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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.44 no.1 Lisboa mar. 2021  Epub 21-Abr-2021

https://doi.org/10.19084/rca.24009 

Artigo

Caracterização química e textural de solos sob diferentes manejos em área de assentamento da reforma agrária no sudeste Paraense, Brasil

Chemical and textural characterization of soils in different managements in a settlement area of land reform in south eastern Pará, Brazil

Anastácia Pavão Oliveira1 

Aliane Medeiros Carvalho1 

Elder Felipe Silva Roncheti1 

Lara Lima Seccadio1 

Linnajara de Vasconcelos Martins Ferreira1 

1Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Para (IFPA) - Campus Rural Marabá, Marabá Pará, Brasil


Resumo

A mesorregião sudeste do Pará possui um número considerável de assentamentos rurais que cultivam Manihot Esculenta Crantz, sendo necessário investigar acerca dos sistemas de cultivos para sinalizar estratégias que possam potencializar a produção. Objetivou-se avaliar as características químicas e texturais de solo em cinco ambientes distintas no Projeto de Assentamento 26 de Março, Marabá-PA, Brasil. Foi realizada a coleta de amostra composta de solo na profundidade de 0-20 cm de três áreas de cultivo de mandioca, uma de floresta e outra degradada. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizado com quatro repetições e cinco tratamentos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade e a análise de componentes principais utilizando o software R livre. A textura nas áreas estudadas é de predominância arenosa. São constatados teores de fósforo baixo para todos, inclusive teores de magnésio abaixo do ideal para as áreas do pequeno e médio agricultores. O teor de potássio é alto e não apresenta diferenças nas áreas estudadas entre os produtores. Os indicadores de acidez do solo demonstram serem os principais fatores limitantes nas áreas de estudo para melhor desempenho no rendimento da cultura.

Palavras-chave: Assentamento 26 de Março; Agricultura familiar; Manihot esculenta; solo

Abstract

The southeastern mesoregion of Pará has a considerable number of rural settlements which cultivate Manihot esculenta Crantz, being necessary to investigate about cropping systems to signal strategies that may potentialize the production. This study aimed at evaluating the chemical and textural soil characteristics in five different environments in the 26 de MarçoSettlement Project, Marabá-PA, Brazil. It was performed the collection of a sample composed of soil at a depth of 0-20 cm from three areas of cassava cultivation, one from forest area and other from degraded area. The experimental design used was randomized blocks with four replications and five treatments. Data obtained were subjected to analysis of variance and the means were compared by Tukey's test at the level of 5% probability, and the analysis of main components, by using the free R software. The texture in the studied areas is predominantly sandy. Low phosphorus levels were found for all, including less than ideal magnesium levels for small and medium-sized farmers areas. The potassium content is high and there are no differences in the studied areas for producers. The indicators of soil acidity prove to be the main limiting factors in the study areas for better performance in crop yield.

Keywords: 26 de Março Settlement; Family farming; Manihot esculenta; soil

INTRODUÇÃO

A agricultura de base familiar é significativa na mesorregião sudeste do Pará. Esse território é composto por 515 assentamentos, em uma área de 461.071 hectares. (INCRA, 2018a,b). Brandão Jr. e Souza Jr. (2006) colocam que alguns projetos de assentamentos foram estabelecidos em território amazônico em áreas que já haviam passado por processos de desflorestamento. A relevância da agricultura familiar e a sua diversificação de sistemas produtivos se tornam imprescindível na discussão sobre o uso e a conservação do solo.

Os solos do estado são caracterizados predominantemente por Latossolos e Argissolos, correspondendo a 81,48% de toda extensão territorial. Esses tipos de solos apresentam boas condições físicas como textura, estrutura e porosidade, mas quanto as condições químicas apresentam baixa fertilidade, por serem muito intemperizados (Gama et al., 2020).

A cultura da mandioca é encontrada nos sistemas de cultivos de agricultores familiares no estado do Pará (Claudino, 2020; Santos e Claudino, 2020). A capacidade de se desenvolver e produzir relativamente bem em solos de baixa fertilidade, talvez seja a principal característica dessa cultura. Segundo Mattos e Cardoso (2003), dois aspectos devem ser considerados na conservação do solo em mandioca: ela protege pouco o solo contra erosão, pois o crescimento inicial é muito lento e o espaçamento é amplo, fazendo com que demore a cobrir o solo para protegê-lo da degradação de sua estrutura pelas chuvas e enxurradas; e ela é esgotante do solo, pois quase tudo que produz (raízes, folhas e manivas) é exportado da área, para produção de farinha, alimentação humana e animal e como sementes para novos plantios, muito pouco retornando ao solo sob a forma de resíduos.

