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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia

versão impressa ISSN 0430-5027

Finisterra  no.124 Lisboa dez. 2023  Epub 31-Dez-2023

https://doi.org/10.18055/finis33440 

Artigo

A investigação em geografia física em Portugal. Uma análise das teses de doutoramento entre 2000 e 2021

Physical geography research in Portugal: an analysis of the doctoral theses between 2000 and 2021

La investigación en geografía física en Portugal: un análisis de las tesis doctorales entre 2000 y 2021

1.Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa, Rua Branca Edmée Marques, 1600-276, Lisboa, Portugal. E-mail: raquel.fernandes@campus.ul.pt, silvatiago@campus.ul.pt, andrycastro@e-igot.ulisboa.pt, joana-baptista1@edu.ulisboa.pt, acng@campus.ul.pt, vieira@edu.ulisboa.pt

2 Laboratório Associado Terra, Instituto de Geografia e Ordenamento do território, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.


Resumo

No século XXI, a implementação da educação doutoral em Geografia resultou num aumento do número de teses enquadradas na especialização em Geografia Física. No entanto, pouco é conhecido sobre a dinâmica inerente às técnicas de trabalho de campo, métodos e temas estudados. Com o objetivo de compreender melhor a tendência de aumento e evolução associada, este artigo analisa os 78 doutoramentos publicados em cinco instituições públicas de ensino superior, entre 2000 e 2021. Foi realizada uma análise quantitativa de forma a investigar as fontes de dados, as técnicas de trabalho de campo e os métodos de análise utilizados nos estudos que abrangem as temáticas Biogeografia, Climatologia, Hidrologia, Geomorfologia e Risco e Ordenamento. A partir de 2007, verificou-se um aumento de trabalhos em Risco e Ordenamento, reforçando a componente da Geografia Física aplicada às problemáticas do ordenamento do território. A utilização de Sistemas de Informação Geográfica, análise estatística e quantitativa evidenciam o peso das bases de dados e análises em gabinete. O contexto territorial em que se localizam as instituições estudadas parece influenciar a escolha das áreas de estudo e temáticas associadas. O processo de Bolonha, a atribuição de bolsas de doutoramento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e o aumento dos projetos de investigação com financiamento justificam parcialmente a diversidade de temáticas e métodos identificados.

Palavras-chave: Doutoramento; evolução; Geografia Física; Portugal

Abstract

In the 21st century, the implementation of doctoral education in Geography has led to an increase in the number of theses focused on Physical Geography. However, little is known about the dynamics inherent to fieldwork techniques, methods, and studied topics. In order to gain a better understanding of this increasing trend and its evolution, this article examines 78 theses published by five public higher education institutions between 2000 and 2021. Through quantitative analysis, the study investigates the data sources, fieldwork techniques, and analytical methods used in the studies covering the topics of Biogeography, Climatology, Hydrology, Geomorphology, and Risk and Planning. From 2007 onward, there was an evident increase in research related to Risk and Planning, underscoring the role of Physical Geography in addressing territorial planning issues. The use of Geographic Information Systems, statistical analysis, and quantitative approaches highlights the significance of data sources and office-based analyses. The geographical context of the institutions where the studies were conducted appears to influence the choice of research areas and topics. The Bologna process, doctoral scholarships granted by the Foundation for Science and Technology, and the increase in funded research projects partially justify the diversity of identified topics and methods.

Keywords: Doctorate; evolution; Physical Geography; Portugal

Resumen

En el siglo XXI, la implementación de la educación doctoral en Geografía ha resultado en un aumento en el número de tesis centradas en la Geografía Física. Sin embargo, se conoce poco sobre la dinámica inherente a las técnicas de trabajo de campo, métodos y temas estudiados. Con el objetivo de comprender mejor esta tendencia creciente y su evolución, este artículo examina 78 trabajos de doctorado publicados en cinco instituciones públicas de educación superior entre 2000 y 2021. A través de un análisis cuantitativo, el estudio investiga las fuentes de datos, las técnicas de trabajo de campo y los métodos de análisis utilizados en los trabajos de investigación que abordan las temáticas de Biogeografía, Climatología, Hidrología, Geomorfología y Riesgo y Ordenamiento. A partir de 2007, se observa un aumento evidente en la investigación relacionada con el Riesgo y Ordenamiento, destacando el papel de la Geografía Física en la resolución de problemas de ordenamiento territorial. El uso de Sistemas de Información Geográfica, análisis estadísticos y enfoques cuantitativos resalta la importancia de las fuentes de datos y los análisis en oficina. El contexto geográfico de las instituciones donde se llevaron a cabo los estudios parece influir en la elección de las áreas de investigación y los temas. Lo proceso de Bolonia, las becas doctorales otorgadas por la Fundación para la Ciencia y la Tecnología, y el aumento en proyectos de investigación financiados justifican en parte la diversidad de temas y métodos.

