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Sociologia

versão impressa ISSN 0872-3419

Sociologia vol.44  Porto dez. 2022  Epub 30-Mar-2023

https://doi.org/10.21747/08723419/soc44a5 

Artigos originais

Um olhar sobre o rock’n’roll e as suas representações sociais no Portugal contemporâneo

A look at rock'n'roll and its social representations in contemporary Portugal

Un regard sur le rock'n'roll et ses représentations sociales dans le Portugal contemporain

Una mirada al rock'n'roll y sus representaciones sociales en el Portugal contemporáneo

Ana Martins1 

1Instituto de Sociologia da Universidade do Porto


RESUMO

É amplamente conhecida e reconhecida socialmente a associação da música rock a comportamentos de risco, especialmente relacionados com o sexo, o álcool e o consumo de outras substâncias lícitas e ilícitas. Tal como sucedeu na realidade internacional, com maior ênfase nos países anglo-saxónicos, também em Portugal o rock abarca um amplo processo de produção e reprodução de pânico moral, que tem acompanhado o desenvolvimento da sociedade portuguesa. Neste artigo, pretende-se apresentar uma breve análise e reflexão das representações mediáticas acerca do epítome “sexo, drogas e rock’n’roll” em Portugal, em dois órgãos de comunicação e durante o período do boom do rock português, com o objetivo de ilustrar as representações sociais existentes a ele associadas.

Palavras-chave: rock’n’roll; representações sociais; Portugal

ABSTRACT

The association between rock music and risky behaviours is widely known and socially recognized, especially that ones related to sex, alcohol and the use of other legal and illegal substances. Like it happened in the international reality, with greater emphasis on Anglo-Saxon countries, in Portugal rock music also encompasses a broad process of production and reproduction of moral panic, which has accompanied the development of Portuguese society. In this article, we intend to present a brief analysis and reflection of the media representations about the epitome “sex, drugs and rock’n’roll” in Portugal, in two newspapers, during the period of the Portuguese rock boom with the aim of highlighting the existing social representations associated with it.

Keywords: rock’n’roll; social representations; Portugal

RÉSUMÉ

L'association entre la musique rock et les comportements à risque est largement connue et socialement reconnue, notamment liée au sexe, à l'alcool et à la consommation d'autres substances licites et illégales. Comme cela s'est produit dans la réalité internationale, avec une plus grande emphase sur les pays anglo-saxons, au Portugal, le rock englobe également un vaste processus de production et de reproduction de la panique morale, qui a accompagné le développement de la société portugaise. Dans cet article, nous avons l'intention de présenter une brève analyse et réflexion sur les représentations médiatiques de l'épitomé «sexe, drogue et rock'n'roll» au Portugal, dans deux médias, pendant la période du boom du rock portugais dans le but de mettre en lumière les représentations sociales existantes qui lui sont associées.

Mots-clés: rock’n’roll; représentations sociales; Portugal

RESUMEN

La asociación entre la música rock y las conductas de riesgo es ampliamente conocida y socialmente reconocida, especialmente las relacionadas con el sexo, el alcohol y el consumo de otras sustancias legales e ilegales. Como sucedió en la realidad internacional, con mayor énfasis en los países anglosajones, en Portugal el rock también engloba un amplio proceso de producción y reproducción del pánico moral, que ha acompañado el desarrollo de la sociedad portuguesa. En este artículo, pretendemos presentar un breve análisis y reflexión de las representaciones mediáticas sobre el epítome “sexo, drogas y rock’n’roll” en Portugal, en dos medios, durante el período del boom del rock portugués con el objetivo de resaltar las representaciones sociales asociadas existentes.

Palabras clave: rock’n’roll; representaciones sociales; Portugal

Introdução

Ao longo das décadas, temos vindo a observar uma tendência para associar as subculturas juvenis a comportamentos de desvio, sobretudo a comportamentos relacionados com o consumo excessivo de álcool, tabaco e substâncias ilegais, como prática de referência dos diferentes grupos subculturais vinculados ao rock (Brake, 1985; Savage, 2002). Ou seja, desde a sua consolidação no panorama social anglo-saxónico (Guerra et al, 2016), “que a cultura rock está associada a excessos (celebrados pelo aforismo, sexo, drogas e rock ń roll)” (Guerra, 2010: 115). No contexto português, este epítome do sexo, drogas e rock’n’roll tende, igualmente, a ser uma realidade no interior do imaginário social. Como consequência, estas representações estereotipadas resultam, frequentemente, no desenvolvimento de estigmas em músicos e outros atores do panorama rock nacional, não só a nível individual, mas também coletivo. Para que seja possível compreender a construção da realidade deste campo musical no período contemporâneo, devemos considerar as representações sociais que a ele se encontram associadas, assim como os respetivos mecanismos de dominação social produzidos e reproduzidos no seio deste mesmo cenário (Martins, 2019). Segundo Cohen (2002), para empreender esta análise devemos ter em consideração o papel privilegiado que os agentes mediáticos desempenham na disseminação deste tipo de representações, que proporcionam espaço à emergência de “pânicos morais”. Ainda neste âmbito, Champagne (1993) argumenta que estes “pânicos morais” (Cohen, 2002) apenas se tornam evidentes socialmente, se forem abordados pelos órgãos de comunicação social. Portanto,

«os média atuam sobre um momento e fabricam coletivamente uma representação social, que, mesmo estando distante da realidade, perdura apesar dos desmentidos ou das retificações posteriores, pois que ela não faz mais do que reforçar as interpretações espontâneas e os pré-juízos e tende por isso a redobrá-los» (Champagne, 1993: 61-62)34.

Neste sentido, é de extrema relevância olhar para a forma como os agentes mediáticos nacionais abordam este tipo de temáticas, com a intenção de verificar se são adotadas, igualmente, perspetivas tendencialmente estereotipadas e estigmatizantes.

Estigmas, desvios e pânicos morais

A esta luz, durante os quadros de interação quotidiana, se um ou mais indivíduos exibem comportamentos que diferem das normas socialmente compartilhadas pela generalidade da população, as premissas organizacionais conduzem à reativação de sanções que, neste caso, resultam em estigmas, rotulações e apropriações para esses indivíduos (Martins, 2019). Porém, de acordo com Pinto (1994), apenas nos podemos referir a comportamentos desviantes, quando a infração à norma é reconhecida e designada como tal, levando a um processo em que o transgressor assume esse desvio e o confirma (Goffman, 1982). Este paradigma reage ao modelo positivista de Comte, no qual os indivíduos eram considerados instrumentos utilizados em prol do desenvolvimento da sociedade, na medida em que evidencia a possibilidade de podermos construir e desconstruir a realidade social, de poderemos fazer as nossas escolhas individuais e de produzirmos as nossas próprias interpretações dentro dos quadros de interação social (Moore, 1988). É durante este processo interacional, que os símbolos adquirem um papel fundamental e funcional, uma vez que permitem a atribuição de significados ao próprio comportamento e ao comportamento dos outros. Neste sentido, segundo Paula Guerra (2002), as respostas que os diferentes intervenientes adotam no processo de interação social não são estanques, mas resultam de uma negociação acerca dos símbolos usados. Partilhando deste pensamento, Moore (1988) argumenta que

«as pessoas criam o seu próprio mundo, fazem opções e alteram o seu comportamento de acordo com as suas próprias perceções das situações. Longe de ser uma poderosa força controladora, a sociedade passou a ser vista como um produto das interações das pessoas» (Moore, 1988: 44)35.

Desta forma, no processo de etiquetagem social, estes autores designam o desvio como uma categoria que possibilita identificar os indivíduos de acordo com uma postura intencionalmente desviante e não como uma característica intrínseca. Por outras palavras, a rotulagem de determinados comportamentos como desviantes, ou o próprio reconhecimento de uma postura desviante por parte de alguns indivíduos, não é sinónimo de que o desvio se trata de uma característica inerente aos atores sociais. O conceito de desvio insere-se, neste sentido, num quadro relacional de oposições, no qual uma categorização social distingue e contrapõe os comportamentos legítimos e ilegítimos. À luz do pensamento de Lemert (1994), distinguem-se dois tipos de desvio: o desvio primário e o desvio secundário, na medida em que um primeiro ato de rotulação se trata de um desvio primário e a possível e decorrente aceitação desse rótulo por parte do outro diz respeito a um desvio secundário. Portanto,

«no respeitante aos efeitos da etiquetagem no modo como as pessoas se percebem a si próprias, será de relevar que a construção identitária é o resultado do modo como os outros agem e respondem em relação a nós, podendo mesmo dizer-se que construímos a nossa identidade de acordo com a forma como os outros agem face a nós» (Guerra, 2002: 26).

Neste sentido, caso alguém destaque negativamente algum atributo físico ou psíquico relativamente a nós mesmos, o mais provável de acontecer é nós observarmos esse mesmo atributo presente em nós e, como consequência, essa (nova) perceção sobre nós próprios vai ter influência no modo como interagimos com os outros. Desta forma, os indivíduos que connosco interajam após o processo de etiquetagem, irão fazê-lo tendo esse rótulo presente. Este processo de interação falsa, na denominação de Goffman (1982), acaba por atuar como uma espécie de carreira, que passa a integrar o nosso percurso social (Becker, 2008). Logo, no processo de etiquetagem definido por Erving Goffman (1982), alude-se a uma distinção importante entre dois tipos de identidades sociais: a identidade social virtual e a identidade social real. A primeira corresponde ao conjunto de atributos aplicados ao eu que são recolhidos durante o processo de interação social; e a segunda diz respeito aos atributos reais da pessoa. Contudo, durante as interações sociais, “alguns destes atributos implicam o «descrédito» imediato dos indivíduos que os possuem” (Guerra, 2002: 27), uma vez que se relacionam socialmente com “pânicos morais” (Cohen, 2002). No entanto, se essas características não se revelarem imediatamente durante a interação social, o indivíduo tende a empregar determinadas técnicas para os ocultar, de modo a fazer com que a sua identidade social virtual vá ao encontro da sua identidade social real, e evitando, assim, o surgimento de um estigma. De facto, a estigmatização pode ser definida como um processo de categorização, que destaca a identidade negativa do indivíduo e que descredibiliza determinadas categorias sociais face às categorias dominantes (Goffman, 1982) detentoras de poder social. Este poder social diz respeito ao “uso intencional de poderes causais para afetar a conduta de outros agentes” (Scott, 2007: 25). Perante esta situação, a pessoa sente-se “anormal” face a uma sociedade que tende a excluí-la e a rejeitar aquilo que é diferente ou estranho. É de salientar, ainda, que

«obviamente que os processos de etiquetagem operados pela sociedade não radicam apenas em características exteriormente visíveis - cor da pele, estrutura óssea, textura do cabelo, forma de vestir, etc. -, mas igualmente em características intrínsecas e nem sempre exteriorizadas e exteriorizáveis - nível de rendimento, local de residência, naturalidade, etc.» (Guerra, 2002: 27).