O Projeto de Assentamento (PA) 26 de Março localizado no município de Marabá, Sudeste paraense tem contribuído para a produção de alimento, principalmente com cultivo da mandioca (Manihot esculenta) para fabricação de farinha, sendo umas das principais atividades agrícolas, agregando valor e movimentando a economia local da região (Castro e Watrin, 2013; Neves, 2013).

Estudos relacionados aos atributos do solo, afim de mapear as suas características para que o agricultor possa empregar tecnologias adequadas a cada tipo de solo e cultura, são importantes para evitar o uso inadequado, além de impulsionar rendimentos satisfatórios na produção de matéria-prima e subprodutos, norteando uma produção sustentável. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo avaliar as características químicas e texturais do solo em sistema de cultivo de mandioca no Projeto de Assentamento 26 de Março.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Projeto de Assentamento 26 de Março, município de Marabá, mesorregião sudeste do Pará em cinco áreas com manejos distintos: três sob cultivo de mandioca, floresta consolidada e uma área em estádio avançado de degradação. Segundo Hoffmann et al. (2018) o clima do município é classificado como tropical semiúmido (Aw) com temperatura média anual em torno dos 26 ºC e índice pluviométrico elevado, próximo aos 2.200 mm anuais.

As análises foram realizadas no laboratório de solos do Instituto Federal do Pará (IFPA) e no laboratório agropecuário da Solocria em Goiânia, GO.

Caracterização dos Manejos

Realizou-se aplicação de questionário para identificação dos agricultores que cultivam mandioca na área do Projeto de Assentamento 26 de Março no ano de 2018 bem como investigação do manejo adotado na área, e posterior classificação em grande, médio e pequeno agricultor, através dos dados obtidos sobre a produção média de farinha de mandioca, para seleção das áreas de coleta das amostras de solo.

O reconhecimento das áreas foi realizado por meio da caracterização de manejo, produção e coleta de amostras de solo (Quadro 1).

Quadro 1 Características do manejo e produção em áreas sob cultivo de mandioca e de referência no Projeto de Assentamento 26 de Março, Marabá, Pará em 2018. 

Grande agricultor
Cultivo da variedade Amazonas apresentando uma área de 4,84 ha tendo toda produção destinada a fabricação de farinha, com produtividade de 4.000 kg farinha ha-1, comercializado por meio de atravessadores. O sistema realizado é de sequeiro em consócio com Zea mays. A dinâmica de preparo das áreas ocorre através da prática do corte e queima e ausência de sistema de preparo de área mecanizado. Não adotam a calagem para correção da acidez do solo e não realizam adubações de fontes minerais e/ou orgânicas. Tempo de cultivo de três anos sendo anteriormente utilizada como capoeira. Espaçamento de 1 metro entre plantas. Colheita após 12 meses do plantio.
Médio agricultor
Cultivo da variedade Amazonas apresentando uma área de 2,42 ha tendo toda produção destinada a fabricação de farinha, com produtividade de 3.000 kg ha-1, comercializado por meio de atravessadores. O sistema de cultivo da mandioca é em sequeiro realizado em consorciação com Zea mays e Euterpe oleracea. A dinâmica de preparo das áreas ocorre através da prática do corte e queima e ausência de sistema de preparo de área mecanizado. Não adotam a calagem para correção da acidez do solo e não realizam adubações de fontes minerais e/ou orgânicas. Tempo de cultivo de dois anos sendo anteriormente utilizada como capoeira. Espaçamento de 1 metro entre plantas. Colheita após 12 meses do plantio.
Pequeno agricultor
Cultivo da variedade Amazonas apresentando uma área de 1,81 ha toda produção destinada a fabricação de farinha, com produtividade de 2.400 kg ha-1, comercializado por meio de atravessadores. Adota o sistema de cultivo em sequeiro e monocultivo. A dinâmica de preparo das áreas ocorre através da prática do corte e queima e ausência de sistema de preparo de área mecanizado. Não adotam a calagem para correção da acidez do solo e não realizam adubações de fontes minerais e/ou orgânicas. Presença da variedade Amazonas. Tempo de cultivo de 10 anos sendo anteriormente utilizada como capoeira. Espaçamento de 1 metro entre plantas. Colheita após 12 meses do plantio.
Área degrada
Área de exploração de cascalho nos anos de 2013 e 2014. Perda do total do horizonte A e B com exposição do horizonte C e floração do rocha matriz. Solo sem vegetação e com presença de erosão em níveis de erosões laminares e sulcos.
Área de floresta
Área anteriormente utilizada com pastagem. Desde 1980 encontra-se me processo de regeneração natural. O Manejo Florestal ocorreu com enriquecimento da área com mudas de cupuaçu (Theobroma grandiflorum), seringueira (Hevea brasiliensis) e Castanha do Pará (Bertholletia excelsa) estando em fase de florestaconsolidada.

