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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.44 no.4 Lisboa dez. 2021  Epub 21-Out-2021

https://doi.org/10.19084/rca.25415 

Artigo

Adaptabilidade e época de sementeira de milho pipoca para a região Sul do Brasil

Adaptability and popcorn sowing time for the southern region of Brazil

Mateus Junior Rodrigues Sangiovo1 

Claudir José Basso1 

Fernanda Marcolan De Souza2 

Janine Diele Feltes1 

Álex Theodoro Noll Drews1 

Marcelo Silveira de Farias1 

Gabriel Alencar Pasinatto1 

Eduarda Vargas De Souza Leandro1 

Denise Maria Vicente1 

Taylene Borges da Silva Marinho1 

1Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais da Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Frederico Westphalen, Frederico Westphalen, RS, Brasil

2Departamento de Agricultura, Faculdade de Ciências Agrárias de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, SP, Brasil


Resumo

Este trabalho teve como objetivo avaliar a época de sementeira de híbridos de milho pipoca e seu impacto sobre os componentes de rendimento e produtividade de grãos. O estudo foi conduzido na área experimental da Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Frederico Westphalen, durante o ano agrícola 2019/2020. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, em esquema bifatorial, sendo quatro épocas de sementeira (21.08, 11.09, 30.09 e 19.10.2019) e seis híbridos de milho pipoca (H1, H2, H3, H4, H5 e H6), com quatro repetições. A época de sementeira influenciou significativamente sobre os principais componentes de produtividade, onde a sementeira realizada mais precocemente, até 11.09.2019 proporcionou melhores condições e resultou em maior número de grãos por espiga e peso de mil grãos. No comparativo entre os híbridos avaliados, estes resultaram em elevada produtividade de grãos, com média de 7.235 kg ha-1. Os híbridos de milho pipoca utilizados devem ser semeados até 11.09.2019 na região Sul do Brasil, pois produzem 60% a mais, em relação às sementeiras tardias, para as condições em que o experimento foi realizado.

Palavras-chave: Zea mays L. everta; Componentes de rendimento; Produtividade.

Abstract

This work aimed to evaluate the sowing time of popcorn hybrids and its impact on yield components and grain yield. The study was conducted in the experimental area of the Federal University of Santa Maria, Frederico Westphalen Campus, during the 2019/2020 agricultural year. The experimental design was of randomized blocks, in a bifactorial scheme, with four sowing times (08.21, 09.30, 09.30 and 10.19.2019) and six popcorn corn hybrids (H1, H2, H3, H4, H5 and H6), with four repetitions. The sowing time significantly influenced the main yield components, where sowing carried out earlier, until 09.11.2019 provided better conditions and resulted in a greater number of grains per ear and weight of a thousand grains. In the comparison between the hybrids evaluated, they resulted in high grain yield, with an average of 7,235 kg ha-1. The popcorn corn hybrids used must be sown by 09.11.2019 in the southern region of Brazil, as they produce 60% more, compared to late sowing, for the conditions in which the experiment was carried out.

Keywords: Zea mays L. evert; Yield components; Productivity.

INTRODUÇÃO

Devido ao grão ser duro, possuir coloração clara e capacidade de expandir, quando submetido a temperatura de 180 ºC, torna o milho pipoca (Zea mays L. everta) um tipo de grão especial (da Cruz et al., 2019). No cenário mundial, o Brasil se destaca como segundo maior produtor de milho pipoca, onde o estado do Mato Grosso teve incremento de 11,6% na área cultivada na safra 2018/2019, estimada em 66.986 hectares, segundo dados do Anuário Brasileiro de Milho (Kist et al., 2019). Existe, para os próximos anos, a estimativa de constante crescimento do mercado mundial de milho pipoca, projetado para US$ 15.098 bilhões, até 2023 (Dawande, 2018).

