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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.26 no.2 Lisboa jun. 2018

 

PÁGINA EDUCACIONAL

 

Anafilaxia na comunidade – Materiais educacionais

Anaphylaxis in the community – Educational materials

 

Leonor Carneiro‑Leão1, Natacha Santos2, Ângela Gaspar3, pelo Grupo de Interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” da SPAIC

1 Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar São João, Porto

2 Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Unidade de Portimão

3 Centro de Imunoalergologia, Hospital CUF Descobertas, Lisboa

 

Correspondência para:

 

RESUMO

Com o objetivo de melhorar o conhecimento e a abordagem da anafilaxia em Portugal, o Grupo de Interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” (GANDALF) da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) tem elaborado vários materiais educativos sobre anafilaxia. Na presente Página Educacional o GANDALF apresenta o poster “Anafilaxia: Diagnóstico e Tratamento” e os planos de emergência para anafilaxia.

O primeiro inclui critérios clínicos de diagnóstico de anafilaxia e um algoritmo de tratamento e destina‑se a ser utilizado por profissionais de saúde. Os planos de emergência contêm orientações para a abordagem da anafilaxia na comunidade e instruções para a utilização de autoinjectores de adrenalina, dirigindo‑se maioritariamente à comunidade não médica, incluindo doentes, pais e prestadores de cuidados.

Palavras‑chave: Adrenalina, anafilaxia, diagnóstico, plano de emergência, poster, tratamento.

 

ABSTRACT

To improve the knowledge and management of anaphylaxis in Portugal, the Portuguese Society of Allergy and Clinical Immunology (SPAIC) interest group on “Anaphylaxis and Fatal Immunoallergic Diseases” (GANDALF) has produced several educational materials. On this educational page GANDALF presents the poster “Anaphylaxis: Diagnosis and Management” and the anaphylaxis’ emergency plans. The first includes anaphylaxis diagnostic criteria and a treatment algorithm to be used by health professionals, and the later contains guidance for anaphylaxis management in the community setting and instructions for adrenaline auto‑injector use; it’s designed to be used by patients, parents and care‑takers without medical training.

Key‑words: Anaphylaxis, diagnosis, emergency plan, epinephrine, poster, treatment.

 

INTRODUÇÃO

A anafilaxia é uma emergência médica por excelência, tratando‑se de uma reação de hipersensibilidade sistémica grave e potencialmente fatal1,2.

A morte pode ocorrer em minutos, não sendo possível, no início do episódio, prever a velocidade da sua progressão ou a sua gravidade final1. Por outro lado, a administração célere de adrenalina melhora o prognóstico e a sua não administração está associada a fatalidades14.

Assim, reconhecer e tratar adequadamente a anafilaxia é fundamental. No entanto, dados nacionais e internacionais demonstram de forma consistente que a anafilaxia continua subdiagnosticada, subreportada e subtratada16.

Com o objetivo de melhorar o conhecimento e a abordagem da anafilaxia em Portugal, o Grupo de Interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” (GANDALF) da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) tem vindo a produzir um conjunto de materiais educativos. São agora colocados alguns desses materiais educativos ao dispor de todos os leitores da Revista Portuguesa de Imunoalergologia (RPIA) e dos sócios da SPAIC.

POSTER DE “ANAFILAXIA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO”

Em 2011, a World Allergy Organization (WAO) promoveu a publicação histórica das primeiras orientações mundiais para a abordagem diagnóstica e terapêutica da anafilaxia1.

Este documento continha um forte componente iconográfico, a partir do qual foi criado o poster Anaphylaxis: diagnosis and treatment. Neste contexto, o GANDALF considerou relevante criar uma versão nacional, para ser disponibilizada gratuitamente e em língua portuguesa (Figura 1).