Neste processo, o paradigma do interacionismo simbólico propõe um olhar reconfigurado da interação social, especificamente da tripla relação estabelecida entre as normas sociais, os processos de socialização e os comportamentos de desvio perante a essas mesmas normas (Martins, 2019). A esta luz, o conceito de outsider de Becker (2008) relaciona-se com a desconfiança com que os indivíduos identificados como desviantes encaram os indivíduos não desviantes e vice-versa. É neste cenário que muitos atores do universo musical do rock foram e continuam a ser julgados e rotulados como desviantes ou transgressores relativamente às normas estabelecidas na sociedade portuguesa. Como consequência, este tipo de etiquetas que são empregadas a todo o conjunto de atores que se movimentam neste campo musical, transformam-se, muitas vezes, num estigma evidente e inerente à perceção que estes indivíduos têm de si mesmos, mas também ao modo como constroem as suas próprias identidades. Partindo das três fases de desvio apresentadas por Becker (1994), podemos estabelecer uma relação com o próprio desenvolvimento do comportamento dos músicos de rock no nosso país. Assim, a primeira fase corresponde ao não cumprimento intencional das normas sociais por parte de um indivíduo. Ou seja, quando alguns jovens portugueses começaram a ouvir este género musical durante o período salazarista, sabendo de antemão que este não ia ao encontro dos ideais preconizados pelos órgãos de poder, fizeram-no de forma intencionada. Muitas vezes, esta prática acontecia através da escuta de estações radiofónicas internacionais, e mesmo que muitos jovens não entendessem a língua, ouvir aquele tipo de música nova e diferente era suficiente para nutrir as suas ânsias de transgressão. A segunda fase apresentada pelo autor encontra-se associada ao surgimento de interesses e motivações desviantes. Isto é, os jovens apresentavam um verdadeiro interesse pelo rock que irrompia em território anglo-saxónico durante o Estado Novo, através do contacto com a imprensa especializada internacional ou com discos trazidos do estrangeiro por terceiros. Desta forma, eles já estavam elucidados em relação aos progressos deste tipo de música no panorama internacional e principiavam, também, a exteriorizar o seu encantamento por este género musical nos seus estilos de vida e práticas quotidianas. A terceira fase de desvio corresponde ao processo de rotulação a que estes jovens eram sujeitos diariamente, ainda durante o período do Estado Novo. Por outras palavras, muitos destes jovens que principiaram a exteriorizar visuais similares aos dos seus ídolos de rock - que apreendiam através da imprensa internacional ou das capas dos discos - começaram a ser desconsiderados pela sociedade portuguesa conservadora - habituada aos seus usos convencionais - e pouco permeável a alterações nas normas sociais. Muitas vezes, isto originava a criação e disseminação de pânicos morais acerca da cultura rock (Cohen, 2002). Como quarta fase temos o processo de interiorização do desvio e a criação de uma perceção de fracasso face à sociedade em geral, ou seja, esses jovens tomam consciência de que eram julgados como desviantes e/ou marginais. Esta fase corresponde ao período pós- revolucionário, particularmente, ao início da década de oitenta, quando os jovens ainda se encontravam a processar a queda do regime e a refletir sobre as mudanças sociais que daí resultariam. Neste tipo de situações de marginalização e incerteza, a música emerge como uma ferramenta de auxílio emocional muito poderosa. Por último, a quinta fase apresentada pelo autor diz respeito à aproximação desses indivíduos a grupos estruturados de desviantes, que partilham entre si um mesmo sentimento de exclusão. Na realidade do rock nacional, os jovens foram-se aproximando daqueles com quem partilhavam os mesmos interesses, práticas e estigmas, reestruturando as suas próprias identidades desviantes. Esta fase refere-se à fase do boom do rock português e tende a conservar-se até ao momento presente. De acordo com Martins (2019), este tipo de rotulações desviantes associadas à cena rock nacional parece continuar a deter uma presença forte na sociedade portuguesa, dificultando e/ou inviabilizando o quotidiano social destes indivíduos, e deturpando as suas próprias perceções e construções identitárias. De uma forma geral, os atores da cena rock nacional são, igualmente, submetidos a um processo de homogeneização, que desconsidera a existência da diversidade das suas vivências e modos de vida, e que tende a apontá-los como outsiders (Becker, 2008). Na realidade, as identidades produzidas por estes processos de estigmatização são, ulteriormente, decisivas para as interações sociais destes indivíduos ao longo da vida. Por isso, como vimos, a partir de uma perspetiva simbólica, a associação entre música rock e consumo de substâncias reúne domínios de exclusão, e o rock representa um campo fértil para uma maior prática e experimentação de comportamentos desviantes no imaginário coletivo. Esse tema encontra-se, assim, profundamente ligado ao facto de a cristalização da imagem dos músicos de rock ser, com frequência, fundamentada em episódios negativos - como, por exemplo, o não cumprimento de normas das autoridades -, resultando na criação desses estigmas e pânicos morais (Cohen, 2002) e ampliando a fratura entre estabelecidos e outsiders (Elias & Scotson, 2000).

Os “pânicos morais” e as representações mediáticas

Com o objetivo de tentar apreender o desempenho mediático português face a este tipo de assuntos foi elaborada uma breve análise de conteúdo de fontes secundárias realizada em dois órgãos de comunicação nacionais entre os anos de 1980 e 1985: o Semanário Expresso (1973 - Presente) e o Semanário Se7e (1977 - 1994), acerca das temáticas do rock, sexo e drogas. O Expresso trata-se de um jornal generalista contendo um suplemento cultural; o Se7e consistia num jornal especializado em cultura. A opção pelo período temporal selecionado para a recolha e análise da produção mediática prendeu-se com a identificação com a fase do boom do rock português36 e a escolha dos órgãos de comunicação com o facto de ambos serem semanários, assim como dois dos jornais com maior número de tiragens na década de oitenta (Teles, 2001). É de salientar, que esta breve análise aqui apresentada resultou de uma análise mais profunda, desenvolvida no âmbito de uma investigação mais ampla acerca das temáticas do “sexo, drogas e rock’n’roll” em Portugal37. Por isso, para este artigo foram selecionados alguns exemplos para cada ano com recurso à amostragem não probabilística intencional, comumente designada de amostra por conveniência (Agresti & Finlay, 2012), de forma a permitir uma seleção que ilustrasse de forma mais elucidativa o tipo de tratamento desviante dado a este tipo de matérias, por parte destes dois órgãos de comunicação social. Como veremos a seguir, o semanário Expresso não apresenta uma importância significativa a questões relacionadas com as artes e com a cultura, especificamente com a música. Contudo, essa ausência é preenchida pela revista que acompanhava cada edição do jornal. Logo, a música é quase unicamente abordada na revista. Por sua vez, veremos que o semanário Se7e, sendo um órgão de comunicação especializado em artes e cultura, presta uma maior atenção a estes tópicos e à sua relação entre si (sexo, drogas & rock). E expõe, também, uma abordagem intensa sobre o rock, sobretudo o rock português, que nos importa particularmente para esta análise. Neste sentido, a análise dos conteúdos mediáticos destes órgãos de comunicação suportou-se em conteúdos que associam o rock e seus agentes a comportamentos e práticas de excessos e/desvios. Note-se, que a recolha mediática foi desenvolvida na Biblioteca Pública Municipal do Porto e na Biblioteca Pública de Braga e que se verificou conteúdo e/ou páginas inexistentes em algumas edições dos dois jornais. Uma última observação diz respeito à qualidade fotográfica dos conteúdos recolhidos, devido ao facto de as encadernações de ambos os órgãos de comunicação terem dificultado uma captação nítida e consistente das peças.

