origem. Novas prioridades nas suas respetivas vidas, incluindo as de consumo, passariam a ser vistas como um dos motivos na reformulação do projeto migratório inicial de trabalhar e acumular para retornar.

Todavia, além de um estilo de vida que dá prioridade ao consumo na sociedade recetora, outros fatores orientam esse processo de reformulação dos projetos migratórios iniciais. Como demonstra Flaviano, brasileiro que reside há mais de quatro anos em Londres, existem outros valores que não podem ser abandonados em virtude do trabalho. Segundo o seu testemunho, durante os primeiros anos passados na capital britânica, costumava trabalhar cerca de 14 horas diárias, seis dias por semana, entre turnos dobrados na cozinha de um Pub e como empregado de limpezas em escritórios. Entretanto, passado algum tempo, Flaviano disse que a ideia inicial de trabalhar e retornar rapidamente para o Brasil fora “deixada de lado”, valendo a pena as privações pelo prazer de jogar futebol às sextas à noite com amigos em Londres ou, simplesmente, estar com eles para tomar uma cerveja. Nas suas palavras, a hora de ir embora passou a ser uma decisão de Deus:

 

Você passa a semana inteira trabalhando igual um camelo. Aí chega a sexta-feira, junta só a brazucada lá, 20 a 25 brasileiros, bate aquele futebol tranquilo. Tem briga, tem xingamento, mas saiu da quadra acabou, fica tudo lá. E é assim que tem que ser. É um dos grandes pontos que eu fico feliz aqui, velho. Os amigos que eu fiz aqui e essas coisas assim, que ninguém da nada por isso, mas pra gente vale muita coisa. Era mais puxado, não era assim. No começo era de 6:30 h da manhã até 00:00 h fora de casa… pra muita gente trabalhar e juntar este dinheiro e ir embora logo é um propósito grande. Só que eu… este negócio de ir embora logo, eu deixei de lado. Eu vou embora na hora que Deus falar que tá na hora de ir embora [Flaviano].

 

O excerto acima transcrito, permite-nos constatar que além do acesso ao consumo ser um fator que faz com que os migrantes brasileiros em Londres, aqui investigados, reformulem os seus respetivos projetos migratórios, a ampliação das redes de contacto e a inserção de novas práticas sociais também contribuem para essa dinâmica. Tal hipótese é corroborada pelo argumento defendido por Dias (2009, 2010), para quem a extensão temporal da experiência migratória no país recetor faz com que o imigrante amplie a sua esfera de sociabilidade para além das esferas da casa e do trabalho, inserindo assim novas relações de amizade e, por exemplo, espaços de lazer nas suas práticas cotidianas.

Essa importância de inserir o lazer no quotidiano é demonstrada também no relato de Rose, que na época da entrevista residia e trabalhava em Londres há mais de quatro anos. Rose trabalhava como empregada de mesa, e nunca havia tido coragem de permanecer ilegalmente em Londres. Portanto, o seu salário era exclusivamente destinado à renovação do visto e à manutenção de um estilo de vida livre, voltado para o lazer e para as viagens:

 

É um saco ficar renovando o visto, já vou para a terceira renovação. Eu queria ter um documento para poder fazer o que eu quisesse. Se eu quiser morar na Espanha amanhã, eu vou para a Espanha, se eu quiser morar na Itália, eu vou… Sabe, eu queria ser cigana. No Brasil nunca me faltou nada. Trabalhando em loja era tranquilo, toda bonitinha, tomando cafezinho com meus clientes, coca-cola, batendo papo, e no meio desses papos já tô vendendo. Então é um dinheiro fácil que não carrego peso, não me sujo e fico amiga dos clientes, vou para festinhas dos meus clientes. Mas aqui é mais fácil e mais rápido, o dinheiro vale mais. Lá nunca me faltou nada, mas você precisa planejar as coisas e eu nunca planejei a minha vida. Mas, por exemplo, lá, eu sei que se eu quisesse viajar seria mais difícil. Quero continuar viajando a Europa, Estados Unidos, Tailândia, porque eu queria ir para a Tailândia. Vou renovar meu visto e, se Deus quiser, eu vou… Estou trabalhando agora para isso, para juntar dinheiro… vou renovar o visto por dois anos com esse curso de marketing que paguei agora. Vou juntar dinheiro, 15, 20 dias em Tailândia. Coisa que eu sei que eu jamais conseguiria fazer no Brasil, não com um salário de vendedora… aqui você pode sair todo dia se quiser, ir a um pub, teatro, museu, parques, uma vida que não dá para levar no Brasil [Rose].