Palabras clave: Doctorado; evolución; Geografía Física; Portugal

I. Introdução

Durante o século XX, a Geografia Física em Portugal foi marcada pela influência da Escola Francesa de Geografia com a corrente instituída por Vidal de La Blache - a Escola Regional - até finais dos anos 1970 (Costa et al., 2013; Cunha et al., 2016; Fernandes et al., 2021). Esta influência fez-se sentir nas academias de Coimbra e Lisboa, através de Amorim Girão (1930) e Orlando Ribeiro (1935) (Costa et al., 2013), difundindo-se posteriormente no ensino e investigação através de Suzanne Daveau, Nicole Devy Varetta e Denise de Brum Ferreira (Costa et al., 2013; Cunha et al., 2016; Fernandes et al., 2021).

As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas pela investigação geomorfológica em Portugal (Brum Ferreira et al., 1986), surgindo as primeiras teses orientadas para a Geografia Física, Maciço Calcário Estremenho, apresentada na Universidade de Coimbra por Alfredo Fernandes Martins, em 1949 (Rebelo, 1994), e A evolução do relevo do Baixo Alentejo e Algarve. Estudo de Geomorfologia, em 1952, apresentada por Mariano Feio em Lisboa (Rebelo, 1994). Neste período, destaca-se, também, o particular interesse nos territórios das regiões tropicais e das então colónias portuguesas (Cunha et al., 2016). Exemplos são as expedições à Guiné-Bissau e Cabo Verde de Orlando Ribeiro, em 1947 e 1954, respetivamente, de Raquel Soeiro de Brito, já nos anos de 1960, e de Ilídio do Amaral, que resulta numa monografia sobre a Ilha de Santiago, submetida a provas de doutoramento, com o título Santiago de Cabo Verde. A Terra e os Homens, em 1964. (Cunha et al., 2016; Oliveira, 2017).

Em meados da década de 1970, observou-se uma progressiva transformação de uma disciplina tendencialmente descritiva para uma disciplina marcada por uma dimensão técnica aplicada (Brum Ferreira et al., 1986). Esta dimensão reflete-se no desenvolvimento de trabalhos em diversas temáticas, que procuram compreender os impactes dos processos físicos na componente social, tendo um papel determinante na elaboração de Planos de Ordenamento do Território (Cunha et al., 2016; Rebelo, 1994). Este desenvolvimento teve como consequência um aumento da produção académica a partir de meados da década de 1980 (Costa et al., 2013) e evidencia-se, também, através da inauguração dos Centros de Investigação nas Universidades (Costa et al., 2013), do aumento da oferta a nível académico e da expansão das atividades profissionais realizadas por geógrafos (Fernandes et al., 2021).

No século XXI, a crescente qualificação de quadros superiores (European Commission, 2022) e a reforma dos cursos com o “Processo de Bolonha”, que implementou a escolarização dos Programas de Doutoramento em Geografia, traduziram-se num impulso na disciplina (Cunha, 2013). Em Portugal, a adequação ao “Processo de Bolonha” nas universidades públicas, aconteceu em momentos distintos e levou à realização de doutoramentos com uma duração mais curta, cerca de quatro anos, e na sua maioria, enquadrados em bolsas de investigação financiadas (Cunha, 2013). Esta adequação resultou num aumento do número de teses de doutoramento com especialização temática (Costa et al., 2013).

No entanto, pouco é conhecido sobre o desenvolvimento dos estudos doutorais nas diferentes temáticas da Geografia Física. De forma a colmatar esta lacuna, o presente artigo pretende investigar a evolução científica em Geografia Física através da análise das teses de doutoramento recentes, publicadas em Portugal, em cinco instituições de ensino superior públicas. A utilização das teses de doutoramento como indicador da evolução da ciência em Geografia, incluindo a Geografia Física, surge em estudos sobre a evolução da disciplina na Alemanha (Kulke et al., 2004), Países Baixos (van der Vaart et al., 2004), Espanha (Valenzuela et al., 2004) e Estados Unidos da América (Kaplan & Mapes, 2015), acompanhada por uma análise sobre a fundação das associações geográficas e criação de novas instituições académicas, sendo um indicador de possíveis mudanças teóricas e metodológicas, assim como das temáticas de investigação atuais (Cunha, 2013; Fernandes et al., 2021; Kaplan & Mapes, 2015).

Deste modo, foram recolhidas as teses de doutoramento em Geografia, com especialização em Geografia Física, com particular enfoque nas publicações entre 2000 e 2021, investigando fontes de dados, técnicas de trabalho de gabinete e de trabalho de campo, métodos utilizados e a distribuição das áreas estudadas.

II. Dados e métodos

1. Instituições de ensino superior analisadas

Para a recolha das teses de doutoramento foram consideradas as cinco instituições públicas de ensino superior conferentes do grau de Doutor em Geografia com especialização em Geografia Física: Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho (ICS.UMinho), Faculdade de Letras da Universidade de Porto (FLUP), Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-ULisboa) e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Esta última é a única instituição que não apresenta especialização em Geografia Física, pelo que foram analisadas as teses com especialização em Ambiente e Recursos Naturais.

