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Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação vol.25 no.2 Braga  2012

 

Editorial

 

Maria de Lourdes Dionísio, Fátima Antunes

 

Com este número fecha-se um ciclo de 25 anos de um projeto editorial que, apesar de todas os desafios impostos pelas novas formas de edição académica, se manteve fiel à sua missão e objetivos iniciais, difundindo conhecimento em educação original e atual, participando no desenvolvimento de redes científicas nacionais e internacionais, fortalecendo a comunidade científica de referência e, sobretudo, dando voz a novos Autores, como este número que agora se edita bem exemplifica.

Nos nove anos da direção que agora acaba o seu longo mandato, a revista foi vendo o seu raio de influência alargado, reforçando o seu estatuto de periódico verdadeiramente internacional, não exclusivamente do mundo lusófono: se aos leitores chegaram apenas alguns textos em espanhol e em inglês, por exemplo, muitos outros nos foram e continuam a ser submetidos. Com efeito, fez-se da RPE um instrumento reconhecido e credível da construção do campo e da comunidade de Ciências da Educação a caminho de se inscrever em múltiplas geografias e escalas: institucional, nacional, europeu e pluricontinental. Este esforço de afirmação foi prosseguido num terreno e numa época em que não raro as políticas científicas e as regras de criação, comunicação e valorização da ciência iam sendo definidas no próprio momento em que as opções deveriam ter lugar ou ser apreciadas as consequências dessas opções. Mesmo num tempo de incerteza, procurou-se nortear a Revista para fortalecer uma comunidade identitariamente diversa: nos paradigmas, nas teorias, nas metodologias, nas temáticas, nas línguas e nas geografias em que cria, comunica e valoriza o conhecimento científico em educação.

E apesar da pressão que tal objetivo colocava, a Revista foi conseguindo estabilizar a regularidade da sua publicação, cumprindo sempre escrupulosamente a política editorial que se impôs e lhe era exigida pelas diversas bases de dados em que ia sendo indexada: Latindex, Redalyc, DOAJ, SciELO. Também por isto ela é agora uma das apenas seis revistas da SciELO de Portugal que, nas várias avaliações internacionais a que esta plataforma tem sido submetida, tem conseguido manter um estatuto capaz de a levar proximamente às indexações mais valorizadas pelas agências de avaliação da produção científica.

Por isso, embora de um projeto editorial nunca se possa dizer que está cumprido, é mesmo assim com um sentimento de missão cumprida que damos à estampa este último número de 2012, um número que, pelos doze textos que publica, é verdadeiramente excecional.

O primeiro texto, de Mônica Jinzenji, A. M. Galvão e Simone Silva, produzido no âmbito de uma investigação sobre representações da infância de um grupo de mulheres brasileiras de origem rural, conclui, como neste espaço de subjetividade que é a memória, a infância não existiu para aquelas mulheres porque associada a "riqueza" e "atualidade". Nestas memórias o trabalho é uma categoria central e a educação ganha visibilidade em espaços de "socialização não escolares" o que leva as Autoras à defesa da inclusão destas instâncias "no estudo dos processos educativos do passado".

O segundo texto, de Mariana Gaio Alves e Teresa Varela, discute as relações entre escola e comunidade educativa. Os dados de um estudo exploratório sobre o que "as escolas entendem por relação com a comunidade", "como a praticam" e "que articulações existem entre a cultura organizacional e o tipo de relação com a comunidade educativa" evidenciam não só o valor dado pelas escolas a esta relação com a comunidade, mas também a atuação da Direção das escolas, os pais e encarregados de educação como principais atores. Mesmo assim, concluem as Autoras, "adivinha-se [nessa relação] a existência de significativas dificuldades e obstáculos nessas dinâmicas".

Em Práxis educativa: tempo, pensamento e sociedade, Wilson Correia e Iolanda Carvalho defendem, numa atitude crítica, "alimentada pela inconformidade", uma abordagem da práxis educativa pensada "em termos de uma conceção teórica e prática que valorize uma pedagogia relacional, interacional e vinculadora de seres humanos". Neste quadro, os professores e as professoras são sujeitos que, a par da descrição do que é o mundo e a sociedade, são também capazes de afirmar como estes não devem ser.

Helena Quintas e José Alberto Gonçalves, no quarto texto, caracterizam a liderança das escolas e agrupamentos de escolas de três regiões portuguesas. Com o objetivo de "compreender de que modo as organizações educativas põem em prática a sua visão de escola", os Autores recorreram à análise de conteúdo dos relatórios de avaliação externa produzidos pelas equipas da Inspeção-Geral da Educação. Entre as conclusões destaca-se o facto de "a dimensão estratégica da implementação da visão da escola [estar] praticamente ausente do conteúdo dos relatórios", permitindo "inferir um certo sentido de gestão mais processual do que verdadeiramente prospetivo e mais reativo do que ativo".

