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Revista Portuguesa de Educação

versión impresa ISSN 0871-9187versión On-line ISSN 2183-0452

Rev. Port. de Educação vol.36 no.1 Braga jun. 2023  Epub 15-Mayo-2023

https://doi.org/10.21814/rpe.27341 

Recensão

Recensão da obra “Roma Minority Youth Across Cultural Contexts. Taking a Positive Approach to Research, Policy, and Practice”

Maria Angela Mattar Yunesi 
http://orcid.org/0000-0002-4653-3895

Ana Tomás de Almeidaii 
http://orcid.org/0000-0003-0036-312X

i Universidade Salgado de Oliveira, Brasil

ii Universidade do Minho, Portugal


Dimitrova, R., Sam, D. L., & Ferrer-Wreder, L. (2021). Roma minority youth across cultural contexts. Taking a positive approach to research, policy, and practice. Oxford University Press. [264 pages, ISBN: 9780190654061]. https://global.oup.com/academic/product/Roma-minority-youth-across-cultural-contexts-9780190654061?q=dimitrova&lang=en&cc=us#

Nesta obra, intitulada Roma Minority Youth Across Cultural Contexts. Taking a Positive Approach to Research, Policy, and Practice, os organizadores - Radosveta Dimitrova, David L. Sam e Laura Ferrer-Wreder - tratam das inúmeras vicissitudes do desenvolvimento de jovens ciganos que pertencem à minoria étnica Roma. Estes grupos ocupam diferentes cenários culturais da Europa e compõem uma parcela da juventude que por séculos vem sendo referida por adjetivos e categorias negativas e preconceituosas. A relevância do livro está em ampliar o conhecimento científico acerca das forças e recursos desses jovens a partir dos pressupostos do Positive Youth Development (PYD).

No livro, organizadores e autores dos 12 capítulos apresentam suas valiosas contribuições científicas elaboradas a partir de reflexões teóricas e pesquisas empíricas conduzidas em contextos, até então, pouco explorados e investigados. O contexto cultural oferece uma matiz simultaneamente de figura e fundo ao PYD de jovens Roma e de outras minorias étnicas que convivem com o ostracismo e a privação de oportunidades para inclusão social. As experiências de vida de jovens Roma e as complexidades que perpassam as situações de exclusão em diferentes panoramas culturais, europeus e não europeus, são perspetivadas, na presente publicação, a partir da diversidade e multidisciplinariedade dos colaboradores e se constituem em um dos pontos fortes do conjunto dos capítulos que integram este livro.

O volume beneficia do prefácio escrito de forma contundente por um dos fundadores do PYD, Richard M. Lerner, que discorre sobre a sua visão de promoção do PYD da juventude da etnia Roma. Enaltecendo a importância da publicação para pesquisadores, profissionais e políticos, Lerner destaca-lhe o mérito de retirar da invisibilidade científica e social a juventude Roma, mas também de demonstrar que, por mais marginalizada e estigmatizada que seja uma população de jovens, como são os jovens Roma, é sempre possível promover empoderamento e facilitar sua transição para a vida adulta saudável. Na continuação desta abertura, a obra organizada por Radosveta Dimitrova, David L. Sam e Laura Ferrer-Wreder debate a natureza das oportunidades promotoras de desenvolvimento saudável e produtivo e das barreiras nas relações entre os jovens e os contextos de vida que impedem a otimização de seus potenciais.

A obra está organizada em três grandes blocos (Partes A, B e C) compostos por capítulos que tratam sobre: a) a história e a caracterização da população Roma; b) teorias de bem-estar pautadas por PYD e a aplicabilidade desses conceitos à juventude Roma; c) pesquisas empíricas e seus resultados sobre PYD e bem-estar dos jovens Roma, que vivem em diferentes realidades sociais em seus países.