1980

No ano de 1980, o Expresso faz menção a vários intervenientes da música rock, especialmente através de referências a lançamentos de discos e/ou realização de concertos. A título de exemplo, encontramos o disco Everyone can rock & roll de Bill Halley, que viria a ser lançado no final do mês. Nesta peça, Bill Halley surge retratado como o autor de um tema “(...) símbolo de uma geração musical - “a do rock’n’roll”” cujas “estradas (...) viraram atalhos difíceis para a maioria e abismos inevitáveis para alguns” (s/a, 1980: 21). Aqui, o jornal enfatiza o trajeto de excessos associados a este tipo de música (Goffman, 1982). Um outro artigo relevante versa sobre três intérpretes femininas de rock - Rickie Lee Jones, Annette Peacock e Geyna Ravan -, que questionam a supremacia masculina deste género musical. Este artigo faz, ainda, referência a Janis Joplin, “(...) ironicamente aquela que a morte tornou primeira vítima entre as grandes figuras femininas do rock” (Pyrrait, 1980: 27), bem como a outros percursos de excesso de algumas rock stars, que terminaram tragicamente. De facto, este tipo de descrições adotadas relativamente a alguns músicos de rock revelam e facilitam a construção de representações discriminatórias assentes em sentimentos e atitudes de rebeldia, perversão, liberdade ou visceralidade, colocando o rock numa posição de devil’s music (Guerra & Quintela, 2018: 8). No Se7e é pertinente destacar um artigo acerca dos The Rolling Stones, que realça o percurso desviante (Goffman, 1982) da banda, bem como a sua vida “toda desenrolada no cume da transgressão, do excesso e de uma espetacularidade sagaz” (s/a, 1980: 11), mencionando que “quando toda a gente se começou a viciar na cocaína tiveram necessidade de encontrar qualquer coisa nova” (s/a, 1980: 11). Ao referir-se à banda, como vemos, o Se7e recorre a narrativas culturais, que refletem as suposições culturais mais amplas sobre os músicos de rock em geral e facilitam a disseminação deste tipo de rótulos (Copes, Hochstetler & Williams, 2008; Copes, 2016). Destacamos, também, no Se7e conteúdos alusivos ao percurso e lançamento de álbuns de artistas e/ou bandas do panorama rock internacional, bem como artigos sobre concertos a realizar ou já realizados no nosso país. Todavia, é pertinente realçar uma capa de Jimi Hendrix, que celebra os dez anos da sua morte e cujo conteúdo evidencia intensamente a sua associação a excessos: “um guitarrista rebelde e violento, terno e sensual”, que morrera de overdose “quando já não conseguia libertar-se da dependência de drogas fortes, a que fora forçado pelas circunstâncias” (s/a, 1980: 2). Como já foi anteriormente referido, este tipo de abordagens mediáticas exprimem um estigma relativamente ao epítome sexo, drogas e rock’n’roll, uma vez que tendem a intensificar ao longo dos seus textos situações, sentimentos e/ou características negativas de artistas ou bandas (Champagne, 1993). Ainda, em mais uma capa a divulgar o lançamento do novo disco dos The Rolling Stones, “o grupo rock com o qual principiou o culto pela violência musical” (s/a, 1980: 10), a banda surge novamente associada a intensidade e excessos, o que vem reforçar e confirmar o papel mediático deste jornal nos processos de fabricação de representações sociais (Campos, 2010). Naturalmente, este tipo de abordagens promove, inevitavelmente, a construção de representações sociais estereotipadas acerca da cultura rock (Sallas & Bega, 2006) ao mesmo tempo que realçam atributos que se desviam das normas sociais. E, como resultado, gera-se uma repercussão no próprio processo de construção identitária dos intervenientes deste género musical (Abramovay et al., 1999). De uma forma geral, o ano de 1980 reflete em ambos os semanários representações desviantes e estigmatizantes de intervenientes da música rock. Os jornais realçam atributos negativos nas descrições destes atores e deste género musical, o que resulta na promoção de rótulos e estereótipos sociais. Como consequência, tendem a gerar-se impactos negativos no processo de construção identitária destes sujeitos.

1981

No Expresso em 1981 é confirmado o regresso do Festival de Vilar de Mouros, que viria a decorrer no ano seguinte, e que prometia proporcionar aos jovens “a hipótese de reviver nas margens do rio Coura o seu pequeno ‘Woodstock’ à escala nacional” (s/a, 1981: 7). No Se7e, neste ano o jornal aborda percursos, lançamentos de discos e concertos de músicos e/ou banda de rock, nomeadamente os The Rolling Stones, caracterizados como “as maiores pestes que o rock conheceu ao longo de mais de duas décadas de vida” (Peixoto, 1981: 4), aquando do lançamento de Tattoo You. Neste ponto, assistimos, mais uma vez, à adoção de uma perspetiva desviante da banda por parte do jornal. Em relação a concertos, destacamos a peça sobre a vinda a Portugal de Iggy Pop “malucão de 34 anos, marginal e punk” (Duarte, 1981: 8), que revela, também, uma certa marginalização adotada pelo semanário. Tal como no ano anterior, o Se7e volta a caracterizar bandas e músicos de rock como outsiders, ou seja, “aquele (que se desvia) das regras do grupo” (Becker, 2008: 17). Em suma, podemos concluir que a tipologia de conteúdos e abordagens adotadas em 1980 manteve-se em 1981, nomeadamente as posições discriminatórias face a atores do género rock, recorrendo a processos de etiquetagem e realçando atributos negativos destes sujeitos.

