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Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187versão On-line ISSN 2183-0452

Rev. Port. de Educação vol.35 no.1 Braga jun. 2022  Epub 22-Jul-2022

https://doi.org/10.21814/rpe.21561 

Artigos Originais

Adaptação ao ensino superior: Perspectiva de alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Adaptation to higher education: perspective of students from the Aeronautics Institute of Technology

Adaptación a la educación superior: perspectiva de los estudiantes del Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Marina Miranda Lery Santosi 
http://orcid.org/0000-0002-7242-9581

Cristiane Pessôa da Cunha Lacazii 
http://orcid.org/0000-0002-5546-1491

Marta Maria Tellesiii 
http://orcid.org/0000-0003-0413-1035

i Instituto de Controle do Espaço Aéreo, Brasil.

ii Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Brasil.

iii Universidade da Força Aérea, Brasil.


RESUMO

O estudo objetivou analisar o processo de adaptação de alunos ingressantes nos cursos de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, a partir da abordagem da Teoria das Representações Sociais. Foram realizadas entrevistas com 31 alunos admitidos nos anos de 2018 e 2019, considerando as preocupações, facilidades e dificuldades relacionadas à vida estudantil e à vida cotidiana. Os resultados demonstram que as preocupações dos alunos se concentram no rigor acadêmico, no estresse relacionado à administração do tempo para realização das tarefas e no desenvolvimento de competências transversais. A qualidade acadêmica e o suporte oferecido pelos colegas e pela instituição são aspectos que não trazem preocupação. A dificuldade se concentra em conciliar atividades extracurriculares e de lazer, e a convivência no alojamento é vista como uma facilidade. Estes resultados direcionam ações que podem ser adotadas pelas instituições de ensino para ampliar esforços na construção de projetos psicoeducacionais de suporte aos ingressantes.

Palavras-chave: Expectativas; Estudantes universitários; Bem-estar subjetivo; Representações sociais.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the adaptation process of students entering the Engineering courses at the Aeronautics Institute of Technology, from the perspective of the Theory of Social Representations. Interviews considering the concerns, facilities, and difficulties related to student life and everyday life were conducted with 31 students admitted in the years 2018 and 2019. The results show that students' concerns are focused on academic rigor, the stress related to time management to perform the tasks, and the development of transversal skills. Academic quality and support offered by colleagues and institutions are aspects that do not cause concern. The difficulty focuses on reconciling extracurricular and leisure activities, and living together in the accommodation was seen as a facility. These results guide actions that can be taken by educational institutions to expand efforts in the construction of psychoeducational projects to support new students.

Keywords: Expectations; University students; Subjective well-being; Social representations.

RESUMEN

El estudio tuvo como meta analizar el proceso de adaptación de los estudiantes que ingresan a los cursos de Ingeniería en el Instituto Tecnológico de Aeronáutica, desde la perspectiva de la Teoría de las Representaciones Sociales. Se realizaron entrevistas a 31 estudiantes admitidos en los años 2018 y 2019, considerando las inquietudes, facilidades y dificultades relacionadas con la vida estudiantil y cotidiana. Los resultados demuestran que las preocupaciones de los estudiantes se centran en el rigor académico, el estrés relacionado con la gestión del tiempo para realizar las tareas y el desarrollo de habilidades transversales. La calidad académica y el apoyo brindado por los compañeros y la institución son aspectos que no preocupan. La dificultad se concentra en conciliar las actividades extraescolares y de ocio, y la convivencia en el alojamiento se ve como una facilidad. Estos resultados orientan las acciones que pueden emprender las instituciones educativas para ampliar esfuerzos en la construcción de proyectos psicoeducativos de apoyo a nuevos estudiantes.

Palabras clave: Expectativas; Estudiantes universitarios; Bienestar subjetivo; Representaciones sociales.

1. Introdução

O ingresso no ensino superior é marcado pela adaptação dos alunos a novas regras e novos modos de aprendizagem e socialização e pela necessidade de adotar uma postura mais ativa em busca da aquisição de conhecimento (Martins & Santos, 2018; Oliveira et al., 2014; Soares & Del Prette, 2015), o que podem ser considerados desafios para os quais nem todos os estudantes estão preparados (Araújo & Almeida, 2015).

A adaptação ao ensino superior tem sido alvo de estudos que especificam as dificuldades dos estudantes neste período (Casanova et al., 2020; Soares et al., 2015), em alguns casos, fazendo análises comparativas entre grupos (Araújo et al., 2015; Zazula & Appenzeller, 2019). Aspectos adaptativos tais como a gestão do tempo, os relacionamentos interpessoais e as expectativas são associados ao rendimento acadêmico e à evasão (Cunha & Carrilho, 2005; Fleith et al., 2020; Honório et al., 2019; Matta et al., 2017.

Considerando os resultados apontados na literatura por estudos anteriores, o objetivo deste trabalho foi analisar, sob a vertente da Teoria das Representações Sociais (TRS), o processo de adaptação de alunos que ingressam nos cursos de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e optam pela carreira militar. Nesse caso específico, além dos desafios tradicionais, inerentes ao ensino superior, existem peculiaridades cotidianas do ITA que tornam a trajetória formativa diferenciada.

Tais peculiaridades estão relacionadas ao fato de que, além de ser uma instituição pública federal de ensino superior, o ITA é uma instituição militar. Assim, por força de lei, todos os alunos ingressantes são compulsoriamente matriculados em curso para formação militar no primeiro ano, período em que são aplicados conhecimentos teóricos sobre regulamentos, doutrinas, armamento, e desenvolvidas atividades práticas, como ordem unida, educação física, tiro e exercício de campanha.

A partir do segundo ano, apenas aqueles que optaram pela carreira militar, no ato da inscrição no vestibular, o que corresponde a 20% dos alunos ingressantes a cada ano, continuam a cursar, concomitantemente, a graduação em engenharia e a formação militar.

