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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.30 no.2 Lisboa jun. 2022  Epub 30-Jun-2022

https://doi.org/10.32932/rpia.2022.06.079 

EDITORIAL

Avançando na notificação das reacções de hipersensibilidade a fármacos

1 Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Faro, Portugal


Desde que em 1986 foi aprovado o primeiro anticorpo monoclonal produzido em ratinhos, o muronomab1, descontinuado em 2011, seguiram-se a aprovação de anticorpos quiméricos (ex.: rituximab, em 1997), humanizados (ex.: palivizumab, em 1998), e humanos (ex.: adalimumab, em 2002)2, estando atualmente aprovados e comercializados mais de 65 anticorpos monoclonais em Portugal3 e registados quase 250 ensaios clínicos de fase 3 em curso com anticorpos monoclonais4.

De acordo com o Relatório Anual de Farmacovigilância de 2020, a maioria (30,4%) das reações adversas medicamentosas (RAM) foram reportadas a fármacos da classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Code) - agentes antineoplásicos e imunomoduladores5, onde se incluem a maioria dos anticorpos monoclonais (classificação farmacoterapêutica 16.3 - imunomoduladores6), embora outros se encontrem classificados dentro da área terapêutica do órgão-alvo (ex.: omalizumab no ATC R - aparelho respiratório), o que dificulta a avaliação da frequência e caracterização de RAM especificamente a anticorpos monoclonais. É, no entanto, reconhecida uma tendência crescente de reações de hipersensibilidade relacionadas com a utilização destes medicamentos7.

Salientamos por isso o artigo de Barradas Lopes et al, publicado neste número da RPIA, que descreve a atuação diagnóstica e terapêutica dos 18 doentes referenciados à consulta de alergia a fármacos do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho entre 2013 e 2019 por suspeita de hipersensibilidade a anticorpos monoclonais.

As reações imediatas a estes medicamentos podem classificar-se em reações relacionadas com a infusão/síndrome de libertação de citocinas (RRI/SLC), que ocorrem habitualmente na primeira administração e são autolimitadas na reexposição, reações de hipersensibilidade do tipo 1 (mediadas ou não por IgE) e reações mistas.

Uma exceção a esta apresentação é a reação de hipersensibilidade IgE-mediada na primeira administração de cetuximab por sensibilização prévia a alfa-gal, sendo no entanto esta uma entidade rara em Portugal8.

Neste estudo, foi realizada uma prova de provocação em todos os doentes com sintomas ligeiros e/ou testes cutâneos negativos, tendo sido possível excluir uma reacção de hipersensibilidade em 67% dos doentes e tendo apenas sido confirmada hipersensibilidade em três doentes, por reações reprodutíveis durante os procedimentos de dessensibilização.

É de louvar a publicação de dados relativamente ao estudo alergológico em doentes com suspeita de hiper-sensibilidade a fármacos menos frequentemente implicados, como é o caso dos anticorpos monoclonais.

No entanto, e utilizando o exemplo da Farmacovigilância Ativa para as vacinas contra a COVID-19(9), a evolução a curto prazo deverá ser no sentido de implementar a nível nacional a colheita de dados específicos e padronizados relativamente ao estudo alergológico de doentes com suspeita de reações de hipersensibilidade a fármacos, que atualmente apenas pode ser reportado em campo aberto no Portal RAM, e que possam ser analisados incluindo um maior número de doentes provenientes de vários centros, de forma integrada entre os notificadores iniciais e os Imunoalergologistas e com uma descrição mais pormenorizada que não se restrinja ao ATC, com o objetivo de termos mais informação útil acerca da clínica e estudo alergológico das reações de hipersensibilidade a fármacos em Portugal.

REFERÊNCIAS

1. Barata LT. Conceitos subjacentes à utilização dos medicamentos biológicos. Rev Port Imunoalergologia 2017;25:157-64. [ Links ]

2. Lu RM, Hwang YC, Liu IJ, Lee CC, Tsai HZ, Li HJ, et al. Development of therapeutic antibodies for the treatment of diseases. Journal of Biomedical Science 2020;27:1-30. https://doi.org/10.1186/S12929-019-0592-Z. [ Links ]

3. Infomed. https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/pesquisaavancada.xhtml (accessed May 18, 2022). [ Links ]

4. Search of: monoclonal antibodies | Recruiting, Not yet recruiting, Active, not recruiting Studies | Interventional Studies | Phase 3 - List Results - ClinicalTrials.gov. https://clinicaltrials.gov/ct2/results?term=monoclonal+antibodies&Search=Apply&recrs=b&recrs=a&recrs=d&age_v=&gndr=&type=Intr&rslt=&phase=2 (accessed May 18, 2022). [ Links ]

5. Relatórios de Análise Periódica de Dados - INFARMED, I.P. https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-usohumano/farmacovigilancia/notificacao-de-ram/relatorios_analise_periodica_dados (accessed May 18, 2022). [ Links ]

6. Despacho nº 4742/2014 | DRE. https://dre.pt/dre/detalhe/despacho/4742-2014-25681511 (accessed May 18, 2022). [ Links ]

7. Geraldes L, Alendouro P. Hipersensibilidade a fármacos - Os suspeitos do costume e os inusitados. Revista Portuguesa de Imunoalergologia 2016;24:79-85. [ Links ]

8. Fernandes M, Sousa F, Câmara R. Síndrome alfa-gal: Dois casos clínicos. Rev Por Imunoalergologia 2021;29:49-53. https://doi.org/10.32932/rpia.2021.03.053. [ Links ]

9. Infarmed. Relatório de farmacovigilância: monitorização a segurança das vacinas contra a COVID-19 em Portugal. https://www.infarmed.pt/documents/15786/4268692/Relat%C3%B3rio+de+-Farmacovigil%C3%A2ncia+-+Monitoriza%C3%A7%C3%A3o+da+seguran%C3A7a+das+vacinas+contra+a+COVID+19+em+Portugal+atualizado/709e77f5-ab06-092d-338b-44c99586f796 (accessed May 18, 2022). [ Links ]

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