1982

O Expresso, durante este ano, dedicou-se intensamente ao Festival de Vilar de Mouros, mas também a concertos e lançamento de discos. Foram publicados vários artigos acerca do Festival, nomeadamente a dar conta de que “a loucura instalou-se numa aldeia perdida do Minho, episódico cenário do único certame português de música ao ar livre” (Anhanguera, 1982: 25). Também no Se7e destacamos um artigo sobre a primeira grande edição do Festival de Vilar de Mouros de 1971, em virtude da aproximação da data da edição de 1982. Deste modo, o jornal descreve ironicamente a estratégia empregue pelas forças policiais na operação, que envolveu um esforço para apreender substâncias ilegais, especialmente a canábis. Nas palavras apresentadas no artigo, o profissional responsável por esta operação “mandou então que todos os seus subalternos vestissem roupas iguais às utilizadas por aqueles que costumam encontrar-se com a tal cannabis” (s/a, 1982: 4). Vilar de Mouros é também tema, nomeadamente através da alusão ao conhecido lema do Summer of Love, Make love not war, que, aparentemente, terá sido experienciado intensamente na primeira edição deste festival, na medida em que muitos consideraram, que “assumir em público a libertação e o amor era, em Portugal, afirmar a recusa da guerra” (Dacosta, 1982: 4). Portanto, neste período, “nas casernas, a moral dissolve-se; a erva, o sexo, a música, a fuga são ondulações incontroláveis” (Dacosta, 1982: 4). Como vemos, o jornal caracteriza este evento musical como uma provocação face à “moral” estabelecida e associa-o a práticas que se desviam das normais sociais dominantes da sociedade portuguesa, nomeadamente através da referência a droga, sexo e música. O jornal divulga, igualmente, o lançamento do mini-LP Estou de Passagem, dos UHF, que caracteriza como um “canal maldito” feito “de experiências do quotidiano, de revolta, de denúncia, de subversão e de amor”, atributos que tradicionalmente se encontram associados ao rock (Duarte, 1982: 6). Os Telectu também surgem nas páginas do jornal, em virtude do seu disco Ctu Telectu, definido pelo Se7e como “uma trip”. O semanário dá conta que os títulos dos temas pretendiam homenagear o escritor Philip Dick, que “aborda um tipo de interpretação da realidade através das drogas, por exemplo, e morreu de overdose” (Melo e Castro, 1982: 22). Mais uma vez, o Se7e realça informações negativas e recorre a rótulos para descrever o novo álbum da banda. Voltamos, ainda, a depararmo-nos com os The Rolling Stones, aquando de um concerto em Madrid. O jornal refere que tiveram um público de mais de setenta mil pessoas “numa orgia dançante” e acrescenta, que “nos anos 60, eles personificaram a transgressão, o “mau exemplo” que milhões de jovens seguiram” (Costa, 1982: 17). Novamente, o jornal associa o grupo a uma carreira de desvio e delinquência (Goffman, 1982), designando-os mesmo como “maus exemplos”. De acordo com Lippman (1922), este tipo de abordagens molda, inevitavelmente, a consciência coletiva não apenas em relação à banda, mas ao rock em geral.

Encontrámos, também, conteúdos sobre os percursos de alguns músicos e/ou bandas, como o do aniversário de doze anos sobre a morte de Janis Joplin. Aqui, o semanário escreve, que Janis terá sido encontrada morta num quarto de hotel em Hollywood, “sobre a cama, com os cabelos desgrenhados e os braços brancos, picados de seringas”, o que exprime nitidamente uma referência ao seu historial de consumos e excessos psicotrópicos. O artigo prossegue recorrendo a inúmeras menções ao consumo de álcool e drogas em trechos como “com álcool nas veias”, das suas “viagens de heroína” ou “desinfeta a seringa e introduz, no tubo, o pó mágico” e arrisca ao dizer, que “a sua mensagem vocal apenas seria - e é - completamente descodificada por espetadores-ouvintes em estados semelhantes” (s/a, 1982: 10). Segundo Cohen (2002), este tipo de cobertura jornalística viabiliza a desvirtualização do modo como o público recebe, processa e apreende a informação. Como resultado, verifica-se num descrédito social e a consagração das rock stars a um estatuto de folk devils sociais (Cohen, 2002) e símbolos de declínios morais (Haenfler, 2014). De facto, durante este ano, verificou-se um forte destaque em relação ao Festival de Vilar de Mouros, mas também a aspetos negativos em torno do evento, nomeadamente aludindo ao epítome sexo, drogas e rock’n’roll. Como vimos, permanece o mesmo tipo de abordagens tendencialmente desviantes na caracterização de determinados ícones da música rock, que realçam atributos antagónicos aos reconhecidos socialmente e facilitam a disseminação social de informações desvirtualizadas. Como resultado, estes indivíduos são representados como folk devils (Cohen, 2002) e, automaticamente, são alvo de descrédito na sociedade.