Naturalmente, o início do curso acarreta mudanças significativas no ritmo de vida desses jovens, sejam eles optantes ou não pela carreira militar, pois muitos deixam suas casas e famílias em outros Estados, implicando, na maioria dos casos, em residir no alojamento que é oferecido pelo ITA. No alojamento, coabitam com outros alunos, de hábitos e costumes diversos, e precisam assumir responsabilidades na administração, por exemplo, de seu próprio bem-estar.

O fato de a maioria dos alunos conviver diariamente, não apenas no ambiente acadêmico, mas também no alojamento, propicia momentos de compartilhamento de informações, interesses, valores e experiências. Porém, ao contrário do que acontece com os demais alunos, aqueles que optam pela carreira militar, além da adaptação à vida acadêmica, precisam se adaptar ao contexto militar.

Os desafios enfrentados por esses alunos na adaptação à formação acadêmica e militar, simultaneamente, foi evidenciado pelas autoras como um tema ainda escasso de investigação. No caso específico do ITA, não há na literatura pesquisa realizada com os alunos que optam pela carreira militar.

As publicações sobre adaptação ao ensino superior, de maneira geral, utilizam como metodologia a aplicação de escalas e questionários (e.g. Casanova & Almeida, 2016; Cunha & Carrilho, 2005; Fleith et al., 2020; Honório et al., 2019; Tomás et al., 2014; Zazula & Appenzeller, 2019) e a revisão de literatura (e.g. Matta et al., 2017; Oliveira et al., 2014; Soares et al., 2015). Este trabalho baseia-se em uma abordagem qualitativa, acrescentando à literatura existente a perspectiva psicossociológica da TRS, a fim de explicar a realidade social dos alunos que optaram pela carreira militar, produzida pela interação e pela comunicação.

Nesse sentido, entende-se a relevância e a originalidade deste estudo que busca investigar como se dá essa adaptação no ITA, partindo de situações concretas vivenciadas na vida estudantil e na vida cotidiana. Para tanto, tomam-se como objetivos específicos identificar situações da vida estudantil que geram ou não preocupações e identificar situações da vida cotidiana em que os alunos encontram ou não dificuldades.

2. Referencial Teórico

2.1. A Teoria das Representações Sociais

À TRS interessa “distinguir entre o que remete ao conhecimento e aquilo que remete a um pensamento que se expande a partir da experiência concreta” (Jodelet & Loprete, 2015, p. 323). Constitui-se em um saber prático que liga um sujeito a um objeto (Jodelet, 2001; Moscovici, 2003).

Ao partilharem atividades de formação acadêmica e militar, os alunos constituem, de modo dialógico, o universo nocional sobre as experiências que vão permear a vida estudantil e cotidiana no ITA, principalmente durante a adaptação. A partir do compartilhamento de suas opiniões, sentimentos e crenças tomam posição (Moscovici, 1978) e, nesse processo, se adaptam ao novo ambiente.

A comunicação serve como o principal meio para estabelecer as associações com as quais os membros de um grupo, no caso específico desta pesquisa os alunos, se ligam uns aos outros (Moscovici, 2003) com suas preocupações, facilidades e dificuldades, guiadas por valores e modelos baseados em suas experiências individuais (Jodelet, 2001).

Considerando a representação social “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 2001, p. 21), estudos recentes envolvendo o ensino superior abordam, por exemplo, as representações de alunos e professores sobre a educação à distância (Souza & Cerqueira, 2014), as representações de docentes sobre a definição de docência (Silva & Aguiar, 2017), a percepção de alunos sobre a responsabilidade social das escolas médicas (Oliveira et al., 2020) e as representações sociais de estudantes de psicologia sobre a saúde mental (Silva et al., 2018).

Os resultados destes estudos mostram representações sociais marcadas por processos simbólicos e cognitivos construídos e reconstruídos pelos indivíduos pesquisados em suas experiências grupais. Tendo em vista que sobre a adaptação ao ensino superior não foram encontradas referências específicas, neste estudo a contribuição da TRS se dá na medida em que traz subsídios para compreender a elaboração simbólica e cognitiva que fazem os alunos sobre o processo de adaptação ao ensino superior e, consequentemente, à vida militar e ao ITA.

2.2. Adaptação ao Ensino Superior

Alvo de investigações recentes, a adaptação ao ensino superior se refere ao estudo de situações pertinentes ao jovem estudante em seu ingresso no contexto universitário. Os resultados dos estudos nesta área vêm apresentando a importância do tema, já que apontam a relação direta entre uma transição tranquila por este período e o sucesso acadêmico.

As pesquisas quantitativas sobre adaptação ao ensino superior costumam empregar como instrumento o Questionário de Vivências Acadêmicas (QVA) (Almeida & Ferreira, 1997) e suas adaptações, contendo itens agrupados nas dimensões pessoal, de realização acadêmica e contextual. Em estudo que analisou a relação entre as vivências dos estudantes do Instituto Militar de Engenharia e o rendimento acadêmico, Cunha e Carrilho (2005) apontaram que os alunos com as melhores vivências acadêmicas nas dimensões pessoal e de realização acadêmica apresentam melhor rendimento escolar.

No mesmo sentido e também considerando exclusivamente os cursos de engenharia, em revisão de literatura sobre a adaptação universitária, Matta et al. (2017) concluíram que os relacionamentos interpessoais podem favorecer o rendimento acadêmico e adiar a evasão. Os autores apontam ainda que são escassos os trabalhos que abordam o tema com os alunos desta área.

Para além da relação das vivências acadêmicas com o rendimento dos alunos, o estudo de Carlotto et al. (2015) investigou a correlação dessas vivências com as estratégias de enfrentamento (coping). Empregando também o QVA, os autores encontraram a correlação positiva das estratégias focadas no problema e no suporte social com o processo de adaptação acadêmica e a correlação negativa das estratégias focadas nas emoções com o processo de ajustamento ao ensino superior.

3. Método

Foi realizada uma pesquisa de cunho qualitativo, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas, a fim de explorar, a partir da perspectiva dos alunos que optaram pela carreira militar, a variedade de pontos de vista sobre os desafios da adaptação. Aspectos relacionados ao período de adaptação emergem de forma livre durante as entrevistas. Do mesmo modo, a partir das análises, pode-se identificar estratégias e propor ações de suporte a este período.

3.1. Participantes

Os participantes são alunos que ingressaram no ITA em 2018 e 2019, optando pela carreira militar no momento da inscrição no vestibular. De um total de 27 alunos que fizeram essa opção em cada ano, o estudo contou com 16 voluntários de cada turma, totalizando 32 entrevistas. Verificou-se que um dos entrevistados não havia feito a opção pela carreira militar e, por este motivo, sua entrevista foi descartada.

Dos 31 alunos participantes, 29 são do gênero masculino. Apenas três mulheres fizeram a opção pela carreira militar na turma de 2019 e duas na turma de 2018. A média de idade dos participantes é de 20,72 anos e 25 deles realizaram o vestibular do ITA três vezes ou mais até serem aprovados. Três dos participantes são da região sul, 11 da região sudeste, dois da região norte, 10 da região nordeste e cinco da região centro-oeste, contemplando as cinco regiões do Brasil.

3.2. Instrumentos

Para caracterizar o perfil dos participantes, utilizou-se um questionário contendo idade, gênero, naturalidade, número de tentativas de aprovação no vestibular do ITA e como conheceram a Instituição. Foi elaborado um guia com quatro perguntas para as entrevistas individuais semiestruturadas: Quais são as situações da vida estudantil nas quais você manifesta preocupação?; Quais são as situações da vida estudantil nas quais você não manifesta preocupação?; Quais são as situações da vida cotidiana nas quais você encontra maiores dificuldades?; Quais são as situações da vida cotidiana nas quais você encontra maiores facilidades?

3.3. Procedimentos

Os alunos das turmas selecionadas para o estudo foram reunidos durante o horário regular das atividades militares para que fossem passadas informações a respeito da pesquisa. Os voluntários leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e preencheram o questionário de informações demográficas.

Aplicaram-se, então, entrevistas individuais semiestruturadas, com duração média de 40 minutos. As entrevistas foram realizadas nas dependências do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Aeronáutica de São José dos Campos e conduzidas por três pesquisadoras, considerando a disponibilidade daquele Centro, bem como os compromissos acadêmicos dos alunos voluntários.

As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Os textos resultantes das transcrições foram submetidos a análise de conteúdo (Bardin, 2016) e o software NVivo 12 foi utilizado como ferramenta de apoio para a obtenção da frequência de palavras que deu suporte à análise. Antes da importação dos dados procedeu-se à correção ortográfica para a verificação de inconsistências textuais. No intuito de garantir a confidencialidade das identidades, as entrevistas foram agrupadas e cada participante identificado com um código composto pelo ano da turma e o número correspondente à ordem em que foi entrevistado.

Após essa etapa, o projeto foi nomeado, cadastrado e importado para a base de dados do software. O próximo passo consistiu na criação e cadastro de categorias denominadas “Nós”. Em seguida, passou-se à leitura das respostas dos entrevistados e à inserção manual dos fragmentos de textos para a composição das categorias/Nós. Vale ressaltar que a seleção desses fragmentos foi realizada considerando-se as situações da vida estudantil que os alunos consideram gerar ou não preocupações e as situações da vida cotidiana em que encontram ou não dificuldades, as leituras flutuantes acerca do material transcrito e o olhar das pesquisadoras sobre os dados. A partir da codificação empreendida, chegou-se à definição das categorias de análise: Aproximação à vida estudantil - preocupações e não preocupações; e Aproximação à vida cotidiana - facilidades e dificuldades.

Entre as ferramentas de consulta de dados disponíveis no NVivo 12, utilizou-se a frequência de palavras para ilustrar a discussão de resultados. Com base nela, foram selecionados fragmentos de fala dos entrevistados, considerando o contexto em que as palavras aparecem.

4. Apresentação e Discussão dos Resultados

4.1. Aproximação à Vida Estudantil - Preocupações e Não Preocupações

A chegada ao novo nível de ensino, após concorrido processo seletivo em nível nacional e, como no caso de muitos dos ingressantes no ITA, obtendo êxito somente após algumas tentativas, implica, necessariamente, adaptações. Nesse contexto, o estudante deve conciliar motivações e interesses pessoais, muitas vezes concebidos a partir do pouco conhecimento da futura profissão, com novas possibilidades que começam a se apresentar.

Desse modo, por entender-se, segundo a perspectiva de Jodelet (2003), que os alunos pesquisados são sujeitos sociais ligados “à perspectiva de outro, à interação com os outros” (p. 128), buscou-se analisar o processo de adaptação a partir da aproximação às situações da vida estudantil e cotidiana vivenciadas após o ingresso no ITA.

Considerando a vida estudantil e os relatos acerca das preocupações e também das situações que não as causam, é possível verificar, pela frequência de palavras apresentada na Tabela 1 (em anexo) que “preocupação” associa-se, entre outras, a “bastante”, “matérias”, “estudar”, “consigo” e “estresse”.

Assim, diferentes situações motivadoras ou não de preocupação foram apontadas pelos alunos. Buscando as palavras que remetem às situações que os preocupam, toma-se em análise a palavra “estresse” e as palavras a ela associadas. Em revisão da literatura, o estresse é apontado como uma experiência comum a muitos estudantes no ensino superior (Araújo & Almeida, 2015).

Em estudo comparativo, Lúcio et al. (2019) evidenciaram, a partir do Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), níveis mais elevados de estresse em estudantes ingressantes (65,0% na fase de alerta e 57,9% na fase de exaustão) em contraponto a estudantes concluintes. O relato de um dos entrevistados sugere o contexto que conduz a essa reação emocional.