Embora seja o segundo maior produtor, o Brasil importa grande volume de outros países, como os Estados Unidos e Argentina, para suprir a demanda interna (Voroniak, 2017). A região Sul do Brasil tem contribuído cada vez mais para a produção de milho pipoca, devido às condições favoráveis de clima e solo para o desenvolvimento da cultura. Além disso, o valor comercial pago ao produtor rural é até três vezes maior em relação ao milho comum (COTAPEL, 2020; Freire et al., 2020); contribuindo para o maior interesse dos agricultores. Porém, ainda há carência de informações técnicas e recomendações Agronômicas específicas (Oliveira et al., 2019), sobre o posicionamento para híbridos de milho pipoca visando altas produtividades, visto que a maioria dos híbridos cultivados são importados dos Estados Unidos e Argentina.

A época de sementeira é a principal recomendação de manejo para obtenção de lavouras com alto potencial produtivo. A informação da época ideal de sementeira está relacionada ao estádio fenológico em que as plantas se encontrarão nos momentos cruciais de desenvolvimento, principalmente para o aproveitamento das melhores condições climáticas como: distribuição de chuvas, radiação solar e temperatura do ar; determinantes para a produtividade e qualidade do milho pipoca (Voroniak, 2017). Ainda, em função da época de sementeira, os híbridos de milho pipoca podem ficar mais expostos às doenças foliares; cultura mais suscetível em comparação ao milho comum (Faria Junior et al., 2018).

A hipótese que fundamenta este estudo é que existe diferença de adaptabilidade e respostas a época de sementeira de híbridos de milho pipoca, importados dos Estados Unidos, para as condições da região Sul do Brasil. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a época de sementeira de híbridos de milho pipoca e seu impacto sobre os componentes de rendimento e produtividade de grãos.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no ano agrícola 2019/2020, na área experimental da Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Frederico Westphalen, RS (27º 23' 51" S e 53º 35' 19" W, 490 metros de altitude), precipitação média anual de 1.881 mm e temperatura média de 19,1 °C e clima subtropical úmido “Cfa”, segundo a classificação de Köppen.

Na Figura 1, apresentam-se os dados médios diários de temperaturas máxima e mínima e precipitação, oriundos de estação meteorológica Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no campus da UFSM em Frederico Westphalen / RS, além das regas realizadas. Devido aos baixos volumes de precipitação, 68 e 48 mm, ocorridos durante os meses de Agosto e Setembro, respectivamente, realizou-se duas regas por aspersão, com aplicação de 15 mm de lâmina de água cada, a fim de garantir que não houvesse interferência nos resultados por déficit hídrico.

Figura 1 Distribuição da precipitação pluviométrica, regas, temperaturas máxima e mínima diária, durante a condução do trabalho. INMET, Frederico Westphalen, RS, 2019/2020.  

A área experimental é manejada sob Sistema de Plantio Direto consolidado, sendo a aveia preta (Avena strigosa Schreb) cultivada como cobertura de solo, antecedendo a semeadura do milho pipoca. Fez-se a análise química de solo, na camada de 0 a 0,10 m: teor de argila: 640 mg kg-1; pH (H2O): 5,9; P: 3,2 mg dm-3 (Mehlich-1); K: 214,5 mg dm-3; Ca2+: 6,2 cmole dm-3; Mg 2+: 3,4 cmole dm-3; e matéria orgânica: 31 g kg-1 (Tedesco et al., 1995). O solo é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico típico, textura argilosa, profundo e bem drenado (Santos et al., 2018).

Antecedendo a sementeira do experimento, foi realizada a dessecação da cultura de cobertura de solo, com o uso de 4,5 L ha-1 de Glyphosate e de 1,5 L ha-1 de óleo mineral Assist. Para a marcação das linhas de sementeira e distribuição de 260 kg ha-1 de Super Fosfato Triplo (46% de P) no sulco, utilizou-se o conjunto mecanizado trator + semeadora, composta por seis linhas, espaçadas em 0,45 m cada.

Para a análise estatística, foi considerado um experimento bifatorial, em que os fatores foram: quatro épocas de sementeira (21.08, 11.09, 30.09 e 19.10.2019) e seis híbridos de milho pipoca, importados dos Estados Unidos (H1, H2, H3, H4, H5 e H6), em delineamento experimental blocos ao acaso, com quatro repetições, totalizando 96 unidades experimentais (UEs). Cada UE tinha cinco metros de comprimento por 2,25 metros de largura, totalizando 11,25 m2.

