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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

Print version ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.29 no.4 Lisboa Dec. 2021  Epub Dec 30, 2021

https://doi.org/10.32932/rpia.2021.12.068 

EDITORIAL

Fast forward no diagnóstico para uma medicina de precisão

1 Serviço de Imunoalergologia, Hospital de São João, Centro Hospitalar de São João - EPE, Porto, Portugal

2 Serviço de Imunologia Básica e Clínica, Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal


A introdução do conceito de diagnóstico baseado em componentes moleculares nos últimos vinte anos veio lançar importantes desafios científicos e na prática clínica1. Atualmente temos acesso de forma mais ou, por vezes, menos transversal a ferramentas que nos ampliam e aprofundam o conhecimento dos perfis de sensibilização. Contudo, trazem‑nos novas dificuldades na sua interpretação, definição da sua relevância clínica e acuidade diagnóstica.

Lemos com interesse o artigo de Silva et al. neste número da RPIA, que aborda a aplicação da técnica ALEX® no diagnóstico da síndrome da LTP. Esta nova ferramenta diagnóstica permite a identificação simultânea da IgE total, IgE específica e respetivos componentes moleculares e, portanto, fornece‑nos uma ampla caracterização do perfil de sensibilização destes doentes, incluindo das LTP alimentares e de pólenes. A concordância entre os diferentes métodos diagnóstico e a clínica revelou‑se apesar de tudo diferente, de acordo com o alimento a que o doente se encontrava sensibilizado. A utilização integrada destes elementos diagnósticos numa amostra populacional mais ampla e aplicando uma análise de rácios entre IgE específica/IgE total e IgE componentes/IgE específica2, como recentemente sugerido, poderá revelar‑se no futuro útil e complementar a uma abordagem diagnóstica referida como clássica.

O amplo espetro clínico que encontramos na alergia alimentar alia‑se a uma ampla expressão de alergénios; além do típico exemplo da síndrome da LTP, podemos encontrar também na alergia às proteínas de leite de vaca, em que o processamento da proteína poderá ter impacto também na expressão clínica da doença alérgica. No caso clínico de Marques et al. deste número da RPIA, é demonstrado que a sensibilização a albumina sérica bovina apresenta uma expressão clínica variável em função do processamento da carne bovina. Portanto, além da avaliação do perfil de sensibilização in‑vitro, confirmado com inibição, será necessária a validação com o goldstandard, a prova de provocação oral. A clínica prevalece sempre na adequada abordagem do doente. Por este motivo, a interpretação dos valores da sensibilização mediada por IgE de forma isolada é limitativa, como já é amplamente reconhecido.

Atualmente têm surgido novos biomarcadores, como os testes de ativação basofílica, cujo objetivo é reduzir a necessidade de procedimentos in vivo3. Os testes de ativação basofílica têm sido utilizados na prática clínica para confirmar o diagnóstico, avaliar a elegibilidade para tratamento com imunoterapia com alergénios ou tratamento imunomodulador ou para monitorizar a história natural da doença alérgica3. Apesar de este método estar a ser alvo de intenso estudo científico, a sua aplicação generalizada na prática clínica é limitada, dada a necessidade de validação analítica do método, validação clínica e, adicionalmente, pela dificuldade ao seu acesso de forma generalizada e difícil implementação, particularmente em pequenos centros.

São necessários novos biomarcadores mais disponíveis e acessíveis que, ao serem integrados em algoritmos e sistemas de suporte de decisão clínica4, consigam então melhorar a nossa capacidade de diagnóstico, atingindo um balanço ótimo entre o risco e benefício. A alguns destes biomarcadores já temos acesso de forma mais generalizada, nomeadamente à avaliação com IgG, nomeadamente da IgG específica e a correlação IgE/IgG.

Na alergia a veneno de himenópteros os valores de IgG4 específica mostraram correlacionar-se com cenários clínicos específicos2. Contudo, a evidência relativa à interpretação da relação entre a IgE específica e a IgG é escassa. No artigo deste número da RPIA, Beltrão et al. avalia a resposta IgE e IgG específica a Aspergillus fumigatus na distinção de diferentes espetros clínicos de patologia respiratória associada a sensibilização a A fumigatus.

Verificamos neste estudo que o uso de IgE específica para os antigénios secretados e intracelulares do A. fumigatus foi superior na aspergilose broncopulmonar alérgica, em comparação com a asma alérgica com sensibilização a fungos. Por outro lado, a sensibilização por IgG para A. fumigatus foi mais elevada nos doentes com aspergiloma, apesar de a IgG específica para os diferentes componentes não se associar a melhor discriminação diagnóstica entre os diferentes espetros clínicos.

A utilização integrada dos diferentes métodos de diagnóstico pode ser uma mais‑valia na adequada orientação e caracterização dos nossos doentes. Estes métodos de avaliação dos alergénios e componentes moleculares devem focar‑se não só na IgE específica, mas certamente noutros isótipos da imunoglobulina, bem como a avaliação da atividade competitiva entre a IgE e IgG específica de

alergénio5.

A velocidade em fast forward, com que nos deparamos com novas metodologias e ferramentas diagnósticas, pode inundar‑nos em informação, pelo que nos devemos treinar na sua interpretação crítica de forma a tornarmos essa informação útil. O intuito final é conseguirmos discernir quais são os biomarcadores que facilitam e melhoram os cuidados clínicos e que são possíveis de aplicar de uma forma ampla e acessível.

REFERÊNCIAS

1. Valenta R, Lidholm J, Niederberger V, Hayek B, Kraft D, Gronlund H. The recombinant allergen‑based concept of component‑resolved diagnostics and immunotherapy (CRD and CRIT). Clin Exp Allergy. 1999;29(7):896‑904. 10.1046/j.1365‑2222.1999.00653.x. [ Links ]

2. Pascal M, Moreno C, Davila I, Tabar AI, Bartra J, Labrador M, et al. Integration of in vitro allergy test results and ratio analysis for the diagnosis and treatment of allergic patients (INTEGRA). Clin Transl Allergy 2021;11(7):e12052. 10.1002/clt2.12052. [ Links ]

3. Santos AF, Alpan O, Hoffmann HJ. Basophil activation test: Mechanisms and considerations for use in clinical trials and clinical practice. Allergy 2021;76(8):2420‑32.10.1111/all.14747. [ Links ]

4. Barber D, Diaz‑Perales A, Escribese MM, Kleine‑Tebbe J, Matricardi PM, Ollert M, et al. Molecular allergology and its impact in specific allergy diagnosis and therapy. Allergy 2021. 10.1111/all.14969. [ Links ]

5. Huang HJ, Campana R, Akinfenwa O, Curin M, Sarzsinszky E, Karsonova A, et al. Microarray‑Based Allergy Diagnosis: Quo Vadis? Front Immunol 2020;11:594978. 10.3389/fimmu.2020.594978. [ Links ]

Recebido: 20 de Dezembro de 2021; Aceito: 21 de Dezembro de 2021

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