Coleta dos solos, análises químicas e de textura

A coleta do solo foi realizada em 2019 de acordo com Brasil et al. (2020) na camada de 0-20 cm para avaliação das seguintes características químicas: pH em H2O; teores de Ca2+, Mg2+, K+, Al3+ trocáveis; P disponível; acidez potencial (H + Al); saturação por bases (V) e por alumínio (m); fósforo (P) remanescente (Prem) e matéria orgânica do solo (MOS) seguindo o método proposto pela EMBRAPA (Claessen et al., 1997). A textura do solo foi caracterizada pela determinação dos teores de areia, silte e argila (Claessen et al., 1997) e posterior classificação a partir do triângulo textural segundo EMBRAPA (Santos et al., 1995).

Análises estatísticas

Para a análise de solos foi realizado o delineamento experimental blocos casualizados com quatro repetições e cinco tratamentos. Todas as análises foram realizadas em duplicatas, com um total de vinte observações (n=20). Os tratamentos foram constituídos pelas áreas descritas no Quadro 1. A comparação dos dados experimentais foi realizada por Análise de Variância (ANOVA), seguida pelo teste de Tukey, a nível de 5% de probabilidade. O software utilizado para todas as análises foi o R livre versão 3.5.2.3, e os resultados foram apresentados como média ± desvio-padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise textural e química do solo

Nas distintas áreas analisadas, observou-se proeminência de solos de textura arenosa (Quadro 2) com maior de areia na área do pequeno agricultor. Solos de textura média arenosa são favoráveis ao desenvolvimento da cultura, pois possibilitam fácil crescimento das raízes, boa drenagem e facilidade o crescimento e desenvolvimento das raízes tuberosas e viabilizando o processo de colheita das mesmas (Fukuda e Otsubo, 2002; Mattos e Cardoso, 2003). Na região sudeste paraense o cultivo de mandioca também é evidenciado em solo de textura argilosa como relatado por Lopes et al. (2017) em área de Assentamento no município de São João do Araguaia.

Quadro 2 Média dos teores de areia, silte e argila e classificação textural em diferentes sistemas de manejos sob cultivo de mandioca no Projeto de Assentamento 26 de Março, Marabá-PA. 

Sistema de manejo Areia Silte Argila Classificação Textural
g.Kg-1
Pequeno 870,0±25,8a 40,0±8,2c 90,0±18,3c Areia franca
Médio 582,5±59,1c 85,0±12,9a 332,5±41,7a Franca
Grande 645,0±35,1c 75,0±5,8ba 280,0±29,4a Franco-argilo-arenosa
Degradada 665,0±68,6cb 70,0±14,1ba 265,0±54,5a Franco-argilo-arenosa
Floresta 757,5040,3b 55,0±10,0cb 187,5±31,0b Franco-arenosa
CV (%) 6,15 15,89 14,50 -

Médias grafadas com letras iguais não diferenciam no teste Tukey a 5% de probabilidade. CV= coeficiente de variação.

A granulometria varia pouco ao longo do tempo, possivelmente a variação só acontece quando ocorre mudança na composição do solo em função dos processos de intemperismo que ocorrem numa escala de séculos a milênios. Desta forma a textura do solo possui baixa interferência com o manejo adotado.

As características químicas analisadas apresentaram diferenças estatísticas nos cinco sistemas de manejo estudados (Quadro 3). O pH apresenta-se ácidos, variando de 3,87 a 5,27 para as áreas de médio e pequeno Agricultores, respectivamente.