Para cada época, fez-se a sementeira manualmente, com duas sementes por cova. Após o estabelecimento das plantas, fez-se o raleio, mantendo a população de 70 mil plantas ha-1, para todas as épocas e híbridos estudados. Logo, após cada sementeira, aplicou-se 250 kg ha-1 de cloreto de potássio (60% de K), a lanço e 67 kg ha-1 de ureia (45% de N), sobre o sulco. Nos estádios fenológicos V4 e V6 aplicou-se 188 kg ha-1 de ureia (45% de N), a lanço, em cada. Quanto ao manejo de plantas daninhas, pragas e doenças, seguiu-se com as recomendações para a cultura do milho, para o estado do Rio Grande do Sul (EMBRAPA, 2017).

Foram determinados os seguintes componentes secundários de produtividade da cultura: o comprimento de espiga, diâmetro de espiga, diâmetro de sabugo, altura de planta (medição da base do colmo até a inserção da última folha) e altura de inserção da espiga principal (da base do colmo até a espiga principal). No momento da colheita, determinou-se: número de fileiras por espiga, número de grãos por fileira, número de grãos por espiga e massa de mil grãos. A colheita das unidades experimentais foi realizada manualmente. Os valores de produtividade de grãos foram corrigidos para a umidade de 13%. Ainda, calculou-se a prolificidade, dividindo-se o número de espigas da área útil de cada UE pelo número de plantas desta mesma área.

Com exceção da produtividade e prolificidade que se utilizou a área total útil da UE, as demais variáveis foram determinadas coletando-se 10 plantas ou 10 espigas. Ainda, cabe salientar que, para avaliação da produtividade, desconsiderou-se as duas linhas laterais e um metro de cada extremidade da UE, definidas como bordadura.

Após, os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e ao teste Scott-knott de comparação de médias, em nível de 5% de significância e realizadas com o auxílio do programa estatístico Sisvar, versão 5.3 (Ferreira, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a variável comprimento de espiga e, na média, para as diferentes épocas de sementeira observa-se que, os híbridos H2, H3 e H6 não diferiram entre si e foram superiores aos demais (Quadro 1). Para os híbridos e, na média, para as diferentes épocas de sementeira, observa-se maior comprimento da espiga para a sementeira dos dias 21.08 e 11.09, diferindo das demais épocas. O menor comprimento de espiga (0,161 m) foi observado para a sementeira do dia 19.10.2019.

Quadro 1 Comprimento de espiga (m) de híbridos de milho pipoca em função das épocas de sementeira, na região Sul do Brasil 

Épocas de sementeira Híbridos de milho pipoca Média
H1 H2 H3 H4 H5 H6
21.08.2019 0,193Ba* 0,196Ba 0,204Aa 0,192Ba 0,191Ba 0,204Aa 0,197a
11.09.2019 0,190Aa 0,194Aa 0,196Aa 0,196Aa 0,188Aa 0,191Ab 0,193a
30.09.2019 0,170Bb 0,173Bb 0,182Ab 0,169Bb 0,164Bb 0,178Ac 0,173b
19.10.2019 0,159Ac 0,170Ab 0,165Ac 0,159Ab 0,157Ab 0,161Ad 0,162c*
Média 0,178B 0,183A 0,187A 0,179B 0,175B 0,184A*
CV (%) 3,75

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

Sementeiras tardias, 30.09 e 19.10, indicam redução do comprimento da espiga. Este resultado corrobora com os obtidos por Beiragi et al. (2011) e Liaqat et al. (2018) onde, ao trabalharem com épocas de sementeira e diferentes híbridos de milho comum afirmam que, o comprimento máximo de espiga é obtido em datas de sementeira precoces. Ainda, segundo os autores, sementeiras tardias coincidem com menor fotoperíodo, alta umidade relativa do ar e temperaturas elevadas, na fase reprodutiva das plantas.

