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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0807-8967

Diacrítica vol.28 no.3 Braga  2014

 

RECENSÕES

Valle-Inclán y las artes. Margarita Santos Zas, javier Serrano Alonso & Amparo de Juan Bolufer (eds.), Congreso Internacional, Santiago de Compostela, 25-28 de octubre de 2011. Santiago de Compostela: Univ. de Santiago de Compostela, Servizo de Publicacións e Intercambio Científico, 2012, 477 pp.

 

Carlos Pazos Justo*

*Departamento de Estudos Românicos, Universidade do Minho, Braga, Portugal.

carlospazos@ilch.uminho.pt

 

Valle-Inclán y las artes supõe, antes de mais, um novo passo no já extenso e produtivo percurso dos estudos valleinclanianos na Universidade de Santiago de Compostela (USC), desde que, em 1988, o projeto de investigação La obra literaria de Valle-Inclán: estudios y ediciones, com o Prof. Luis Iglesias Feijoo à frente, se constituiu como ponto de partida do "Grupo de Investigación Valle-Inclán" da USC (GIVIUS). Já sob a direção da Profª. Margarita Santos Zas, coeditora do volume em análise, a Universidade de Santiago conta, a partir de 2002, com a Cátedra Valle-Inclán. Os variados estudos e eventos em torno de Ramón del Valle-Inclán organizados por esta cátedra atingem visibilidade destacada não só no âmbito os próprios estudos valleinclanianos mas também nos estudos literários hispânicos em geral, como comprova o reconhecimento que a Biblioteca Virtual do Instituto Cervantes lhe dispensa.[1] Da numerosa e variada produção científica assim como das diversas atividades levadas a cabo pela Cátedra ValleInclán e pelo próprio GIVIUS é exemplo a recente exposição Outros verbos, novas lecturas: Valle-Inclán traducido [1906-1936], organizada em 2014 pelo Consello da Cultura Galega e comissariada por uma das integrantes do GIVIUS, a Profª. Rosario Mascato Rey, também autora de um dos trabalhos incluídos nestas atas.

Valle-Inclán y las artes supõe também, de outro ponto de vista, um esforço constante e salutar de atualizar os objetos de estudo e, sobretudo, os objetivos ou metodologias de análise. Com a perspetiva privilegiada de uma trajetória de investigação de vários lustros (não muito habitual nos estudos literários, em geral), os investigadores vinculados à Cátedra e ao mencionado grupo de pesquisa têm conseguido renovar os seus próprios estudos mostrando, e isto parece-me especialmente relevante, caminhos novos para, no mínimo, serem seguidos por outros grupos dedicados ao estudo de trajetórias individuais. Por outro lado, o labor realizado (e em curso, consta-me) com o intuito de resgatar e de pôr em evidência o espólio de Valle-Inclán, patente nas "Palabras de apertura…" de Santos Zas, não deixa de ser uma das linhas mais louváveis dos valleinclanistas compostelanos.

O volume em análise, fruto de um congresso realizado em 2011 na USC, aquando do 75º aniversário da morte do autor e do centenário da estreia de Voces de Gesta, reúne 25 trabalhos, 9 conferências e 17 comunicações, e mais um CD (no qual se incluem numerosas imagens, ilustrações, etc., vinculadas a Valle-Inclán); os trabalhos reunidos, nas palavras dos editores, são um "espejo de las relaciones del escritor y su obra con las artes, música, cine, pintura, artes gráficas y escénicas, en el marco de las corrientes estéticas y el pensamento estético de su tiempo" (p. 8). Dividido em três secções, "El arte y su representación en la obra de Valle-Inclán", "Valle-Inclán y el Arte" e "La imagen de Valle-Inclán", é notório o cuidado da edição, em sintonia com o assunto em análise.

