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Revista Portuguesa de Educação
Print version ISSN 0871-9187
Rev. Port. de Educação vol.32 no.2 Braga Dec. 2019
https://doi.org/10.21814/rpe.19109
EDITORIAL
Editorial
Íris Susana Pires Pereira
https://orcid.org/0000-0003-0647-2319
Maria Helena Martinho
https://orcid.org/0000-0001-5697-1568
O presente número da Revista Portuguesa de Educação constitui o primeiro volume editado pela atual equipa editorial. Nessa medida, a nossa primeira palavra é de agradecimento à equipa cessante pelo trabalho realizado e pela oportunidade concedida de poder dar continuidade a um projeto tão desafiante e estimulante durante o próximo biénio.
A nossa segunda palavra dirige-se aos nossos leitores, perante quem julgamos necessário asseverar o nosso comprometimento com o processo que agora está sob nossa responsabilidade. Conscientes da relevância e do prestígio que a Revista Portuguesa de Educação alcançou a nível nacional e internacional, reiteramos aqui o nosso compromisso com a manutenção da linha editorial que edificou este estatuto, procurando reforçar a identidade da revista e zelando pela manutenção dos padrões de qualidade científica que a regem, reconhecidos e aferidos pela sua indexação em bases de dados internacionais prestigiadas. Este volume marca o nosso primeiro contributo para a consecução deste desígnio.
O volume reúne onze artigos de investigadores de nacionalidade portuguesa, brasileira e espanhola, que aqui dão a conhecer os resultados de estudos incidentes em assuntos situados em diferentes dimensões que configuram um mesmo e complexo objeto de investigação, que é a educação. Nessa medida, este número evidencia, uma vez mais, a multiplicidade que tem definido o contributo da RPE para a construção das ciências da educação.
O maior número de artigos deste volume apresenta investigações que tomam os professores como seu objeto de inquirição, sendo dois dos estudos sobre docentes em início e em fim de carreira e quatro sobre processos de formação e desenvolvimento profissional.
No artigo intitulado “A inserção profissional de um egresso do PIBID: o caso de uma professora de matemática”, Fernanda Lahtermaher Oliveira e Giseli Barreto da Cruz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil), estudam a inserção profissional de uma professora que participara no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). As autoras desenvolveram um estudo de caso etnográfico para compreender as experiências, a formação e as expectativas dessa professora com base em dados provenientes da observação participante e de entrevistas em profundidade. Os principais resultados obtidos mostram que a participação da professora no PIBID contribuiu para o seu conhecimento sobre o contexto profissional, muito embora relevem que a docente continuou a revelar uma atitude de isolamento bem assim como uma crença epistemológica no ensino transmissivo.
O artigo “Satisfação profissional dos professores em pré-reforma”, da autoria de Sheila Catherine Oliveira Furtado e Teresa Medeiros, ambas da Universidade dos Açores (Portugal), apresenta um estudo sobre a satisfação de professores da Região Autónoma dos Açores em situação de pré-reforma. As investigadoras recolheram dados através de questionários tendo em vista estudar variáveis sociodemográficas, a satisfação profissional e a preparação para a reforma dos participantes. As principais conclusões do estudo revelam a não preparação da reforma pelos docentes e pelas escolas assim como a relativa satisfação dos docentes com a sua profissão, que varia com a idade numa relação de proporcionalidade direta.
No texto intitulado “Conhecimento de estatística bivariada de futuros professores portugueses dos primeiros anos”, José António Fernandes, María M. Gea e Paulo Ferreira Correia, respetivamente da Universidade do Minho (Portugal), da Universidade de Granada (Espanha) e da Escola Secundária de Barcelos (Portugal), analisam o conhecimento estatístico de uma amostra de futuros professores. Para tal, foi analisada resolução uma tarefa envolvendo uma distribuição bidimensional, mais concretamente a sua representação gráfica, a correlação linear e a regressão linear. Os principais resultados obtidos mostram que os futuros professores dos primeiros anos foram mais bem-sucedidos na representação gráfica, enquanto na correlação linear cerca de metade ou mais responderam corretamente e, finalmente, na regressão linear tiveram muitas dificuldades.
No artigo “Educar para el cambio y la sostenibilidad: Evaluación de una propuesta de aprendizaje experiencial para formar al profesorado en formación inicial”, Mercedes Varela-Losada, Azucena Arias-Correa e Mercedes Varela-Losada & Azucena Arias-Correa, da Universidad de Vigo, com Pedro Vega-Marcote, da Universidad de La Coruña (Espanha), apresentam uma proposta educativa de formação inicial de professores para a promoção da sustentabilidade. A proposta baseia-se na experimentação e análise de um ciclo de aprendizagem em torno do problema socio-ambiental da mudança climática. Os resultados mostraram que essa prática pode contribuir para melhorar o compromisso dos futuros professores com uma educação ambiental simultaneamente promotora da sustentabilidade e crítica do atual modelo de desenvolvimento.
Ricard Ramon e Amparo Alonso-Sanz, ambos da Universitàt de Valencia (Espanha), apresentam, no artigo intitulado “A deriva paralela pedagógica. Um fio educativo invisível entre o Porto e Paris através de narrativas pessoais”, um estudo centrado na exploração das potencialidades da prática artística da deriva na formação inicial de professores. O estudo envolveu a A/R/Tografia como método de investigação, sendo os resultados apresentados através de narrativas pessoais que mostram reflexões sobre o processo de compreensão partilhada, em torno das cidades do Porto e de Paris. Os autores identificaram os requisitos da ‘deriva paralela pedagógica’, enfatizando as implicações positivas dos valores promovidos por essa prática em processos de internacionalização na educação.
