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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia

versão impressa ISSN 0430-5027

Finisterra  no.111 Lisboa ago. 2019

https://doi.org/10.18055/Finis13577 

COMENTÁRIO DE AUTOR


 

European week of regions and cities 2017: youthmetre, an e-tool to empower youth in policy-making

 

 

Diogo Gaspar Silva1

1 Mestrando em “Geografia Humana: Globalização, Sociedade e Território” do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa, Rua Branca Edmée Marques, 1600-276, Lisboa, Portugal. E-mail: diogosilva4@campus.ul.pt

 

 

Decorreu, em Bruxelas, entre os dias 09 e 12 de outubro de 2017, a celebração do 15.º aniversário da European Week of Regions and Cities (EWRC). Este ano o evento centrou-se em três eixos temáticos ancorados num grande propósito “Regions and Cities working for a better future”. Além dos temas relacionados com a resiliência urbana e regional, as sessões centraram-se no papel transformador das cidades e regiões europeias e na partilha de conhecimentos empíricos interurbanos e inter-regionais

A magnitude do evento traduziu-se em mais de 130 workshops, eventos de networking e milhares de participantes. Contou ainda com uma masterclass destinada a estudantes de doutoramento ou investigadores dedicados ao estudo de política urbana e regional, visando o melhoramento da política de coesão europeia.

Mais do que uma viagem, este evento foi uma experiência ativa de aprendizagem de projetos com expressão territorial multiescalar.

O primeiro dia foi dedicado ao desafio do envelhecimento demográfico para as cidades e regiões europeias, tendo assistido a dois workshops intitulados Meeting the challenge of ageing e, durante a tarde, no Comité das Regiões, An alternative for the future: Silver economy for cities and regions.

A primeira sessão permitiu-nos conhecer a estratégia europeia sobre o envelhecimento ativo através do projeto Scirocco. Com uma plataforma online aplicada a 12 regiões europeias, conhecemos o grau de maturidade de uma região para a promoção de sistemas de cuidados integrados para os idosos através de 12 dimensões analíticas, avaliadas em métodos qualitativos. Os resultados empíricos do nível de maturidade e as boas práticas centraram-se em três regiões europeias: Espanha (País Basco), República Checa (Olomouc) e Suécia (Norrbotten). 

Ressaltou que certas regiões, nomeadamente Olomouc, não estão preparadas para a introdução de sistemas integrados de saúde, pois não há um conhecimento sobre o conceito de integrated care. Por outro lado, a região sueca demonstra uma maturidade mais elevada, uma vez que a discussão dos problemas de saúde pública é feita a nível municipal. Ao contrário das restantes regiões, Norrbotten removeu dos focus groups os decisores políticos, alegando uma quebra das dinâmicas dos grupos.

Deste modo, a plataforma digital pode ter uma aplicação ao nível local, sendo uma ferramenta de reflexão e de aprendizagem inter-regional.

A segunda sessão, que contou com a participação do primeiro vice-presidente do Comité das Regiões, Markku Markkula, procurou evidenciar a importância dos idosos para o futuro das economias europeias. Uma das grandes mensagens transmitida resume-se ao facto do envelhecimento não significar necessariamente uma quebra social rumo à miséria. A maioria dos projetos focou-se em questões de habitação e em serviços domiciliários destinados aos idosos, tendo-se levantado a dificuldade acrescida em territórios rurais e de povoamento disperso.

Salientou-se, expressivamente, o papel que as tecnologias da informação e da comunicação podem ter no combate ao isolamento e na construção deste tipo de economia, nomeadamente na prestação de serviços de e-health care.

Uma das intervenções que mais se destacou foi apresentada por uma empresa holandesa, em Gelderland, que se dedica à inclusão laboral de mulheres com mais de 50 anos de idade. Para a oradora, os recursos humanos deveriam tornar-se mais eficientes, sobretudo as mulheres com idade avançada e que demonstram dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Esse desejo prende-se com o facto de haver um grande fosso entre aqueles que têm certas capacidades e as capacidades requeridas pelo mercado de trabalho. Deste modo, o recrutamento desta empresa não é feito em função de uma carreira formal, mas sim através das competências dos indivíduos, nomeadamente digitais.