A acidez do solo está intimamente relacionada com as formas de manejo e a influência do intemperismo. Desta forma, os baixos valores de pH no presente trabalho se deve as características dos solos da região, que de modo geral são intemperizados e altamente lixiviados (Schubart et al., 1984) podendo ter influência do sistema de manejo de uso, visto que os agricultores adotam a prática do corte e queima e não realizam a correção da acidez do solo (Quadro 1).

Quadro 3 Valores médios de pH e teores de fósforo (P), potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), alumínio (Al3+), hidrogênio + alumínio ( H + Al) e, soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions efetiva (CTC) saturação por bases (V), saturação por alumínio (m) e matéria orgânica (MO) amostras de solos em diferentes sistemas de manejos no Projeto de Assentamento 26 de Março, Marabá-PA. 

Características químicas Pequeno Médio Grande Degradada Floresta CV%
pH em CaCl2 5,27±0,33a 3,87±0,12d 4,37±,024cb 4,05±0,13dc 4,77±0,22b 4,84
Ca cmolc.dm-³ 2,25±0,90a 0,72±0,10b 1,62±0,54ba 0,27±0,10b 1,75±0,97ba 50,48
Al 3+ cmolc.dm-3 0,02±0,05c 1,20±0,27ª 0,57±0,39cb 1,07±0,10ba 0,20±0,22c 39,86
H+Al cmolc.dm-³ 1,80±0,22b 6,02±1,26ª 3,40 ±0,93b 2,87±0,22b 2.67±0,44b 24,13
M (%) 0,97±1,94c 49,41±6,79a 17,77±11,65b 69,31±8,88a 10,88±14,70b 33,94
Mg cmolc.dm-³ 0,35±0,06cb 0,25±0,06c 0,62±0,19ba 0,15±0,06c 0,725±0,24a 32,02
K mg.dm-³ 62,75±0,80ba 92,37±0,80ba 200,77±0,19a 22,95±0,03c 44,92±0,06cb 23,96
P (Melich) mg dm-³ 6,00±2,34ba 5,17±0,91ba 7,80±4,54a 1,80±0,24b 1,50±0,24b 50,10
SB cmolc.dm-³ 2,76±0,93a 1,21±0,10a 2,76±0,80a 0,48±0,16b 2,59±1,25a 40,95
V(%) 59,32±10,16a 17,20±4,07b 45,01±12,07a 14,31±4,56b 46,8714,26±a 28,22
CTC 4,56±0,75bc 7,23±1,17a 6,16±0,72ba 3,35±0,24c 5,26±1,31cba 17,53
MO g.dm-³ 16,50±1,29b 18,00±1,41ba 17,75±1,26ba 6,25±2,63c 22,25±3,59a 14,55

Médias grafadas com letras iguais não diferenciam no teste Tukey a 5% de probabilidade. CV= coeficiente de variação.

Para a cultura da mandioca, a faixa de pH ideal situa-se entre 5 e 6 (Mattos e Cardoso, 2003). Com isso, as áreas analisadas encontram-se em condições abaixo da faixa de pH ótimo para o desenvolvimento da cultura com exceção do pequeno agricultor, no qual obteve a maior média estatisticamente superior para a referida característica.

O pH do solo influencia diretamente na disponibilidade de nutrientes, como observado no presente estudo para os teores de cálcio, em que os menores teores foram encontrados áreas do médio agricultor e área degradada, e se obteve as menores faixas de pH. Nas demais áreas os teores são considerados altos segundo a classe de interpretação de análise do solo para o estado do Pará (Brasil et al., 2020).

A deficiência de cálcio no cultivo da mandioca pode provocar redução do seu crescimento, deformação e queimas dos ápices foliares, influenciando também a formação das raízes (Mattos e Cardoso, 2003). O suprimento de cálcio pode ser realizado por meio da aplicação de calcário. No mercado temos três tipos de calcário o dolomítico, calcítico e magnesiano nos quais diferenciam de acordo com os teores de cálcio e magnésio (Primavesi & Primavesi, 2004). Segundo Cravo et al. (2020) deve-se dar preferência por calcário dolomítico, especialmente para solos com teor de Mg menor que 0,5 cmol dm-3 como obtido para os presentes solos estudados, com exceção da área do grande agricultor.