Gabriela Bento e Gabriela Portugal, ambas da Universidade de Aveiro (Portugal), apresentam, no artigo, “Uma reflexão sobre um processo de transformação de práticas pedagógicas nos espaços exteriores em contextos de educação de infância”, o estudo de uma formação de educadores de infância destinada a promover a transformação de práticas de desinvestimento e de desvalorização de espaços exteriores. O estudo identificou dimensões com potencial influência na concretização e na sustentabilidade da desejada mudança, apontando também para a necessidade da transformação da imagem de criança e do desenvolvimento de atitude crítica, avaliativa e reflexiva por parte do educador de modo a melhorar a prática do brincar ao ar livre.
Os seguintes três artigos apresentam estudos sobre multiculturalismo, bullying e estilos de aprendizagem, tomando os alunos de diferentes níveis educativos como objeto da investigação.
O artigo “Predicción de las variables familiares que interfieren en el progreso académico en contextos multiculturales”, de Francisco Mateos Claros e Francisco Javier Olmedo Ruiz, da Universidad de Granada, Espanha, e Macarena Esteban Ibáñez e Luis Vicente Amador Muñoz, da Universidad Pablo de Olavide (Espanha), analisa os principais fatores culturais e familiares que condicionam a aprendizagem na infância em contextos multiculturais. Os autores usaram uma amostra de quase mil sujeitos, entre crianças em idade pré-escolar e pais, sendo as crianças avaliadas pelo desempenho académico nas áreas de linguagem, e os pais através de um questionário. A análise estatística indicou a existência de diferenças no desempenho linguístico das crianças quando a língua materna difere da oficial, tendo permitido concluir da existência de uma relação direta dos contrastes negativos com a dinâmica familiar definida pela religião professada.
O estudo apresentado por Ana Carina Stelko Pereira, da Universidade Federal do Paraná, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, da Universidade Federal de São Carlos, Brasil, Rodolfo Augusto Matteo Ambiel e Pedro Afonso Cortez, da Universidade São Francisco ( Brasil), intitulado “Evidências de validade para a Escala de Vitimização entre Alunos (EVA)”, avalia a validade da estrutura e consistência interna da referida escala. Para tal, os investigadores analisaram respostas à EVA de quase 1500 alunos de escolas públicas de diferentes cidades de quatro estados do Brasil, tendo concluído da existência de dois fatores medidos pela escala. Apresentam também os resultados da sua aplicação posterior, que correlacionaram com os resultados da aplicação da Escala de Stress Infantil, concluindo que a EVA é uma alternativa promissora para a avaliação do bullying.
No artigo, intitulado “Estilos intelectuais, estratégias de aprendizagem e adaptação acadêmica no ensino superior brasileiro”, Katya Luciane de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina, Amanda Lays Monteiro Inácio, da Universidade São Francisco, Aline Oliveira Gomes da Silva, Maria Luzia Silva Mariano e Sandra Aparecida Pires Franco, também da Universidade Estadual de Londrina (Brasil), apresentam um estudo dos estilos intelectuais, das estratégias de aprendizagem e da adaptação académica dos alunos do ensino superior. O estudo envolveu a análise de respostas a diferentes questionários. Os resultados indicaram a prevalência do estilo hierárquico, das estratégias de autorregulação social assim como a adaptação dos estudantes ao planeamento de carreira, apontando também a existência de correlações positivas e significativas e de dependência entre estes fatores.
O artigo seguinte apresenta um estudo que toma programas e manuais escolares de Português como objeto de análise, versando por isso sobre dimensões estruturantes das práticas pedagógicas.
No artigo, intitulado “A síntese como género escolar transdisciplinar”, Noémia Jorge, do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa e da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (Portugal) caracteriza teoricamente a síntese como género textual e apresenta os resultados de uma análise qualitativa da didatização desse género textual presente nos programas curriculares de Português e em manuais escolares do ensino secundário. A sua análise mostra os limites da transposição didática desse género, para a superação dos quais a autora sugere propostas assentes em três pilares: observação/análise de textos autênticos, produção textual regulada e reflexão metalinguística.
O último artigo deste volume apresenta uma investigação que toma uma componente da administração escolar como objeto de estudo.
Com efeito, o artigo, intitulado “A Intervenção da Inspeção na Avaliação Externa das Escolas: um estudo com base nas perceções de diretores de escolas”, de Arlete Nogueira, Manuela Gonçalves e Jorge Adelino Costa, da Universidade de Aveiro (Portugal), estuda as perceções dos diretores de escolas públicas portuguesas sobre o papel da Inspeção no processo de ‘avaliação externa das escolas’. Com uma natureza descritiva, o estudo apoiou-se na aplicação de um inquérito por questionário, respondido por mais de uma centena de diretores do território de Portugal Continental. Os resultados evidenciam que a avaliação externa das escolas é uma atividade inspetiva valorizada por estes sujeitos, percecionada de forma alinhada com a missão e funções da inspeção da educação no sistema educativo e com os objetivos consignados na lei, além de oportunidade de afirmação da figura do diretor, de acreditação da sua liderança no exercício da sua autonomia.
O texto que fecha este volume é uma recensão crítica de um livro que retoma a temática da formação de professores.
Intitulado Melhorar práticas de ensino de ciências e tecnologia registar e investigar com narrações multimodais, editado por J. Bernardino Lopes, Clara Viegas e Alexandre Pinto em 2018 e publicado pelas Edições Sílabo, o livro é apresentado e analisado por Ana Peixoto, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (Portugal). A autora destaca a exploração das narrativas multimodais como instrumentos de promoção das diferentes formas de reflexão profissional implicada no desenvolvimento profissional de professores como uma das ideias-chave da obra.