Essa é minha maior preocupação, você manter a cabeça bem, que às vezes você está ali estudando bastante e começa a parar de raciocinar, começa a ficar com um nível de cansaço que vai acumulando e você vai mantendo um estresse que não é muito bom, ao longo do tempo. (1ano_10)

A fadiga é um sintoma físico comum, mas o constante estado de estresse conduz ao cansaço mental que, se não gerenciado, traz prejuízos ao desenvolvimento psicológico, emocional e acadêmico dos alunos (Lúcio et al., 2019).

É interessante destacar que, embora a administração de agentes estressores não tenha sido diretamente abordada nesta pesquisa, Carlotto et al. (2015) encontraram correlação positiva entre processo de adaptação acadêmica e coping (estratégia de enfrentamento) em estudantes universitários, enquanto as estratégias com foco na emoção (negação, fuga dos problemas e distanciamento) apresentaram correlação negativa, estas últimas interferindo, em médio e longo prazo, no processo de adaptação.

Considerando as exigências acadêmicas inerentes aos cursos superiores e as estratégias de enfrentamento dos desafios da adaptação, cabe ao aluno encontrar seus próprios ritmo e maneira de aprender (Almeida, 2007). No caso do ITA, a dedicação aos estudos é uma exigência que se impõe aos alunos e supõe-se ser uma tarefa ainda mais necessária, considerando a conciliação do curso de engenharia com a formação militar.

As palavras “bastante”, “matérias”, “estudar” e “entregar” apontam para as preocupações ligadas às demandas acadêmicas diárias.

muitos entregáveis para a gente fazer e, às vezes, a gente não tem tempo compatível para poder entregar. E isso acaba gerando uma bola de neve que vai estourando no fim do semestre, geralmente no período de provas. (1ano_16)

Quando acumula muita coisa junto me preocupo (...), começa instrução do CPOR junto, começa a ter provas, começa a ter outros entregáveis, laboratórios, relatórios. (2ano_01)

Eu acho que quando está com muita coisa para entregar e o nível que a gente precisa estudar é alto. (2ano_09)

O ITA é uma escola de alta demanda que tem como um dos seus princípios garantir a produtividade dos alunos, de forma que as atividades sejam sucessivas, intensas e controladas. Em face dessa exigência pela produtividade, os alunos manifestam preocupação com a administração do tempo para darem conta das obrigações acadêmicas e realizarem as entregas nos prazos, o que exige, segundo eles, planejamento.

única preocupação que eu posso dizer é em relação a conciliar o tempo (1ano_04)

Minha preocupação principal é se eu estou gastando meu tempo da maneira mais eficiente possível. (1ano_07)

as principais preocupações são organizar o tempo para que nada fique muito acumulado. Mas a parte mais difícil mesmo é gerir o tempo ainda mais, não só as provas da parte acadêmica, mas também com várias coisas extracurriculares que a gente faz, as iniciativas, e principalmente as provas de finais de bimestre, que também exigem muito da gente. (1ano_11)

é sempre com relação a data de entrega, tanto para prova quanto para trabalho; sempre tem uma data que você tem que estar pronto e ter sempre a preocupação de terminar tudo no horário e na data certa. (1ano_13)

A gestão do tempo é uma vivência difícil durante a adaptação ao ensino superior (Cunha & Carrilho, 2005). Nessa fase, os estudantes precisam modificar a forma como se relacionam com o tempo e com o estudo (Pinho et al., 2015) para acompanhar o novo ritmo de aprendizagem, que se baseia em menos contato e menos feedback dos professores (Tomás et al., 2014).

É interessante destacar, considerando a amostra que compõe este estudo, que estudantes do gênero masculino apresentam mais dificuldades na administração de tarefas diárias em comparação com estudantes do gênero feminino, conforme aponta estudo que levantou diferenças significativas, considerando o gênero, o capital sociocultural das famílias de origem e a qualidade do percurso escolar dos estudantes do ensino superior português (Almeida et al., 2006).

Tomando em análise as palavras “estudar”, “semestre” e “difícil”, foi possível identificar também, entre as preocupações relacionadas ao desempenho acadêmico, provas, notas e desligamento do curso, como expresso em alguns posicionamentos.

Na vida estudantil, eu acho que aqui no ITA, em particular, as avaliações são bem complicadas. Então, existem vários mecanismos, aqui na universidade, de desligamento do aluno. (1ano_08)

Quando tem prova sempre. Nunca dá para ter certeza se você está preparado o suficiente para a prova. (1ano_13)

Com as notas. O ITA tem muito mecanismo e eles são muito rígidos, não dão margem para a gente e querem que a nossa vida seja só estudar, só isso. (1ano_15)

O que preocupa bastante é nota, porque é difícil, é muita pressão e é muito tempo fazendo provas, então é bem estressante. (2ano_07)

questões de avaliações, preocupações com notas, essas coisas. (2ano_09)

Preocupação, geralmente fim de semestre, quando vai chegando as provas, e as provas aqui não são nada fáceis. (2ano_10)

Principalmente quando eu acabo não conseguindo um bom desempenho em uma prova e acabo precisando tirar uma nota maior na outra. (2ano_11)

Eu diria que a maior preocupação é conseguir atingir boas notas e com relação a aprender os conteúdos que estão sendo passados. (2ano_15)

mais questão de nota, mesmo. (2ano_16)

Identificam-se nas falas as expressões “muito rígidos”, “muita pressão” e “nada fáceis”, que vêm reforçar a intensidade das atividades e a produtividade exigida dos alunos. A preocupação com as notas deriva do regime acadêmico que institui 6,5 (seis e meio) como a nota mínima para aprovação. A reprovação e o desligamento do curso podem ocorrer se o aluno obtiver nota inferior a 5,0.