 

Knowles e Harper (2009, p. 234) notam que “no migrant can live completely in a bubble”. Dessa forma, na medida em que as relações sociais desses imigrantes brasileiros aqui apresentados vão sendo ampliadas, o seu conhecimento acerca do espaço sociogeográfico vai-se tornando mais seguro, novas prioridades são inseridas nos seus estilos de vida, indo para além da dimensão do trabalho. E, com isso, o seu tempo de permanência na sociedade recetora, Londres, também vai sendo estendido. Como podemos perceber pelos relatos acima, o ato de frequentar bares, boates, parques públicos e outras áreas de lazer como museus e teatros, por exemplo, também faz parte das práticas quotidianas do imigrante brasileiro em Londres. O migrante passa então a desenvolver outras práticas sociais, não cingindo a sua vivência apenas ao trabalho e aos limites domésticos.

Valendo-nos do conceito de pedaços, cunhado por Magnani (2008), partimos da hipótese de que tais espaços sociais estariam num campo intermédio entre os espaços privados da residência e os públicos como, por exemplo, o do trabalho, os quais possibilitam a ampliação das práticas cotidianas para além do trabalho. Sendo assim, frequentar jogos de futebol e bares com colegas nos horários de lazer ou, ainda, museus e teatros, que seriam difíceis de serem visitados caso estivessem no Brasil, passam a ser pedaços e atividades inseridas ao longo do tempo na vida desses imigrantes, que cada vez mais vão interagindo com a sociedade recetora. Nas entrevistas apresentadas acima, nota-se que esses pedaços vão ganhando importância na medida em que o tempo de migração vai sendo prolongado e a dedicação exclusiva ao trabalho vai sendo reformulada. Segundo Magnani:

 

É nesses espaços em que se tece a trama do qoutidiano: a vida do dia-a-dia, a prática da devoção, a troca de informações e pequenos serviços, os inevitáveis conflitos, a participação em atividades vicinais. É também o espaço privilegiado para a prática do lazer nos fins de semana nos bairros populares. Dessa forma, o pedaço é ao mesmo tempo resultado de práticas coletivas (entre as quais as de lazer) e condição para seu exercício e fruição [­Magnani, 2008, p. 32].

 

Por fim, é interessante notar que apesar de haver, de facto, um constante processo de reformulação nos projetos migratórios dos imigrantes brasileiros aqui investigados, o qual resultaria em um prolongamento da permanência dos mesmos na sociedade recetora, a ideia do retorno continua presente nos discursos. Conforme Knowles e Harper (2009) argumentam, no mundo contemporâneo o fator movimento não seria apenas um ponto a ser observado no processo migratório, é importante saber como os migrantes organizam as suas vidas quotidianas em torno de rotinas muitas vezes organizadas por longos e curtos projetos migratórios. “This is how lifestyle migrants live: without deep connection” (Idem, 2009, p. 240). Por outras palavras, no movimento migratório o fator temporariness ganharia uma dimensão importante na elaboração e redefinição dos projetos migratórios, fazendo com que o sujeito não produza conexões profundas tanto com a sociedade recetora, quanto com a própria sociedade de origem. Dessa forma, os imigrantes estariam constatemente avaliando o tempo de estadia, e muitos estariam adiando o retorno, não recusando a ideia de que um dia esse momento chegará. Podemos observar tal facto no depoimento de Guilherme:

 