Segundo Gama et al. (2020) nos solos do Pará o Al3+ é o principal elemento responsável pela toxicidade dos solos. Nas plantas a toxicidade de Al3+ causa redução da altura e do crescimento da raiz, bem como influencia na disponibilidade de outros nutrientes (Rheinheimer et al., 2003; Nolla et al., 2007; Peleja et al., 2020). Desta forma a toxidade do Al3+ podem apresentar como fatores limitantes para maiores desenvolvimento e rendimento da cultura. No presente estudo a área do médio agricultor apresenta os maiores teores de Al3+, m%, e H+Al, assemelhando-se a área degradada para Al e m% e superior para H+Al. Esse resultado já era esperado visto que as referida áreas apresentaram a menor faixa de pH. O cultivo de mandioca no estado do Pará em solos com elevados a médios teores de Al3+ é evidenciado por outros autores (Alves et al., 2018; Silva et al., 2018), o que confirma a baixa exigência e rusticidade que essa cultura apresenta.

Os menores teores de Al3+ foram verificados nas áreas do pequeno e grande agricultor assim como na área de floresta não havendo diferença entre elas. Este resultado pode está associado ao sistema de manejo adotado na área. É importante mencionar que no estado do Pará para os principais cultivos agrícolas é recomendável a calagem quando o solo apresenta teores de Al3+ maiores que 0,5 cmolc.dm-3 e baixos teores de Ca e Mg (Cravo et al., 2020). Desta forma para obtenção de maiores rendimentos recomenda-se a neutralização do Al3+ através da técnica da calagem nas áreas do médio e grande agricultor de mandioca assim como na área degradada como estratégia inicial de reabilitação da mesma.

Os teores de magnésio variaram de 0,15 a 0,72 cm.dm-³ entre a área degradada e floresta, respectivamente. As áreas do pequeno e médio agricultores não diferiram da área degradada sendo considerados abaixo do ideal para cultura, já os solos da área de floresta e do grande agricultor são caracterizados como médio (Brasil et al., 2020). O teor mais elevado na área de produção grande agricultor pode estar relacionados ao tempo de cultivo (Quadro 1) e ao sistema de manejo, pois a mandioca nessa área é plantada em consórcio com o milho, favorecendo o efeito nutricional residuais da palhada. Como verificado por Calonego et al. (2012) ao avaliarem a liberação de Mg da palha de três espécies vegetais constataram que o labe-labe e o milho foram as que mais disponibilizaram Mg para o solo em todas as épocas de avaliação, com liberação acumulada ao final de 135 dias. O acréscimo do cálcio ao solo também foi evidenciado em sistema de lavoura-pecuária pela deposição nutricional da palhada do milho (Santos et al., 2014).

Dentre os nutrientes, o potássio é extraído em maior quantidade pela mandioca e sua disponibilidade para as plantas afeta a produtividade da cultura e a qualidade das ramas utilizadas no plantio (Otsubo et al., 2007). O potássio promove a assimilação de CO2, a síntese de amido e a translocação de carboidratos das folhas para os tubérculos e raízes tuberosas de culturas, onde os carboidratos são o material de armazenamento principal. Em consequência a este fato, promove o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de tubérculos (Silva et al., 2017).

Os resultados não mostram diferença dos teores de potássio entre as áreas de produção de mandioca e estas foram semelhantes às áreas de floresta. Segundo Cravo et al. (2020) os teores do potássio nas áreas do grande (200,77 mg.dm-³) e médio (93,73 mg.dm-³) agricultores apresentam disponibilidade muito alta e alta no pequeno agricultor (62,75 mg.dm-³). Elevados teores de potássio também foi verificado no assentamento Alegria no município de Marabá sob cultivo de mandioca com média de 49,00 mg dm-³ (Mello et al., 2016). Sabe-se que após 2 a 4 cultivos sucessivos na mesma área o potássio é esgotado. Logo, embora a resposta à adubação potássica seja baixa nos primeiros cultivos numa área, após vários cultivos ela torna-se evidente (Mattos e Cardoso, 2003).

No presente estudo concentrações baixas de potássio foram encontrados na área degradada e de florestas, não diferenciando estatisticamente, com teores médios de 45,9 e 89,84 mg.dm-³, respectivamente. Teores ainda menores de potássio são relatados em áreas de florestas amazônica com 42,02 mg.dm-³ (Magalhães et al., 2013). Em áreas degradadas principalmente em solos arenosos no qual a CTC é naturalmente baixa, o potássio é rapidamente perdido por lixiviação além de ser um elemento bastante sensível a perdas, devido à interação eletrostática entre Ca, Mg e K (Swarowsky et al., 2006).