A Parte A da obra é nomeada “A situação atual da etnia Roma” e contém três capítulos. O capítulo 1 versa sobre “O contexto da população Roma” e aborda aspectos históricos e culturais dos Roma, referindo-se às suas origens, hábitos, crenças e valores, que são apresentados em detalhes com ênfase em algumas particularidades das práticas educativas das famílias para com as crianças e adolescentes. Os autores atestam a força das relações familiares, o incentivo à autonomia, o papel da presença da comunidade, os exemplos de solidariedade e respeito de gerações mais velhas que podem tornar-se recursos de desenvolvimento saudável para as gerações jovens. Isso está em linha com teorias de resiliência em famílias e seus processos-chave (Walsh, 2016). Além disso, é reforçada a ideia de que um trabalho social voltado para a inclusão dessa população é necessário, já que este é um dos grupos mais expostos à discriminação e exclusão. O capítulo 2, intitulado “Como apoiar o PYD da juventude Roma de baixa-renda nos Estados Unidos?”, apresenta uma ampla revisão de literatura sobre a juventude Roma nos Estados Unidos e promove a discussão feita com as lentes do quadro teórico do PYD, evidenciando suas potencialidades e recursos pessoais e coletivos no contexto norte-americano. O capítulo 3, “Engajando jovens Roma em situação de vulnerabilidade no exercício de serviços à infância”, trata de programas e políticas desenvolvidos em vários países e que atendem a juventude com sucesso e propagam boas práticas. A partir de evidências de vários estudos, os autores demonstram a importância de serviços que trabalhem para desenvolver identidades étnicas fortalecidas por autoestima positiva em indivíduos, famílias e comunidades que sofrem com a exclusão social. O texto avança na construção de modelos de formação de profissionais Roma para que trabalhem de forma inclusiva por intermédio de mecanismos de construção da identidade, especialmente nos serviços destinados à educação infantil.

A Parte B intitula-se “Teorias sobre adaptação e bem-estar dos Roma” e compreende dois capítulos que articulam reflexões e conceitos teóricos sobre adaptação e bem-estar com enfoque no modelo PYD. O capítulo 4, “Considerações teóricas e conceituais acerca das transformações na juventude Roma e suas comunidades”, ilustra como o modelo PYD, inquestionavelmente baseado em fortalezas e competências de adolescentes, pode auxiliar na elaboração de estratégias de intervenção que implementem pontos fortes e as estruturas tradicionais identitárias em grupos minoritários de jovens. Uma seleção de programas de intervenção de base empírica com foco na construção de identidade e nas abordagens participativas sintetiza os resultados principais à luz das suas implicações para a investigação e para o desenvolvimento de práticas baseadas na evidência. Tais achados mostram-se especialmente promissores para o desenvolvimento positivo da juventude Roma e não-Roma. O capítulo 5 é sobre “Juventude Roma: desafios e desenvolvimento positivo”. Após apresentar um quadro demográfico que circunscreve as difíceis condições de vida da minoria Roma na Europa, são elencados estudos qualitativos conduzidos em diferentes países fora dos Estados Unidos que demonstram altos índices de bem-estar em adolescentes Roma. Tais evidências comprovam recursos internos e externos que promovem o desenvolvimento positivo desses jovens, em concordância com estudos de outras minorias (Lerner et al., 2017). Na sequência, são referidas intervenções com diferentes ênfases, mas com o objetivo comum de implementar ações e políticas contra a opressão de uma das populações mais sofridas e discriminadas na Europa (Dimitrova et al., 2018).

A Parte C trata de temas relativos a “Pesquisas empíricas em PYD e bem-estar na juventude Roma” e divide-se em seis capítulos. O capítulo 6, “PYD: um estudo empírico sobre a juventude Roma”, discute até que ponto a juventude Roma evidencia recursos desenvolvimentais associados com ativos e sucessos. Por meio do modelo de indicadores de prosperidade de Benson (2007), foi desenvolvido um estudo quantitativo com jovens Roma que vivem na Bulgária e no Kosovo. Evidenciou-se a baixa prevalência do uso construtivo do tempo entre os jovens Roma. Essa é uma das quatro categorias de ativos externos que também pode ser baixa em outras populações de jovens (Sarriera et al., 2007), mas, no caso da juventude Roma, pode estar vinculada à discriminação e exclusão. No capítulo 7, “Resignificando a narrativa: revelando o desenvolvimento positivo nas autodescrições dos adolescentes Roma”, os autores trazem o PYD como uma extensão do movimento da Psicologia Positiva (Seligman, 2019). O capítulo busca retratar a compreensão de aspectos positivos encontrados numa avaliação da autopercepção e nos descritores de identidade de adolescentes Roma. Os resultados mostraram autorreferências menos críticas entre os jovens com alta autoestima, e aqueles com maiores pontuações de identidade étnica invocaram mais descritores que envolviam diferenças culturais ou de grupo. Os autodescritores também retrataram um profundo sentimento de proximidade familiar e amizades significativas com colegas. As conclusões sublinham a existência de sistemas próprios positivos entre os jovens Roma, apesar dos complexos desafios da vida. O capítulo 8, “Associações entre conexões sociais e desempenho acadêmico na juventude Roma na Europa Oriental”, teve por objetivo investigar as relações entre conexão social, engajamento escolar e sucesso acadêmico em jovens Roma de quatro países do Leste Europeu, onde essa juventude tem sido reconhecidamente marginalizada. Os autores discutem o papel das relações harmónicas entre família e escola como possíveis promotoras de desenvolvimento positivo, o que está em linha com estudos realizados com outras populações minoritárias e não-minoritárias (Smith et al., 2016 ). Com base num modelo inspirado pelo conceito de conexão social, os autores apresentam os resultados da pesquisa acerca do grau de influência positiva dos diferentes universos ecológicos de relações sociais no desenvolvimento de adolescentes Roma, e o papel da escola é ressaltado como possível palco de intervenções (Yunes et al., 2018). O capítulo 9, “Desenvolvimento da juventude, educação e identidade: um estudo de caso sobre atitudes na Hungria frente aos jovens”, examina como práticas educativas, formais e informais, e atitudes podem afetar a identidade e o empoderamento de jovens Roma, comprometendo assim seu desenvolvimento positivo. O estudo de caso realizado na Hungria revela duas variáveis importantes e críticas no curso de PYD para esses jovens em situação de exclusão social, a saber: identidade positiva e sistemas institucionais de apoio social. O décimo capítulo (capítulo 10) investiga “Como pode o PYD promover melhorias na vida de populações em situação de exclusão: o caso de jovens Roma de baixa renda na Sérvia”. O autor argumenta que, em cenários de pobreza, privação social e xenofobia estrutural, é comum o relato de casos de bullying por crianças Roma na Sérvia. O capítulo apresenta os resultados da avaliação participativa de um programa educacional alternativo em Belgrado, Sérvia, que usa a estrutura do Desenvolvimento Positivo da Juventude (PYD) para dar suporte aos jovens Roma inseridos no sistema educacional. Ao ouvir efetivamente as vozes das crianças e famílias que sofrem, fica clara a necessidade de ter políticas de educação ajustadas à vida real das populações. A incompatibilidade de políticas entre o que os Roma precisam e os esforços de inclusão do governo é explorada em profundidade neste capítulo. O programa desenvolvido encontra similitudes com programas de educação e apoio parental que visam implementar parentalidade positiva, amplamente realizados em Portugal e Espanha (Almeida et al., 2012; Miranda et al., 2022; Rodríguez Gutiérrez et al., 2016). Deve-se ressaltar o papel dos educadores e profissionais sociais como condutores de intervenções com base no PYD, o que requer preparação e muita reflexão (Walsh, 2016; Yunes et al., 2018). O capítulo 11, “Marginalidade: reflexões sobre Roma e desenvolvimento de jovens”, enfatiza e discute pontos referentes à perpetuação do status de marginalidade da população Roma, perspectiva categorizada por adjetivos e estereótipos negativos e imagens distorcidas da cultura desse povo. Nessa lógica, as classes dominantes assumem um poder de superioridade opressora com essas culturas formando uma relação injusta entre opressores e oprimidos (Freire, 2001) que desqualifica o oprimido, ou seja, os povos marginalizados. O capítulo não esgota as discussões e sugere novas pesquisas e construção de teorias científicas que subsidiam políticas públicas e intervenções junto de jovens Roma. Para fechar as reflexões, temos o capítulo 12 com o tema “O desenvolvimento da juventude Roma em contexto: Quais são as perspetivas?”. Este capítulo faz a revisão das ideias e dos resultados mais importantes dos capítulos anteriormente apresentados. Os autores alegam que o quadro teórico do PYD contribui para formular recomendações acerca de intervenções com foco no bem-estar e empoderamento de jovens Roma. Embora se reconheçam os ganhos desenvolvimentais para a juventude Roma na aplicação dos princípios do PYD, o capítulo aponta para o fato de que esses ganhos são limitados devido ao preconceito e discriminação prolongados e institucionalizados que os Roma sofreram nas sociedades em que vivem. Os princípios do multiculturalismo e os processos da aculturação são elencados sublinhando a importância de remover os obstáculos sociais que podem impedir a construção de processos de integração que incorporam as visões dos diferentes atores que constituem as sociedades.