Relativamente ao diagnóstico de anafilaxia, que é exclusivamente clínico, foram usadas imagens para ilustrar os três cenários em que este deve ser considerado. As imagens foram inspiradas nas produzidas pela WAO, sendo reformuladas de modo a facilitar a interpretação dos critérios de diagnóstico.

O tratamento foi organizado por passos, reiterando o papel da adrenalina como tratamento de primeira linha da anafilaxia, independentemente da gravidade do quadro15.

A adrenalina deve ser administrada por via intramuscular na face anterolateral da coxa, na dose de 0,01mg/kg (máximo 0,5mg), que pode ser repetida a cada 5‑15 minutos (num máximo de 3 administrações) se não ocorrer resposta clínica. Foi também complementado com o restante tratamento e as doses de cada fármaco a utilizar.

Pela importância da adequada orientação no momento da alta após o episódio de anafilaxia para o tratamento e prevenção de novos eventos, foi ainda incluída uma “Check‑list após a alta”, relembrando que, de acordo com orientações nacionais2, deve ser feita a prescrição de tratamento de emergência, efetuada a referenciação urgente para consulta de Imunoalergologia e a notificação do caso no Registo Nacional de Anafilaxia da SPAIC e no Catálogo Português de Alergias e outras Reacções Adversas (CPARA)7.

O poster “Anafilaxia: Diagnóstico e Tratamento” foi publicado também na Acta Médica Portuguesa em Fevereiro de 2018, desta forma divulgando junto da comunidade médica portuguesa não só o poster, mas também a anafilaxia e a sua correta abordagem8.

PLANO DE EMERGÊNCIA

O plano de emergência escrito é uma arma fundamental para a proteção do indivíduo com risco de anafilaxia3,4.

Este tipo de documentos tem o potencial de reduzir a frequência e a gravidade das reações, melhorar o conhecimento da anafilaxia, melhorar o uso dos autoinjectores de adrenalina e reduzir a ansiedade dos cuidadores9. O uso de planos de emergência está recomendado por diversas organizações nacionais e internacionais14,10.

Estes documentos devem ser claros, de compreensão fácil, escritos em linguagem não médica e devem incluir informações como a identificação e fotografia do doente, contacto dos pais / cuidadores / pessoa de referência e do médico responsável e identificação clara dos alergénios a evitar. Devem ser entregues cópias do plano ao doente, aos cuidadores, à escola e ao médico de família3.

No entanto, a existência de diversos modelos de plano de emergência pode gerar confusão na comunidade11, não sendo difícil imaginar uma situação em que uma escola, com várias crianças com risco de anafilaxia, seguidas por médicos diferentes, possa ter planos de emergência com variações relevantes no seu aspeto, conteúdo e orientações.

Com o objetivo de uniformizar a informação prestada, facilitando os cuidados prestados por pais, profissionais de saúde e comunidade escolar, o GANDALF decidiu criar um Plano de Emergência que agora disponibiliza a todos os leitores da RPIA e sócios da SPAIC.

Este documento teve por base, além das orientações referidas, diversos planos de emergência disponíveis na literatura, incluindo um de índole nacional, publicado na RPIA12. O plano de emergência deve ser preenchido com os dados de identificação do doente, contacto de emergência dos pais / cuidadores / pessoa de referência, contacto do médico assistente, alergénios relevantes e nome dos medicamentos que compõem o kit de emergência.

Inclui instruções sobre como proceder em função da gravidade dos sintomas, caso suspeite que possa ter contactado com o alergénio relevante. Os órgãos potencialmente afetados estão ilustrados com o intuito de facilitar a interpretação dos sinais e sintomas. Inclui também instruções para a utilização dos dois dispositivos autoinjectores de adrenalina disponíveis em Portugal, para os quais existem duas doses fixas: 0,15mg e 0,30mg, utilizando‑se o último quando o peso do doente for ≥30kg. A adrenalina auto‑injectável pode ser prescrita em crianças a partir de 7,5kg13. A educação sobre o uso do dispositivo deve ser feita ao doente e aos prestadores de cuidados. O plano de emergência está disponível em duas versões, uma com instruções para o uso de Anapen® (Lincoln Medical Limited, Salisbury, Reino Unido) (Figura 2) e outra com instruções para o uso de Epipen® (Mylan, Canonsburg, Estados Unidos) (Figura 3). O doente deve ser portador do plano de emergência e do dispositivo autoinjector de adrenalina que lhe foi prescrito e a prevenção da anafilaxia deve envolver todos os prestadores de cuidados.