Dentro dessa lógica, percebe-se que a palavra “trancar”, também recorrente, e que na prática significa afastamento do curso, conforme as normas da escola, está relacionada com provas e notas, entendendo-se que o desempenho aquém do esperado gera impactos negativos na vida estudantil. As discrepâncias entre a expectativa e as vivências têm sido relacionadas, na literatura, a um estado de “desencanto” do aluno com o curso e até mesmo à evasão durante o período de adaptação ao ensino superior (Casanova & Almeida, 2016; Fleith et al., 2020). Os entrevistados enfatizam que, por terem optado pela carreira militar de engenharia, não detêm a prerrogativa do trancamento e justificam suas preocupações:

Eu tenho medo de que mesmo me esforçando eu não consiga permanecer. (1ano_05)

ter que livrar esse tipo de situação que é ser levado a Conselho, isso é algo que é bastante estressante. (1ano_08)

Com nota ruim. Se não tiver nota boa não consigo passar, não vou conseguir continuar no curso. (1ano_09)

Não ter nota suficiente para poder escolher onde eu vou estagiar, daqui a dois anos, que é aqui dentro nos Institutos, isso me preocupa. (1ano_14)

O fato de não poder trancar, a gente não pode pegar dependência também, a gente pode ser desligado a qualquer momento. (2ano_02)

questão de nota, porque o ITA, ele tem essa questão de ser rígido com as notas. Então, você não vai ter a segunda chance. (2ano_04)

A preocupação seria não atingir as notas na forma como é o nosso sistema (...), não ter aprovação. (2ano_06)

Acho que preocupação que todo mundo tem é de ficar de segunda época, ter que trancar um ano (...), trancar por saúde ou por nota. (2ano_14)

Estas preocupações parecem intimamente relacionadas ao desejo de conseguir concluir o curso, realizar-se profissionalmente e absorver todo o conhecimento disponível no ITA, como destacaram outros alunos.

Minha preocupação mesmo é conseguir completar, me formar e me tornar tenente. (2ano_08)

Acho que a única preocupação que eu tenho é no futuro eu desencantar com o que eu fiz até então, não me achar. (...) não encontrar aquilo que eu acho que é o que eu devo fazer aqui no ITA. (2ano_12)

Essa é uma das minhas preocupações, passar pelo ITA e não tirar dele todo o conhecimento que eu poderia. (2ano_13)

Aprofundar o conhecimento e desenvolver competências pessoais, profissionais e sociais são expectativas de alunos que ingressam na universidade (Fleith et al., 2020). A necessidade de desenvolver habilidades interpessoais, além das habilidades profissionais, foi apontada como uma preocupação por alunos da Turma 2018.

Eu acho que são as habilidades, além do setor acadêmico, as habilidades interpessoais, de liderança e gestão. Acho que isso é minha atenção maior agora, que é onde o ITA não supre e a gente tem que buscar por conta. (2ano_03)

Ter um desenvolvimento pessoal, uma boa relação com meus amigos e com a galera que estuda comigo é bem mais necessário. Desenvolver como vou me relacionar com as pessoas é a prioridade, e em segundo plano ficam minhas notas. (2ano_05)

Sobre a colocação do aluno 2ano_03 de que “tem que buscar por conta” o desenvolvimento de habilidades, Prette e Del Prette (2011) sinalizam que “a competência interpessoal raramente é relacionada como objetivo de formação profissional ocorrendo, de forma assistemática, como um subproduto do processo educativo” (p. 56). Nesse sentido, Carmona e Melo (1999) esclarecem que esse é um processo contínuo de aprendizagem e que essa competência depende da permanente adaptação e interação aos grupos de pertencimento, considerando os papéis sociais que o indivíduo desempenha ao longo de sua vida.

Apesar de historicamente não estar ligado aos objetivos de formação profissional, o desenvolvimento de competências transversais (como a capacidade de mobilizar recursos para lidar de forma eficaz com profissionais) foi apontado por alunos de primeiro ano como o terceiro fator mais importante durante a formação universitária, apresentando forte correlação com o fator “qualidade da formação acadêmica” (Fleith et al., 2020). Para os autores do estudo essa correlação mostra que, atualmente, a expectativa dos alunos sobre um ensino superior de qualidade está relacionada a uma abordagem de desenvolvimento pessoal diversificada.

Ao abordar as situações da vida estudantil que não causam preocupações, verifica-se que o suporte dos colegas, a convivência e atividades realizadas no alojamento onde residem, conhecido como H-8, trazem equilíbrio para a vida acadêmica dos estudantes.

no caso, é o alojamento. É o fato de que, como a gente mora todo mundo junto, existe uma ajuda mútua caso alguém tenha alguma dificuldade maior. (1ano_05)

Situações que não geram estresse ou preocupações são as situações em que a gente faz atividades coletivas lá no H-8, que é o lugar que a gente mora, o nosso alojamento. (1ano_08)

O que é mais fácil para mim é, primeiro, a comunidade do ITA, a comunidade iteana, o fato de o alojamento estudantil do ITA, que é o H-8, ser do jeito que é, não ter a separação civil e militar, é o diferencial do ITA. (1ano_16)

acho que a convivência com meus colegas de quarto e na sala de aula também. (2 ano_15)

Para o processo de adaptação inicial e ao longo do curso, os estudos também apontam a necessidade de o estudante mobilizar, em maior ou menor grau, recursos intrapessoais e, em muitos casos, buscar o apoio de colegas e familiares (Oliveira et al., 2014; Soares & Del Prette, 2015). O suporte social, ao lado da personalidade e da inteligência emocional, é uma das variáveis psicológicas que funciona como importante preditor da adaptação (Tomás et al., 2014).

Infere-se que o ambiente coletivo de compartilhamento funcione como válvula de escape diante das situações que causam tensão e pressão. Estudo desenvolvido por Matias e Martinelli (2017) aponta que a percepção do jovem universitário sobre o apoio social ao seu alcance pode proporcionar-lhe sensação de bem-estar, repercutindo positivamente na adaptação ao novo nível de ensino e ao contexto acadêmico, tendo influência, até mesmo, na sua futura inserção ao mercado de trabalho.