2. Fontes de informação

A recolha de informação relativamente às teses de doutoramento foi feita através do Registo Nacional de Teses e Dissertações (RENATES), dos Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) e a partir dos repositórios de cada universidade. O RENATES recolhe informação oficial sobre teses de doutoramento desde 1970. Inclui, igualmente, registos de teses em curso e de trabalhos realizados no estrangeiro e reconhecidos em Portugal (Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência [DGEEC], 2022). O RCAAP tem como objetivo a recolha, agregação e indexação dos conteúdos científicos em acesso livre, presentes nos repositórios institucionais das entidades nacionais de ensino superior, e outras organizações de Investigação e Desenvolvimento (I&D) (RCAAP, 2022). Os repositórios das universidades têm como objetivo reunir, organizar, divulgar e preservar a produção científica, de documentos que formam a produção intelectual, académica e científica da comunidade universitária.

A informação relativa às teses de doutoramento em Geografia Física foi recolhida para o período de 2000 a 2021. Durante o processo de recolha, foi possível identificar limitações nas fontes de dados, de que são exemplo a ausência de algumas teses no RENATES e RCAAP, a inexistência de palavras-chave e resumos, e a não menção dos orientadores. Algumas teses da Universidade de Coimbra registadas no RENATES como pertencentes à especialização de Geografia Física foram identificadas como Geografia Humana. Em relação à Universidade de Lisboa, a partir de 2013, as teses existentes no RENATES deixam de estar registadas como pertencentes à Faculdade de Letras para estarem registadas pelo IGOT-ULisboa. Por esse motivo, a informação antes de 2013, foi obtida a partir do site do IGOT-ULisboa e validada no RENATES. Na FCSH-UNL, o número de teses existentes no repositório e no RENATES não está em concordância (11 e 9, respetivamente), tendo sido por isso selecionada a informação do repositório da universidade.

3. Análise dos dados

A partir da informação recolhida quantificou-se o número de teses publicadas em cada ano do período de análise (com base no ano de publicação), cada instituição pública do ensino superior e temática de investigação (Biogeografia, Climatologia, Geomorfologia, Hidrologia e Risco e Ordenamento). Foram ainda analisadas as fontes de dados, as técnicas de trabalho de campo e os métodos de análise utilizados (quadro I).

A informação relativa às metodologias utilizadas não estava disponível em todas as teses de doutoramento que foram analisadas. Um dos motivos deve-se à indisponibilidade de consulta de oito teses. O outro, está associado à ausência de metodologias explicativas das técnicas e métodos utilizados.

Quadro I Tipologia de dados, técnicas de trabalho de campo e métodos de análise utilizados nas teses de doutoramento realizadas em instituições de ensino superior públicas portuguesas, entre 2000 e 2021. 

Tipologia de dados
Recolha de dados Fontes de dados (em gabinete) Cartográficos Climáticos Estatísticos Meios de comunicação
Em gabinete/Trabalho de campo Inquéritos Deteção remota
Trabalho de campo Monitorização climática/ hidrológica Análise geomorfológica/ sedimentológica Cartografia/levantamento no terreno Levantamento topográfico
Métodos de análise Laboratorial Análise qualitativa e conceptual Análise estatística Modelação em SIG Deteção Remota

O primeiro passo no processo de análise consistiu na quantificação do número de teses publicadas em cada ano, com o intuito de analisar a evolução por instituição. De seguida, foi feita uma quantificação do número de teses publicadas em cada ano, por temática de investigação. Uma vez que há teses que abordam mais do que uma das temáticas identificadas, procedeu-se à sua ponderação. Por exemplo, uma tese que englobe a Geomorfologia e o Risco e Ordenamento, contribui metade para cada uma das temáticas. Foi igualmente analisada a percentagem de teses desenvolvidas em cada temática por instituição.

Relativamente às fontes de dados e métodos de trabalho de campo e análise, foi quantificada a percentagem de teses que fazem menção na secção da metodologia à utilização de pelo menos uma das opções. Estas componentes foram ponderadas, tal como no caso das temáticas, uma vez que é frequente a utilização de mais do que um método. No caso das fontes de dados, foi calculada a percentagem de teses que utiliza cada um dos tipos de fontes de dados por temática de investigação.

Sobre a informação recolhida em formato texto dos títulos e resumos de cada tese, realizou-se também uma análise quantitativa na qual se procurou identificar as palavras utilizadas com maior frequência em cada um dos campos. Por fim, produziu-se uma representação cartográfica das áreas de estudo por temática.

Foi, ainda, realizada a vectorização e posterior rasterização das áreas de estudos descritas nas teses realizadas apenas com enfoque em Portugal continental e na Ilha da Madeira, dando origem a duas representações cartográficas, realizadas no software ArcGIS Pro 3.1.2. A primeira resulta do somatório e sobreposição do total de vezes que uma determinada área foi alvo de estudo em contexto de uma tese de doutoramento em Geografia Física. A segunda é referente ao somatório e sobreposição do total de teses que estudaram uma determinada área, agrupadas por temáticas investigadas (Biogeografia, Climatologia, Geomorfologia, Hidrologia e Risco e Ordenamento).