Com base em Cravo et al. (2020) todas as áreas sob cultivos da mandioca apresentaram teores de P abaixo da condição favorável para o desenvolvimento da cultura em situações de solos com textura arenosos, não apresentando diferença entre as áreas sob cultivo de mandioca. O que já era esperado visto solos do Pará apresentam grande deficiência para este nutriente (Gama et al., 2020). Sendo importante relata que a área do grande agricultor foi superior a área de Florestada este resultado pode estar relacionado ao sistema de manejo da área (Quadro 1).

A ordem de absorção de nutrientes para mandioca é a seguinte: K > N > Ca > P > Mg (Fukuda e Otsubo, 2002). Verifica-se que a mandioca apresenta baixa na extração do P, porém é uma cultura que utiliza como mecanismo absortivo a associação com fungos micorrízicos (Heberle et al., 2015). Estudos realizados em campo têm relatado porcentagem de colonização micorrízica da mandioca variando de 31 a 85 % (Burns et al., 2012) sendo altamente dependente das micorrizas arbusculares (Fukuda e Otsubo, 2002; Colozzi e Nogueira, 2007), uma vez que as plantas cultivadas apresentam um sistema radicular pouco desenvolvido em seus estágios iniciais (Colozzi e Nogueira, 2007). Assim, o manejo adotado pelos agricultores pelo o uso de corte e queima pode promover alteração na dinâmica da população destes fungos e comprometer o estabelecimento da simbiose e, consequentemente, redução do desempenho de produção de raízes, conforme coloca Redin (2011) que o uso da técnica de corte e queima acarreta em redução da vida microbiológica do solo.

Os menores teores da soma de bases trocáveis Ca²+, Mg²+, K+ foram encontrados na área degradada esse resultado pode ser atribuído a remoção do horizonte superficiais e a menor concentração de matéria orgânica dentre as áreas. Não se verificou diferença entre as áreas de produção e a área de floresta. Isto deve-se ao fato do processo de derruba e queima, a vegetação removida é deixada secar e então é queimada antes do início das chuvas, quando ocorre o plantio. O aumento de bases trocáveis é observado imediatamente após a queima em consequência do acúmulo de cinzas na superfície do solo (Rheinheimer et al., 2003). Entretanto, esses efeitos tendem a desaparecer, em médio prazo, na lixiviação dos nutrientes pela ação de chuvas, o que resulta em concentrações que podem ser até inferiores às observadas em solos que não sofreram ação do fogo (Knicker, 2007).

Com exceção da área do pequeno agricultor todas as áreas apresentaram solos classificados distróficos (V < 50 %). No entanto, as áreas sob cultivo de mandioca apresentaram saturação por base que variaram entre 30-40%, que são favoráveis para o desenvolvimento da cultura da mandioca (Veloso et al., 2020). Desta forma apenas área do médio agricultor encontra-se fora dessa faixa desejada, assemelhando a área degradada com valores de 17,20% e 14,31 %, respectivamente. Esses valores estão atribuídos ao baixo pH do solo e soma de base encontrados nessas duas áreas.

Os maiores valores de CTC foram encontrados nas áreas do médio, grande agricultores e área de floresta, essas mesmas áreas apresentaram maiores médias para matéria orgânica (Quadro 2). A CTC do solo está intimamente ligada a matéria orgânica, dessa forma a dependência dos componentes orgânicos para a elevação do CTC fica evidente. Sendo que um dos métodos de elevar a CTC desses solos é a adição de compostos orgânicos e/ou praticando sistemas de cultivo que adicionem mais matéria orgânica, como plantio direto e os sistemas de integração lavoura-pecuária e a lavoura-pecuária-floresta (Reetz, 2017).

Sabe-se que a matéria orgânica é uma das principais fontes de nitrogênio, sendo este o segundo nutriente mais exigido pela cultura da mandioca. Em relação ao teor de matéria orgânica as áreas sob cultivo de mandioca foram consideradas médias de acordo com Tomé Jr. (1997) não havendo diferença entre elas. Observou-se que a área do pequeno que cultiva em sistema de monocultivo apresentou matéria orgânica inferior à da área de Floresta, mas superior a área degradada. Esses resultados indicam que mesmo as áreas de cultivo realizando a prática de corte e queima os consórcios com outras culturas podem promover aumento no teor matéria orgânica.