Eu não sei quanto tempo eu vou ficar aqui. Então eu pretendo aprender inglês, para sair daqui com um algo a mais, e ver se consigo pagar uns dois apartamentos, porque se um dia eu “encher o saco” disso aqui eu vou ter que ir embora. Mas eu tenho medo, porque muita gente fala que quem fica muito tempo aqui não se adapta ao Brasil quando volta. Porque você vem para cá, você ganha 4 000, 5 000 reais por mês, e lá você ganhava 500,00 reais. Você num vai voltar para ganhar 500,00 reais. Só que o frio e a solidão aqui é foda, cara. A solidão ainda diminuiu um pouco, porque antes, quando eu não falava inglês, era bem pior. Você não entender o que as pessoas estão dizendo é complicado, você se sente tirado, excluído. Então eu não sei, cara, eu vou vivendo aqui, mas tentando melhorar a minha vida aqui, para, caso eu volte para o Brasil, eu tenho um lugar para morar, tenho o inglês [Guilherme].

 

Como o depoimento acima demonstra, a todo instante, a comparação dos padrões de vida (medidas pelo salário, pelas oportunidades, pelo consumo e pelo estilo de vida) que Guilherme tinha no Brasil com os padrões encontrados na Inglaterra geram a incerteza do retorno e a necessidade de não apresentar fortes conexões com ambos os países. Todavia, o retorno está presente no seu pensamento. Cria-se um projeto atrelado à ideia de temporariedade curta, onde o fator imprevisível do “encher o saco” é o que vai determinar o retorno. Sendo assim, não seria paradoxal afirmarmos que a ideia de estender o projeto migratório também significa estar permanentemente pronto para partir.

Tal observação é corroborada pela observação realizada em trabalho de campo. Por meio dele, foi possível constatar que alguns dos brasileiros investigados afirmavam a ideia do retorno nos seus respetivos projetos migratórios, ao mesmo tempo que buscavam acomodações maiores e com mais privacidade, o que exigia um gasto maior do que o dos quartos provisórios, que geralmente dividiam com outros brasileiros (Dias, 2010). Ademais, eles passam a adquirir produtos como sofás, frigoríficos e fogões, que, de certa maneira, indicariam um processo de fixação:

 

Semana passada eu e a Carol decidimos ir morar sozinhas, para ter mais privacidade só para a gente. Mudamos para uma casa perto da que morávamos antes. Daí um dinheiro que eu tinha guardado acabei gastando para comprar as coisas da casa, né?! Compramos cama, sofá, um computador novo, televisão, enfim, tudo porque queríamos uma casa nova com tudo novo [Aline].

 

Segundo estudos empíricos dedicados à investigação de redes migratórias brasileiras, em países onde a presença desse grupo já está estabelecida, tal opção de consumo possibilita perceber que o grupo aqui investigado inicia um possível processo de “fixação” na sociedade recetora; mesmo que os entrevistados apresentem ainda um discurso que afirme o retorno. Margolis (1994) no seu estudo sobre brasileiros em Nova Iorque, por exemplo, demonstra que a ideia do retorno estava sempre presente não apenas entre aqueles que foram com o claro propósito de trabalhar por um período estipulado, mas também entre aqueles que já ultrapassaram o tempo estimado e alcançaram as metas planeadas; começando, então, o processo de settlement, ou seja, de fixação. Sales (1999), ao trabalhar com brasileiros em Boston, encontra situação semelhante, e afirma que esses indivíduos passam por um processo de redefinição do projeto de vida, uma vez que migraram inicialmente com a intenção de retornar num período de tempo curto. Eles depois acabavam redefinindo as suas situações, passando a considerar a possibilidade de ficarem nos EUA por mais tempo, porém sempre mantendo a ideia do retorno presente.

Por outras palavras, o ato de migrar passa a ser reformulado a todo instante pelo migrante brasileiro investigado em Londres, e por mais que a ideia do retorno seja algo sempre presente na reformulação dos seus respetivos projetos migratórios, muitos compram bens que sugerem um possível prolongamento das suas estadias na sociedade recetora, senão uma situação de fixação. Assim, na medida em que o imigrante brasileiro remodela o seu projeto ­migratório de acordo com as oportunidades alcançadas em Londres, ele demonstra também pretender estender a sua estadia, porém nunca assumindo uma posição fixa que revele uma conexão profunda com qualquer uma das sociedades envolvidas, brasileira e inglesa. Como afirma Sayad (1998), o retorno é algo constituinte no discurso do migrante, mesmo que ele nunca venha a retornar de facto.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITES E IMPLICAÇÕES