III. Resultados

1. As teses de doutoramento no século XXI

3.1.1. Instituições e temáticas de investigação

Em Portugal, foram registadas 90 teses de doutoramento com especialização em Geografia Física, no período compreendido entre 1949 e 2021 verificando-se um aumento da produção académica a partir de meados da década de 1990, com dois principais picos de produção em 2015 (11 teses) e em 2020 (8 teses) (fig. 1 ). Em relação às temáticas abordadas no período antes do século XXI, verificaram-se estudos em Biogeografia (1), Climatologia (3) e Geomorfologia (6).

Fig. 1 Teses de doutoramento publicadas em instituições públicas de ensino superior em Portugal, entre 1949 e 2021. 

A partir do ano de 2000, foram publicadas cerca de 89% das teses de doutoramento de Geografia Física. Destas, foram registadas sete teses na FLUP, oito no ICS.UMinho, dez na FCSH-UNL, 19 na FLUC e 34 no IGOT-ULisboa. Na figura 2, observa-se que, entre 2001 e 2012, o ritmo de publicação foi variável em cada instituição, sendo publicadas entre uma a três teses por ano. No caso do ICS.UMinho, as teses de doutoramento surgiram a partir de 2007, uma vez que a criação do grau se deu no ano de 1999. Após 2014, ocorreu um aumento do número de publicações em todas as instituições, destacando-se o incremento verificado no IGOT-ULisboa.

Fig. 2 Teses de doutoramento realizadas em instituições públicas portuguesas de ensino superior, entre 2000 e 2021. 

Nas temáticas científicas são também identificados dois momentos. No primeiro, anterior a 2013, a diversidade temática nas teses publicadas em cada ano foi pouco expressiva, com a predominância da Geomorfologia associada a 12 teses, seguida pelo Risco e Ordenamento com oito teses (fig. 3). O segundo período, com início em 2013, foi caracterizado por uma maior diversidade nas teses publicadas. A partir de 2007, verificou-se o progressivo aumento de trabalhos sobre Risco e Ordenamento, ultrapassando frequentemente as duas publicações anuais a partir do ano 2015.

A análise das teses de doutoramento por instituição mostra que na FLUP houve uma maior predominância da temática do Risco e Ordenamento (quatro), sobretudo associada a temas como movimentos de vertente (e.g. dissertação 14). As outras três temáticas estudadas na FLUP foram nas áreas da Geomorfologia, Climatologia e Hidrologia, não ultrapassando as duas publicações por temática (fig. 4). Na ICS.UMinho, das oito teses registadas, quatro são no âmbito da Hidrologia com estudos sobre inundações e sobre Instrumentos de Gestão Territorial (e.g. dissertação 38). Na FLUC, destacam-se o Risco e Ordenamento (seis) e a Geomorfologia (11). Nestas, os estudos incidiram nos ambientes costeiros da região centro e nas serras calcárias e de xisto, também situadas na região centro (e.g. dissertação 86). No IGOT-ULisboa, houve uma maior diversidade das temáticas abordadas, destacando-se três: a Biogeografia (seis), a Climatologia (dez) e o Risco e Ordenamento (12). Em Biogeografia, evidenciaram-se os estudos sobre a vegetação mediterrânea, os ecossistemas psamófilos das praias e dunas de Portugal continental e sobre os habitats nos estuários do Tejo e Sado (e.g. dissertação 65). Em Climatologia, foram conduzidos estudos relativos ao clima urbano em cidades portuguesas e brasileiras, ao regime de precipitação na Península Ibérica (dissertação 18), e estudos sobre o clima em regiões montanhosas (Serra da Estrela) (e.g. dissertação 20) e costeiras (entre Peniche e a Caparica) (e.g. dissertação 21). Por fim, na temática Risco e Ordenamento, os fenómenos mais investigados foram os incêndios, os movimentos de vertente e as cheias e inundações (e.g. dissertação 41 e 72). Na FCSH-UNL, a temática de destaque foi o Risco e Ordenamento (cinco), principalmente associado à erosão costeira (e.g. dissertação 67). Nesta instituição foram realizados estudos pontuais em Biogeografia (duas), Geomorfologia (duas) e Hidrologia (duas).

Fig. 3 Temáticas das teses de doutoramento publicadas por ano em instituições públicas portuguesas de ensino superior, entre 2000 e 2021. 

Fig. 4 Temáticas das teses de doutoramento realizadas em cada instituição de ensino superior pública portuguesa entre 2000 e 2021. 

2. Métodos e técnicas de investigação

3.2.1. Fontes de dados

Cerca de 60% das teses de doutoramento analisadas fizeram referência à recolha e utilização de fontes de dados climáticos, estatísticos, cartográficos ou de deteção remota. Destas, os dados cartográficos são preponderantes. Além de serem mencionados nas cinco temáticas de estudo, tiveram maior destaque nas teses sobre Biogeografia (20%), Geomorfologia (28%) e Risco e Ordenamento (39%) (fig. 5). São exemplos as dissertações 81 e 83, consultáveis no material suplementar (Anexo I). Também os dados estatísticos, são referenciados nas cinco temáticas. Não obstante, tiveram maior expressão nos trabalhos de Biogeografia, com 20% (e.g. dissertação 15).

