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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.241 Lisboa dez. 2021  Epub 31-Dez-2021

https://doi.org/10.31447/as00032573.2021241.02 

Artigos

Leitura de livros em Portugal e na Europa. Tendências recentes numa perspetiva comparada.

Reading books in Portugal and Europe. Recent trends from a comparative perspective.

1 Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, Observatório Português das Atividades Culturais, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Av. das Forças Armadas - 1649-026 Lisboa, Portugal. miguel.lopes@iscte-iul.pt, jose_soares_neves@iscte-iul.pt

2 Departamento de Métodos de Pesquisa Social, Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) » Av. das Forças Armadas - 1649-026 Lisboa, Portugal. patricia.avila@iscte-iul.pt


Resumo

Este artigo pretende trazer novos contributos para a análise sociológica da leitura de livros em Portugal. Através de uma pesquisa extensiva, recorrendo a dados do Eurobarómetro (2007, 2013) e do IEFA (2007, 2011 e 2016), procurou-se, num primeiro momento, situar Portugal no contexto da UE e, posteriormente, aprofundar a análise da evolução das práticas de leitura de livros no país. Os resultados revelam que Portugal apresenta uma das mais baixas taxas no quadro europeu, a qual se inscreve numa evidente tendência de decréscimo, invertendo-se assim o crescimento que vinha sendo assinalado em estudos anteriores. Conclui-se, ainda, que esse decréscimo atinge sobretudo a população mais jovem e com escolaridade elevada, o que evidencia diferenças entre as várias coortes geracionais que importa continuar a acompanhar em futuras pesquisas.

Palavras-chave: sociologia da leitura; leitura de livros; práticas de leitura; perfis de leitores

Abstract

This article intends to bring new contributions to the sociological analysis of book reading in Portugal. Through extensive research, using data from Eurobarometer (2007, 2013) and IEFA (2007, 2011 and 2016), we have sought to situate Portugal in the EU context and, subsequently, to deepen the analysis of the evolution of book reading practices in the country. The results show that Portugal has one of the lowest rates in the European framework, which is part of a clear downward trend, thus reversing the growth that had been noted in previous studies. It can also be concluded that this decrease mainly affects the younger population with a high level of education, which shows differences between the various generational cohorts that should continue to be monitored in future research.

Keywords: sociology of reading; book reading; reading practices; reader profiles

Introdução

A sociologia da leitura é um dos campos da investigação sociológica que, tendo-se estabelecido no primeiro terço do século XX, demonstrou consideráveis desenvolvimentos a partir da década de 50 desse século, com particular incidência em França.

Em Portugal, resultado talvez de um desenvolvimento mais tardio da sociologia enquanto ciência (Pinto, 2004; Machado, 2009), e da área da sociologia da cultura em particular (Santos, 2012), as investigações extensivas à população circunscrevem-se ao arco temporal que vai de 1988 a 2007, período em que se realizaram três inquéritos sociológicos sobre leitura (Freitas e Santos, 1992a; 1992b; Freitas, Casanova e Alves, 1997; Santos et al., 2007).

Na sociologia da leitura, a leitura de livros tem tido um enfoque particular, e dadas as alterações/evoluções (a vários níveis) da sociedade contemporânea portuguesa, perguntámo-nos: qual a evolução das práticas de leitura de livros em Portugal depois de 2007?

Esta interrogação suscitou uma outra: que fontes existem, se existem, para lhe responder? Da pesquisa exploratória empreendida emergiram algumas fontes secundárias com dados sobre a leitura de livros no país, provenientes de inquéritos internacionais, mais concretamente o Eurobarómetro e o Inquérito à Educação e Formação de Adultos (IEFA). Embora tendo presente que não se trata de estudos específicos sobre práticas de leitura, como os inquéritos sociológicos atrás referidos, permitem ainda assim antever uma resposta à nossa questão de partida.

Tratando-se de estudos comparativos internacionais, repetidos no tempo e que incluem variáveis sociodemográficas, neste artigo procuramos contribuir para a atualização do conhecimento sobre as evoluções verificadas desde 2007 quanto ao lugar da leitura de livros em Portugal no contexto dos países da União Europeia, ao contingente dos leitores, aos perfis sociais e às principais variáveis explicativas1.

O artigo está organizado em quatro partes. Na primeira procedemos à revisão da literatura, com enfoque nas abordagens sociológicas dedicadas ao livro e à leitura e dando particular atenção aos efeitos das tecnologias digitais e ao perfil social dos leitores de livros. Na segunda parte situamos a metodologia utilizada. Apresentamos depois os resultados da exploração das fontes secundárias mobilizadas, começando por uma perspetiva comparativa da evolução da leitura de livros em Portugal no contexto da UE27 para, de seguida, nos focarmos na evolução dos contingentes de leitores de livros em Portugal e nos seus perfis sociais. Terminamos com uma síntese das principais conclusões quanto aos leitores de livros, aos seus perfis, às fontes utilizadas e às ilações delas decorrentes para novas linhas de pesquisa.

O livro e a leitura. Breve enquadramento do impresso ao digital

A leitura constitui, nas sociedades contemporâneas, uma prática social profundamente enraizada. A sua presença pode ser apreendida a diferentes níveis, desde os institucionais e organizacionais, até às atividades diárias que os indivíduos desenvolvem em diferentes esferas da vida, como a escolar, a profissional e a pessoal. Em termos históricos, a generalização desta prática é indissociável de dois processos intimamente articulados, mas analiticamente diferenciáveis: a generalização da literacia, possibilitada pela crescente escolarização da população, e a evolução dos meios ou suportes em que a informação escrita se inscreve promovendo e possibilitando o exercício da leitura.