 

Este artigo procurou demonstrar que os estudos sobre a migração de brasileiros não devem ficar limitados a interpretações somente económicas, ainda que o impulso inicial para circular entre as fronteiras nacionais, para alguns indivíduos, seja a busca de melhores oportunidades financeiras. Por meio dos resultados obtidos no trabalho de campo realizado com brasileiros em ­Londres, bem como da leitura de uma bibliografia que se foca numa investigação social micro, este artigo oferece evidências e ferramentas para se entender de que forma o fator trabalho se torna apenas mais um entre tantos fatores complexos que circulam na trajetória de vida desses migrantes.

Sem dúvida, a perspetiva económica oferece explicações importantes para se entender as influências presentes nos motivos que impulsionam indivíduos provenientes de países periféricos a migrarem para países centrais. Todavia, acreditamos que essa perspetiva teórica cobre apenas o motivo inicial de algumas experiências migratórias. De facto, aqueles que migraram com o objetivo único de trabalhar por um tempo e acumular, veem a migração, inicialmente, como uma oportunidade de conseguir capital económico num curto período de tempo no exterior e ter uma vida melhor no país de origem (Portes, 2004; Mills, 1997). É exatamente por isso que quando chegam à capital inglesa esses brasileiros investigados possuiriam uma ânsia e dedicação inicial muito forte pelo trabalho, chegando a trabalhar mais de 80 horas por semana nas mais distintas atividades.

Contudo, ao realizar uma análise micro, focada no estilo de vida desses migrantes ao longo das suas respetivas experiências migratórias, é possível perceber que os seus projetos iniciais sofrem reformulações. Após um tempo residindo na sociedade recetora, novas perspetivas aparecem na vida do ­imigrante, com a ampliação das suas redes de contacto. Assim, espaços sociais e novas necessidades passam a ser incorporados no seu cotidiano. Se antes a ideia era acumular dinheiro para ter uma vida, e um padrão de consumo, melhor no Brasil, agora o retorno deixa de ser algo imediato. A facilidade para o consumo de bens materiais, viagens e bens culturais (teatro, museu, bares, restaurantes), na sociedade recetora, torna-se central na vida desses indivíduos, deixando a tríade inicial “trabalhar-acumular-retornar” para segundo plano. Na realidade, a ideia do acumular volta aos discursos quando o retorno se faz presente nas conversas. Contudo, como foi possível verificar, esses indíviduos realizam práticas que apontam mais para um suposto processo de fixação do que de retorno. Além disso, a ânsia inicial pelo trabalhar muito é substítuida por uma vida voltada também para o lazer na sociedade recetora.

Dessa forma, uma investigação que destaque os espaços de sociabilidade e os diferentes discursos e práticas sociais criados pelo imigrante durante o tempo de estadia na sociedade de imigração torna-se fundamental para entendermos a sua complexidade. O que nos leva a ressaltar a necessidade de complementar a perspetiva económica macro com uma análise social centrada no estudo micro, focada na observação participante, entrevistas e, ainda, mapeamentos das suas redes sociais onde novos espaços de sociabilidade são diariamente frequentados. Como no caso dos brasileiros em Londres apresentados aqui, que estão em constante processo de negociação e reconstrução dos seus objetivos, a partir do momento em que chegam à cidade.

É importante ressaltar que as discussões e os achados de pesquisa, apresentados e desenvolvidos ao longo deste artigo, oferecem importantes pontos de partida para pesquisas futuras acerca dos brasileiros que vivem no exterior, assim como para trabalhos sobre migração no geral. O tamanho da amostra utilizada não permite fazer generalizações sobre a população estudada, mas oferece indícios de como o projeto migratório é fluído e, em alguns casos, de acordo com o que sublinhou Knowles (2003), o estilo de vida migrante inicialmente voltado para o trabalho é ressignificado para uma vida que passa a dar primazia a outros fins.

 

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Recebido a 29-08-2011. Aceite para publicação a 23-07-2012.

 

NOTAS

1 Os nome dos entrevistados presentes neste artigo não são reais.

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