SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.44António Teixeira Fernandes (1939-2022): um percurso singular na Sociologia índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Sociologia

versão impressa ISSN 0872-3419

Sociologia vol.44  Porto dez. 2022  Epub 30-Mar-2023

 

Editorial

Nota editorial

Helena Vilaça1 

1Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto


O volume XLIV da Sociologia: Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto é iniciado com um obituário sobre o Professor António Teixeira Fernandes, seu fundador, em 1991, e que faleceu, para nosso pesar, em 24 de agosto de 2022. A ele se deve este projeto editorial iniciado há mais de trinta anos. Trata-se, por isso, de um número, com um caráter muito especial e que, tal como a vida e produção científica do seu criador, aborda temáticas diversas e teoricamente transversais da realidade social contemporânea. O primeiro artigo aqui apresentado, “Entre Textos e Contextos: o ensino de teorias sociológicas” da autoria de Manuela Reis, representa uma reflexão pertinente sobre o ensino das teorias sociológicas na formação universitária. A autora questiona o papel e a eficácia desse corpo teórico na formação universitária básica e sobre as controvérsias da sua conversão em ferramentas profícuas à prática científica e profissional do sociólogo. Abordando também os procedimentos metodológicos e técnicos para analisar a sociedade do presente, Manuela Reis propõe o pluriparadigmatismo teórico como recurso fundamental da formação sociológica, enfatizando a indispensabilidade da visitação dos textos originais tanto dos autores clássicos como contemporâneos. Deslocando o foco do ensino exclusivamente académico e sociológico para a questão da escola pública em contexto democrático, Cristina Gomes da Silva conduz-nos a um exercício reflexivo acerca dos desafios e multivalências do ensino atual, enfatizando, que o propósito da escola em muito ultrapassa a “tríade ler, escrever e contar” bem como a mera aquisição de competências com vista ao exercício das profissões em contexto laboral. A autora enfatiza que as sociedades democráticas exigem, em paralelo, formação em termos de cidadania e o exercício de uma ação informada, responsável e solidária em prol “bem comum”. Num registo de natureza mais histórico e sociológico e partindo de “Narrativas de experiência de vida sobre a guerra do Ultramar”, Maria Inês Coelho e Carla Aurélia de Almeida centram a sua análise num corpus oral de narrativas de vida de soldados portugueses mobilizados para as campanhas militares do “Ultramar” desde finais da década de sessenta do século passado até ao fim do Estado Novo e da guerra colonial em 1974. A vivência do conflito é examinada tomando como instrumento eletivo as práticas discursivas de construção da memória e da representação do corpo, fenómeno que é coletivamente construído pelos militares em contexto bélico, e como esse passado se perpetuou em tensões diversas, manifestas nos relatos de oralidade. O artigo seguinte, da autoria de Pedrito Cambrão e Domingos Julião, remete-nos para uma realidade vivenciada quase meio século depois da Revolução de Abril e do processo de descolonização. A presente situação vivida em Moçambique, especificamente em Cabo Delgado, é o objeto de pesquisa destes autores que, a partir de um olhar antropossociológico, procuram evidenciar os elementos multicausais subjacentes à guerra fratricida que aí decorre. Chamando a atenção para a riqueza desse território - uma das maiores reservas de gás natural do mundo - Pedrito Cambrão e Domingos Julião constatam que os ataques armados recorrentes, desde 2017, possuem causas que extravasam a classificada pelo Estado moçambicano como ações terroristas do Estado Islâmico. Com base em pesquisas bibliográfica e documental, a par de entrevistas aos refugiados acolhidos na vizinha Província de Nampula, o estudo evidencia os problemas internos que estão na génese desta agressão, nomeadamente, a erosão da unidade familiar, das práticas culturais, o aumento da pobreza sistémica e os traumas decorrentes da violência. A revista comporta ainda dois artigos no domínio do simbólico. Um, dentro de um registo da cultura pop e da autoria de Ana Martins, incide sobre a música rock’n’roll e as suas representações, na sociedade portuguesa. Partindo de um quadro mais amplo e global que é a da conexão entre rock’n’roll e comportamentos de risco, especialmente relacionados com o sexo, o álcool e o consumo de drogas (mais ou menos legais), a autora analisa as representações mediáticas do triângulo “sexo, drogas e rock’n’roll em dois órgãos de comunicação social nacionais e durante o período do boom do rock português, evidenciando o contributo desses media para a formação das representações sociais do fenómeno. Também no domínio do simbólico, mas no âmbito do campo religioso, Elsa Pereira aborda um tema inovador no âmbito dos estudos sobre os evangélicos na Europa, concretamente, apresenta um projeto de estudo, em fase exploratória avançada, sobre igrejas minoritárias dentro do protestantismo, dado que exclui igrejas protestantes históricas que usufruíram do estatuto de igrejas nacionais. Sob o título “O papel das mulheres nas igrejas evangélicas na Europa”, a autora propõe-se investigar, em moldes comparativos, as (des)igualdades de género nas igrejas evangélicas em cinco países europeus: dois historicamente e culturalmente católicos (Portugal e Itália); um protestante (Suécia), o duopólio protestante-católico da Alemanha e um país de maioria ortodoxa (Bulgária). Este número conta ainda com a recensão de Eusébio Kaluvi Mateia sobre a obra, coordenada por Isabel Dias, Violência Doméstica e de Género, Uma Abordagem Multidisciplinar. Como refere o autor, trata-se de uma obra de toda a relevância que, a partir de contributos teórico- empíricos diversos, procura sensibilizar a comunidade académica para o problema (e a problemática) da violência doméstica e de género, na sociedade contemporânea. Finalmente, nesta nota editorial, manifesto, em consonância com os colegas de sociologia da FLUP, um profundo agradecimento ao Prof. Carlos Manuel Gonçalves, colega e amigo, pelo trabalho desenvolvido com todo o empenho e dedicação, desde 2014 até 2022, como diretor da Sociologia: Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Como nova diretora deste periódico científico, assumo o compromisso de ser diligente no desempenho das funções que me foram atribuídas e de me esforçar por dar continuidade à atividade meritoriamente produzida pelos meus antecessores.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons