SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.18 número2∫1. Novarum Flora Lusitana Commentarii In memoriam A.R. Pinto da Silva (1912 - 1992)Le Développement Durable: à la croisée de l'économie, de la société et de l'environnement índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. v.18 n.2 Lisboa  2010

 

Cyperus distachyos All. (Cyperaceae) observado em novas localidades portuguesas setenta anos após a última colheita

 

Miguel Porto 1, 2 mpbertolo@gmail.com José Luís Vitorino 1 joseluis.vitorino@gmail.com Ana Júlia Pereira 1, 3 ajpereira@fc.ul.pt

Cristina Tauleigne Gomes 1, 4 acgomes@fc.ul.pt

 

1Sociedade Portuguesa de Botânica.

2Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

3Erena-Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais.

4Jardim Botânico - Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa.

 

ALGARVE: Aljezur. Bordeira. Perto de Monte Novo. UTM 29S NB1020. 7º13'50''N, 8º52'49'' W, ca. 1 km a norte do marco geodésico Mosquito. No leito de uma ribeira permanente sobre a arriba costeira, próximo do limite da mesma. Dominante numa comunidade pauciespecífica com Carex extensa. Ca. 25 m.s.m. 17-Ago-2008. Det. M. Porto. Leg.: A.J. Pereira, J.L. Vitorino, M. Porto (Sociedade Portuguesa de Botânica) Nº. SPB1. Rev.! C. Tauleigne Gomes. LISU 235928.

Cyperus distachyos All. (C. laevigatus subsp. distachyos (All.) Maire & Weiler) é uma pequena ciperácea que se distribui naturalmente pelas zonas costeiras sobretudo do Sul e Este da Península Ibérica, Região Mediterrânica em geral, chegando até ao Este de África (MUASYA et al., 2004; ONKWARE, 2001; nota: estas citações provavelmente referem-se a C. laevigatus subsp. laevigatus). Habita em zonas húmidas, arenosas ou argilosas, tolerando grandes concentrações de sais (MUASYA et al., 2004). É também referido para ambientes de águas salobras do litoral (RIVAS-GODAY, 1956) e comunidades de Litorellion (CASTROVIEJO et al., 1980). MOLINA (1994) menciona a sua presença em prados densos onde dominam Paspalum vaginatum Sw. e P. paspalodes (Michx.) Scribn.

A informação sobre C. distachyos em Portugal foi sempre restrita. No que respeita à sua corologia DAVEAU (1891) menciona a sua presença no Algarve, entre Olhão, Fuzeta e Tavira, com base nas colheitas de Welwitsch e em Faro, ribeiro do Laranjal, referindo-se a material confirmado de A. Guimarães. MENDONÇA & SOUSA (1933) mencionam igualmente material confirmado para Faro. A última colheita em território nacional data de 1939 nas proximidades de Faro, pelo que está considerado como extinto em Portugal na bibliografia (FRANCO & ROCHA AFONSO, 2003; CASTROVIEJO, 2008).

Uma nova população de C. distachyos foi recentemente observada próximo de Bordeira sendo este o primeiro registo de uma população na costa Oeste da Península Ibérica. Esta população é constituída por diferentes colónias, localizadas no leito de seis pequenas ribeiras sobre a falésia (29S NB1020 e 29S NB1019). Nestes locais a espécie ocorre como dominante numa comunidade pauciespecífica onde se encontra também Carex extensa Gooden. C. distachyos ocupa a área do leito das ribeiras mais próximo do limite da arriba, onde a influência salina já se faz sentir. A tolerância ao sal já foi confirmada por ONKWARE (2001), que classifica esta espécie como um verdadeiro halófito. Esta espécie foi também referida por MUASYA et al. (2004) como estando associada a águas muito alcalinas, o que é corroborado pela observação de elevada precipitação de carbonatos nas colónias aqui registadas.