Abre a primeira secção Darío Villanueva (USC, Real Academia Española), com "Valle-Inclán y el cine", onde, através de incisivas incursões na origem do cinema, o autor em foco é considerado "imprescindible figura del precinema", fazendo parte da "selecta nómina de escritores encuadrables en el Modernismo internacional que antes y mejor respondieron al nuevo horizonte de expectativas generado por los logros estéticos, a partir de los años veinte, del ya reconocido como ‘séptimo arte’" (p. 51). Segue-se o contributo de José Manuel González Herrán (USC), sob o título "Una adaptación cinematográfica de ValleInclán: La cabeza del Bautista (1967), de Manolo Revuelta". Sem deixar de afirmar ser "ya un tópico repetir que la literatura de ValleInclán no ha tenido mucha fortuna en la pantalla, ni en cantidad ni en calidad" (p. 55), debruça-se sobre uma versão cinematográfica da produção valleinclaniana quase completamente desconhecida. Por seu turno, Antonio Gago Rodó (Universidad Autónoma de Madrid), em "Resistencias de ValleInclán: Hacer cine con el teatro", coloca a hipótese da filiação cinematográfica do silencio no repertorio teatral de Valle-Inclán, para além de tratar outras questões. Juan José Prats Benavent (Instituto Superior de Enseñanzas Artísticas de la Comunidad Valenciana), com o trabalho intitulado "Martes de Carnaval, una adaptación a medio caminho entre la televisión y el cine", fecha esta primeira sequência que, no seu conjunto, trata do interesse de Valle-Inclán pelo cinema assim como, segundo os vários autores, da sua eventual ‘precocidade’, isto é: as marcas, questionáveis, em todo o caso, do cinema na sua obra e a sua fortuna cinematográfica.

Sob a epígrafe "Música y danza", Carlos Villanueva (USC) aborda o "supuesto desinterés" de ValleInclán pela música, assim como analisa vários projetos musicais vinculados à produção do autor, nomeadamente a Divinas Palabras. A seguir, Dru Dougherty (University of California, Berkeley) põe em diálogo a produção de Valle-Inclán e o mito de Orfeu, destacando o sentido metaliterário presente em Luces de Bohemia, entre outros. O último trabalho deste grupo é de Bruce Swansey (Trinity College) com o críptico título "Terpsícore funamfulesca y sicalíptica: la musa cinética".

Na parte que se refere às "Artes plásticas", Jesús Rubio Jiménez (Universidad de Zaragoza) contextualiza detalhadamente o pensamento pictórico de Valle-Inclán relativamente aos pintores El Greco e Velázquez, afirmando que as "opiniones de Don Ramón pertenecen a los debates que salpicaban las páginas de la prensa al hilo de la celebración de efemérides y de la reflexión sobre la identidad española. Responden tanto a motivaciones estéticas como de orden político"(p. 149). Aseguir, Francesca Crippa (Università Cattolica del Sacro Monte, Milão), em "Ideario estético y representación artística en la Sonata de Primavera de Ramón del Valle-Inclán", consegue ultrapassar o elevado risco de paráfrase e mesmo de inventio ao estabelecer um necessário diálogo entre produtor e produção e os campos em foco. José Servera Baño (Universitat de les Illes Balears), em "Técnicas pictóricas en los poemas de la historia del crimen del Medinica en La Pipa de Kif", vincula o texto elegido de Valle-Inclán ao conceito de ‘España negra’, associado a pintores como Ignacio Zuloaga ou, nomeadamente, José Gutiérrez Solana. A seguir, o estudo de Epicteto Díaz Navarro (Universidad Complutense de Madrid) aborda a descrição e a imagem em Martes de carnaval e La corte de los milagros.

Sob o rótulo "Artes escénicas", Urszula Aszyk (Universidade de Varsóvia) explora a representação teatral da morte atendendo ao tratamento desta na pintura coetânea e de épocas imediatamente anteriores. César Oliva (Universidad de Murcia) trata da estética e do drama em Retablo de la avaricia, la lujuria y la muerte e, por seu turno, Juan Trouillhet Manso (Centro Complutense del Español, UCM), em "La belleza del horror en el teatro bárbaro de Valle-Inclán", analisa a representação da violência, da crueldade e do sinisto como uma mostra de "radical oposición al realismo escénico dominante" e como reivindicação de "una vuelta a los orígenes del teatro (…) a una mayor ilusión escénica y a la exhibición de sus recursos más espectaculares" (p. 263). Para Pilar Veiga (Instituto Cervantes de Bucarest), em Voces de gesta destaca-se a presença da pintura nas didascálias. Antonio Espejo Trenas (Universitat de València), em "Arte de salón, marionetas y divertimento modernista en Ramón del Valle-Inclán. Noticia de un proyecto escénico pionero de 1903", resgata um projeto "que anticipa su interés [de Valle-Inclán] por el mundo del guiñol" (p. 277). A seguir, Yoice Rodrigues Ferraz Infante (Universidade Federal de São Carlos) aborda a adaptação brasileira de Nehle Franke (1997) de Divinas Palabras, onde a misteriosa e periférica Galiza se transforma no sertão brasileiro.

Na segunda secção, "ValleInclán y el Arte", Elizabeth Drumn (Reed College, Portland, Oregon), no artigo intitulado "La estética del recuerdo en La lámpara maravillosa: el proceso de pensar el tiempo" e, saltando a ordem, Rosario Mascato Rey (GIVIUS), em "De la Image mediatrice al Enigma del matiz: el pensamento estético valleinclaniano a la luz de la filosofía bergsoniana", exploram, desde diferentes perspetivas, as presenças (e/ou coincidências) da obra de Henri Bergson na produção de Valle-Inclán. Em "Fundamentos quietistas en la poética de ValleInclán", Guillermo Aguirre Martínez (Universidad Complutense de Madrid) entende Valle-Inclán como um produtor para quem a "estética (…) constituyó siempre un elemento válido y redentor para el poeta" (p. 328). A seguir, Luisa Castro Delgado (GIVIUS) aborda o retrato em Valle-Inclán, plástico e/ ou literário, como configurado pela memória "en todas sus manifestaciones y facetas, de manera más radical y profunda que los postulados comúnmente aceptados por el género" (p. 341). Por sua vez, Jesús Mª Monge López (TIV-Universitat Autònoma de Barcelona) estabelece relações entre o românico, o quietismo e o esperpento. Conclui esta secção Carmen E. Vílchez Ruiz (GIVIUS) que aborda, em sintonia com a cuidada edição do volume em análise, o tratamento artístico que Valle-Inclán dedicou aos seus livros, particularmente a La Lámpara Maravillosa.

Na terceira e última secção, intitulada "La imagen de Valle-Inclán", Adolfo Sotelo Vázquez (Universitat de Barcelona) empreende uma incursão no relacionamento de Valle-Inclán com a Catalunha, nomeadamente com Barcelona, pondo em relevo as leituras que desde o emergente sistema literário catalão eram feitas de produtor e produção. A seguir, José Manuel B. López Vázquez (USC) põe o autor, sempre interessado na pintura, nomeadamente no retrato, em diálogo com as linhas de força dos retratistas espanhóis (Joaquín Sorolla, Ignacio Zuloaga e Fernando Álvarez Sotomayor). O volume encerra com um estudo de Sandra Domínguez Carreiro (GIVIUS) que se debruça sobre a evolução da caricatura partindo de uma análise das numerosas caricaturas de que ValleInclán foi alvo.

Em jeito de breves observações finais, anoto o seguinte: com intenção interrogativa, caberia problematizar a assumida (e manifesta) orientação interdisciplinar do volume em foco. Será possível trabalharmos interdisciplinariamente em literatura, por exemplo, ampliando os nossos corpora com elementos estranhos ao fenómeno literário mas sem o concurso decisivo e sistemático de especialistas de outras disciplinas? Cabe frisar, por último, que o conjunto dos estudos que foram nesta resenha brevemente comentados corresponde inequivocamente à premissa expressa no prólogo do volume: a da existência de um poliédrico Valle-Inclán cujos interesses e trabalhos longe de se restringirem ao fenómeno literário, passaram necessariamente também pelas artes.

 

Notas

[1][em linha] http://www.cervantesvirtual.com/bib/portal/catedravalleinclan/: apresentação Santos Zás