O recurso a fontes de dados climáticos surgiu em Hidrologia (9%) e Climatologia (25%) (fig. 4) (e.g. dissertação 15). Esta fonte de dados é omissa nas teses em Biogeografia e pouco expressiva nas teses em Geomorfologia e Risco e Ordenamento. Quanto à utilização da deteção remota como fonte de informação, foram observadas referências nas teses de doutoramento em Risco e Ordenamento (7%), Climatologia (9%), Hidrologia (9%) e Geomorfologia (11%) (e.g. dissertação 48). A utilização de inquéritos e de meios de comunicação foi pouco frequente, sendo referida em menos de 9% das teses publicadas, correspondendo às áreas da Geomorfologia, Hidrologia e Risco e Ordenamento (e.g. dissertação 89).

Fig. 5 Fontes de dados mencionadas por temática nas teses de doutoramento realizadas em instituições de ensino superior públicas portuguesas entre 2000 e 2021. 

3.2.2. Técnicas de trabalho de campo

Relativamente às técnicas utilizadas em trabalho de campo (fig. 6), 51% das teses fazem referência à sua utilização. A representação cartográfica foi mais frequentemente utilizada em Geomorfologia (22%), Risco e Ordenamento (36%) e Biogeografia (50%) (e.g. dissertação 36), constituindo-se como uma ferramenta que permite a espacialização do fenómeno em estudo e uma análise da sua distribuição, essencial na maioria dos trabalhos de Geografia.

Fig. 6 Técnicas de trabalho de campo mencionadas por temática nas teses de doutoramento realizadas em instituições públicas portuguesas de ensino superior, entre 2000 e 2021. 

Em Biogeografia, verificou-se a sua utilização na análise das comunidades vegetais em diferentes ecossistemas, enquanto na temática do Risco e Ordenamento, a representação cartográfica é utilizada como meio de espacialização dos eventos associados ou das áreas onde é identificado um potencial de risco. Em Geomorfologia, a cartografia permitiu localizar e representar as formas de relevo e depósitos, bem como dos processos geomorfológicos. Nas teses em Climatologia, não existe referência ao desenvolvimento de representações cartográficas durante o trabalho de campo, pois os estudos foram realizados a nível nacional ou regional, e não a nível local. Em Geomorfologia, a cartografia permitiu localizar e representar as formas de relevo e depósitos, bem como dos processos geomorfológicos. Nas teses em Climatologia, não existe referência ao desenvolvimento de representações cartográficas durante o trabalho de campo, pois os estudos foram realizados a nível nacional ou regional, e não a nível local.

A segunda técnica de trabalho de campo utilizada com maior frequência foi a análise geomorfológica e sedimentológica, associada às teses em Risco e Ordenamento (14%) e Geomorfologia (28%) (e.g. dissertação 47), em particular nos estudos sobre os movimentos de vertente, ravinamentos e erosão costeira.

A monitorização climática foi a terceira técnica de trabalho de campo referida com maior frequência, embora estivesse apenas associada às teses em Hidrologia (9%) e Climatologia (17%) (e.g. dissertação 23).

3.2.3. Métodos de Análise

A utilização dos métodos de análise foi referida em 87% das teses publicadas (fig. 7), destacando-se a modelação em Sistemas de Informação Geográfica (SIG), a análise estatística e a análise qualitativa. A modelação em SIG foi utilizada principalmente nas teses de Risco e Ordenamento (50%), tendo menor expressão nas teses em Biogeografia (20%) (e.g. dissertação 30). Quanto à utilização da análise estatística, observaram-se valores entre 17% em Geomorfologia e 30% em Biogeografia (e.g. dissertação 63). Por fim, na análise qualitativa, os valores variaram entre 8% em Climatologia e 30% em Biogeografia (e.g. dissertação 71). O recurso a modelos conceptuais surgiu associado à Biogeografia e ao Risco e Ordenamento (e.g. dissertação 35), com valores residuais, assim como o recurso à deteção remota foi também pouco expressivo, sendo mencionada em menos de 9% das teses publicadas, centrando-se nas teses de Geomorfologia, Hidrologia e Risco e Ordenamento.

Fig. 7 Métodos de análise mencionados, por temática, nas teses de doutoramento realizadas em instituições públicas portuguesas de ensino superior, entre 2000 e 2021. 