1983

Na análise do Expresso os exemplos são escassos, mas destacamos um artigo sobre o rock português, porque “não existe, portanto, razão para negar a existência de um rock feito em Portugal e por portugueses, desde que ele seja fruto de um quotidiano que é o nosso, aplicado a uma realidade que é a nossa, sentimentalmente ligado aos sonhos e aos desencantos que são nossos” (P.P., 1983: 31). Portanto, existe um rock adaptado às características sócio históricas e dimensão do nosso país. O Se7e publica um artigo acerca de António Variações, retratando-o como alguém “diferente”, que “tem nas expressões a marca do desafio, do jogo de imagens, da atração e da repulsa simultânea” (s/a, 1983: 4). Sobre o lançamento do seu primeiro LP Anjo da Guarda, o Se7e caracteriza-o como “estranho, misterioso, provocador” (s/a, 1983: 4), o que revela um certo preconceito por parte deste jornal em relação àquilo que é novo, diferente e se desvia da norma dominante. Num outro exemplo relevante surgem os Xutos & Pontapés, apelidados de “filhos ilegítimos do punk” e caracterizados pelo Se7e como um “grupo que assume o Rock como forma de contestação, para o qual “a música não é uma profissão, é uma função que se tornou já numa necessidade” (s/a, 1983: 18). Nesta peça, o semanário dá ênfase ao espírito revolucionário da banda, através da alusão a episódios desordeiros que terão decorrido em concertos, ao mesmo tempo que faz uma associação destes a sentimentos de raiva, revolta e rebeldia, reforçando uma posição de resistência face às normas sociais estabelecidas (Hebdige, 1979). Também este ano, o Se7e dá destaque aos The Rolling Stones e aproveita para relembrar os leitores de alguns incidentes que sucederam com a banda, nomeadamente a envolverem “centenas de milhares de processos relativos a desmaios, suicídios, loucuras, zangas entre namorados, fugas de casa, assaltos à mão e máquina” (s/a, 1983: 12), e associando a banda a uma certa marginalidade e delinquência. Também, Jim Morrison é relembrado pelo semanário como “um “performer” tão notável quanto obsceno, um alcoólico irrecuperável” (Peixoto, 1983: 30), o que evidencia nitidamente uma abordagem desviante na caracterização do percurso deste músico. Sobre Elvis Presley, o Se7e recorda, também, alguns acontecimentos negativos que decorreram ao longo da sua carreira, como quando sofreu um colapso pouco tempo antes da sua morte e que o jornal descreve como habituais “acidentes ocorridos com rockers” (Goben, 1983: 16). Neste exemplo é, igualmente, visível a manifestação de um estereótipo em relação aos estilos de vida dos músicos de rock e a sua identificação como folk devils (Cohen, 2002). Pertinente, é ainda o artigo acerca do lançamento do disco de Marianne Faithfull, no qual a artista é designada de “groupie”, de ex-namorada do líder dos The Rolling Stones e equiparada a Syd Barrett, não apenas pela criatividade, mas porque “ambos foram drogados convictos, ambos permaneceram alguns anos em hospitais psiquiátricos, os dois estiveram perto da morte” (Peixoto, 1983: 18). Portanto, verificamos que a propósito do lançamento de um álbum, o Se7e chama a atenção para o percurso desviante de Marianne, caracterizando-a como outsider (Becker, 2008), através do uso de uma narrativa que permite criar e/ou reforçar essa identidade social da artista (Pedersen, Copes & Gashi, 2021). Em suma, em 1983 mantém-se as mesmas descrições desviantes de músicos de rock, que pretendem realçar a diferença entre o “nós” (os estabelecidos) e eles (os outsiders). São usados, novamente, rótulos para caracterizar estes indivíduos, reforçando e facilitando a sua disseminação como folk devils sociais (Cohen, 2002). É, também, realçado o espírito contestatário do rock e seus músicos face às normas dominantes.

1984

Em 1984 o Expresso dá conta da existência de suspeitas de SIDA na morte de António Variações, embora não confirmadas, em virtude de “o estado de debilidade física a que o artista chegou e a sintomatologia presentada durante o internamento são muito idênticos aos casos de SIDA” (s/a, 1984: capa). É de realçar, ainda, um artigo sobre Nina Hagen, apelidada de “a “diva” do rock”, “uma cantora de rock que cantava com voz de ópera; uma provocadora; uma mulher dirigindo um grupo de homens”, a propósito do seu concerto no nosso país (A.M.S., 1984: 3). Esta caracterização permite contribuir, de certa forma, para combater a supremacia masculina no rock. O Se7e apresenta artigos sobre nomes já conhecidos do rock nacional, como os UHF ou os GNR. Sobre os primeiros, o jornal descreve-os como “o grupo maldito” e publica que a banda se encontra a tentar reorganizar-se, devido a saídas e entradas de músicos, “entre o álcool inevitável e a grande desilusão das palavras gastas sem troco” (Duarte, 1984: 18). No artigo, o semanário faz referência a um episódio recente de um concerto. em que “por pouco, não se atingiu a violência física por via do cansaço e da frustração” (Duarte, 1984: 18), realçando a associação do rock ao consumo excessivo de álcool, mas também a atributos desviantes como a agressividade, a rebeldia e até a violência. Os GNR também são notícia, devido ao seu caráter interventivo e contestatário. No artigo, a banda confessa que, frequentemente, esse caráter resulta em ações de censura, ilustrando que “há sempre boas desculpas, desde a entrevista que não cabe até à montagem televisiva onde o mais importante fica de fora” e acrescentando já terem sido banidos da rádio (Gobern, 1984: 20). Neste caso, o jornal permite que a banda manifeste a sua indignação e reclame um tratamento mediático diferente. Esta situação reflete, de facto, um estigma social sobre a banda, que os média ajudaram a criar, e que acaba por se disseminar a outras entidades, principalmente através de ações de censura e penalização por parte de forças de segurança, que se assumem como guardiões morais da sociedade (Cohen, 2002). Neste âmbito, verificamos que este tipo de abordagens mediáticas produzidas através de narrativas culturais sobre os atores do rock nacional, resultam na criação de classificações sociais mais amplas. Segundo Pedersen, Copes & Gashi (2021), esta prática tem como consequência a transformação de atores abstratos em tipos sociais genéricos, que neste caso, incorporam atributos desviantes associados a este género musical. O Se7e pulica, também, um artigo acerca dos Xutos & Pontapés, que descreve a banda como detentora de uma atitude antissistema, conservando “a liberdade (levada às últimas consequências) como única e derradeira resposta às estruturas repressivas da sociedade” (Pego, 1984: 13). Segundo o semanário “é, talvez, esta rebeldia que arrasta atrás da banda uma legião de incondicionais seguidores” (Pego, 1984: 13). Aqui, o Se7e chama a atenção, novamente, para a narrativa cultural (Pedersen, Copes & Gashi, 2021) do rock como portador de sentimentos de rebeldia, revolta e resistência face à ideologia dominante (Hebdige, 1979). Igualmente pertinente é a publicação de um conteúdo sobre o renascimento do rock português, que afirma que “cabe à juventude portuguesa deste começo da década de 80, decidir se o rock é uma forma de expressão de protesto contra uma sociedade alienante, ou um fator de alienação...” (Gobern, 1984: 14). Mais uma vez, vemos este semanário a colocar o rock numa posição antagónica face às estruturas sociais dominantes. Sobre o rock no panorama internacional, no Se7e apuramos que os U2 têm preferência por continuar a residir em Dublin, contrariando, assim, as “pressões da indústria no sentido de passarem a residir em Londres” (s/a, 1984: 10). De facto, nesta alusão ao espírito interventivo deste grupo, o semanário apontava o seu nome “U2, transcrição fonética de you too (também tu ou também vocês, traduzido à letra)”, mas também do álbum War, um “disco do desencanto e da tomada de consciência de que o romantismo, por si só, não leva a parte alguma” (Gobern, 1984:10). Neste sentido, a banda surge associada a posições de resistência, revolta e intervenção, que constantemente se encontram relacionadas às macro-narrativas culturais produzidas pelo rock (Loseke, 2007). Num outro conteúdo acerca dos The Pretenders, o jornal menciona a morte de dois ex-membros da banda e refere, que mortos por acidente ou por excesso, não é coisa que falte ao rock” e relembra, ainda, alguns exemplos trágicos como o de “John Bonham, excesso de álcool; Tim Buckley, overdose; Ian Curtis, suicídio por enforcamento; Jimi Hendrix, excesso de barbitúricos; Janis Joplin, overdose; Keith Moon, overdose acidental (!); Bon Scott álcool, Sid Vicious, overdose... (Gobern, 1984: 10).