Entre os híbridos de milho, para a primeira época de sementeira, pode-se observar na Quadro 1 que, os híbridos H3 (0,204 m) e H6 (0,204 m) foram os que apresentaram o maior comprimento de espiga, sendo significativamente superior aos demais. Ainda, observa-se que, à medida que a sementeira é realizada mais tardiamente, todos os híbridos apresentaram redução no comprimento de espiga, para as duas últimas épocas de sementeira. Isto pode ser explicado pela ocorrência de temperaturas noturnas mais elevadas, necessitando maior gasto energético, encurtando o ciclo fenológico da cultura, com reflexo na aceleração da fase de formação das espigas (Marques et al., 2015).

Quanto ao diâmetro de espiga, e para a média dos híbridos nas diferentes épocas de sementeira, o H3 foi significativamente superior aos demais, enquanto que o H6 teve o menor diâmetro de espiga (Quadro 2). Já, os resultados para a variável diâmetro de sabugo, vão ao encontro ao que foi observado para o diâmetro da espiga, onde os híbridos com menores diâmetros de espiga também possuem menores diâmetros do sabugo.

Quadro 2 Diâmetro de espiga e diâmetro de sabugo em função de diferentes híbridos de milho pipoca e épocas de sementeira, na região Sul do Brasil 

Épocas de sementeira Híbridos de milho pipoca Média
H1 H2 H3 H4 H5 H6
Diâmetro da espiga - cm
21.08.2019 3,79Aa* 3,50Ca 3,82Aa 3,62Ba 3,66Ba 3,49Ca 3,65a
11.09.2019 3,74Aa 3,50Ba 3,78Aa 3,67Aa 3,70Aa 3,39Ba 3,63a
30.09.2019 3,42Bb 3,24Cb 3,67Ab 3,35Bb 3,42Bb 3,12Cb 3,37b
19.10.2019 3,76Aa 3,57Ca 3,84Aa 3,67Ba 3,65Ba 3,40Da 3,65a*
Média 3,68B 3,45D 3,77A 3,58C 3,61C 3,35E*
CV (%) 2,45
Diâmetro de sabugo - cm
21.08.2019 2,24Aa 2,06Ba 2,25Aa 2,13Ba 2,18Aa 2,12Ba 2,16a
11.09.2019 2,17Aa 2,05Ba 2,21Aa 2,18Aa 2,24Aa 2,00Ba 2,14a
30.09.2019 2,04Ab 1,89Bb 2,07Ab 1,94Bb 1,97Bc 1,89Bb 1,97c
19.10.2019 2,08Bb 2,06Ba 2,28Aa 2,09Ba 2,08Bb 2,04Ba 2,11b*
Média 2,13B 2,01C 2,20A 2,09B 2,12B 2,01C*
CV (%) 3,48

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

Em média, para as quatro épocas de sementeira, há superioridade do diâmetro de sabugo do H3, em relação aos demais, enquanto que os menores diâmetros de sabugo foram observados para os híbridos H6 e H2. As características genéticas de cada híbrido e a época de sementeira influenciam sobre as variáveis comprimento e diâmetro de espiga, que impactam diretamente nos componentes primários da produtividade de grãos, como: número de grãos por fileira e número de fileira de grãos por espiga (Silva, 2018).

Para a variável altura de planta, e na média das diferentes épocas de sementeira, os híbridos H3 e H6 foram significativamente os que apresentaram as alturas mais baixas, sendo a maior altura observada para o híbrido H5 (Quadro 3). Com relação às épocas de sementeira e na média para os diferentes híbridos observa-se que, a menor altura de planta diferiu apenas para a sementeira do dia 21.08, sendo as demais superiores e não diferindo entre si. A menor altura de planta para a primeira época de sementeira, coincide com menores índices de temperatura e radiação solar, retardando o desenvolvimento inicial, prolongando o ciclo e fazendo com que as plantas tenham menor desenvolvimento, durante a fase vegetativa (Voroniak, 2017).

Quadro 3 Altura de planta e altura de inserção da espiga principal em função de diferentes híbridos de milho pipoca e épocas de sementeira, na região Sul do Brasil 

Épocas de sementeira Híbridos de milho pipoca Média
H1 H2 H3 H4 H5 H6
Altura de planta - cm
21.08.2019 192Bb* 202Bb 180Cb 216Ab 223Ab 198Ba 202b
11.09.2019 209Ba 231Aa 185Cb 236Aa 243Aa 188Ca 215a
30.09.2019 201Cb 223Ba 194Ca 231Ba 242Aa 191Ca 214a
19.10.2019 209Ba 225Aa 203Ba 221Ab 233Ab 197Ba 215a*
Média 203C 220B 190D 226B 235A 193D*
CV (%) 3,98
Altura de inserção da espiga principal - cm
21.08.2019 98Bb 121Ab 101Bb 125Ab 129Ab 106Bb 113d
11.09.2019 103Cb 131Ba 92Cc 139Aa 143Aa 99Cc 118c
30.09.2019 111Ca 135Ba 106Cb 138Ba 150Aa 109Cb 125b
19.10.2019 119Ca 138Ba 117Ca 134Ba 148Aa 119Ca 129a*
Média 108C 131B 104C 134B 142A 108C*
CV (%) 5,17

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

Para a altura de inserção da espiga principal, pode-se observar na Quadro 3 que, os híbridos tiveram comportamento semelhante ao observado para a variável altura de planta, com destaque para o híbrido H5 que, na média, para as épocas de sementeira foi significativamente superior em relação aos demais. Resultados semelhantes foram observados para diferentes variedades de milho comum, em estudo realizado por Liaqat et al. (2018) mostrando que, existe diferença entre materiais genéticos para estas características fenológicas.

Plantas com menor altura de inserção de espiga e, consequentemente, altura final de plantas, apresentam menor risco de acamamento ao final do ciclo (Hussain et al., 2010). À medida que se atrasa a sementeira ocorre aumento na altura de inserção da espiga principal e na altura de planta, corroborando com os resultados apresentados por Vieira et al. (2009) e Cabral et al. (2016). Na média, para os diferentes híbridos, a altura de inserção da espiga principal foi de 113, 118, 125 e 129 cm, respectivamente, para a época de sementeira de 21.08, 11.09, 30.09 e 19.10 confirmando que, com o atraso na sementeira ocorre aumento na altura de inserção da espiga principal. Esta informação é importante do ponto de vista da qualidade final dos grãos da pipoca pelo fato de que, as plantas com menor altura de inserção da espiga principal, terão menor probabilidade de acamamento ou tombamento no final do ciclo (Campos, 2020).

Para os componentes de rendimento, e na média para as diferentes épocas de sementeira, pode-se observar no Quadro 4, para a variável número de fileira por espiga que, os híbridos diferem entre si, sendo o maior número de fileiras observado para o híbrido H3, enquanto que o H6 apresentou significativamente o menor número de fileiras. Isto justifica os resultados apresentados na Quadro 2, que apresenta o mesmo comportamento para estes híbridos, relacionando o diâmetro de espiga com o número de fileiras da espiga. Na sementeira realizada tardiamente (19.10), formou-se maior número de fileira por espiga, porém não se refletiu em aumento de produtividade.

Quadro 4 Número de fileiras com grãos, Número de grãos por fileira e Número de grãos por espiga em função de diferentes híbridos de milho pipoca e épocas de sementeira, na região Sul do Brasil 

