É com grande satisfação que anunciamos a publicação do primeiro número do volume 35 da Revista Portuguesa de Educação, relativo ao ano de 2022. Este número é constituído por 23 artigos, dos quais 19 são artigos regulares e quatro integram um Núcleo Temático. Nele participam 67 autores de várias áreas científicas. Os artigos versam uma diversidade considerável de temáticas, conforme se resume a seguir.

Os três primeiros artigos abordam a problemática das práticas de ensino. No primeiro, Interdisciplinaridade e práticas pedagógicas: O que dizem os professores, de Mariana Aranha de Souza, Priscila Aparecida Dias Salgado, Edna Maria Querido de Oliveira Chamon e Ivani Catarina Arantes Fazenda, analisa-se o pensamento de professores sobre a interdisciplinaridade. Já no segundo, Apuestas a la igualdad, imperativos de la inclusión: Posiciones docentes en el trabajo con sobreedad en escuelas primarias públicas de Argentina, de Alejandro Vassiliades, investiga-se o trabalho dos docentes a partir de um conjunto de sentidos da inclusão. No terceiro, Educación para la ciudadanía en Chile y pensamiento crítico, de Natalia Vallejos Silva, Silvia Redon Pantoja e Annachiara Del Prete, visa-se conhecer e compreender o significado que é atribuído por professores chilenos à capacidade de pensamento crítico e que importância lhe atribuem os professores na formação dos cidadãos.

Nos cinco artigos seguintes estudam-se capacidades sensoriais e/ou linguísticas. No primeiro, Programa de monitoria como estratégia de permanência e êxito para estudantes com deficiência visual: Um relato de experiência, de Natércia Freitas Ribeiro, Elenice Monte Alvarenga e Bruno Galasso, analisa-se o desenvolvimento de um programa de monitoria implementado em estudantes do ensino superior como estratégia de permanência de estudantes com deficiência visual. No artigo seguinte, Relação das habilidades auditivas e linguísticas com a aprendizagem: O olhar do professor, de Cleide Teixeira, Hanna Padilha Lordão, Manoelina Xavier Cavalcante, Jéssica Katarina Olímpia de Melo e Bianca Arruda Manchester de Queiroga, investiga-se o conhecimento de professores acerca da relação das habilidades auditivas e linguísticas com a aprendizagem, assim como o perfil de formação dos professores. Já no artigo Perspetivas múltiplas sobre a competência bilingue de crianças lusodescendentes residentes na Suíça: A investigação linguística em diálogo com a didática, Cristina Flores, Lurdes Gonçalves, Esther Rinke e Jacopo Torregrossa apresentam os resultados de um estudo sobre a competência bilingue de crianças lusodescendentes residentes em três áreas linguísticas da Suíça. No artigo Teachers’ perceptions of the impact of stuttering on the daily life of their students who stutter, Mónica Soares Rocha, Joana R. Rato e J. Scott Yaruss, tendo em conta que as crianças que gaguejam vivenciam muitas de suas situações sociais cotidianas no contexto escolar, estudam as perceções dos professores sobre o impacto da gaguez nas crianças portuguesas. Por último, no artigo O processamento sensorial e a sua relação com o desempenho escolar, Helena Reis, Andreia Simão Henriques e Cláudia Sofia Góis Ribeiro Silva averiguam a existência de relação entre o processamento sensorial e o desempenho escolar de alunos do 1º ciclo do ensino básico.

Na continuação, os quatro artigos que se seguem são de natureza teórica. No artigo Fazendo covas na areia: Desaprender para aprender, movimentos decoloniais na Educação Matemática, de Michela Tuchapesk da Silva e Carolina Tamayo, as autoras propõem-se olhar a Mancala como um tipo de jogo de linguagem tendo por referência a perspetiva filosófica de Ludwig Wittgenstein. No artigo seguinte, Das missivas aos modos: Experimentação e prudência como ethos de pesquisa, de Christian Fernando Ribeiro Guimarães Vinci e Cintua Regina Ribeiro, pretende-se compreender a relação entre as noções de experimentação e prudência no interior dos tomos integrantes da coleção Capitalismo & Esquizofrenia, escrita por Gilles Deleuze e Félix Guattari, assim como os modos como cada tomo operacionalizou suas empreitadas de pensamento à baila de alguns elementos metodológicos do trabalho conjunto desses autores. Seguidamente, no artigo O conceito de experiência em Dewey e Gadamer e as suas implicações para a formação, Anthony Fábio Torres Santana, Rodrigo Avila Colla e Marcos Villela Pereira investigam o conceito de experiência na filosofia de Dewey e Gadamer, e as suas implicações para a formação. Por último, no artigo “Eu não gosto dessa história de mentiras!”: Sigilo, anonimato e ética na pesquisa com crianças, Jane Felipe e Jéssica Tairâne de Moraes discutem aspetos teórico-metodológicos e éticos envolvidos numa pesquisa com crianças brasileiras de 5 anos de idade.