As exsiccatae examinadas procedem de colheitas realizadas nos meses de Abril e Maio e apresentam espiguetas formadas, estando os aquénios em diferentes estados de maturidade. A colheita actual atingiu o estado de maturidade entre Agosto e Setembro; em Abril de 2010 observou-se que o material se encontrava no estado vegetativo. O desfasamento observado no desenvolvimento fenológico poderá ser resultado da diferente exposição das populações actuais na costa Oeste portuguesa.

 

Cyperus distachyos All., exsiccatae examinadas:

ALGARVE: Fuzeta. In stagnis subsalsis non procul ab oppidulo: Fuzeta. Maio 1847. F. Welwitsch. Cyperus junciformis All. Rev. J. Daveau Cyperus distachyos All. LISU6787! Entre Fuzeta e Tavira. In humidis Algarb. inter Fuzeta et Tavira. Maio 1847. F. Welwitsch 904. Cyperus junciformis All. Rev. J. Daveau Cyperus distachyos All. LISU6788! Entre Olhão e Tavira. In Algarb. Udis inter Olhão et Tavira raium. Maio 1847. F. Welwitsch. Cyperus junciformis All. Rev. J. Daveau Cyperus distachyos All. LISU6789! Arredores de Faro; Machil Abril 1912. Det. A. Perreira Coutinho. Leg. R. Palhinha, A. Ricardo Jorge, F. Mendes. LISU6786! Num paúl do "Pinhal do Ludo", para o lado do mar. Maio 1939. G. Sobrinho. LISU6785!

 

Figura 1 - Aspecto geral da população de Cyperus distachyos    

 

Figura 2 - Pormenor da inflorescência de Cyperus distachyos

 

Figura 3 - Quadrículas 1x1 km onde a espécie está presente

 

Agradecimentos

À Conservadora do Herbário LISU Jardim Botânico - Museu Nacional de História Natural.

 

Bibliografia

CASTROVIEJO, S., 2008. Cyperus L. In: Castroviejo, S., Aedo, C., Benedí, C., Laínz, M., Muñoz Garmendia, F., Nieto Feliner, G. & Paiva, J. (eds) Flora Iberica. vol. XVIII. Real Jardín Botánico, CSIC. Madrid, pp. 8-27.

CASTROVIEJO, S., VALDÉS BERMEJO, E., RIVAS-MARTÍNEZ, S., COSTA, M., 1980. Novedades florísticas de Doñana. Anales Jard. Bot. Madrid 36: 203-244.        [ Links ]

DAVEAU, J., 1891. Cyperacées du Portugal. Boletim da Sociedade Broteriana Vol. IX: 58-128.        [ Links ]

FRANCO, J.A., ROCHA AFONSO, M.L., 2003. Nova Flora de Portugal. Vol. III fasc. III Escolar Editora. Lisboa.

MENDONÇA, F.A., SOUSA, E.P., 1933. Revisão das Cyperaceae portuguesas do Herbário de Coimbra. Boletim da Sociedade Broteriana Vol. VIII (II série): 140-167.        [ Links ]

MOLINA ABRIL, J.A., 1994. Datos florísticos y fitosociológicos de la vega de Motril (Granada, España). Lazaroa 14: 203-205.        [ Links ]

MUASYA, A.M., HOVER, V.C., ASHLEY, G.M., OWEN, R.B., 2004. Diversity and distribution of macrophytes in a freshwater wetland, Loboi swamp (Rift Valley) Kenya. Journal of East African Natural History 93: 39-47.        [ Links ]

ONKWARE, A.O., 2001. Effect of soil salinity on plant distribution and production at Loburu delta, Lake Bogoria National Reserve, Kenya. Austral Ecology 25(2): 140-149.        [ Links ]

RIVAS-GODAY, S., 1956. Los grados de vegetación de la Península Ibérica (con sus especies indicadoras). Anales Jard. Bot. Madrid 13(1): 269-331.        [ Links ]