O quinto texto da autoria de Dirléia Sarmento, Paulo Fossatti e Fernando Gonçalves discute processos de construção dos saberes docentes de professores que participam num programa de formação contínua no Brasil. Este programa constitui-se, segundo os Autores, como uma "proposta inovadora" de "reflexão-investigação-ação" com capacidade para transformar a pedagogia dirigida às crianças e "problematizar as concepções de criança e infância".

Maria Hermínia Laffin, por meio da análise de um processo de escolarização e "letramento" com adultos idosos, reflete sobre os significados negativos associados a "analfabeto" e, por extensão, a "alfabetização". A contrapor, conceptualiza a condição de ser letrado na sua dimensão social, demonstrando como os adultos idosos, na aprendizagem significativa da leitura e da escrita, vão representando uma relação de pertença com o mundo letrado.

O sétimo texto, de Preciosa Silva, Ana Maria Morais e Isabel Pestana Neves, toma como objeto de análise vários documentos reguladores do Ensino de Ciências no 1º ciclo do Ensino Básico. A análise, sustentada na teoria do discurso pedagógico de Basil Bernstein, sobre o que se ensina e sobre a forma como se ensina, dá conta das diferenças nas mensagens desses documentos. Tais diferenças, segundo as Autoras, podem influir negativamente tanto nas práticas dos professores como na concepção dos manuais escolares.

No âmbito da "comunidade disciplinar" de História, Ana de Oliveira visa compreender, por meio "da análise de textos e discursos", as políticas curriculares que, no Brasil, "hegemonizaram a disciplina de Estudos Sociais". Com este objetivo, a Autora articula os contributos da História das Disciplinas Escolares e do Ciclo de Políticas com a Teoria do Discurso. Detendo-se também sobre o caso português, são igualmente analisados os textos produzidos à volta da legislação reguladora da habilitação profissional para a docência de História e Geografia, afirmando-se, no final, uma "ampliação da perda do status da disciplina de História em Portugal".

No mesmo campo dos estudos curriculares, Filipa Seabra traça, a partir de um estudo de caso numa Região Autónoma de Portugal, a situação do ensino da Expressão Musical e Dramática, particularmente no 1º Ciclo, mas também referindo a Educação Artística do 2º Ciclo. O percurso pelo contexto, sujeitos, conteúdos e processos de desenvolvimento curricular permitiu à Autora "descrever um projeto com potencialidades e fragilidades ao nível curricular".

Lourdes Frison apresenta um estudo sobre tutoria entre estudantes de um curso de ensino superior, no Brasil. A avaliação da estratégia possibilita concluir que a tutoria proporcionou a autorregulação das aprendizagens e estimulou o desempenho cognitivo, a autoestima e a autoimagem dos estudantes. A estratégia aproxima professor e alunos e, segundo estes, as aprendizagens são mais significativas. Face aos dados coligidos, defende-se o uso da estratégia como "modo de romper com a lógica do professor como único depositário do saber".

No texto Os recursos educativos e a utilizaçãoo das TIC no Ensino Secundário na Matemática, Maria Carmen Ricoy e Maria João Couto apresentam um estudo de caso no âmbito da reflexão sobre formas alternativas de ensinar e aprender, no que aos recursos utilizados para a realização das atividades diz respeito. No estudo estão igualmente envolvidas as motivações e percepções dos alunos quanto ao uso das tecnologias de informação e comunicação no ensino da Matemática. Entre as principais conclusões destaca-se que o recurso mais utilizado continua a ser o manual escolar. Recursos tecnológicos "quase não são mencionados".

No último texto, Claudia Bisol e Carla Valentini entrecruzam "o uso de tecnologias digitais na educação e a inclusão", ao discutir o processo de construção de um objeto digital de aprendizagem, intitulado Incluir. Inicialmente desenvolvido para a promoção da inclusão de estudantes surdos, o objeto construído concilia tecnologia e pedagogia e visa dar corpo a uma "metodologia reflexiva e problematizadora, de base interacionista".

O volume inclui ainda a recensão da obra de Miguel Santos Rego e Mar Lorenzo Moledo, intitulada Estudios de pedagogia intercultural, Campinas, Barcelona: Octaedro, 2012, da responsabilidade de Manuel Barbosa.

Segue-se a listagem das publicações recebidas no âmbito das permutas que a Revista Portuguesa de Educação tem estabelecidas.

O número encerra com a lista de avaliadores que com a Revista colaboraram na emissão de pareceres nos dois últimos anos. Como é costume, esta lista pretende-se expressão do nosso agradecimento público pelo espírito de missão académica demonstrado por este vasto grupo de especialistas. Sem o seu empenhamento, a Revista dificilmente teria conseguido manter o estatuto cedo alcançado entre a comunidade académica.

Alargamos o nosso agradecimento aos membros do Comité Editorial José António Moreno Afonso, Maria Alfredo Moreira, Maria Fernanda Martins e Maria João Gomes pelo esforço desinteressado com que sempre desempenharam as tarefas editoriais.

Como é costume, também, em momento de passagem de testemunho, queremos expressar os nossos sinceros agradecimentos às secretárias Ana Rita Guimarães e Sandra Rodrigues e ao técnico João Gonçalves pela disponibilidade e gestão eficiente deste projeto.