Além do suporte social, alguns alunos destacaram o fato de não precisarem se preocupar com alimentação e moradia, já que são facilidades oferecidas pelo ITA.

O alojamento, refeição. Se eu quiser posso comer no rancho. Isso não é preocupação para o aluno do ITA. (2ano_07)

Não me preocupo com alimentação, com moradia, isso é algo que é um ponto bem positivo da Instituição e nos mantém uma parte do tempo bem focado com o ensino mesmo. (2ano_14)

A participação das instituições de ensino no processo de adaptação é relevante (Matta et al., 2017). Observa-se nesta pesquisa que os relatos confirmam esta constatação e apontam a importância do suporte logístico para o bem-estar coletivo.

Alunos da Turma 2018 identificam ainda como não preocupantes as situações que envolvem a estabilidade financeira e de carreira, considerando-se a opção que fizeram pela carreira militar.

Eu acho que a questão de você poder estudar tranquilo sem se preocupar com o sustento, a questão de você ter o apoio de professores, laboratórios, e de vários Institutos aqui em volta. (2ano_04)

eu não me preocupo muito com o futuro, no sentido de se eu vou ter uma carreira ou não, até porque tem a carreira militar e a gente tem um plano de carreira. (2ano_06)

Observou-se ainda, com base nos relatos, que, de modo geral, apesar das exigências acadêmicas impostas, os alunos da Turma 2019 também não demonstram preocupação com o fato de terem que estudar, porque, como já discutido, a preocupação está vinculada a “dar conta da rotina de estudo”.

Estudar e aprender fazem parte do processo percorrido para a admissão ao ITA, uma vez que todos os entrevistados realizaram o vestibular, no mínimo duas vezes, além de a maioria ter frequentado cursinhos preparatórios. Nesse sentido se posicionam alunos da Turma 2018 ao citarem, como situações que não os preocupam, a qualidade acadêmica e a pressão exercida sobre eles.

Acho que é nossa qualidade acadêmica. Acho que eu sei que estou num nível, um crivo, um nível bem bom. (2ano_03)

O ITA coloca uma pressão em cima de você que, na minha opinião e na opinião de várias pessoas, é um pouco maior do que a média, e tem gente que acha que não devia ser assim, que devia ser um pouco mais humano. Eu não me preocupo, eu acho que essa pressão faz até bem. (2ano_13)

Em estudo de validação de uma escala sobre as expectativas de estudantes ingressantes no ensino superior, a qualidade acadêmica foi o fator que obteve as maiores médias (Fleith et al., 2020). A partir dos resultados, os autores sugerem que o objetivo dos alunos vai além da conquista de um emprego após a conclusão do curso, uma vez que esperam também se desenvolver e se realizar pessoal e profissionalmente.

4.2. Aproximação à Vida Cotidiana - Facilidades e Dificuldades

Procurando conhecer um pouco mais sobre as experiências vivenciadas, discute-se sobre a vida cotidiana. Considerando facilidades, dificuldades e os reflexos na adaptação dos alunos, tomou-se em análise a frequência de palavras, conforme Tabela 2 (em anexo). A palavra “dificuldade” e, associadas a ela, as palavras “pessoal”, “saudade” e “relacionamento” remetem às falas em que são observadas dificuldades pessoais derivadas do distanciamento dos alunos de suas famílias, uma vez que grande parte mora em diferentes Estados e, muitos deles, distantes geograficamente.

lidar com as emoções em si e o cotidiano [...] conciliar tudo que está fazendo aqui com dar atenção à família de longe, que é o mais complicado. (1ano_03)

É mais a vida distante, eu sou de Pernambuco, é muito difícil, eu vejo meus pais duas vezes no ano. (1ano_06)

a distância da família, porque interfere bastante no cotidiano. (1ano_08)

Basicamente, estar longe da família (...), é basicamente um sentimento que eu diria de saudade. (1ano_10)

eu não posso dar muita atenção para a minha família, à minha namorada. (1ano_13)

acho que é a distância, saudade da família, namorada, irmãos. (2ano_09)

Como eu moro longe de casa, acho que o maior problema acaba sendo a saudade da família, da namorada, e a distância. (2ano_10)

Dificuldade de ver a família (...), a distância e o dinheiro para poder fazer esse fluxo de um canto para o outro é uma coisa que é difícil administrar. (2ano_14)

Eu tenho saudades de ver meus irmãos, meu pai (...). Eu diria que é isso, a saudade que a gente fica. (2ano_15)

Nesse novo nível de ensino, observa-se que o estudante necessita ajustar-se a muitas mudanças e o apoio encontrado junto aos pares, em muitos casos, parece ser importante no período de adaptação para suprir a ausência da família. Lameu et al. (2016) evidenciaram que a convivência familiar mais próxima contribui para a baixa prevalência de estresse entre graduandos, em oposição aos estudantes que mantêm contatos mais longos apenas nos períodos de férias.

Por meio das palavras “conciliar” e “iniciativa”, identificou-se que adequar as atividades desenvolvidas no ITA ao lazer ou a outras iniciativas é mais um aspecto avaliado como uma dificuldade na vida cotidiana, como ilustram os posicionamentos.