Épocas de sementeira Híbridos de milho pipoca Média
H1 H2 H3 H4 H5 H6
Número de fileiras por espiga
21.08.2019 16,60Ba* 15,00Cb 17,55Ab 15,20Cb 15,40Ca 15,50Ca 15,87b
11.09.2019 16,62Aa 15,35Cb 17,05Ab 15,90Ba 16,00Ba 14,75Cb 15,94b
30.09.2019 16,52Ba 15,15Cb 17,40Ab 14,75Da 15,45Ca 14,45Db 15,62b
19.10.2019 17,15Ba 16,25Ca 18,45Aa 16,40Ca 15,27Da 15,70Da 16,53a*
Média 16,72B 15,43C 17,61A 15,56C 15,53C 15,10D*
CV (%) 3,27
Número de grãos por fileira
21.08.2019 38,67Ba 39,85Ba 42,67Aa 38,75Ba 38,65Ba 40,22Ba 39,80a
11.09.2019 37,40Ba 38,87Ba 40,80Ab 38,67Ba 37,95Ba 39,60Aa 38,88b
30.09.2019 35,15Bb 36,75Ab 37,77Ac 34,82Bb 35,77Bb 36,62Ab 36,15c
19.10.2019 30,22Bc 32,42Ac 33,85Ad 30,65Bc 30,12Bc 31,65Bc 31,48d*
Média 35,36C 36,97B 38,77A 35,72C 35,62C 37,02B*
CV (%) 3,37
Número de grãos por espiga
21.08.2019 641,72Ba 597,79Ca 748,50Aa 588,96Ca 595,19Ca 623,55Ba 632,62a
11.09.2019 621,21Ba 596,72Ba 696,55Ab 614,94Ba 607,09Ba 584,05Bb 620,09a
30.09.2019 580,87Bb 556,74Bb 657,22Ac 513,69Cb 553,09Bb 528,99Cc 565,10b
19.10.2019 518,52Bc 526,05Bb 624,31Ac 502,27Bb 460,24Cc 496,69Bc 521,34c*
Média 590,58B 569,32C 681,64A 554,96C 553,90C 558,32C*
CV (%) 4,41

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

O número de grãos por fileira, e na média entre os híbridos, também diferiu, onde o híbrido H3 demonstra significativamente ser superior aos demais (Quadro 4). Ao analisar novamente o quadro 1 observa-se que, a variável número de grãos por fileira tem relação direta com comprimento da espiga, ou seja, quanto maior o comprimento da espiga, maior será o número de grãos por fileira.

Na média, para os diferentes híbridos, observa-se redução significativa do número de grãos por fileira, à medida que a sementeira é realizada tardiamente, mesmo comportamento observado para a variável comprimento de espiga (Quadro 1). Já, para o número de grãos por espiga, a maior quantidade foi observada para o híbrido H3. Este híbrido também foi superior aos demais para as variáveis número de fileiras por espiga e número de grãos por fileiras, responsáveis pelo total de grãos produzidos pela espiga.

Embora não haja diferença, o número de grãos por espiga foi maior para as duas primeiras épocas de sementeira. À medida que ocorre atraso na sementeira, observa-se nitidamente redução significativa no número de grãos por espiga (Quadro 4). Sementeiras precoces aumentam o número de grãos por espiga, reduzindo este índice à medida que ocorre atraso da sementeira (Liaqat et al., 2018). Sementeira precoces ocorrem em ambientes com temperaturas amenas, onde as plantas apresentam menor taxa de crescimento e acúmulo de matéria seca até o espigamento, em comparação com sementeiras tardias (Didonet et al., 2002). Ainda, segundo os autores, as temperaturas amenas na fase inicial, em sementeiras precoces, levam ao prolongamento da fase de pendoamento e floração, sendo as plantas mais eficientes em acumular e transportar foto assimilados até a espiga, resultando em maior número de grãos.

Para a massa de mil grãos, e na média das diferentes épocas de sementeiras, os híbridos diferiram significativamente entre si (Quadro 5). Ainda, pode-se observar que, na média, para os diferentes híbridos, a maior massa de mil grãos ocorreu para a sementeira de 21.08. Ao comparar a primeira época de sementeira com as demais, observa-se redução de 7, 11 e 9% sobre a massa de mil grãos para as sementeiras realizadas em 11.09, 30.09 e 19.10, respectivamente.