Embora coexistindo com outros suportes, o livro constitui, desde o seu aparecimento, o suporte de excelência para a leitura. O livro tem cinco séculos de existência, sendo que a sua já longa história se encontra estreitamente associada a mudanças sociais, culturais e também tecnológicas. Se até à idade média prevaleceu o livro manuscrito, um objeto raro e pouco acessível à maioria da população, após a invenção da imprensa (como arte de imprimir) e a sua expansão no século XVI, e também com o alargamento da escolarização da população, tornou-se possível a “circulação dos escritos a uma escala inédita, que fez diminuir o custo do fabrico do livro, repartido […] por mil ou mil e quinhentos exemplares de uma mesma tiragem” (Chartier, 1998, p. 9).

Já no século XVIII, principalmente com a Revolução Francesa e mais ainda com o advento do romantismo, assiste-se a uma progressiva objetificação e mercantilização dos produtos culturais em geral, e do livro em particular, acompanhadas por crescentes processos de industrialização, nomeadamente ao nível da produção e difusão do impresso (Santos, 2012).

Durante o século XX e início do século XXI, a tendência para alargar a presença e o acesso da população ao livro reforçou-se ainda mais, impulsionada pelas (poucas) grandes e (muitas) pequenas empresas da indústria do livro e seus agentes sociais, em particular os editores e livreiros (Coser, Kadushin e Powell, 1982), e pelos processos de mediação editorial (Beja, 2020).

Em Portugal2, assistiu-se nas décadas de 1940 a 1970 ao desenvolvimento e crescimento do mundo social da edição literária, mau grado as dificuldades estruturais de expansão do livro, com a rarefação na produção e distribuição, as elevadas taxas de analfabetismo (Mata, 2015) e as políticas públicas marcadas pela censura (Medeiros, 2010). Ainda debaixo do Estado Novo, “a abertura, iniciada em 1971, de novos espaços de livraria em centros comerciais e a introdução e modelos de negócio inovadores - venda direta por correio”, de que importa destacar a edição em sistema de clube do livro e o Círculo de Leitores, em Portugal desde 1970 (Beja, 2011, p. 103), vieram “acrescentar dinâmica e dimensão ao sector do livro” (Beja, 2019, pp. 212-213), que se acentuariam após a instauração do regime democrático, tal como com a edição (Beja, 2012), e em particular a “edição política” (Maués, 2019). Nas últimas décadas, verificou-se quer o alargamento e diversificação dos géneros ou categorias de livros produzidos, quer “uma enorme pulverização dos locais de venda de livros, incluindo quiosques, postos de abastecimento de combustíveis, lojas indiferenciadas, sem esquecer, claro, as tradicionais livrarias‐papelarias” (Neves et al., 2012, pp. 97-98), para além de uma presença importante nos supermercados e hipermercados (Neves et al., 2014, pp. 56-68). Neste alargamento das possibilidades de acesso ao livro tem sido igualmente relevante o papel da leitura pública (Melo, 2004), que a expansão das bibliotecas escolares (Costa et al., 2010) e públicas, integradas ou não na Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (Neves e Lima, 2009), desempenham, sendo que esta expansão é, aliás, uma das linhas principais das políticas públicas neste domínio (Silva, 2004, pp. 241-243).

Recentemente, o aparecimento dos livros eletrónicos foi inicialmente encarado como precursor do declínio efetivo dos suportes tradicionais ( Chartier, 2001, p. 2). Na “era da reprodução digital”, o livro emerge como “produto informacional em rede” disponível em ecrãs vários (Mendonça, 2015, p. 67), a que corresponderia, a seu tempo, o desaparecimento do livro impresso.

Compreendendo a cultura como algo que “se alimenta da tradição, mas também, e muito poderosamente, da renovação” Cordón García, Díaz e Arévalo, referem que os livros eletrónicos estão a ser introduzidos com relativa naturalidade, numa ótica de coexistência, e não de exclusão, principalmente nos jovens, devido à familiaridade que estes têm com as tecnologias digitais (2011, p. 17). Após uma década do aparecimento dos primeiros e-readers e tablets [o Kindle da Amazon apareceu em 2007, o iPad da Apple em 2010 (Rainie et al., 2012, p. 15)], torna-se difícil julgar em que ponto estamos da “revolução digital da leitura” (Baron, 2015, p. 209), não existindo, naturalmente, certezas sobre qual será o futuro do livro e que alterações se verificarão nas práticas de leitura. Segundo John B. Thompson, a revolução tecnológica deu origem aos e-books, potenciou a autoedição e os audiolivros, mas a principal consequência é que criou as condições para a emergência de novos protagonistas, incluindo gigantes tecnológicos (como a Amazon à escala global), com um poder sem precedentes, que pressionam editores e livreiros da “antiga indústria” com novos produtos e serviços (digitais) e que dispõem de uma enorme quantidade de informação sobre os leitores, o que os torna capazes de interagir e comunicar diretamente com estes, desvalorizando assim a mediação das editoras com autores e livreiros até então prevalecente (Thompson, 2021, p. 466).

Nos últimos anos são muitos os estudos que refletem sobre o impacto do digital na relação dos indivíduos com os livros e a leitura, acompanhando as “dramáticas” transformações ocorridas quer no sector do livro, quer nos hábitos de leitura, que começaram com a leitura em computador no fim dos anos 1980 (Baron, 2015, p. 4).

Em consequência do advento de novos suportes de leitura (nomeadamente os já referidos Kindle e iPad), assistiu-se a um aumento não só do número de indivíduos que leem em formato digital (Rainie et al., 2012) como também do número de e-books vendidos (Baron, 2015, p. 7; Cordón Garcia, Arévalo e Rodero, 2010, p. 57). Porém, mais recentemente há dados que indiciam um decréscimo nas vendas (Milliot, 2016) e uma tendência para a estabilização da leitura de livros em formato digital (Perrin, 2019), que se pode explicar, em parte, pela síndrome de “fadiga digital”, que resulta de um certo cansaço decorrente da conectividade forçada e uso excessivo dos diferentes tipos de ecrãs (Cordón García, 2018, p. 3). Dito de outro modo, o e-book não se traduziu numa viragem do livro impresso para o digital, poderá até ocorrer uma maior valorização daquele justamente por vivermos numa cultura digital baseada nos ecrãs (Thompson, 2021, pp. 470-471).

Um outro foco de pesquisas recentes relaciona-se com os efeitos cognitivos que a leitura digital possa ter, em comparação com a leitura em material impresso. Vários estudos mostram que não existem diferenças significativas entre ler em impresso ou digital, em termos de velocidade de leitura e compreensão dos textos, muito embora as performances em material impresso sejam ligeiramente melhores, e evidenciando-se uma preferência pelo material impresso, particularmente na leitura que decorre de obrigações escolares/académicas (Delgado et al., 2018; Kong, Seo e Zhai, 2018; Walsh, 2016). Esta constatação - aparentemente paradoxal, uma vez que, através da publicação em revistas científicas, o meio académico foi dos principais impulsionadores da publicação e leitura em formato digital (Cordón Garcia, Arévalo e Rodero, 2010, p. 56) -, é fundamentada por pesquisas que focaram, em exclusivo, populações estudantis pré-universitárias e universitárias, onde se realça quer o potencial de distração da leitura em suportes digitais (Rose, 2011, pp. 521-522; Baron, Calixte e Havewala, 2017), quer aspetos relacionados com a materialidade do impresso face ao digital (Rose, 2011). Em Portugal, o debate sobre a “morte do livro” e as mudanças decorrentes das tecnologias digitais tem estado presente, com posições que destacam o seu lado revolucionário, por um lado, ou o seu caráter evolutivo, por outro, sendo que os dados empíricos comprovam a “tendência para a sobreposição (e complementaridade, para certos autores), entre ‘velhos’ e ‘novos’ suportes e tecnologias de comunicação” (Melo, 2020, p. 113).

Assim, tudo indica que não vale a pena, para já, “deitar fora” os livros impressos (Delgado et al., 2018, p. 23), porque, embora a cultura das sociedades ocidentais contemporâneas já não seja exclusivamente uma “cultura do objeto impresso” (Chartier, 1998, p. 9), não é de todo, exclusivamente, uma cultura do digital.

O lugar do livro numa sociedade de múltiplas leituras

Nas sociedades atuais o lugar do livro e a sua importância social têm de ser entendidos num quadro em que se multiplicam os suportes ou meios que possibilitam a circulação da informação escrita e se generalizam e fragmentam as práticas de leitura (Furtado, 2000, 2012). Com efeito, vivemos numa época em que o texto escrito, não exclusivamente como livro, circula de uma forma sem precedentes - seja em suportes como jornais e revistas, seja em pequenos textos (nas legendas na televisão, no cinema, nas redes sociais, em documentos e formulários, bulas de medicamentos, publicidade em forma de folhetos ou cartazes, entre outros) e o recurso à leitura é significativamente maior por necessidade de decifrar e interpretar essa informação (Ávila, 2008; Benavente et al., 1996; Costa, 2003).

As evoluções tecnológicas dos últimos 20 anos, nomeadamente ao nível das tecnologias digitais, não diminuem a importância da leitura. Na chamada sociedade em rede, onde tanto o acesso à internet, ao computador, ao tablet, e principalmente ao smartphone, como a utilização das redes sociais online tem vindo a crescer, e em alguns casos significativamente (Cardoso et al., 2015), a “leitura surge como sendo cada vez mais necessária em diversos contextos, mas, ao mesmo tempo, fragmenta-se e dispersa-se, passando a estar ancorada em múltiplos suportes” (Ávila, 2008, p. 72). Com o inegável avanço e presença crescente de formatos de leitura inscritos em dispositivos digitais, incluindo, como atrás se referiu, os livros, as sociedades atuais caracterizam-se pela coexistência de uma multiplicidade de suportes disponíveis para a leitura. Assim, embora as tecnologias digitais assumam uma importância cada vez maior, na vida social contemporânea estão presentes diferentes meios de comunicação e diferentes suportes, impressos e digitais, através dos quais a leitura se desenvolve (Ávila, 2008, pp. 73-74).

Esta situação é particularmente relevante entre os jovens, uma vez que estes passam mais de três horas diárias na internet em diferentes atividades (Ponte e Batista, 2019, pp. 19-23). Como refere Lahire, a propósito da evolução das práticas de leitura entre os mais jovens, a existência de evidências empíricas sobre o seu decréscimo decorre de muitas das leituras que estes realizam serem “curtas, descontínuas, informativas, rápidas, técnicas, documentais”, inserindo-se em “atividades de outra ordem, [sendo] meios de atingir outros fins (que não são o simples prazer de ler)”, o que faz com que sejam “leituras invisíveis”, consideradas como “não leituras” e, logo, não leitores, seja por quem as pratica, seja pela maioria dos investigadores (Lahire, 2004, pp. 164-171). Torna-se, assim, necessário reconhecer a coexistência de múltiplas leituras, procurando soluções metodológicas (Détrez, 2004) que deem visibilidade analítica (Lahire, 2004, pp. 171-173) às leituras mais fragmentadas.

Neste contexto, investigar o lugar do livro e a evolução social das práticas de leitura neste suporte não deixou de ser relevante sociologicamente, mas torna-se necessário que tenha em consideração a multiplicidade das práticas e suportes para a leitura nas sociedades atuais.

A leitura de livros como prática cultural

A leitura de livros ocupa um lugar central na sociologia da leitura (Neves, 2011, p. 25) e tem vindo a ser conceptualizada como uma prática social - desde a relação que se estabelece entre o leitor e o autor, passando pela partilha (física e digital) de material escrito entre indivíduos, até à discussão de opiniões em clubes de livro face-a-face (Radway, 1991; Long, 2003), ou em plataformas digitais como a Goodreads (Sedo, 2011; Nakamura, 2013) - e não tanto como uma atividade individual (Baron, 2015, pp. 113-130).