Durante o período de aula, fora a semaninha e as férias, aqui em São José é muito difícil da gente encontrar alguma coisa diferente para fazer e conseguir conciliar isso com o ITA. (1ano_05)

Aqui dentro tem muita iniciativa, além da parte acadêmica, e geralmente tem pouco tempo. Iniciativa técnica que não está no currículo da faculdade não sobra muito tempo. (1ano_09)

Essencialmente, eu não tenho vivência fora do ITA, eu tenho todo o ITA, o H-8, trabalho. (...) a gente estuda para se manter no ITA. (1ano_15)

Eu acho que a dificuldade é conciliar estudo com lazer. (2ano_07)

É possível perceber que o tempo disponível para conciliar a vida acadêmica e a vida pessoal se mantém no repertório de preocupações e aparece também entre as dificuldades, cujo contexto parece intimamente relacionado à organização, conforme demonstram alguns relatos.

por causa do grande número de aulas, não tem como, fica difícil organizar o horário. (1ano_11)

me cobrar no sentido de organização, saber o que eu quero fazer. (1ano_12)

Eu faço parte do centro acadêmico, faço futsal; além disso, agora eu peguei uma iniciativa para fazer. Então, a gente é malabarista, tem que botar tudo para cima e não pode deixar nada cair. Então é mais isso, organização. (2ano_02)

Não sou um cara metódico e isso me atrapalha. Sou mais relaxado. (...) eu não dou a devida importância a certas coisas e isso me prejudica. (2ano_05)

Acho que ter disciplina para manter uma rotina consistente é a parte mais difícil, às vezes o cansaço bate e atrapalha muito. (2ano_08)

Saber conciliar o tempo com as demandas acadêmicas se mostra um exercício constante para os alunos pesquisados, segundo afirmam, e o aluno 2ano_02 usa a metáfora do malabarista para explicar como procura manter o controle e o equilíbrio entre a vida estudantil e a vida cotidiana. A manutenção desse equilíbrio pessoal e emocional depende, muitas vezes, da relação estabelecida entre o apoio social recebido, a inteligência emocional e a personalidade de cada aluno (Tomás et al., 2014).

O desenvolvimento de habilidades interpessoais, destacado entre as preocupações, foi apontado também como uma dificuldade. As falas de dois alunos da Turma 2018 mostram a relevância da comunicação no cotidiano.

Acho que o meu perfil se enquadra em um perfil mais introvertido, e quando eu preciso ser extrovertido eu demando mais energia. (2ano_03)

Na vida cotidiana eu tenho um pouco de dificuldade de me expressar, falar em público, por sinal. (2ano_11)

Considerando a diversidade de interlocutores com os quais interage, o aluno se vê diante de muitas demandas relacionais que requerem o aperfeiçoamento de habilidades sociais, entre elas, a de comunicação. Ampliar esse repertório irá contribuir para a qualidade do desempenho social no cotidiano (Soares & Del Prette, 2015).

Entre as facilidades identificadas na vida cotidiana, verificou-se, com base nas palavras “amizades” e “relação”, que as situações que envolvem a interação no H-8, bem como os relacionamentos vivenciados, se destacam no conjunto dos posicionamentos.

a interação com as pessoas do próprio H-8 é muito bacana. (...) a gente está lá em contato um com o outro, prática de atividades em conjunto também. (1ano_08)

conviver com muita gente num canto só, no H-8 (...). Isso a convivência que trouxe, gerou uma facilidade e uma situação muito confortável e acolhedora lá. (1ano_13)

com as amizades mesmo que a gente constrói por estar o tempo todo dentro do H8, as amizades com a galera do ITA, a galera da turma (...). Então, não vejo muito uma facilidade de relacionamento, é mais a gente se unindo para sobreviver. (1ano_15)

você sabe também que qualquer tipo de recorrência que você tiver que fazer você vai recorrer a alguém que está do teu lado, que está no teu apartamento, alguém muito competente, alguém que já passou por isso, então isso é muito confortável para você. Você se sente amparado. (1ano_16)

O H-8 é um ambiente muito bom para você ter amizade. Você morar com pessoas que estão passando as mesmas coisas que você, isso ajuda bastante, é a maior facilidade. (2ano_07)

Lameu et al. (2016) identificaram que alunos residentes em alojamentos mantidos pelas instituições de ensino são menos acometidos pelo estresse. Especificamente no ITA, a interação no H-8 cria vínculos de companheirismo, de solidariedade, de ajuda mútua, que se estendem para além do período da formação. Essas relações se consolidam, ao longo das gerações, a partir de experiências, valores, práticas, posturas e expectativas compartilhados (Fraga, 2018) e com os quais os alunos se identificam, passando a sentir-se parte do grupo (Pinho et al., 2015), como ressaltado em uma das falas:

você tem toda uma cultura de veterano passando para os novatos e cultura de valores éticos e morais que você tem que manter e levar para a vida. (1ano_10)

Além do pertencimento ao grupo, o contato dos alunos com os colegas torna-se importante pelo caráter afetivo-emocional que representa (Pinho et al., 2015), provavelmente amenizando a lacuna gerada pelo distanciamento de suas cidades e de entes queridos durante os anos de formação. Nesse sentido, alguns alunos apontam como uma facilidade as relações interpessoais.

As relações interpessoais são boas. Não quer dizer que eu tenho muitos amigos, mas os amigos que eu tenho são suficientes no meu dia a dia. (2ano_05)

Acredito que é se relacionar com as pessoas, participar de grupos, iniciativas, seja uma facilidade. (2ano_06)

Me relaciono bem com as pessoas, com as pessoas que eu moro, tenho relação boa com as pessoas próximas a mim. (2ano_10)

lidar com as diferenças das outras pessoas. (2ano_12)

Facilidade de me relacionar com as pessoas, de criar vínculos de amizade. (2ano_14)

Eu tenho facilidade de me comunicar com meus amigos (...), eu tenho uma convivência boa com meus amigos, mantenho contato com a minha família por telefone. (2ano_15)

A importância e os benefícios das relações interpessoais no ensino superior foram identificados também em outros estudos. Estudantes que se percebem mais apoiados socialmente nos aspectos afetivo, emocional e de informação e que percebem que estabelecem interações sociais mais positivas se declaram mais satisfeitos pessoalmente e com melhor autoestima (Matias & Martinelli, 2017). Em revisão de literatura sobre adaptação, evasão, rendimento e vivências, Matta et al. (2017) concluíram que os relacionamentos interpessoais podem até mesmo favorecer o rendimento acadêmico e adiar a evasão.

5. Discussão

O objetivo deste artigo foi analisar, sob a vertente da Teoria das Representações Sociais, o processo de adaptação de alunos ingressantes nos cursos de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a partir de aspectos tais como as preocupações, facilidades e dificuldades relacionadas à vida estudantil e à vida cotidiana.