 

REFERÊNCIAS

1. Simons FE, Ardusso LR, Bilo MB, El‑Gamal YM, Ledford DK, Ring J, et al. World allergy organization guidelines for the assessment and management of anaphylaxis. World Allergy Organ J 2011;4:13‑37.         [ Links ]

2. Direcao‑Geral da Saúde. Anafilaxia: Abordagem Clínica. Norma n.º 014/2012 de 16/12/2012 atualizada a 18/12/2014.         [ Links ]

3. Muraro A, Roberts G, Worm M, Bilo MB, Brockow K, Fernandez Rivas M, et al. Anaphylaxis: guidelines from the European Academy of Allergy and Clinical Immunology. Allergy 2014;69:1026‑45.         [ Links ]

4. Simons FE, Ardusso LR, Bilo MB, Cardona V, Ebisawa M, El‑Gamal YM, et al. International consensus on (ICON) anaphylaxis. World Allergy Organ J 2014;7:9.         [ Links ]

5. Gaspar A, Branco‑Ferreira M. Anafilaxia. In: Taborda ‑Barata L (Eds.). Fundamentos de Imunoalergologia. Lisboa: Lidel Edições Lda; 2011:195‑214.         [ Links ]

6. Mota I, Pereira AM, Pereira C, Tomaz E, Ferreira MB, Sabino F, et al. Abordagem e registo da anafilaxia em Portugal. Acta Med Port 2015;28:786‑96.         [ Links ]

7. Direção‑Geral da Saúde. Registo de Alergias e Outras Reações Adversas. Norma n.º 002/2012 de 04/07/2012 atualizada a 11/08/2015.         [ Links ]

8. Carneiro‑Leao L, Santos N, Gaspar A; Grupo de interesse de “Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais” da SPAIC. Anafilaxia: diagnóstico e tratamento. Acta Med Port 2018;31:134‑5.         [ Links ]

9. Nurmatov U, Worth A, Sheikh A. Anaphylaxis management plans for the acute and long‑term management of anaphylaxis: a systematic review. J Allergy Clin Immunol 2008;122:353‑61, e1‑3.         [ Links ]

10. Direcao‑Geral da Saúde. Anafilaxia: Registo e Encaminhamento. Norma n.º 004/2012 de 16/12/2012 atualizada a 18/12/2014.         [ Links ]

11. Wang J, Sicherer SH, Section on Allergy and Immunology. Guidance on Completing a Written Allergy and Anaphylaxis Emergency Plan. Pediatrics 2017;139:e20164005.         [ Links ]

12. Prates S, Carrapatoso I. Orientação do doente com alergia alimentar. Rev Port Imunoalergologia 2009;17(Supl 1):35‑40.         [ Links ]

13. Silva D, Gaspar A, Mariana Couto, Mário Morais‑Almeida. Anafilaxia em idade pediátrica: Do lactente ao adolescente. Rev Port Imunoalergologia 2013;21:157-75.         [ Links ]

 

Contacto:

Ângela Gaspar

Centro de Imunoalergologia, Hospital CUF Descobertas

Rua Mário Botas, 1998‑018

Lisboa

E‑mail: angela.gaspar@sapo.pt

 

Declaração de conflitos de interesse: Nenhum.

 

Data de receção / Received in: 26/03/2018

Data de aceitação / Accepted for publication in: 30/03/2018

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