3. Títulos e palavras-chave

As nuvens de palavras permitiram observar que as palavras mais comuns nos títulos das teses são “Portugal” e “Risco”, assim como revelam quais as áreas de estudo e as temáticas com maior incidência de estudo, nomeadamente a investigação desenvolvida sobre Portugal e Brasil. Os títulos das teses revelam grande importância para as temáticas que abordam, como Risco, Geomorfologia, Clima e Hidrografia. Dentro destas temáticas, destacou-se, portanto, o Risco e os movimentos de vertente, assim como Geomorfologia e litoral (fig. 8). Também as escalas espaciais de análise revelaram importância, salientando países, concelhos, áreas urbanas e elementos geomorfológicos da paisagem. A nuvem das palavras-chave corroborou o destaque do Risco nas teses do século XXI, realçando os movimentos de vertente, nomeadamente os deslizamentos e os ravinamentos, mas com destaque também para a Geomorfologia (fig. 9). A palavra modelação também demonstra grande importância, salientando assim que a Geografia Física está a par com o desenvolvimento tecnológico.

Fig. 8 Nuvem de palavras dos títulos das teses de doutoramento em Geografia Física, entre 2000 e 2021. 

Fig. 9 Palavras-chave das teses de doutoramento em Geografia Física, entre 2000 e 2021. 

4. Áreas de estudo nas teses de doutoramento

Das 78 teses, Portugal foi objeto de estudo em 59 teses, enquanto as restantes foram desenvolvidas, sobretudo, em países de língua oficial portuguesa (Brasil e Moçambique) (quadro II). Relativamente à localização das áreas de estudo, foi observada uma distribuição pelos vários continentes, excetuando a Oceânia e a Antártida.

Quadro II Países estudados nas teses de doutoramento realizadas em Portugal, entre 2000 e 2021. 

Espaço geográfico Teses
Portugal 59
Brasil 5
Brasil e Portugal 4
Moçambique 4
África do Sul e Portugal 1
Argentina 1
Camarões 1
Filipinas 1
Marrocos 1
Global 1
Total 78

A distribuição das áreas de estudo no contexto nacional revelou um contraste geográfico Norte-Sul, Noroeste-Sudeste e também concentração de áreas de estudo nas regiões das principais universidades (fig. 10).

Fig. 10 Distribuição espacial das áreas de estudo das teses de doutoramento realizadas em Portugal, entre 2000 e 2021. 

No Norte, nomeadamente no Noroeste (com nove a 15 teses), as bacias hidrográficas do rio Ave, rio Cávado e rio Douro demonstraram-se áreas de interesse particular. Nas Regiões Autónomas, apenas a Madeira foi objeto de estudo, destacando-se o concelho do Funchal, estudado por três teses (fig. 10). Destacaram-se ainda outras regiões em Portugal continental, como a Cordilheira Central (cinco a 11 teses), a Área Metropolitana de Lisboa (cinco a 11 teses) e o litoral de Peniche a Setúbal, com número de teses variável entre seis a 11. Notou-se ainda a escassez de estudos dedicados exclusivamente ao interior do país, sendo que a maioria das teses que incluíram aquelas regiões realizaram-se à escala nacional (um a cinco teses). As exceções são o Nordeste, a Cordilheira Central e parte da bacia hidrográfica do Rio Guadiana.

3.4.1. Distribuição espacial de acordo com as temáticas de investigação

A investigação realizada ao longo do período em estudo demonstrou foco em certas temáticas da Geografia Física e determinadas áreas do país (fig. 11). Os trabalhos desenvolvidos em Hidrologia estiveram especialmente localizados no norte do país, com destaque para as bacias hidrográficas localizadas no noroeste do território, mas também nas bacias do Guadiana e Sado, mais a sul.

A Geomorfologia esteve fortemente representada na Cordilheira Central, com particular destaque para a Serra da Estrela, onde existem áreas estudadas em quatro teses. Os trabalhos na temática do Risco e Ordenamento apresentaram especial incidência no litoral, enquanto Geomorfologia demonstrou frequência de estudos na Cordilheira Central. A Biogeografia e a Climatologia tiveram o seu principal foco em áreas da Área Metropolitana de Lisboa, registando-se também o estudo destas temáticas no Funchal.

Fig. 11 Distribuição espacial das áreas de estudo, por temáticas, das teses de doutoramento realizadas em Portugal, entre 2000 e 2021. 

IV. Discussão

A utilização das teses de doutoramento como indicador da produção científica permitiu perceber a evolução e preponderância de certas temáticas dentro da Geografia (Fernandes et al., 2021; Hérubel, 2005; Kaplan & Mapes, 2015; Park, 2005; Price, 1963).

1. Evolução da produção de teses de doutoramento

Entre 2000 e 2021, a produção de teses de doutoramento com especialidade em Geografia Física em Portugal, superou a produção total realizada no século XX. Este resultado poderá estar associado a vários fatores. Por um lado, a partir de 1999, a reforma de “Bolonha”, que abrangeu a Europa, resultou na uniformização e escolarização do ciclo de doutoramento. De acordo com Costa et al. (2013), a estruturação do doutoramento em períodos de menor duração levou a um aumento da produção académica. Por outro, os resultados do presente estudo demonstram um aumento da produção de teses de doutoramento a partir de 2014, incluindo um pico de publicação em 2015, anos que sucedem o período em que o número de bolsas de doutoramento concedidas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) foi mais elevado, ou seja, 2007 a 2009 (FCT, 2018). Através do financiamento e atribuição de bolsas de investigação, a FCT desempenha um papel relevante no desenvolvimento da produção científica, sendo uma entidade promotora do avanço do conhecimento. No entanto, também se registou um decréscimo de publicações nos anos de 2016 e 2017, coincidente com a redução de bolsas atribuídas entre 2013 e 2015, período que corresponde parcialmente a uma fase de recuperação pós assistência financeira a Portugal. Esta tendência tem vindo progressivamente a inverter-se com o aumento do número das bolsas atribuídas pela FCT, refletindo-se num novo aumento do número de teses de doutoramento em Geografia Física.