Em síntese, sobre a vida estudantil, observa-se que as preocupações dos alunos se concentram no rigor acadêmico e, associado a ele, no estresse gerado pelo fato de terem que gerenciar o tempo para realizar todas as atividades, tarefas e avaliações no prazo. Deduz-se que o medo de não conseguir permanecer no ITA, de ser levado ao Conselho da Graduação e não poder trancar a matrícula potencializa o estado emocional de tensão.

A adaptação à carreira militar, surpreendentemente, não foi apresentada como uma das preocupações dos alunos entrevistados. Pelo contrário, o sustento proporcionado pela remuneração que recebem durante o curso e a certeza de terem estabilidade financeira desde a formação foram apontados como motivos de não preocupação, ao lado do suporte de moradia e alimentação que a Instituição proporciona, do convívio com os colegas no alojamento e da qualidade acadêmica.

De forma consistente, os questionamentos sobre a vida cotidiana revelaram que conciliar atividades extracurriculares e de lazer com os estudos é uma dificuldade e que o convívio com os colegas no alojamento estudantil é uma facilidade, mesmo que a proximidade ocorra apenas pela necessidade. Os resultados aqui apresentados são importantes na medida em que provocam reflexões e direcionam ações de suporte a serem adotadas pelas instituições de ensino superior.

Em consonância com estudos anteriores (e.g. Cunha & Carrilho, 2005; Matias & Martinelli, 2017; Matta et al., 2017; Tomás et al., 2014), os resultados desta pesquisa apontam para a importância das redes de apoio institucional e de colegas visando a uma adaptação bem sucedida, como também apresentam a preocupação e, ao mesmo tempo, a dificuldade dos alunos de administrarem suas atividades e o tempo de forma autônoma.

Considera-se que o ambiente em que os alunos estão inseridos, de forma geral, propicia o suporte e que o ITA supre as necessidades básicas dos alunos ao fornecer alojamento e refeições. O convívio intenso, proporcionado por residirem e estudarem no mesmo espaço, permitiu o compartilhamento de preocupações, facilidades e dificuldades vivenciadas na vida estudantil e na vida cotidiana que, somadas ao suporte oferecido, apontaram que a representação social da adaptação ao ensino superior está sustentada na necessidade de permanência na Instituição e, nesse sentido, em detrimento do rigor acadêmico, orienta e justifica o ajustamento dos alunos a esse período.

Como forma de prevenção de problemas de adaptação, o ITA já adota como boa prática o aconselhamento, estratégia que consiste na designação de um professor conselheiro para cada aluno ingressante. O professor atua no acompanhamento e orientação do aconselhado na adaptação e, para além, durante sua trajetória acadêmica. Percebe-se a importância da ampliação de esforços na construção de projetos psicoeducacionais, com a realização de oficinas, palestras, minicursos, englobando aspectos que visem ao desenvolvimento de habilidades e competências transversais, tais como organização pessoal, autonomia, liderança, capacidade de trabalho em grupo, assim como o incentivo à adoção de estratégias de enfrentamento para lidar com situações estressoras.

Ao possibilitar o acesso à associação livre de ideias, fazendo emergir concepções, reflexões e significados derivados de experiências concretamente compartilhadas no cotidiano, a TRS contribui com este estudo na medida em que ele se propôs a analisar não a dimensão quantitativa ou histórica da adaptação ao ensino superior, mas investigá-la a partir das representações sociais construídas pelos alunos. Por isso, se configura como uma abordagem teórico-metodológica relevante a este a aos demais estudos que se dedicam a compreender a apropriação que os sujeitos fazem das construções simbólicas para orientar e justificar seus posicionamentos.

Como limitação, porém, podemos apontar o fato de os participantes pertencerem todos a uma única instituição de ensino superior. Desta forma, ainda que os resultados contribuam para o entendimento do processo de adaptação dos estudantes de forma abrangente, deve-se considerar a especificidade da amostra. Cabe destacar que mais pesquisas sobre o assunto devem ser realizadas. A ampliação da amostra, envolvendo estudantes de outros cursos e instituições, permitirá a generalização ou não das conclusões. Investigações experimentais sobre os efeitos de projetos psicoeducacionais na fase de adaptação elucidarão a pertinência das intervenções.

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Tabela 1: Frequência de Palavras Nó Vida Estudantil. 

Palavra Extensão Contagem Percentual ponderado (%) Palavras similares
preocupação 11 42 1,03 preocupação
matérias 8 17 0,42 matéria, matérias
tranquilo 9 17 0,42 tranquilo
bastante 8 15 0,37 bastante
preocupo 8 15 0,37 preocupo
estresse 8 13 0,32 estresse
estudar 7 13 0,32 estudar
questão 7 13 0,32 questão
consigo 7 12 0,29 consigo
relação 7 12 0,29 relação

Fonte: Os autores.

Tabela 2: Frequência de Palavras Nó Vida Cotidiana. 

Palavra Extensão Contagem Percentual ponderado (%) Palavras similares
dificuldade 11 24 0,67 dificuldade, dificuldades
facilidade 10 21 0,59 facilidade, facilidades
pessoas 7 19 0,53 pessoas
família 7 13 0,36 família
bastante 8 11 0,31 bastante
tranquilo 9 11 0,31 tranquilo
consigo 7 9 0,25 consigo
estudar 7 9 0,25 estudar
difícil 7 8 0,22 difícil
distância 9 8 0,22 distância

Fonte: Os autores.

Recebido: 24 de Novembro de 2020; Aceito: 27 de Setembro de 2021

Toda a correspondência relativa a este artigo deve ser enviada para: Marina Miranda Lery Santos Instituto de Controle do Espaço Aéreo Praça Marechal-do-Ar Eduardo Gomes, 50 - Vila das Acácias São José dos Campos/SP - Brasil CEP: 12.228-903 marinammls@fab.mil.br ; marinamlerys@gmail.com

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