Estas contribuições, que se aproximam das empresas de economia social, são elementos constitutivos da coesão e resiliência das cidades e das regiões, e foram também integradas na sessão The contributions of social economy enterprises to cohesion and resilience in cities and regions.

Ao longo do debate foram-se elencando os principais fatores que fazem da economia social um elemento de coesão territorial: a melhor compreensão das necessidades dos habitantes ou ainda o maior potencial económico e de criação de riqueza, como sucedeu em Múrcia, onde as cooperativas sociais têm um impacto significativo na produção de valor acrescentando, não só no setor agrícola, mas crescentemente nos setores industrial e terciário. Um dos grandes objetivos futuros é tentar converter as empresas mainstream para uma economia com impacto social efetivo.

O workshop intitulado European cities: agglomerating growth and prosperity? constituiu o mote para a análise das cinco dimensões de sucesso das cidades, propostas por Glaeser (2012). Um dado curioso resulta do facto da inclusão urbana ser uma questão de desenvolvimento. Por exemplo, os problemas de inclusão na UE-15 são sobretudo nas áreas urbanas, enquanto nos restantes países é um problema rural.

Não restaram dúvidas de que as cidades centralizam o crescimento e a prosperidade, dependendo tal magnitude do capital espacial, explorado por diversos atores que retiram partido dos distintos recursos dos territórios (Lévy & Lussault, 2003). Naturalmente, as economias de aglomeração fazem das cidades espaços de inovação e de maior desenvolvimento, tendo-se correlacionado a difusão de inovações e desenvolvimento com a proximidade geográfica a uma grande cidade.

Um dos temas que ocupou grande parte da sessão centrou-se na segregação urbana. Concluiu-se que o rendimento é o principal elemento condutor da segregação urbana, tendo-se comparado diferentes níveis de segregação na OCDE. Por exemplo, o índice de segregação nas cidades norte-americanas é mais elevado entre os indivíduos mais ricos do que entre os mais pobres. Conclui-se que os imigrantes se localizam primeiramente nos locais mais desfavorecidos; contudo, quando ascendem socialmente, tendem a mover-se espacialmente.

Por fim, o workshop International cooperation for innovation and urban development policy and practice: results and perspectives apresentou sumariamente a rede de cidades globais. Este acordo entre países da UE e não-europeus permitiu o estabelecimento de parcerias para políticas de desenvolvimento urbano. Através deste projeto, podemos verificar de que forma as cidades europeias constituem modelos de inspiração para a cooperação urbana internacional de outras cidades não-europeias em países do 3.º mundo. Na sessão conheceram-se os exemplos de cooperação entre Hamburgo e Melbourne ou ainda a inspiração de Manchester para a cidade australiana de Adelaide. 

Apesar da oportunidade em participar nestas sessões, que permitiram explorar futuros projetos académicos, a ida a Bruxelas pautou-se pela parceria entre o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) e o projeto YouthMetre (YM), financiado pelo programa Erasmus +.

O projeto YM pretende contribuir para o desenvolvimento de sinergias entre as autoridades locais e os jovens no processo de decisão política. Para tal, através de uma plataforma digital (e-tool), os jovens podem aceder a informação estatística inserida nas 8 key-areas da Política Europeia da Juventude. Além da informação estatística, podemos ainda ter conhecimento sobre as boas práticas, segundo a Comissão Europeia, o que constitui uma fonte de inspiração.

O YM permite a qualquer jovem ter conhecimento dos problemas que atualmente afetam as regiões europeias através de indicadores e de cartografia, almejando criar um diálogo estruturado entre os cidadãos mais jovens e os decisores políticos.

Durante esta semana, diversos elementos da rede YM contactaram com entidades públicas e privadas que participaram na EWRC. Realizou-se um breve questionário para compreender a importância que as e-tool podem ter na participação política dos mais jovens. Adicionalmente, para convergir para os desenvolvimentos recentes do projeto, procuramos identificar o principal problema que afetam os jovens ao nível local.

Os países do norte da Europa revelam problemas de inclusão social, facto que pode ser explicado pela vaga de refugiados e pela diversidade cultural que fazem destas sociedades as mais super-diversas da UE, trazendo a debate as fraquezas e as forças que as caracterizam. Antagonicamente, a Europa do sul enfrenta o dilema do desemprego jovem.

Esta semana tivemos ainda oportunidade de conhecer as mais recentes atualizações do projeto. Agora, juntamente com o YM, uma plataforma que nos permite formular problemas através da análise e comparação regional de indicadores, temos uma outra plataforma que está a ser desenvolvida pela Universidade de Salzburgo, Geocitizen (GC), que vem compensar uma lacuna do projeto: a dimensão geográfica e conexão entre jovens e decisores políticos.

Este progresso permite conciliar o YM, como uma plataforma de formulação de problemas num contexto regional e europeu, com o GC, como uma e-tool que apresenta soluções para esses problemas, ancorados nas quatro fases do diálogo estruturado para fins políticos. Deste modo, o workshop do projeto, Youthmetre: an innovavite e-tool for the structured dialogue, permitiu a apresentação não só dos resultados dos inquéritos realizados, destacando-se a importância das e-tools na participação cívica dos jovens, mas permitiu igualmente a disseminação de ambas as aplicações em alguns municípios que participaram na conferência.

A participação nesta conferência reafirmou a convicção do futuro deste projeto para a rede YM, simbolizado pela utilidade da nova plataforma. Os inquéritos realizados e a discussão dos seus resultados representaram uma oportunidade para fortalecer a colaboração entre os membros participantes da rede YM e potenciais parceiros governamentais e não-governamentais, entre os quais se contam, neste momento, a participação de alguns municípios suburbanos de Bruxelas. Além da possibilidade de testar a plataforma GC, contactamos com jovens e decisores políticos durante o evento que connosco exploraram as potencialidades da nova aplicação para a participação dos jovens no processo de decisão política.

Esta conferência permitiu, assim, confirmar a importância das plataformas digitais como meios de comunicação e orientação dos jovens, de informação e inspiração com uma média final de 4,8 em 6 pontos entre os inquiridos quer do setor privado quer do setor público. É, por isso, conclusivo que a utilização destas plataformas é essencial para engajar os jovens no processo de diálogo estruturado, apesar de alguns indivíduos, sobretudo do setor governamental, terem revelado alguma relutância no efeito real desse diálogo. Os resultados permitem ainda confirmar a elevada importância do estabelecimento de contactos entre indivíduos com as mesmas cosmovisões através de plataformas digitais, assim como foram avaliadas positivamente a importância de funcionalidades que constituem fontes de inspiração e de interação entre os cidadãos e os decisores políticos. Os resultados revelaram ainda a nossa relutância inicial: o acesso a informação estatística e a comparação de realidades multiescalares (regional, nacional e europeia) são características pouco valorizadas na plataforma digital.

Como referido, a articulação entre o YM e o GC deve agora desenvolver-se segundo o conhecimento produzido durante esta conferência, minimizando a oportunidade de consultar informação estatística, que não tem uma desagregação ao nível local e que, por isso, se torna pouco útil na identificação de problemas e soluções para as comunidades locais, e deve valorizar a oportunidade de estabelecer um contacto direto entre os cidadãos e os decisores políticos municipais, dando igualmente oportunidade à divulgação de boas práticas em vários territórios, constituindo uma fonte de inspiração para outros.

Assim, parece evidente o papel dos jovens na construção de projetos criativos e dinâmicos com impactos práticos e territoriais visíveis a nível local, regional, nacional e europeu, contribuindo, naturalmente, para a consolidação dos objetivos da EWRC 2017: promover a coesão urbana e a resiliência dos territórios. O IGOT tem promovido esta prática de cidadania ao nível local com o projeto Nós Propomos! que cabe preservar e disseminar.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Glaeser, E. (2012). Triumph Of The City. How Our Greatest Invention Made Us Richer, Smarter, Greener, Healthier And Happier. Londres: Penguin Books.         [ Links ]

Lévy, J., & Lussault, M. (2003). Dictionnaire de la géographie. Paris: Belin.         [ Links ]

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