A crescente produção de estudos em Geografia Física pode ter beneficiado, ainda, do aumento da consciencialização dos problemas ambientais, conservação da natureza e dos impactes dos fenómenos extremos tanto nos ecossistemas como na sociedade.

2. Relação entre as temáticas e as áreas de estudo

A partir de 2012, é notória uma maior diversidade de temáticas analisadas nas teses publicadas, verificando-se um aumento de publicações na temática de Risco e Ordenamento e uma mudança de paradigma, relacionado com o declínio dos estudos em Geomorfologia. Esta temática dominou o panorama científico nacional (Costa et al., 2013), tendo perdurado até meados da década de 2000, o que pode estar relacionado com o fator renovador da Geomorfologia, que a partir da segunda metade do século XX, conduziu ao surgimento de questões aplicadas às problemáticas do território (Gama & Dimuccio, 2013). O trabalho de campo e a observação direta foram muito relevantes na realização destes estudos, assim como a descrição pormenorizada das áreas de estudo (Cunha et al., 2016).

Mais recentemente, o aumento significativo das publicações na temática Risco e Ordenamento, em especial a partir de 2007, poderá estar relacionado com a afirmação da componente aplicada da Geografia Física (Cunha et al., 2016).

Foi ainda possível apurar uma possível ligação entre a localização geográfica das universidades estudadas, as temáticas de investigação e as respetivas áreas de estudo, ou seja, os grupos de investigação parecem dedicar-se a determinadas áreas da Geografia Física ou problemáticas particulares conforme a realidade local em que cada universidade está inserida. Alguns exemplos disso são a ICS.Uminho, onde a maioria das teses enquadram-se na Hidrologia e investigam as bacias hidrográficas minhotas, e a FLUC que apresenta várias publicações em Geomorfologia, abrangendo desde as análises geomorfológicas das áreas costeiras e estuarinas da região Centro, associada a uma grande dinâmica dos processos erosivos (Dias et al., 1994), até aos estudos realizados sobre a Cordilheira Central.

No entanto, o litoral do país e a Cordilheira Central, são também abrangidos na temática do Risco e Ordenamento, principalmente na FLUP, IGOT-ULisboa e FCSH-UNL. Os estudos na Área Metropolitana de Lisboa são significativos nas temáticas da Biogeografia e Climatologia, sobretudo no IGOT-ULisboa. Estes resultados são consistentes com estudos anteriores (Kulke et al., 2004; Valenzuela et al., 2004) que demonstram que os programas de doutoramento tendem a direcionar-se para uma problemática localizada na área geográfica da universidade ou ligada às especialidades dos departamentos que, por sua vez, também influenciam as metodologias e técnicas aplicadas, bem como a matriz teórico-conceitual adotada.

Os títulos das teses de doutoramento dão destaque às áreas de estudo das publicações analisadas, destacando Portugal, mas também o Brasil, o que poderá estar relacionado com o crescente número de estudantes provenientes deste país nas universidades portuguesas (Fernandes et al., 2021), e ainda Moçambique. Apesar de Kaplan e Mapes (2015) afirmarem que palavras relacionadas com as áreas de estudo, como nomes de locais e o uso de localizações geográficas específicas, estão em declínio nos títulos das teses, tal não se verificou nos resultados obtidos.

3. Técnicas e métodos de trabalho científico

A representação cartográfica e os dados estatísticos revelaram ser as principais fontes de informação para a realização de teses de doutoramento em Geografia Física. Desta forma, é entendida a sua utilidade nas teses em Biogeografia, que visam uma análise das comunidades vegetais em diferentes ecossistemas, enquanto nas teses realizadas na temática do Risco e Ordenamento, a representação cartográfica é utilizada como meio de espacializar os eventos associados ou as áreas onde é identificado um potencial de risco. Em Geomorfologia, os produtos cartográficos mostraram ser uma ferramenta para a localização e representação de vários aspetos do território (e.g., formas de relevo, depósitos).

Apesar da deteção remota ter apresentado pouca expressão como fonte de informação, o reconhecimento da sua utilização como alternativa a inventários de campo tradicionais é emergente devido à cada vez maior disponibilidade de imagens de satélite (Rocha et al., 2014), de grande qualidade e escala apropriada. É possível, ainda, identificar a importância que as técnicas relacionadas com os SIG foram adquirindo ao longo do século XXI. Este resultado está de acordo com Cunha (2013), que refere a sua crescente utilização. Por outro lado, Valenzuela et al. (2004), mostraram que, no início dos anos 2000, os programas de doutoramento em Espanha já tinham uma componente metodológica e técnica cada vez mais dependentes dos SIG.