Também numa perspetiva sociológica, vários autores abordam a leitura como prática cultural (Coulangeon, 2005, pp. 3-4), ou seja, enfatizam a leitura como atividade realizada em tempo de lazer, por prazer, fruição intelectual, distinta da leitura efetuada por obrigações profissionais ou escolares (Donnat, 2009; Griswold, McDonnell e Wright, 2005; Griswold Naffziger e Lenaghan, 2011; Neves, 2015a).

Leitores e perfis de leitores. Os inquéritos sociológicos sobre leitura

As sociologias da leitura nascem no começo do século passado, sendo que o desenvolvimento dos inquéritos sociológicos sobre leitura está “intimamente ligado à história política e social do século, às suas crises e às suas esperanças” (Poulain, 2004, p. 17). Tanto em termos geográficos como em número, a expansão destes inquéritos ocorre ao longo do século XX (Poulain, 2004; Neves, 2011, pp. 67-69), embora a noção de leitura como lazer tenha particular incidência, neste tipo de inquéritos, após a Segunda Guerra Mundial (Poulain, 2004, p. 23).

Portugal tem também já alguma tradição em estudos extensivos que abordam, direta ou indiretamente, as práticas de leitura. Promovidos por diferentes entidades, tendo, ou não, as práticas de leitura como objeto de estudo principal, abrangendo toda a população ou direcionados apenas para determinados segmentos da mesma, os estudos sobre práticas de leitura têm tido alguma expressão na investigação sociológica, principalmente após a transição para a democracia e até 2007 (Neves, 2015d).

Interessa sobretudo fazer aqui referência aos três grandes inquéritos sociológicos sobre leitura que até hoje se realizaram em Portugal3. O primeiro desses inquéritos, Hábitos de Leitura em Portugal: Inquérito Sociológico - realizado em 1988 (Freitas e Santos, 1991, 1992a, 1992b) teve como objetivo “fornecer elementos sobre as práticas de leitura em Portugal”, respondendo a perguntas como: “quem lê? O que lê? Com que frequência? Que livros e quantos livros se possuem? Quem compra e quantos livros se compra? Onde se realiza o aprovisionamento de livros? Qual o lugar da leitura entre escolhas culturais?” (Freitas e Santos, 1991, p. 67). Em 1995 foi realizado o segundo inquérito sociológico, Hábitos de Leitura: Um Inquérito à População Portuguesa, que teve como finalidade “caracterizar e analisar os hábitos de leitura dos portugueses” (Freitas, Casanova e Alves, 1997, p. 17). O último inquérito sociológico sobre leitura realizado em Portugal decorreu em 2006/2007 (Santos et al., 2007). Algumas das questões que orientaram este estudo foram: “quem lê, o que lê, onde lê, porque lê (ou não), qual o lugar da leitura no conjunto das práticas culturais, quais as evoluções que se podem detetar relativamente a anteriores inquéritos à população realizados em Portugal?” (Santos et al., 2007, p. 7), sendo de destacar a análise comparativa com os inquéritos de 1988 e 1995.

Os resultados desses inquéritos mostraram que se assistiu nas últimas décadas, mais precisamente até 2007, ao crescimento dos leitores de livros, em grande parte devido ao aumento dos pequenos leitores (Santos et al., 2007, p. 47), e que se manteve alguma regularidade no que se refere aos perfis sociais. E, embora existissem diferenças, muitas delas assinaláveis, entre Portugal e os países da União Europeia no que concerne a condições sociais, situação económico-financeira e práticas culturais (só para nomear algumas), os perfis dos portugueses leitores de livros assemelhavam-se aos perfis dos seus congéneres europeus (Neves, 2015d).

Que perfis eram esses ou, dito de outro modo, que características sociodemográficas foram reveladas nesses estudos sobre os portugueses leitores de livros? Que eram maioritariamente do sexo feminino, mais jovens (com destaque para os estudantes), com níveis de escolaridade e rendimentos mais elevados, e que residiam maioritariamente em áreas urbanas metropolitanas (Santos et al., 2007; Neves, 2015a, 2015d). Em termos da estrutura socioprofissional4, constatou-se uma sobrerrepresentação na categoria dos Profissionais Técnicos e de Enquadramento, quer na leitura de livros, quer nas práticas culturais em geral (Neves, 2015a, p. 74, 2015d, p. 131).

Não existindo desde 2007 um inquérito que incida especificamente sobre a leitura de livros em Portugal, pretende-se, com este artigo, colmatar algumas lacunas sobre a evolução dos contingentes de leitores e dos seus perfis sociais desde essa altura.

Metodologia

A presente investigação é de carácter extensivo e apoia-se, exclusivamente, em dados secundários. Procurou-se assim, na ausência de inquéritos sociológicos recentes, realizados em Portugal, dedicados a aferir a evolução das práticas de leitura da população, analisar dados provenientes de fontes secundárias que permitissem responder aos objetivos do estudo. Esta é uma prática que, na presença de instrumentos teóricos e metodológicos adequados, permite tirar partido da informação de qualidade já recolhida, dando contributos para responder a perguntas de investigação específicas, que ultrapassam muitas vezes os objetivos que orientaram a recolha original da informação (Bryman, 2012; Vartanian, 2011).

Neste estudo, essas fontes foram o Eurobarómetro e o Inquérito à Educação e Formação de Adultos (IEFA). Relativamente ao Eurobarómetro, foram mobilizados um de 2007 e outro de 2013. Trata-se de dois inquéritos sobre a relação dos cidadãos europeus com a cultura, incluindo a leitura, e que por isso permitem, não só uma comparação de Portugal com outros países europeus, mas também uma análise diacrónica entre 2007 e 20135. Desta sondagem foi retomada para esta investigação uma pergunta sobre a frequência de leitura de livros, com a seguinte formulação: “Quantas vezes nos últimos doze meses o Sr/Sr(a) leu um livro?”, com as seguintes categorias de resposta: “Nunca nos últimos doze meses”, “1-2 vezes”, “3-5 vezes”, “Mais do que 5 vezes” e “Não Sabe/Não Responde”.