Quadro 5 Massa de mil grãos e produtividade de grãos em função de diferentes híbridos de milho pipoca e épocas de sementeiras, na região Sul do Brasil 

Épocas de sementeira Híbridos de milho pipoca Média
H1 H2 H3 H4 H5 H6
Massa de mil grãos - gramas
21.08.2019 214,11Aa* 185,98Ca 199,04Ba 205,03Ba 191,84Ca 179,93Ca 195,99a
11.09.2019 205,85Aa 175,22Ba 176,70Bb 185,72Bb 173,80Bb 177,76Ba 182,51b
30.09.2019 178,52Ac 157,33Bb 173,48Ab 184,61Ab 171,73Ab 176,05Aa 173,62c
19.10.2019 193,18Ab 168,89Bb 173,06Bb 187,72Ab 180,79Ab 161,75Bb 177,56c*
Média 197,91A 171,86D 180,57C 190,77B 179,54C 173,87D*
CV (%) 4,46
Produtividade de grãos - kg ha-1
21.08.2019 9938,40Aa 10266,00Aa 8990,40Ba 9900,60Aa 10483,20Aa 8234,40Ba 9635,40a
11.09.2019 8645,40Ab 7777,20Ab 8623,80Aa 8014,20Ab 7753,80Ab 7443,60Aa 8043,00b
30.09.2019 6378,60Ac 5707,80Ac 6942,60Ab 5781,00Ac 6123,00Ac 6486,60Ab 6236,40c
19.10.2019 5399,40Ac 5533,80Ac 5403,60Ac 4611,60Ac 4386,60Ad 4848,60Ac 5031,00d*
Média 7590,60 7312,20 7490,40 7077,00 7186,80 6753,00ns
CV (%) 12,29

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

De maneira geral, todos os híbridos estudados reduziram de forma significativa a massa de mil grãos com o atraso da sementeira. Nestas épocas, a ocorrência de temperaturas diurnas superiores a 25 ºC acarreta na redução do período de enchimento de grãos, que reduzem a eficiência das plantas na translocação de água e nutrientes, para o enchimento dos grãos (Teixeira et al., 2020).

Para a produtividade de grãos não houve diferença entre os híbridos, na média das diferentes épocas de sementeira (Quadro 5). Isso demonstra a estabilidade produtiva e a adaptabilidade destes híbridos ao ambiente. Em estudo com a cultura do milho, identificaram variações significativas para a produtividade de grãos, onde a variedade EV-5098 apresentou 1,7 vezes maior rendimento de grãos, em comparação com a variedade AZC-3 (Hussain et al., 2010). Ainda, segundo os autores, esta informação é importante para o posicionamento correto de híbridos para determinado ambiente de produção, com reflexos positivos no incremento da produtividade de grãos.

Na média, para as diferentes épocas de sementeira, observa-se maior produtividade de grãos para a primeira época de sementeira. No comparativo desta primeira época de sementeira com as demais, houve redução de 16, 35 e 48% na produtividade de grãos para as sementeiras de 11.09, 30.09 e 19.10, respectivamente. Com base nisso, pode-se afirmar que, os híbridos apresentam melhor adaptabilidade às condições climáticas na primeira época de sementeira (21.08), com resposta positiva para a produtividade de grãos.

A maior produtividade de grãos ocorrida para a sementeira realizada precocemente, pode estar associada a ocorrência de baixas temperaturas noturnas durante os estádios reprodutivos e a máxima área foliar exposta à luz, em períodos de maior exposição de radiação solar (Galon et al., 2010). Ainda, segundo os autores, o oposto ocorre com sementeiras tardias, que coincidem com temperaturas noturnas elevadas durante os estádios reprodutivos, aumentando a respiração das plantas com redução na taxa fotossintética líquida, que afeta drasticamente o potencial produtivo da cultura.

CONCLUSÃO

Todos os híbridos de milho pipoca se mostraram adaptados e produtivos para as condições de ambiente, onde o experimento foi conduzido.

Para a sementeira realizada em 21.08.2019 que proporcionou significativamente a maior produtividade de grãos 9635,40 kg ha-1, deve-se utilizar os híbridos H1, H2, H4 e H5 que foram estatisticamente superiores aos demais.

Os híbridos de milho pipoca utilizados devem ser semeados até 11.09.2019 na região Sul do Brasil, pois produzem 60% mais, em relação às sementeiras tardias.

Agradecimentos

A Universidade Federal de Santa Maria, ao Grupo de Pesquisa em Plantas de Lavoura da UFSM/ FW e a Empresa General Mills Brasil: Yoki.

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Recebido: 06 de Setembro de 2021; Aceito: 21 de Outubro de 2021

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