Outro aspeto identificado nos dados analisados é que 51% das teses publicadas mencionaram a prática de trabalho de campo. Cunha (2013) refere a crescente importância do trabalho de gabinete na recolha de informação, que pode ser atribuída à evolução da tecnologia e das bases de dados cada vez mais robustas e completas, disponibilizadas à comunidade científica, no entanto, o mesmo autor reforça a importância do trabalho de campo como fonte de recolha de dados, assim como para verificação e monitorização dos modelos teóricos ou aplicativos desenvolvidos.

Em relação aos métodos de análise de dados, os resultados mostraram que a modelação em SIG se destacou em relação a outros métodos identificados, sendo principalmente relevante dentro da Biogeografia e Risco e Ordenamento. Por outro lado, a modelação cartográfica, com recurso a esta tecnologia, estará a substituir a utilização de cartografia tradicional.

Kaplan e Mapes (2015) revelam que a utilização de palavras relacionadas com a conjugação de modelo, como modelação, modelação espacial, modelação espácio-temporal, modelação de dados, modelos climáticos, modelação, mapeamento e SIG têm tido um aumento nos Estados Unidos. Nas palavras-chave verifica-se a relevância de palavras relacionadas com as temáticas ou os objetos de estudo. Curiosamente, palavras ligadas aos termos empregues em SIG, demonstram alguma relevância, tal como verificado em Kaplan e Mapes (2015), quanto aos Estados Unidos da América. Já a palavra Geografia não apresenta destaque nos títulos das teses realizadas em Portugal, algo que Kaplan e Mapes (2015) não verificam no Reino Unido, onde tem estado nos dez primeiros lugares, ao longo da história da disciplina.

V. Conclusão

As teses de doutoramento podem ser um indicador útil para analisar a evolução dos estudos científicos em Geografia Física, em Portugal. Foi observada uma tendência de aumento do número de teses de doutoramento com especialização em Geografia Física, desde o início do século XXI. Esta tendência pode ter beneficiado de vários fatores, nomeadamente a reforma de “Bolonha” e consequente uniformização e escolarização do ciclo de doutoramento, os picos de maior atribuição de bolsas de doutoramento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (2022) (p.e., entre 2007 e 2009), assim como o aumento dos projetos de investigação com financiamento nacional e internacional. Ademais, o aumento da preocupação ambiental e consciencialização dos efeitos dos fenómenos extremos na natureza e na sociedade pode beneficiar o aumento dos estudos nas diversas esferas da Geografia Física.

As metodologias de investigação em Geografia Física empregues pelas instituições de ensino superior públicas demonstraram acompanhar o desenvolvimento da tecnologia e o aumento da disponibilização de informação e bases de dados, mostrando-se principalmente direcionadas para o trabalho de gabinete. No entanto, o trabalho de campo ainda surge como uma técnica relevante tanto para a recolha de informação como para o reconhecimento do território, tanto em termos físicos como humanos.

O contexto territorial em que cada universidade se encontra demonstra ser um fator parcialmente determinante das temáticas abrangidas pelas teses de doutoramento assim como as áreas a serem estudadas. Esta análise contribuiu para melhor conhecer de que forma a localização geográfica de cada Universidade influencia as problemáticas adotadas nas teses de doutoramento assim como as metodologias e técnicas aplicadas.

Contributos dos/as autores/as

Raquel Fernandes: Conceptualização; Metodologia; Investigação; Escrita - preparação do esboço original; Redação - revisão e edição. Tiago Silva: Conceptualização; Metodologia; Investigação; Escrita - preparação do esboço original; Redação - revisão e edição. Andry Castro: Conceptualização; Metodologia; Investigação; Escrita - preparação do esboço original; Redação - revisão e edição. Joana Baptista: Conceptualização; Metodologia; Investigação; Escrita - preparação do esboço original; Redação - revisão e edição. Ana Gonçalves: Conceptualização; Metodologia; Investigação; Escrita - preparação do esboço original; Redação - revisão e edição. Gonçalo Vieira: Conceptualização; Validação; Análise formal; Redação - revisão e edição; Supervisão.

Agradecimentos

Este trabalho foi desenvolvido no quadro da disciplina de Teorias em Geografia Física, do curso de doutoramento em Geografia, com especialização em Geografia Física, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. Andry Castro e Raquel Fernandes são financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) ao abrigo do programa MIT Portugal (PRT/BD/152100/2021 e PRT/BD/153505/2021, respetivamente) . Ana Gonçalves, Joana Baptista e Tiago Silva são financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) com as referências 2020.07651.BD, 2021.05119.BD e UI/BD/152225/2021, respetivamente.

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Anexo 1

Recebido: 31 de Outubro de 2023; Aceito: 30 de Novembro de 2023; Publicado: 22 de Dezembro de 2023

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