A outra fonte utilizada foi o IEFA de 2007, 2011 e 2016 6 que é a edição nacional do Adult Education Survey (AES), um inquérito europeu coordenado pelo Eurostat, que em Portugal é conduzido pelo INE7. Foram analisadas as duas perguntas sobre leitura de livros presentes nas três edições. Uma delas sobre a presença, ou não, da prática de leitura de livros como atividade de lazer no último ano (“Nos últimos 12 meses leu algum livro como atividade de lazer?”, resposta Sim/Não), e, no caso de resposta afirmativa, uma outra pergunta sobre o número de livros lidos, a qual teve uma formulação ligeiramente diferente em 2007 (“Nos últimos 12 meses, em média, quantos livros leu como atividade de lazer?”, com as categorias de resposta “1 a 3 livros”, “4 a 7 livros”, “8 a 12 livros”, “mais do que 12 livros”) e em 2011 e 2016 (“Leu menos de 5 livros, entre 5 e 10 livros ou mais de 10 livros?”, com as categorias de resposta “menos de 5 livros”, “entre 5 e 10 livros”, “mais de 10 livros”).

A análise foi realizada a partir dos microdados dos inquéritos8. Foram mobilizados métodos de análise de dados de âmbito descritivo e indutivo, procurando-se conhecer a evolução recente das práticas de leitura de livros em Portugal e também as eventuais mudanças no perfil social dos leitores.

Resultados

Evolução da leitura de livros em Portugal e na UE

De acordo com os dados do Eurobarómetro (Comissão Europeia, 2007, 2013), de 2007 para 2013 a percentagem de indivíduos que afirmam ter lido livros no último ano desce na maioria dos países analisados9 (figura 1). A média europeia diminui quatro pontos percentuais, de 72% para 68%, mas a evolução não é uniforme entre países: em 19 países a percentagem desce, ao passo que nos demais 8 sobe ligeiramente ou mantém-se inalterada.

Portugal tem, em 2013, a menor percentagem de leitores de livros no conjunto dos países da UE (37,8%), o que corresponde a um claro recuo relativamente a 2007 (menos 11,2%), segundo o Eurobarómetro. Portugal é mesmo o único país, em 2013, em que menos de metade dos inquiridos declara ter lido algum livro nos últimos 12 meses. Ou seja, os baixos níveis de leitura em Portugal acentuam-se no período de crise financeira, com um impacto mais forte do que nos restantes países da UE.

O Eurobarómetro é uma fonte útil para entender a evolução de Portugal de 2007 para 2013 e sobretudo o lugar do país no contexto da UE27, mas não especifica as finalidades da leitura. Já o IEFA, embora circunscrito a Portugal, considera a leitura de livros como atividade de lazer, abrange um período de tempo mais alargado e próximo (2007 a 2016) e apoia-se numa amostra da população com maiores garantias de representatividade.

Figura 1 Leitura de livros nos países da UE27 (2007 e 2013). Fontes: Eurobarómetro, 2007 e 2013; Elaboração própria. Notas: (i) inquiridos com 15 e mais anos que declararam ter lido algum livro pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores ao inquérito; (ii) países ordenados por ordem decrescente da percentagem de leitores em 2013. 

A partir desta fonte, constatamos que a percentagem de inquiridos que afirma ler livros em contexto de lazer situa-se, nos três anos analisados, sempre abaixo dos 50% e apresenta uma tendência de ligeiro decréscimo ao longo desse período. Mais precisamente, desce de 44%, em 2007, para 40%, em 2016 (quadro 1). Este resultado está em linha com a tendência antes observada no Eurobarómetro e que se estende a um período mais recente (2016), ou seja, confirma que é de apenas cerca de 40% a percentagem de leitores de livros em Portugal.

Os dados do IEFA permitem também conhecer o perfil social dos leitores e a sua evolução entre 2007 e 2016. Um primeiro elemento a destacar é que, no período em análise, a percentagem de leitoras é sempre superior à de leitores, observando-se ainda que entre estes a descida global verificada é mais acentuada: menos 7% de leitores entre 2007 e 2016, face a menos 2% de leitoras. Em 2016, pelo menos metade das mulheres inquiridas afirma ler livros, enquanto os homens são já menos de um terço. A diferença percentual entre leitoras e leitores tem vindo a aumentar: em 2007 é de 17 pontos percentuais (p. p.), aumenta para 20 p. p. em 2011, e para 22 p. p. em 2016. Confirma-se, assim, a conhecida clivagem da prática de leitura de livros em lazer a favor das mulheres e verifica-se que a mesma tem vindo a acentuar-se.

Quadro 1 Perfil social dos leitores de livros em Portugal (2007, 2011 e 2016) (% de leitores por categoria) 

Quanto à idade, a posição relativa entre os vários escalões etários mantém-se em todo o período, observando-se que à medida que aumenta a idade, desce a percentagem dos que leem livros. Mas se isso é verdade, e confirma tendências já encontradas em investigações anteriores (Santos et al., 2007, p. 53), é igualmente notório o crescente distanciamento dos mais jovens relativamente à leitura de livros por prazer. Com efeito, constatamos que as percentagens descem mais acentuadamente nestes grupos ao longo do período em análise. Por exemplo, no escalão etário 18-24 anos a descida entre 2007 e 2016 é de 10 p. p. (de 54% para 44%), mas no escalão dos mais velhos (55-64 anos) verifica-se uma evolução positiva, ainda que muito pequena (de 34% para 35%).