A leitura possibilita que pesquisadores e profissionais sociais que atuam em frentes de atendimento dessas populações compreendam de forma mais empática as reais dificuldades e os desafios que esses jovens enfrentam. Tais reflexões podem provocar mudanças em sistemas de crenças sólidos e virem a ser transformadoras de práticas relacionais ineficazes e excludentes.

Para terminar, sublinhamos o caráter harmonioso do conjunto de estudos, concepções e programas de intervenção em que se reitera o enquadramento do PYD e todo o seu potencial para valorizar habilidades, competências e o poder das relações saudáveis e dos processos de proteção, que resultam em bem-estar, saúde, sucesso e resiliência na vida desses jovens.

REFERÊNCIAS

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Dimitrova, R., Ferrer-Wreder, L., & Ahlen, J. (2018). School climate, academic achievement and educational aspirations in Roma minority and Bulgarian majority adolescents. Child Youth Care Forum, 47, 645-658. https://doi.org/10.1007/s10566-018-9451-4Links ]

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Miranda, G. E., Almeida, A. T., & Mattar Yunes, M. A. (2022). Resiliencia familiar en el contexto del programa Caminhar em Família. Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, 9, 132-145. https://doi.org/10.17979/reipe.2022.9.0.8897Links ]

Rodríguez Gutiérrez, E., Martín Quintana, J. C., & Cruz Sosa, M. (2016). “Living adolescence in family” parenting program: Adaptation and implementation in social and school contexts. Psychosocial Intervention, 25(2), 103-110. https://doi.org/10.1016/j.psi.2016.03.004Links ]

Sarriera, J. C., Tatin, D. C., Coelho, R. P. S., & Bücker, J. (2007). Uso do tempo livre por adolescentes de classe popular [The free time usage by teenagers of lower class populations]. Psicologia: Reflexão e Crítica, 20(3), 361-367. https://doi.org/10.1590/S0102-79722007000300003Links ]

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Smith, E. P., Faulk, M., & Sizer, M. (2016). Exploring the meso-system: The roles of community, family, and peers in adolescent delinquency and positive youth development. Youth & Society, 48(3), 318-343. https://doi.org/10.1177/0044118X13491581 [ Links ]

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Yunes, M. A. M., Fernandes, G., & Weschenfelder, G. V. (2018). Intervenções psicoeducacionais positivas para promoção de resiliência: o profissional da educação como tutor de desenvolvimento.Educação,41(1), 83-92. https://doi.org/10.15448/1981-2582.2018.1.29766Links ]

Recebido: 07 de Junho de 2022; Aceito: 19 de Julho de 2022; Publicado: 15 de Maio de 2023

Ana Almeida Departamento de Psicologia da Educação e Educação Especial Universidade do Minho aalmeida@ie.uminho.pt

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