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Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação v.21 n.1 Braga  2008

 

Editorial

Há precisamente dez anos, podia ler-se, no número 11(1), que a Revista Portuguesa de Educação, cumprindo um dos seus principais objectivos — o de "estimular a interacção entre posicionamentos e práticas plurais" — "não se eximirá a interrogar políticas e práticas, dando voz e cruzando diferentes perspectivas..." (Rui V. de Castro, Editorial). Com os textos que este número 21(1) acolhe, esta missão da Revista continua a poder cumprir-se. Vantagens, também, da heterogeneidade. Mas neste número, cujos textos têm inscrições disciplinares distintas e concretizam modos diversos de estudar e reflectir sobre a Educação e a Escola, em particular, esta heterogeneidade impõe-nos — independentemente das nossas distintas e especializadas esferas de inserção académica e/ou profissional — o estabelecimento desses diálogos, desse ‘cruzamento de vozes e perspectivas’, atitudes sem as quais será mais difícil compreender as acções sociais e individuais que tecem os fenómenos educacionais, hoje.

Uma grande parte do público leitor da Revista Portuguesa de Educação é constituída, sabemo-lo, por alunos e alunas de programas nacionais e internacionais de pós-graduação, de cujos estudos resultará uma parte significativa do saber sobre e para a prática social que é a Educação. A esses estudantes dedicamos este número, esperando que constitua incentivo para que nele procurem, não o artigo que cirurgicamente possa servir os seus objectos e objectivos académicos imediatos, mas, tomando-o como um macrotexto, procurem os significados que, integrados, sejam susceptíveis de dar também sentido social às suas pesquisas. Sentidos que possam, nas palavras de Teresa Esteban, em texto com que abrimos a Revista, "ajudar a uma reflexão profunda sobre a escola, capaz de indagar em que medida é necessário transformar os seus fundamentos para aprofundar os processos de democratização".

Para além do texto de Teresa Esteban, pelo qual a Autora problematiza os diversos sentidos sociais por detrás do discurso hegemónico sobre insucesso e qualidade, defendendo a necessidade de olhar a escola no seu quotidiano, como forma de ultrapassar as visões redutoras da natureza dos saberes aí construídos, veiculadas pelos estudos internacionais e exames nacionais, o texto de Geraldo Barroso pauta-se pelo mesmo princípio da problematização de discursos e significados. Neste caso, os que se atribuem à permanente "crise" da escola pública. Entendendo esta ‘crise’ como "uma construção, uma produção de olhares [que] elegem […] ‘alvos’ que expressam desejos e intenções", o Autor discute os vários "impasses com que os sistemas públicos de ensino se defrontam", para concluir que cabe a todos o compromisso […] com a crítica, com a denúncia, com o inconformismo diante das repetidas ‘soluções internas’ à escola que se recusam a pôr em discussão as muitas e diferentes determinações que a envolvem".

Alguns dos impasses discutidos naquele segundo texto, nomeadamente os resultantes da massificação da escola e do seu confronto com todo o tipo de diversidades — "culturais, sociais, políticas e ideológicas" —, são o ponto de partida do texto de Leonor Lima Torres. Reflectindo sobre a escola como "entreposto cultural" e questionando o papel que desempenham, na "construção da autonomia e da escola democrática", os diversos "inputs culturais e políticos", o texto contribui para esclarecer, nas palavras da Autora, "a relevância das dimensões culturais e simbólicas da organização escolar no desenvolvimento de processos de inovação e mudança e na exploração de (possíveis) vínculos de assessoria educativa".

No quarto texto, a equipa constituída por Lemos, Almeida, Guisande e Primi apresenta um estudo sobre a relação, e o modo como ela evolui, entre "habilidades cognitivas" e o "rendimento escolar" de 4899 estudantes portugueses, do 5º ao 12º ano de escolaridade. A diminuição progressiva dos coeficientes de correlação, leva os Autores a apontar para a importância de "variáveis não estritamente cognitivas e para variáveis próprias dos contextos de ensino-aprendizagem na explicação do rendimento escolar".

Por fim, Clara Coutinho, visando contribuir para a caracterização da história da Tecnologia Educativa, sistematiza a investigação produzida, no quadro das Teorias Cognitivas, sobre o potencial educativo das tecnologias da informação e comunicação. Neste sentido, o texto percorre as problemáticas investigadas, os referenciais e metodologias adoptados nos estudos realizados.

Como de costume, o número encerra com as secções de divulgação de Teses e Projectos de Investigação desenvolvidos no CIEd, de Notícias e de Publicações recebidas pela RPE no contexto da política de permutas que praticamos.

Com esta apresentação, convidamos os leitores e as leitoras a uma leitura que seja tão útil individual quanto colectivamente.

 

Maria de Lourdes Dionísio