Quanto à escolaridade, também se confirma a conhecida associação com a leitura de livros, agora de sentido positivo: quanto mais elevado é o grau de escolaridade, maior é a percentagem de leitores de livros por prazer (Neves, 2015d, p. 120). Mas, também aqui se verifica que a diminuição que ocorre entre 2007 e 2016 não é transversal, sendo particularmente acentuada entre os que mais leem, ou seja, entre os mais qualificados (sobretudo entre os que têm o ensino secundário, mas também nos que têm ensino superior, registando estas duas categoriais as maiores quebras no período em análise). A única exceção na tendência de descida situa-se nos indivíduos que não concluíram nenhum grau de escolaridade, entre os quais as percentagens permanecem muito baixas, subindo muito ligeiramente de 5% em 2007 para perto de 6% em 2016.

Colocando o foco no cruzamento da leitura de livros com a condição perante o trabalho e com a categoria socioprofissional, verificamos que o panorama geral é, uma vez mais, de descida acentuada nas categorias em que os contingentes de leitores são, por norma, mais elevados, como os estudantes e os Profissionais Técnicos e de Enquadramento (PTE), ou seja, entre as categoriais com capital escolar mais elevado.

Assim, quanto à condição perante o trabalho, destaca-se a descida de 20 p. p. nos estudantes (a mais acentuada entre as categorias desta variável), continuando estes, ainda assim, a ser o contingente com maior percentagem de leitores de livros, e o único acima dos 50% nos três anos registados (74% em 2007, 61% em 2011 e 54% em 2016).

No que à categoria socioprofissional diz respeito, apenas os Trabalhadores Independentes (TI) não descem, destacando-se o facto de os PTE baixarem 18 p. p., de 79% para 61%. Ainda assim, são em 2016 a única categoria socioprofissional na qual os leitores de livros ainda são a maioria, quando em 2007 esta situação se estendia também aos Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais (EDL) e aos Empregados Executantes (EE).

Em síntese, estes resultados mostram que - embora permaneçam bem vincadas as principais caraterísticas sociais que distinguem os leitores de livros -, estão a ocorrer importantes alterações, assistindo-se a uma diminuição das diferenças sociais, a qual é alcançada por via de uma aproximação “por baixo”, ou seja, por via da perda de leitores onde estes têm maior peso e não por um ganho de leitores onde estes eram, e continuam a ser, menos presentes.

Tipos de leitores de livros em Portugal

Considerando apenas o ano de 2016, analisa-se agora o perfil social dos leitores segundo uma tipologia de leitores, obtida a partir do número de livros lidos, e abrangendo a população com idades dos 18 aos 69 anos (quadro 2).

Como seria de esperar, considerando os vários tipos de leitores, as percentagens diminuem regularmente à medida que aumenta o número de livros lidos. O tipo mais “exigente”, leitores de 10 ou mais livros, representa, em 2016, pouco mais de 4% dos inquiridos. A maioria dos inquiridos ou não lê, ou são pequenos leitores (61% e 27%, respetivamente). Este é um panorama que atravessa as várias categorias sociais consideradas, embora sejam identificáveis algumas diferenças.

A análise do perfil social dos vários tipos de leitores evidencia, em primeiro lugar, que entre as mulheres os tipos de leitura mais intensa, embora minoritários, atingem percentagens um pouco mais elevadas do que entre os homens. Em termos etários, observa-se que os que declaram não ter lido livros aumentam regularmente com a idade e, por sua vez, os pequenos leitores têm mais expressão entre os mais jovens. Já os médios e grandes leitores têm uma presença muito pouco expressiva em todos os grupos etários.

Relativamente ao grau de escolaridade, as diferenças são particularmente acentuadas nos tipos mais exigentes em quantidade de livros lidos, os quais, embora continuem a ser transversalmente minoritários, atingem entre os indivíduos com ensino superior os valores mais elevados entre as várias categoriais analisadas (27% leem pelo menos 5 livros).

Quanto à condição perante o trabalho, os estudantes destacam-se por terem o menor contingente entre os que não leram nenhum livro, e por registarem a percentagem mais elevada de pequenos leitores, mas não se diferenciam nos restantes tipos. Aliás, a percentagem de médios e grandes leitores apresenta, uma vez mais, variações muito pequenas, oscilando entre os 4,3% e os 7,7%.

Os PTE são a única categoria socioprofissional em que a maioria dos inquiridos lê por motivo de lazer, destacando-se das restantes em qualquer um dos três tipos de leitores. Entre os EDL, embora prevaleçam os não leitores, as percentagens à medida que aumenta o número de livros lidos aproximam-se das registadas entre os PTE.

Quadro 2 Perfis de leitores de livros por número de livros lidos (2016) (percentagens em linha) 

O decréscimo das práticas de leitura em Portugal. Um olhar cruzado entre fatores geracionais e recursos educacionais

Os resultados até aqui apresentados permitem retratar o perfil social dos leitores de livros em Portugal e também a evidente diminuição dos leitores, observada sobretudo entre os mais escolarizados. Por existirem indícios de uma importante mudança social em curso (até há pouco tempo a chave para o aumento dos leitores parecia garantida com o alargamento da escolaridade da população), procurou-se aprofundar a relação entre o número de livros lidos (apurado agora a partir do número médio de livros lidos no último ano), a idade (categorias etárias) e o grau de escolaridade, de modo a explorar se a combinação das categorias destas duas variáveis permite detetar variações específicas na leitura de livros como atividade de lazer ao longo da vida10 (figura 2).

Desde logo constatamos, uma vez mais e como esperado, que a leitura de livros é tanto mais elevada quanto maior a escolaridade, algo que é transversal a todos os escalões etários. Ao mesmo tempo, porém, surge algo que os dados apresentados até aqui não mostravam: o número de livros surge com uma relação direta com a idade, mas apenas nos indivíduos com ensino secundário e superior e, entre estes, somente a partir dos 45 anos. Entre os menos escolarizados, o número de livros lidos é sempre muito baixo, em média ligeiramente superior a um, e sem alterações relevantes nos vários escalões etários.

Figura 2 Número de livros lidos (média) por idade e escolaridade (2016). Fonte: IEFA 2016; Elaboração própria. Nota: valores médios do indicador “número de livros lidos no último ano”. 

