SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.26 número2Asma grave e macrólidos índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.26 no.2 Lisboa jun. 2018

 

EDITORIAL

 

Ângela Gaspar, Luís Miguel Borrego

Coordenadora do grupo Editor da RPIA de interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” da SPAIC

Editor da RPIA

 

A maioria das doenças imunoalérgicas tem um prognóstico vital favorável, mas algumas têm manifestações graves e potencialmente fatais, sendo a sua letalidade dependente essencialmente da não existência de um diagnóstico prévio, do não reconhecimento destes quadros agudos, menos frequentes, pelos profissionais de saúde, e da persistência de mitos ou conceitos errados quanto ao tratamento adequado destas situações. Neste sentido, foi criado em Outubro de 2014 o grupo de interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” (GANDALF) da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), com o objetivo de aumentar a visibilidade e o conhecimento destas patologias por parte dos profissionais de saúde. O coordenador que fundou este grupo de interesse, sob proposta da Direcção da SPAIC, foi o Professor Manuel Branco Ferreira e no triénio da atual direção da SPAIC este grupo de interesse foi renovado com a bem-vinda aquisição da Dra. Natacha Santos como secretária e da Dra. Leonor Leão como representante de ligação dos Jovens Imunoalergologistas da SPAIC.

Este grupo de interesse tem vindo a elaborar vários materiais educacionais destinados aos profissionais de saúde e à comunidade em geral, colocando estes conteúdos disponíveis online na página da SPAIC e na página de Facebook criada pelo grupo de interesse. Sendo a anafilaxia a forma mais grave de manifestação da doença alérgica, o grupo de interesse criou vários materiais educacionais sobre anafilaxia, tendo sido inovador o “Tríptico de anafilaxia: Diagnóstico e tratamento”, divulgado aos sócios da SPAIC em 2016. O âmbito do grupo de interesse engloba outras doenças imunoalérgicas graves e potencialmente fatais, com destaque para o angioedema hereditário. Existem ainda doenças específicas, como a mastocitose, em que há uma maior propensão para episódios de anafilaxia. Neste âmbito foi criado um questionário sobre mastocitose, divulgado este mês aos sócios da SPAIC solicitando que seja preenchido pelos sócios médicos que acompanhem doentes com mastocitose cutânea e/ou sistémica, de forma a esclarecer sobre epidemiologia, métodos de diagnóstico e tratamentos utilizados nestes doentes em Portugal. No âmbito do angioedema hereditário será reformulado o manual educacional sobre esta patologia e está programada a tradução para língua portuguesa de um questionário de qualidade de vida para doentes com angioedema hereditário.

No presente número da Revista Portuguesa de Imunoalergologia (RPIA), assim como no próximo número, na Página Educacional são colocados ao dispor de todos os leitores da RPIA e dos sócios da SPAIC alguns destes materiais educativos sobre anafilaxia, com o objetivo de melhorar o conhecimento e a abordagem da anafilaxia em Portugal.

Na presente Página Educacional o GANDALF apresenta o “Poster de anafilaxia: Diagnóstico e tratamento” e os planos de emergência para anafilaxia. O primeiro inclui critérios clínicos de diagnóstico de anafilaxia e um algoritmo de tratamento e destina-se a ser utilizado por profissionais de saúde. Este documento, com forte componente iconográfico, vem na sequência do poster elaborado pela World Allergy Organization (WAO), tendo sido aprimorado e disponibilizado gratuitamente e em língua portuguesa. O “Plano de emergência” contém orientações para a abordagem da anafilaxia na comunidade e instruções para a utilização dos autoinjectores de adrenalina, dirigindo-se maioritariamente à comunidade não médica, incluindo doentes, pais e prestadores de cuidados.

No próximo número da RPIA será publicado na Página Educacional o “Algoritmo de diagnóstico diferencial da anafilaxia”, certamente muito útil para utilização por todos nós na prática clínica.

A realização de cursos de formação pós-graduada sobre anafilaxia tem sido também uma prioridade, tendo sido neste âmbito desenvolvido o curso “Alergia e anafilaxia: uma questão de vida ou morte”, realizado no Funchal a 25 e 26 de novembro de 2016, e em Ponta Delgada a 24 e 25 de novembro de 2017, com o patrocínio científico da SPAIC, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Ordem dos Médicos.

Destacamos, em particular, este ano a importante criação pela Direção da SPAIC, com a colaboração do GANDALF, do Registo Nacional de Anafilaxia online (ReNA), que visa aumentar o conhecimento nacional sobre os casos de anafilaxia em Portugal. Trata-se de uma iniciativa inovadora da atual Direção da SPAIC, após um processo interativo muito participado, assente na experiência prévia sobre notificações de anafilaxia da SPAIC.

O Registo Nacional de Anafilaxia criado em 2007 tinha o problema da subnotificação dos casos, pelo que foi desenvolvido este sistema novo, aperfeiçoado, de notificação online, com vista a resolver o problema da subnotificação por parte dos clínicos e prevendo a exportação dos dados para o Catálogo Português de Alergias e outras Reações Adversas (CPARA), do Ministério da Saúde.

Relembrando que a anafilaxia é, de acordo com a Norma da Direção Geral de Saúde n.º 014/2012 (atualizada a 18/12/2014), de notificação obrigatória, solicitamos aos sócios médicos da SPAIC a notificação no ReNA de todos os casos de anafilaxia observados. Estamos certos que esta ferramenta online é importante para o futuro da SPAIC e é o caminho para melhorar o conhecimento do impacto da anafilaxia a nível nacional.

Os dados do Registo Nacional de Anafilaxia da SPAIC ao longo dos últimos 10 anos permitiram a caracterização de mais de mil doentes com clínica de anafilaxia, em que as três causas mais frequentes identificadas foram os medicamentos, os alimentos e os venenos de himenópteros.

Os medicamentos foram a causa principal nos adultos e os alimentos a causa mais frequente nas crianças e adolescentes.

O reconhecimento destes quadros graves e sua orientação para Imunoalergologia permite delinear medidas de atuação em termos de diagnóstico e tratamento, oferecendo alternativas, estruturando a atuação de emergência, e conduzindo a intervenções terapêuticas específicas, que devem ser efetuadas por especialistas com treino e experiência.

Convidamos todos os Colegas a consultar os materiais educacionais aqui publicados e a divulgar o seu conteúdo por outros médicos, nomeadamente de outras especialidades, assim como pelos doentes com anafilaxia e suas famílias e/ou prestadores de cuidados.

Bem hajam.

 

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons