SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.27 número2Pedagogia universitária: Valorizando o ensino e a docência na universidade índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação vol.27 no.2 Braga jun. 2014

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Maria Alfredo Moreira e Maria José Casa-Nova

 

O segundo número de 2014 da Revista Portuguesa de Educação (RPE) marca mais um momento de transição da revista, com uma nova equipa que assume a responsabilidade pela sua condução. Vinte e seis anos depois da sua fundação, a nova equipa tem por objetivo consolidar e alargar o projeto editorial existente, pela continuidade que é dada à política editorial, e pelo reforço da internacionalização. É por nós reconhecido o investimento que as direções anteriores, em particular a última, têm vindo a fazer, e que levou ao posicionamento atual da RPE como revista de referência incontornável no panorama editorial internacional no campo da educação. Esta presença reconhecida da RPE visibiliza-se na sua integração em catálogos e indexação em bases de dados internacionais, bem como no reconhecimento da sua qualidade em sistemas internacionais de avaliação de revistas científicas.

Com este novo mandato, a RPE consolida esta dimensão internacional, pelo alargamento do seu Conselho Editorial a outros países, dos quais destacamos os países africanos de expressão portuguesa. Assumimos o compromisso de dar continuidade à política editorial já traçada e consolidada, tendo como objetivo primordial agilizar o processo de revisão por pares, sem, contudo, comprometer a qualidade a que nos habituamos. Para tal, o contributo dos especialistas tem sido fundamental. A eles e elas somos gratas pela generosidade da colaboração. A lista dos seus nomes, reportada aos anos de 2013 e 2014, é apresentada no final do número.

Relativamente aos textos inclusos, este número da RPE abre com um texto de Maria Isabel de Almeida e Selma Garrido Pimenta, subordinado ao tema: "Pedagogia universitária – Valorizando o ensino e a docência na universidade". O objetivo do estudo é problematizar como é formado o professor universitário para dar resposta a duas das dimensões mais importantes da sua profissão: produzir conhecimento científico e transmitir/problematizar o conhecimento através do ato de ensinar. Considerando que o ato de ensinar é subvalorizado na formação destes profissionais, as autoras procuram contribuir para o incremento de políticas institucionais de formação contínua através da análise da política de valorização e formação de docentes que implementaram na Universidade de São Paulo. Essas políticas visavam tornar sistemáticas práticas de formação pedagógica, procurando construir um novo modelo de formação universitária que valorize igualmente as atividades de investigação e de ensino, envolvendo os alunos neste processo. As autoras refletem sobre o significado e a importância da formação pedagógica dos docentes do ensino superior, perspectivando-a como a chave para um ensino que possibilita, num "contexto de crise da universidade contemporânea" e da sua abertura a uma pluralidade de públicos que apresentam perfis diversificados e desafiadores das práticas docentes, a formação de alunos autónomos, reflexivos e críticos.

O texto seguinte, da autoria de Helena Quintas, Teresa Gonçalves, C. Miguel Ribeiro, Rute Monteiro, António Fragoso, Joana Bago, Lucília Santos e Henrique Fonseca, intitulado "Estudantes adultos no Ensino Superior: o que os motiva e o que os desafia no regresso à vida académica", reflete sobre as motivações de estudantes que ingressam na Universidade pelo contingente dos "maiores de 23 anos", incidindo nos alunos entre os 45 e os 60 anos. Através de entrevistas biográficas, os/as autores/as desvelam o quotidiano estudantil deste novo público do ensino superior, cujas motivações para retornarem "à escola" se apresentam claramente diferenciadoras das motivações dos alunos que realizaram um percurso escolar continuado. Encontrando-se numa fase da vida pessoal e profissional que os distingue da maioria do público universitário, as razões subjacentes a esta tomada de decisão prendem-se com a procura de conhecimento, com a possibilidade de frequentar um curso que corresponda a interesses pessoais ou o completar de um percurso que sentem ter sido interrompido, apresentando-se, por isso, inacabado. No entanto, este "voltar à escola" num momento em que desempenham vários papéis sociais não é isento de vulnerabilidades que procuram ultrapassar pela maior maturidade, pelo esforço acrescido e continuado, pela vontade de vencer. O reconhecimento familiar e a satisfação que o sucesso proporciona, nomeadamente aos progenitores, aparece realçado por estes estudantes, para quem a frequência do Ensino Superior transformou a sua forma de estar, contribuindo para perspetivar de forma crítica as diversas esferas do mundo social.

O terceiro texto, da autoria de Susana Meirinho e Cecília Galvão, com o título "Processo de supervisão em jardim de infância. Um olhar narrativo em prol do desenvolvimento profissional", confere à reflexão narrativa um papel central na promoção da qualidade educativa e supervisiva. O objetivo do estudo é descrever e compreender práticas educativas no âmbito de aprendizagens em ciências, num contexto de supervisão em jardim de infância, outorgando um lugar central aos processos de escuta dos significados atribuídos pelas crianças e educadoras às atividades neste domínio. Com o contar histórias, as educadoras relembram, analisam e incorporam a reflexão das suas experiências educativas nas suas práticas. Nestas histórias, as educadoras evidenciam a supervisão como um processo que beneficia as educadoras na melhoria da prática pedagógica, mas também as crianças. O processo de reflexão que promovem permite-lhes compreender e atribuir sentido à ação pedagógica, validando os seus saberes e competência profissional, mas também aperfeiçoar as suas práticas. Os resultados revelam que a narrativa desvenda o processo de colaboração vivido e, ao mesmo tempo, permite às educadoras dar-se conta de como este processo é importante para o seu desenvolvimento profissional.