De salientar ainda que, entre os mais jovens, as diferenças no número de livros lidos por escolaridade são bastante menos acentuadas do que entre os mais velhos. Considerando os níveis de escolaridade dos que leem mais e menos no primeiro escalão etário (superior e básico, respetivamente), a distância ou diferença entre elas é de 1,4 livros, a favor dos mais escolarizados. Fazendo o mesmo cálculo para os inquiridos mais velhos (65-69 anos), a distância aumenta para 5,3 livros, em média. Ou seja, entre as gerações mais novas as diferenças no número médio de livros lidos por grau de escolaridade são claramente inferiores ao verificado entre as mais velhas, o que se deve ao facto de os jovens com ensino secundário e superior lerem acentuadamente menos do que os mais velhos com a mesma escolaridade. É por essa via que se alcança a já referida diminuição das desigualdades face à leitura, a qual, percebe-se agora, decorre sobretudo das reduzidas práticas de leitura dos mais jovens, mantendo-se essas desigualdades muito evidentes nas categorias etárias mais elevadas.

Ficam assim evidenciadas não só as conhecidas e amplamente retratadas clivagens nas práticas de leitura associadas ao capital escolar, mas também outras dimensões que com ele se cruzam e que podem contribuir para compreender as transformações em curso neste domínio. A idade surge como um elemento que introduz maior complexidade à interpretação da distribuição social desta prática cultural podendo refletir, quer efeitos de geração (que nos podem levar a concluir que há idades mais propensas à prática da leitura do que outras), quer sinais de uma mudança social profunda em curso, que afeta, para já, sobretudo as gerações mais novas.

Conclusões

A pesquisa realizada permitiu concluir que de 2007 para 2013, no contexto da União Europeia a 27 (UE27), Portugal registou um decréscimo acentuado na percentagem de indivíduos que afirmam ter lido livros no último ano. Em 2013, aliás, o país tem o pior desempenho na leitura de livros entre os países da UE, acentuando-se ainda mais a distância relativamente aos restantes contextos nacionais. O impacto da crise financeira e económica que ocorreu durante o período em análise poderá ser uma das explicações para a especificidade da tendência registada no país (Neves, 2015b, p. 38), no entanto, outros fatores devem ser equacionados.

Focando-nos na leitura de livros como atividade de lazer, e alargando o período em análise de 2007 a 2016, evidencia-se a inversão da tendência de crescimento até aí verificada em Portugal (Santos et al., 2007, p. 74), passando a ser de decréscimo. Sendo transversal às categorias sociais analisadas, este decréscimo acentua-se nos homens, nos mais jovens (em particular nos estudantes) e, sobretudo, nos mais escolarizados. Esta evolução negativa dos níveis de leitura de livros verifica-se também entre os indivíduos que exercem uma atividade profissional. O maior decréscimo ocorre no contingente dos Profissionais Técnicos e de Enquadramento (PTE), logo seguido pelo contingente dos EE (Empregados Executantes), justamente as duas categorias que apresentavam em 2007 as maiores percentagens de leitores de livros (Santos et al., 2007).

Apesar do declínio verificado na leitura de livros nos últimos anos, o perfil social predominante dos leitores de livros em Portugal é análogo ao perfil de que a literatura sociológica nos dá conta (Griswold, 2008; Neves, 2015a): mais feminino do que masculino, mais jovem, mais escolarizado (com destaque para os estudantes) e, entre os que exercem uma atividade profissional, destacam-se os PTE. São resultados próximos dos verificados noutros países como Espanha (Villarroya, 2010, p. 200) e França (Donnat, 2009; 2011).

Dado que a escolaridade é determinante no que à leitura de livros diz respeito, e uma vez que temos assistido, nas últimas décadas em Portugal, a uma melhoria significativa dos indicadores relativos à escolaridade da população [embora, no contexto dos países europeus, Portugal mantenha uma posição bastante desfavorável (OCDE, 2019)], qual a explicação para um tão acentuado decréscimo, em particular entre os mais escolarizados?

A resposta a esta questão permanece em aberto, mas a análise realizada permitiu reunir alguns elementos de apoio à reflexão. Foi possível evidenciar que o decréscimo verificado na leitura de livros entre os indivíduos mais escolarizados é mais proeminente nos mais jovens do que nos mais velhos, o que é sociologicamente muito relevante. De facto, é entre os mais jovens que os níveis de leitura se apresentam hoje particularmente baixos, mesmo quando a escolaridade é elevada. Os resultados mostram, assim, uma grande proximidade nos níveis de leitura dos jovens com escolaridades diferentes, os quais são transversalmente baixos, apesar de permanecerem visíveis os efeitos do capital escolar. A questão que se coloca, e que importa continuar a acompanhar e a aprofundar noutras investigações, é a de saber se as evidentes diferenças registadas entre as várias coortes geracionais refletem práticas culturais diferenciadas ao longo do ciclo de vida (o que significaria que aqueles que são jovens hoje passariam a ler mais quando fossem mais velhos, sobretudo os mais escolarizados), ou se, pelo contrário, estamos perante sinais de uma profunda mudança social que se manifesta, para já, sobretudo entre as gerações mais novas.

Estes resultados devem ser enquadrados à luz de uma abordagem crítica das fontes secundárias utilizadas, dois inquéritos à população sobre temáticas abrangentes, mas que contemplam questões sobre atividades culturais. Estes inquéritos permitiram construir diversos indicadores sobre leitura de livros que avançam novos dados sobre a relação da população portuguesa com este suporte central das práticas de leitura, e sobre as evoluções e as mudanças verificadas após o último estudo sociológico que data de 2007. Apresentam virtualidades, mas também limitações. A estratégia seguida neste artigo consistiu em maximizar as primeiras, sem esquecer as segundas. O Eurobarómetro tem desde logo a enorme vantagem de permitir a comparação entre Portugal (continental) e os outros países da União Europeia, e ainda a de medir a evolução registada nesse contexto de 2007 para 2013. Contudo, o indicador considerado é bastante genérico, não especificando em que contexto (lazer, escolar ou profissional) essa leitura foi realizada. Embora se reconheça a porosidade entre os referidos contextos, seria importante distinguir o de lazer dos demais, permitindo assim uma aproximação à noção de leitura como prática cultural.