Constatamos, claramente, que estamos perante um processo de etiquetagem face aos músicos de rock e à adoção de comportamentos de excesso, nomeadamente no que toca ao consumo de estupefacientes, expresso pelo Se7e. Durante este ano, chamamos, ainda, a atenção para o artigo sobre Nina Hagen, “uma cantora de excessos, de êxito e de passado” (Gobern, 1984:8), caracterizada pelas “suas atitudes desabridas, provocadoras, inesperadas, subversivas”, e pelo facto de confessar que gostaria de se apresentar nua em performance e não terem permitido. Em virtude da sua extravagância, “o disco provocou uma tremenda onda de choque” e os seus “caminhos do escândalo” acabaram por transformá-la numa andeira privilegiada da inquietude juvenil” (Gobern, 1984: 8). Aqui, o Se7e realça a diferença de Nina Hagen face a uma conduta social homogénea, ao mesmo tempo que destaca a sua extravagância e a sua inclinação antissistema, e equiparando-a a uma outsider em relação à sociedade dominante (Elias & Scotson, 2000). Ainda pertinente, é um artigo sobre o lançamento de uma compilação de Eric Clapton, no qual o jornal descreve o seu trajeto, retratando-o como “um dos vagabundos mais prolíferos dos blues e do rock britânico”, denominando-o de “viciado em heroína” durante um período e referindo o “peso de alguns vícios” no seu percurso (Gobern, 1984: 12). Nesta caracterização, o jornal volta a realçar os consumos e excessos de rockstars. Efetivamente, este tipo de rótulos usados no âmbito do rock e que os meios de comunicação nacionais propagam socialmente, acabam, inevitavelmente, por ser admitidos no imaginário social, e reproduzidos nas práticas de interação quotidianas. No fundo, constituem narrativas culturais, que têm influência nas próprias identidades individuais destes atores sociais (Pedersen, Copes & Gashi, 2021). Em suma, o ano de 1984 continua a revelar posições estereotipadas em relação ao rock e seus intervenientes, seja no panorama nacional ou internacional, especialmente no que toca a consumos e outros comportamentos desviantes. Também, o caráter interventivo e contestatário dos músicos de rock é enfatizado, assim como a disseminação desta narrativa cultural na sociedade. No entanto, é de notar o enfoque dado à permeabilização feminina neste universo musical, assim como o espaço dado aos GNR, em particular, para expressar a sua indignação em relação às ações de determinados meios de comunicação.