A mandioca tem respondido pouco à aplicação de nitrogênio (N), mesmo em solos com baixos teores de matéria orgânica, talvez devido à presença de bactérias diazotróficas fixadoras de nitrogênio atmosférico de vida livre (Fukuda e Otsubo, 2002). Dessa forma, a prática do corte e queima pode comprometer a diversidade e eficiência das estirpes de bactérias fixadoras de nitrogênio nativas e, conseqüentemente, a nutrição por parte desse macronutriente a cultura da mandioca. A introdução de leguminosas nóduliferas como adubo verde ou em consórcio pode ser uma alternativa de baixo custo a ser adotado pelos agricultores, pois podem promover principalmente o aposte de nutriente reciclado, agregação do solo e incorporação da matéria orgânica (Fialho e Vieira, 2011) como também seleção natural de estipes eficientes em fixar o nitrogênio atmosférico.

Análise de Componentes Principais

As análises de solos são representadas na Figura 1 como vetores. Cada abscissa e ordenada de um vetor é, respectivamente, a correlação linear entre uma análise e os componentes principais. Assim, as variáveis V, pH, Ca, SB e Areia apresentaram uma correlação positiva com o primeiro componente principal (55,5% da variação total), enquanto H+Al, Silte, Argila, Al e m% apresentaram uma correlação negativa com o primeiro componente principal. Já as variáveis K e CTC apresentaram correlação positiva com o segundo componente principal (26,2% da variação total). Estas variáveis explicam a maior porcentagem de variação e são as que mais contribuem para alterar as características do solo, com exceção da granulométrica, em função do uso e manejo dos solos estudados.

As variáveis que apresentaram cargas fatoriais abaixo desses valores são aquelas que retêm pequena parte da variação total, o que demonstra que as demais variáveis não citadas contribuem em menor proporção para discriminar os ambientes estudados (Pragana et al., 2012). Desta forma, as variáveis indicadoras da acidez do solo (pH, m%, Ca, H+Al, Al) acrescida da saturação por base do médio agricultor podem representar como um dos fatores mais limitantes no desenvolvimento da cultura nos solos estudados.

Figura 1 Biplot da análise de componentes principais das características de textura e química das áreas manejadas por pequenos, médios e grandes agricultores e área sob floresta e degradada no Projeto de Assentamento 26 de Março, Marabá-PA. 

Os agricultores foram discriminados ao longo do primeiro componente apresentando os agricultores pequeno e grande e a área de floresta correlacionados positivamente e os agricultores de porte médios e de área degradada correlacionados negativamente. Quando se compara a floresta como um ambiente em equilíbrio com as demais áreas, nota-se que o ambiente dos pequeno e grande agricultores se encontram com as características mais próxima das ideais. Este comportamento pode indicar que os cultivos nessas áreas até o momento não causaram grandes alterações na composição química do solo. Assim, os solos das áreas do pequeno e grande agricultores apresentam características químicas próximas a solo de uma floresta estabelecida. Por outro lado, o ambiente do médio agricultor de mandioca está mais próximo da área degradada, do que as demais áreas, possivelmente por apresentarem os menores valores de pH, saturação por base e alumínio.

Em relação ao segundo componente, as áreas do médio e grande produtor de mandioca apresentaram correlação positiva, esse comportamento já era esperado visto que os sistemas de manejo da área do médio e o grande são realizados em consócio proporcionando melhores condições para o desenvolvimento da cultura. Por outro lado, a área do pequeno e a área degradada se correlacionaram negativamente com o segundo componente principal, fato que pode ser atribuído aos menores teores de potássio e CTC que esses ambientes apresentam.

CONCLUSÕES

Os resultados de textura e fertilidade são importantes para agricultores, estudantes e técnicos desenvolverem estratégias de manejo e conservação dos solos nos diferentes sistemas produtivos. A característica de textura nas áreas estudadas é de predominância arenosa. Também são constatados teores de fósforo baixo para todos, inclusive teores de magnésio abaixo do ideal para as áreas dos pequeno e médio agricultores. O teor de potássio é alto e não apresentou diferenças nas áreas estudadas entre os agricultores. Os indicadores de acidez do solo demonstram serem os principais fatores limitantes nas áreas de estudo para rendimento da mandioca. As áreas que realizam sistema em consórcio são as que mais se aproxima da área Floresta.

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Recebido: 22 de Março de 2021; Aceito: 21 de Abril de 2021

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