Nos três artigos que se seguem estudam-se questões inerentes ao ensino superior e à formação de professores. No artigo Adaptação ao ensino superior: perspectiva de alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, de Marina Miranda Lery Santos, Cristiane Pessôa da Cunha Lacaz e Marta Maria Telles, analisa-se o processo de adaptação de alunos ingressantes nos cursos de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, a partir da abordagem da Teoria das Representações Sociais. Já o artigo seguinte, Educação doutoral em Portugal: Mapeamento do cenário, de Thiago Freires, Sandra Santos e Sónia Cardoso, visa contribuir para uma melhor compreensão do mapeamento do cenário atual da educação doutoral em Portugal, tendo em consideração a distribuição institucional, geográfica e científica, assim como a sua caracterização em termos de estruturação, duração e colaboração. No terceiro artigo, Perspectiva histórica y emocionalidad en la formación del profesorado de Historia portugués y español, María Teresa Carril-Merino, Gloria Solé e María Sánchez-Agustí apresentam os resultados de um estudo que visa avaliar a capacidade dos futuros professores de História do ensino secundário portugueses e espanhóis em usar a perspectiva histórica.

Os três artigos seguintes abordam questões de investigação no âmbito do currículo e do desenvolvimento curricular. No artigo Gestão curricular inclusiva e formação de professores do 2º Ciclo do Ensino Básico em Portugal: Perceções de coordenadores de cursos de formação inicial, Helena Inês, Filipa Seabra e José-Augusto Pacheco estudam as perceções de coordenadores de cursos de formação inicial de professores do 2º ciclo do ensino básico, mais especificamente sobre como preparam os futuros professores para o trabalho com alunos que têm dificuldades de aprendizagem e necessitam de medidas de educação inclusiva. De seguida, no artigo Artes, oficios y saberes locales: Desarrollo a Escala Humana y Buen Vivir para un microsistema educativo en São Gonçalo Beira Rio, Brasil, Ivan Alexander Ibarra Vallejos, Liliane Christine Alcântara Schlemer e Christian Henríquez Zúñiga desenham um projeto educativo alicerçado nas artes e ofícios locais e contendo elementos do Desenvolvimento a Escala Humana e o Bem Viver. Por último, no artigo (Re)conhecendo a dimensão da gestão em saúde em um currículo médico, Luciane Cristine Ribeiro Rodrigues, Patricia Mattar Damiance, Carmen Juliani e Thayná Maria Garbellotti apresentam uma caracterização dos cursos de medicina brasileiros, identificando como a temática da gestão em saúde vem sendo trabalhada nesses cursos, bem como procurando compreender a experiência de docentes da saúde acerca da gestão em saúde em um currículo médico.

No artigo O bem-estar subjetivo das crianças em tempos de confinamento, de Ana Sani, Marlene Barra e Natália Fernandes, apresenta-se uma reflexão sobre a infância e o conceito de bem-estar subjetivo, que orientará a análise dos dados resultantes de uma pesquisa desenvolvida com o objetivo de caraterizar o bem-estar subjetivo das crianças em tempos de pandemia.

Por fim, apresenta-se um Núcleo Temático, com quatro artigos, focado no estudo de diversas vertentes de professores veteranos que participaram numa formação em tecnologias móveis para fins educativos . O artigo Desafios da inovação curricular: Perspetivas de professores veteranos, de Ana Cristina Torres, Ana Mouraz e Angélica Monteiro, analisa perspetivas desses professores sobre os desafios da inovação curricular pelo uso de tecnologias, incluindo práticas, riscos, obstáculos e estratégias de superação que identificam na sua agência perante a inovação curricular. No artigo Tecnologias móveis como estratégia de desenvolvimento e (re)encantamento profissional docente: O que pensam os professores veteranos, José Carlos Morgado, Marco Bento e Thiago Freires procuram averiguar o que pensam os professores acerca dos contributos que a formação contínua lhes pode propiciar ao nível das tecnologias, de modo a poderem responder aos desafios com que se deparam. Os autores mobilizam dados relativos às perceções, expetativas e reflexões de professores, na tentativa de sistematizar a sua relação com a integração pedagógica da tecnologia em educação. Já no artigo Saberes e identidades profissionais em formação de professores com mais de 50 anos em novas tecnologias digitais, de Fátima Pereira, Amélia Lopes e Leanete Teresinha Thomas Dotta, estudam-se as possibilidades de os professores com mais de 50 anos aderirem às novas tecnologias, nas suas práticas pedagógicas, e os seus efeitos em termos de motivação profissional. Por último, no artigo Neuropsychological and affective assessment of teachers over 50 years old before and after an ICT-focused training program: Improved job satisfaction and links with affective factors, Fernando Ferreira-Santos relata a avaliação pré e pós-teste das capacidades neuropsicológicas, funcionamento afetivo autorreferido e satisfação no trabalho de um grupo de professores que participou num programa de formação sobre utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação.