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Medicina Interna

versão impressa ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.26 no.4 Lisboa dez. 2019

https://doi.org/10.24950/rspmi/CE/199/19/4/2019 

CARTAS AO EDITOR / LETTERS TO EDITOR

A Propósito de “Internamentos Prolongados numa Enfermaria de Medicina Interna”

On “Prolonged Hospitalizations in an Internal Medicine Ward”

 

Miguel Oliva Teles
https://orcid.org/0000-0002-0862-6345

Serviço de Medicina IB, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal

 

Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Hospitalização; Medicina Interna; Tempo de Internamento.

Keywords: Hospitalization; Internal Medicine; Length of Stay; Palliative Care.

 

Num artigo recentemente publicado, Pocinho et al estudam retrospetivamente a prevalência, características e fatores relacionados com os internamentos prolongados numa enfermaria de Medicina Interna.1 Após leitura cuidada - e saudando os autores por levantarem objetivamente aquilo que é uma realidade preocupante dos nossos serviços - sirvo-me desta Carta ao Editor para alertar para um elemento que, ainda que pouco abordado pelos autores, contribui para o problema no qual se debruçam. Refiro-me aos doentes com necessidades paliativas.

São muitas as desvantagens de um internamento prolongado e extensamente descritos os fatores que para ele contribuem: elevada dependência, alta complexidade clínica, insuficiência económica, desajuste sociofamiliar e insuficiências dos serviços hospitalares e de suporte comunitário. São estes elementos que Pocinho et al também encontram e elencam na sua população.1 No entanto, além deles, e apesar de muitas vezes negligenciada, a presença de doentes com necessidades paliativas está também descrita como contribuindo para piores parâmetros de qualidade e custo dos serviços de saúde.2 Nesse sentido, penso que a sua magnitude e natureza deveria ser igualmente contemplada e discutida em estudos como o que agora se comenta.

Em primeiro lugar, a prevalência de necessidades paliativas em unidades hospitalares agudas são elevadas, como se verificou num estudo retrospetivo realizado num serviço de Medicina Interna da nossa instituição, demonstrando que, dos 303 doentes identificados ao longo do ano de 2015, 33% – 100 doentes – tinham necessidades paliativas. Num contexto populacional semelhante (um serviço de Medicina Interna português), Monteiro et al reportam esta prevalência em 15% (102 dos 670 doentes estudados).4

Em seguida, como acima referido, o impacto da presença de necessidades paliativas na qualidade de vida destes doentes e nos vários parâmetros que pretendem avaliar a qualidade, eficiência ou custo dos serviços de saúde foi também demonstrada na literatura internacional.2 No mesmo estudo que realizámos, quando comparados com os restantes doentes ao longo de um ano após alta hospitalar, o grupo de doentes com necessidades paliativas apresentava uma menor sobrevida cumulativa (55% vs 99%) e uma maior taxa média de novos internamentos aos 6 meses (0-1 vs 1-2), além de uma elevada utilização dos serviços de urgência (1-2 idas a cada 3 meses), ainda que esta não diferente do restante grupo de doentes.

Finalmente, além da importância de reconhecermos a sua prevalência e impacto, está também a noção de que a atenção a estas necessidades contribui com demonstrada evidência, tanto para a qualidade de vida do doente, família e profissionais envolvidos, como para a melhoria dos parâmetros aqui abordados.2 No caso português, como se pode verificar ao longo das edições bianuais do Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos,5 esta resposta é crescente, mas ainda insuficiente. No estudo acima citado, além da elevada prevalência, os autores reportam concomitantemente um controlo sintomático insuficiente, uma dificuldade no reconhecimento da agonia e uma baixa referenciação tanto à equipa intra-hospitalar como às unidades de cuidados paliativos.4

Assim, à semelhança do que tem sido proposto e feito para vários dos fatores abordados no artigo comentado, deveria fazer parte do esforço de melhoria dos nossos cuidados: implementar uma identificação atempada e correta de doentes com necessidades paliativas nas nossas enfermarias; atender às necessidades não complexas com ações paliativas simples - competência fundamental e transversal a todos os profissionais de saúde; e finalmente, fomentar e/ou contribuir para a existência e funcionamento de equipas especializadas em cuidados paliativos (hospitalares, comunitárias ou em unidades especializadas de internamento), de forma a garantir que as necessidades mais complexas sejam igualmente atendidas, com a adequação e continuidade de cuidados que exigem.

 

REFERÊNCIAS

1.      Pocinho R, Jardim S, Antunes L, Duarte T, Baptista I, Almeida J. Internamentos prolongados numa enfermaria de medicina interna.Rev Med Interna. 2019;26(3):200–7.         [ Links ]

2.     Cotogni P, Saini A, De Luca A. In-Hospital Palliative Care: Should We Need to Reconsider What Role Hospitals Should Have in Patients with End-Stage Disease or Advanced Cancer? J Clin Med. 2018 (in press). doi: 10.3390/jcm7020018.         [ Links ]

3.      Oliva Teles M. Prevalência e Trajetória de Doentes com Necessidades Paliativas nos Serviços Agudos de Saúde. Comunicação oral apresentada no 24º Congresso Nacional de Medicina Interna; Vilamoura; 2018        [ Links ]

4.      Monteiro PH, Silva MJN, Fraga M, Mota C, Suarez A, Ponte C, et al. The need for Palliative Care in an Internal Medicine Department. Rev Med Interna. 2013;20:7–20.         [ Links ]

5.      Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Plano Estratégico Para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos, Biénio 2019-2020 [internet] 2019 [ consultado 26-08-2019]. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/sns/cuidados-paliativos/plano-estrategico-iniciativas-e-acoes-em-curso/        [ Links ]

 

 

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

 

Ethical Disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship

 

© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.

© Author(s) (or their employer(s)) 2019. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.

 

Correspondence / Correspondência:

Miguel Oliva Teles – migueloteles@gmail.com

Serviço de Medicina IB, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental,

Hospital Egas Moniz, Lisboa, Portugal

Rua da Junqueira, 126

1349-019, Lisboa

 

Received / Recebido: 30/09/2019

Accepted / Aceite: 17/10/2019

 

Publicado / Published: 11 de Dezembro de 2019

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