O quarto texto, da autoria de Eulália Neto, intitulado "Os projetos de trabalho: Uma experiência integradora na formação inicial de professores", tem como objetivo perceber de que modo experiências interdisciplinares baseadas na construção de um projeto podem contribuir para a integração curricular e o desenvolvimento de atitudes de pesquisa e de colaboração nos cursos de formação inicial de professores. Partindo do pressuposto de que estes cursos devem favorecer a formação integral do aluno, abrindo o currículo aos saberes construídos dentro e fora dos espaços académicos, através de trabalhos colaborativos, integrados e interdisciplinares, que possibilitem a construção de um saber profissional holístico e contextual, a autora discute o contributo dos projetos de trabalho para este processo. Os resultados evidenciam o papel do projeto integrador como um procedimento teórico e metodológico que viabiliza a interdisciplinaridade e integração de saberes teóricos e práticos pois, ao trabalharem com projetos, professores e alunos desenvolvem um currículo como práxis emancipadora, na medida em que os "conteúdos são construídos no ‘chão’ da escola" e não apenas nas cadeiras da academia.

O quinto texto, da autoria de João Piedade e Neuza Pedro, tem o título "Tecnologias digitais na gestão escolar: Práticas, proficiência e necessidades de formação dos diretores escolares em Portugal". No texto, o autor e a autora exploram o domínio e uso das tecnologias digitais nas práticas dos diretores de escolas públicas portuguesas e toma como objeto de estudo as crenças e perceções acerca das práticas dos diretores escolares na utilização das tecnologias digitais. Estes são vistos como atores frequentemente pouco envolvidos neste processo, não obstante sofrerem uma crescente pressão no que diz respeito à integração das tecnologias, esperando-se que assumam uma "liderança tecnológica". Evidenciando que os programas de estímulo à modernização em contexto escolar, definidos a nível nacional, não contemplam ações específicas dirigidas a diretores escolares, o autor e a autora levam a cabo um estudo de natureza quantitativa, procurando analisar o sentido de autoeficácia no uso das tecnologias evidenciado por estes atores e o grau de utilização das tecnologias digitais nas práticas de gestão escolar referido pelos mesmos. Os resultados do estudo revelam um sentido de autoeficácia favorável na utilização das tecnologias digitais e um forte índice de utilização no apoio à gestão escolar. Os fatores que parecem ter um impacto mais significativo na incorporação das tecnologias nas escolas são a existência de professores inovadores, a valorização do trabalho dos professores e a disponibilização de mais software específico para as várias disciplinas.

Por fim, o texto "Prevenção do consumo de álcool em manuais escolares de Ciências Naturais portugueses", da autoria de Augusta Dias e José Precioso, aborda o problema do alcoolismo entre os jovens em idade escolar, analisando o modo como os manuais escolares, da disciplina de Ciências Naturais, promovem a Educação para a Saúde e, particularmente, a educação sobre o álcool e outras drogas. As medidas de educação para a saúde dos jovens em idade escolar incluem, em Portugal, a educação alimentar, a educação sexual e a educação para a prevenção de situações de risco pessoal, que abarcam a prevenção do consumo de drogas e do álcool. Sendo os manuais escolares o principal material didático utilizado pelos professores em contexto de sala de aula, o estudo desenvolvido visou analisar as propostas de abordagem da temática da prevenção do consumo de álcool apresentadas pelos manuais escolares de Ciências Naturais do 9º ano. Os resultados revelam que a maioria dos manuais apenas desenvolve estratégias preventivas de natureza informativa, não desenvolve os tópicos relacionados com a prevenção do alcoolismo com a profundidade que seria desejável e não promove as competências necessárias ao combate a este problema.

Assim, e tal como se evidencia pela diversidade de temáticas educacionais abordadas nos artigos, este número volta a fazer notar a pluralidade e abrangência do campo, ao discutir propostas de educação/formação em todos os níveis de escolaridade, desde a educação de infância ao ensino supervisor, passando pela formação inicial de educadores e professores e chegando à pedagogia no ensino superior. Evidencia ainda a diversidade metodológica da investigação em educação, ao incluir textos cujas pesquisas foram realizadas com recurso a técnicas de recolha de dados que se inserem nas metodologias qualitativas e quantitativas, abarcando desde o inquérito por questionário à análise narrativa. Esta é, sem dúvida, uma das riquezas do campo.

Esta riqueza será mantida e alimentada. Continuaremos a pugnar por uma revista aberta à pluralidade de perspetivas teóricas e metodológicas, sem perder o rigor e credibilidade arduamente conseguidos por quem nos antecedeu. Às equipas que nos precederam, órgãos da revista, mas também equipa técnica, a nova direção deixa um registo de agradecimento e apreço pelo trabalho realizado e pela abertura de um caminho largo, que muito facilita o andar de quem agora nele caminha.