NOTA

 

Um espaço que não é

 

 

Pedro Calapez^{1 i}

¹Pintor, estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. URL: http://www.calapez.com. E-mail: pcalapez@gmail.com  

 

 

O espaço na distância – como recuperar – experiência e exaustão – afastar-me, para depois me aproximar (Pintura 1)

 

 

– duplo destino – saber olhar – modelo imaginado – não vos posso ajudar – desencontro – extensão panorâmica – iludir o espírito da paisagem – momento isolado – imenso catálogo – perturbação nas escolhas – como viver o horizonte – construir espaço – entre tudo e nada – o silêncio ocupa um intervalo – eco de murmúrios – e por vezes sinto medo. (Pintura 2)

 

 

As estações mortas, o presente, a aurora – o passante olha sem parar – o detalhe desvanece-se -só ver completamente – totalidade – nada sei da vida e da morte - “não te parece que a brisa que aqui corre resulta suave e perfumada”? O caminho que a lado nenhum leva parece prometer um espaço, um espaço inacessível pois no fim desse caminho não chegaremos a lado nenhum - do bloqueio físico seguimos para um espaço virtual pois só aí poderemos continuar. (Pintura 3)

 

 

Inicia-se por uma descida – deslizamos lentamente – os espinhos da amoreira silvestre raspam nas nossas faces - os sapatos enfiam-se no pó do chão que se levanta em pequenas nuvens – uma simulada tempestade de areia sobe junto aos nossos pés. As nuvens desfazem-se em pequenas ondas qual tsunami sem consequências a não ser a suave ilusão de caminhar sem um ch ão – vemo-nos a flutuar e somos suavemente empurrados pelo vento

– desconheço para onde somos levados. O perdeu os seus contornos e só de tempos em tempos o vislumbramos – a ribeira lá longe contorna os montes – e continuamos – passamos por cima da floresta dos eucaliptos que nos incensam com o seu perfume. Indeterminamos o espaço em que agora nos encontramos. (Pintura 4)

 

 

Porque o espaço fora da cidade, fora da história, é um espaço de encanto, de rapto, e o cenário que então nos aparece é o arquétipo que nos conduz ao centro da interioridade.

Raffaele Milani, L’arte Del Paessaggio

(Pintura 5)

 

 

 

 

NOTAS

 

ⁱPedro Calapez, vive e trabalha em Lisboa (1953). Começou a expor nos anos setenta tendo realizado a sua primeira exposição individual em 1982. Expôs individual e colectivamente em diversas Galerias de arte e Museus, em Portugal e no estrangeiro e está representado em várias colecções públicas e privadas. Colabora regularmente com arquitectos desenvolvendo trabalhos de arte específicos ou obras de arte pública. Estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. URL: http://www.calapez.com. E-mail: pcalapez@gmail.com