1985

Em 1985 há um assunto fortemente destacado no Expresso: o Live Aid, cujo jornal escreve, que a “Etiópia motiva maior concerto rock de sempre”, a realizar-se em simultâneo nas cidades de Londres e Filadélfia e “será transmitido através de sete satélites para um total aproximado de mil milhões de telespetadores do mundo inteiro” (Guerreiro, 1985: 13). Note-se, que este concerto estabeleceu um marco na história da música e permitiu reavivar o caráter interventivo desta expressão artística. No panorama internacional, o jornal publica um artigo sobre as novas mulheres no rock, na medida em que até à data “nunca tantas mulheres gravaram discos e nunca tantas obtiveram êxitos tão grandes em todo o mundo” (s/a, 1985: 32), o que nos evidencia uma cada vez maior permeabilização das mulheres nos espaços da música rock, anteriormente quase exclusivos do universo masculino. Nos exemplos relevantes encontrados no Se7e acerca, destacamos um sobre os Rádio Macau, “um grupo intransigente e coerente”, descritos pelo semanário como um grupo sempre pronto para “remar contra a maré”. De acordo com o jornal, estamos perante uma sonoridade “esmagada pelo cinzento da cidade”, mas também perante “uma atitude” (Gobern, 1985: 11), indo ao encontro do espírito de resistência e intervenção no rock. Num outro exemplo sobre os UHF, o Se7e alude às temáticas das suas músicas, que versam “sobre os casos de passagem, sempre entre vidas e mortes, sempre amores e desamores” (Duarte, 1985: 11), sendo estes também tópicos recorrentes nos estilos de vida associados a este género musical. No rock internacional, o Se7e publica um artigo sobre os Genesis, no qual escreve que a banda é responsável “por fazer profundas reflexões poéticas sobre o momento social britânico” (Gobern, 1985: 2), revelando o caráter interventivo comum ao rock. Também, o novo disco de Tom Waits, One From the Heart é notícia no semanário. Aqui, ao descrever o processo criativo do álbum, o jornal faz referência às suas composições “carregadas como habitualmente de todos os cigarros de todas as noites sem sono, de todos os copos para todas as noites sem sono” (s/a, 1985: 12), transmitindo uma representação estereotipada em relação às práticas de consumo e aos hábitos de composição do músico. Por outras palavras, esta caracterização suporta e reproduz uma panóplia de informações e crenças estereotipadas associados aos músicos de rock (Mazzara,1999). Encontramos, ainda, um artigo pertinente sobre Frank Zappa, no qual o jornal menciona que os músicos de rock são, muitas vezes, “considerados, geralmente, grosseiros e incultos” (Gobern, 1985: 12), revelando uma visão desviante em relação aos músicos deste género musical. No mesmo artigo, o Se7e sintetiza a carreira de Frank Zappa como “uma série de canções falhadas, uma gravação “porno” por “necessidade” e... dez dias de cadeia mais três anos de liberdade condicional” (Gobern, 1985: 12), resumindo, deste modo, o percurso deste músico a um conjunto de episódios negativos. Ainda importante, é um conteúdo sobre a forte influência dos ícones musicais, que recorda Jim Morrison pelos seus “excessos conhecidos - prisões por posse e consumo de droga, detenções por “práticas sexuais pouco ortodoxas”, envolvimento em projetos condenados” (Gobern, 1985: 11), manifestando, mais uma vez, um conjunto de rótulos e preconceitos em relação ao percurso deste artista, ao mesmo tempo que o associa a práticas desviantes e outsiders face aos estabelecidos (Elias & Scotson, 2000). Em síntese, durante 1985 o Live Aid é referido como um símbolo do caráter interventivo do rock e verificamos, novamente, mais nomes femininos a serem destaque neste género musical. Também, o espírito revolucionário e provocatório do rock volta a ser evidenciado. No entanto, como vimos, mantem-se a adoção de abordagens desviantes e de rótulos na caracterização de músicos deste género musical, que enfatizam aspetos negativos nos percursos e práticas de músicos deste género musical.

Considerações finais

De facto, a música popular tende a incorporar, frequentemente, (Salema, 2017) temas relacionados com substâncias legais e ilegais, e a fazer referências a essas mesmas substâncias (Christenson, Roberts & Bjork, 2012). Neste âmbito, partindo da identificação individual com a(s) microculturas musicais ligadas ao rock, os indivíduos acabam por partilhar dos mesmos valores e práticas daí advindas. Entre esses valores ou práticas podem, igualmente, compreender- se significações positivas ou negativas acerca do consumo de substâncias lícitas e ilícitas, que poderão ter como consequência a iniciação/cessação ou o aumento/diminuição do seu consumo (Becker, 1963). A esta luz, Guerra et al. (2016) referem que, com base nessas normas e valores partilhados, os indivíduos compreendem a aceitação das práticas do grupo como normais e agradáveis ou como desviantes e desagradáveis. Efetivamente, entre as características particulares associadas ao estilo de vida rocker, sobretudo as que se encontram relacionadas com o aspeto visual, os padrões de consumo de substâncias e as práticas afetivas, chocam com mitos, preconceitos e tabus sociais, que, consequentemente, resultam em processos de estigmatização social. Neste contexto, como vimos, os média nacionais tendem a favorecer a propagação desse tipo de imagens estereotipadas dos agentes do rock’n’roll, identificando-os como folk devils sociais (Cohen, 2002), como apuramos na análise mediática levada a cabo nos dois jornais selecionados, nomeadamente através da linguagem utilizada para o tratamento destes assuntos. Assim, ao partilhar da posição de guardiões morais da sociedade, os média produzem e reproduzem narrativas culturais estereotipadas em relação ao rock e seus intervenientes, o que tem como resultado a sua elevação a símbolos de declínios morais (Haenfler, 2014). Neste processo de estigmatização social, segundo Goffman (1982), os média favorecem a identificação de uma identidade negativa destes atores, que os descredibiliza face às categorias sociais dominantes. E, efetivamente, estas representações sociais que os média ajudam a difundir no imaginário social acerca deste género musical, dos seus intervenientes e dos seus estilos de vida acabam por ter impactos nos processos de construção identitária destes sujeitos, que passam a ser considerados como outsiders nos quadros de interação quotidiana (Becker, 2008). Fundamental, é, ainda, salientar que no quadro das representações sociais veiculadas pelos órgãos de comunicação social, o epítome do sexo, drogas e rock’n’roll constitui uma marca cultural, independentemente da sua produção e reprodução ter em consideração as especificidades socio-históricas do nosso país. Uma vez, que a indústria do rock’n’roll em Portugal foi e ainda permanece incipiente e cimentada num campo nitidamente subalterno e periférico relativamente à realidade anglo-americana, este epítome adquire uma especial tradução portuguesa. No entanto, foi possível verificar que músicos e outros agentes do rock nacional continuam a ser marginalizados na sociedade portuguesa, em virtude, sobretudo, dos seus visuais muitas vezes mais alternativos (que podem incluir tatuagens, penteados fora do comum, vestuário diversificado, acessórios incomuns…), dos seus comportamentos, por vezes, pouco convencionais e/ou padronizados (nomeadamente, o comportamento feminino) e, acima de tudo, dos seus consumos psicotrópicos presumidos

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Notas

34 Tradução livre do(a) autor(a).

35Tradução livre do(a) autor(a).

36 Boom de bandas, edições e sucessos comerciais, que caracterizaram os primeiros anos da década de oitenta no nosso país.

37 MARTINS, Ana (2022), Sexo, Drogas e Rock’n’Roll: Um percurso pela sociedade portuguesa contemporânea (1960-2015), Tese de Doutoramento em Sociologia, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

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