Por sua vez, o IEFA tem a vantagem de a amostra abranger toda a população e não apenas a residente em Portugal Continental uma vez que inclui as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, o que, assinale-se, é bastante incomum. Tem também a vantagem de o indicador utilizado ser mais preciso já que incide especificamente na leitura de livros como atividade de lazer (“nos últimos 12 meses leu algum livro como atividade de lazer?”) e ainda de incluir um outro indicador que, quantificando o número de livros lidos, permite distinguir diferentes tipos de leitores

Uma limitação que importa registar, comum a ambas as fontes, é que não é considerada a distinção entre leitura em papel e em digital, offline e online, o que inviabiliza a análise respetiva e das relações entre os dois suportes. Se é verdade que em 2007 a leitura de livros em suporte digital não tinha a expressão que veio a ter posteriormente - muito embora as pessoas já lessem livros em formato digital através do computador em 2007 (Santos et al., 2007; Neves, 2010) - em 2013 a realidade já era outra, com uma penetração relevante do digital como suporte de leitura (Cardoso e Cameira, 2015), sendo que, no caso concreto de Portugal, a leitura de livros em suporte digital não parece ser irrelevante (Neves, 2016). Esta reflexão crítica pretende, acima de tudo, chamar a atenção para a relevância de as próximas edições destes inquéritos abordarem a temática dos suportes de modo a aproximarem-se da realidade que o digital representa crescentemente nas sociedades em rede, incluindo no que se refere à leitura em geral, e em específico à leitura de livros.

Terminamos com uma reflexão que pretende ser um pouco mais abrangente, tendo presente as alterações ocorridas na última década e meia nas práticas de leitura e os limites das fontes disponíveis. Se é verdade que em Portugal se assistiu a um declínio na leitura de livros, isso não significa necessariamente que as práticas de leitura estejam a diminuir. Se ler não é forçosamente sinónimo de leitor de livros (Santos, 2012, p. 287), na atual sociedade em rede, do digital, verifica-se que a leitura é cada vez mais fragmentada, e feita em diferentes tipos de suportes (Lahire, 2004; Ávila, 2008; Baron, 2015, 2017). Importa assim aprofundar a análise com outras dimensões de modo a apreender as múltiplas facetas que a leitura (incluindo a de livros) adquire no atual contexto, até para entendermos as mudanças decorrentes das diferenças entre o impresso e o digital.

Contudo, as fontes utilizadas, relevantes para o estudo da leitura de livros, como vimos, são omissas quanto a esta e outras dimensões das práticas de leitura. São lacunas que a sociologia, e em particular a que se ocupa da leitura, deverá procurar colmatar em futuras pesquisas.

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1 Este artigo retoma a dissertação de mestrado em Sociologia intitulada Leitura de Livros em Portugal e na Europa. Tendências Recentes numa Perspetiva Comparada (Lopes, 2019).

2 Para uma perspetiva sociológica e histórica do livro, ver Silva (2016) e Medeiros (2010, pp. 31-38); sobre a investigação realizada em torno de “casas e agentes da edição portuguesa no século XX” ver (Medeiros, 2018a); sobre estudos do setor do livro em Portugal e, em específico, sobre as pesquisas desenvolvidas no âmbito do Observatório das Atividades Culturais (OAC, 1996-2013), ver (Neves, 2015c). Sobre edição e comércio, editores e livreiros e, mais genericamente, sobre os agentes do sector do livro em Portugal, ver Cameira (2018), Martins (1999, 2005, 2017) e Medeiros (2018b).

3 Para uma perspetiva dos estudos sociológicos de leitura em Portugal no século XX de caráter qualitativo, numa escala analítica “micro”, ver o volume dirigido por Diogo Ramada Curto (2006).

4 A categoria socioprofissional foi construída de acordo com a Tipologia ACM a qual resulta do cruzamento da profissão com a situação na profissão (Costa, 2008, pp. 227-228; Costa, Machado e Almeida, 2007; Costa e Mauritti, 2018).

5 As amostras dos inquéritos Eurobarómetro 2007 e 2013 para Portugal são de 1.013 indivíduos e 1.015 indivíduos, respetivamente, sendo o universo constituído pela população residente com 15 e mais anos (Comissão Europeia, 2007, 2013).

6 As amostras dos inquéritos IEFA 2007, 2011 e 2013 são de 11.289, 14.189 e 14.211 indivíduos, respetivamente, sendo o universo constituído pela população residente em território nacional (Continente e Regiões Autónomas), com idades compreendidas entre 18 e 64 anos (IEFA, 2007), e com idades compreendidas entre 18 e 69 anos (IEFA 2011 e 2016) (INE, 2009, 2013, 2017).

7 É um inquérito à população que inclui questões dobre “participação em atividades culturais e sociais” (INE, 2007, pp. 3-4).

8 No caso do Eurobarómetro, o acesso aos microdados é feito através do GESIS Leibniz Institute for the Social Sciences (https://www.gesis.org/eurobarometer-data-service/search-data-access/data-access). O acesso aos microdados do IEFA 2007, 2011 e 2016 ocorreu ao abrigo Protocolo entre o INE, a Fundação para Ciência e tecnologia (FCT) e o Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior assinado, em 23 de dezembro de 2008, que permite o acesso a dados recolhidos pelo INE no âmbito de atividades de investigação.

9 Uma outra aproximação analítica à leitura de livros na União Europeia pode ser consultada em Lopes e Neves (2019).

10 Para esta análise foram considerados apenas os indivíduos que completaram pelo menos o Ensino Básico.

Recebido: 22 de Julho de 2020; Aceito: 14 de Junho de 2021

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