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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27  supl.1 Lisboa May 2020

https://doi.org/10.24950/rspmi/COVID19/F.Delerue/E.Pape/HGO/S/2020 

ARTIGOS DE OPINIÃO / OPINION ARTICLES

 

O Internista na Era COVID-19

The Internist in the COVID-19 Era

 

Francisca Delerue1

Estevão Pape2

1Diretora do Serviço de Medicina Interna, Diretora da Unidade de Hospitalização Domiciliária, Coordenadora da Equipa de Gestão de Altas e Coordenadora do Gabinete de Codificação, Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal.

2Diretor da Consulta Externa e Coordenador da Equipa de Gestão de Camas, Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal.

 

Palavras-chave: Coronavírus; COVID-19; Infecções por Coronavírus; Medicina Interna

Keywords: Coronavirus; Coronavirus Infections; COVID-19; Internal Medicine

 

Historicamente, a designação “Medicina  Interna” (Inneren Medizin) foi usada nos finais do século XIX para distinguir uma nova diferenciação médica que se baseava nos conhecimentos de fisiologia, bacteriologia e patologia, então emergentes. A Medicina Interna assume-se como especialidade vocacionada para a abordagem do doente com doenças “internas”, suscetíveis de tratamento médico, excluindo, portanto, as patologias cirúrgicas,obstétricas e pediátricas, as quais em conjunto com a Medicina Interna passaram a ser designadas de especialidades básicas.

O Internista estuda o doente, diagnostica e trata as doenças mais frequentes, principalmente doentes crónicos e idosos, polimedicados, doentes com múltiplas patologias ou atingimento de vários órgãos ou sistemas.

A polivalência e abrangência dos seus conhecimentos científicos, tornam a Medicina Interna, a especialidade nuclear de qualquer unidade hospitalar. Garante uma abordagem mais segura em doenças hospitalares, permitindo dar uma resposta rápida e eficaz em todas as situações clínicas.

A Medicina Interna é sem dúvida o pilar do funcionamento dos Hospitais, particularmente na urgência, na consulta e no internamento.

O internista tem também a capacidade de se diferenciar num vasto leque de áreas, de acordo com as necessidades dos doentes, das instituições e das regiões onde trabalha. Esta flexibilidade é uma qualidade inestimável e é particularmente importante para os serviços de saúde e para os doentes, sendo uma das razões, a par do envelhecimento populacional e inerente polipatologia, pela qual a Medicina Interna tem ganho progressiva relevância no sistema hospitalar.

Cada vez mais a Medicina Interna é a especialidade médica basilar de uma estrutura hospitalar.

A criação de grandes departamentos, onde os internistas assumem todos os doentes médicos agudos, coordenando a intervenção das outras especialidades, será o modelo mais adequado (o Internista como Gestor do doente). Este modelo vigora já em alguns hospitais portugueses, sobretudo privados e público-privados, pois é a forma de se reduzir encargos e otimizar tempos de internamento. O doente é o “centro” e não diferentes serviços de diferentes especialidades.

Neste modelo será necessário maior número de internistas e redução dos médicos de outras especialidades que ficarão alocados à execução de exames complementares, consulta e à realização de consultadoria em internamento.

A existência “centenária” de serviços independentes, tornaeste modelo difícil de implementar nos hospitais públicos.

Assim a forma de se conseguir ultrapassar esta dificuldade no SNS é a nomeação de Internistas em pontos-chave nos hospitais para uma melhor gestão do doente.

No Hospital Garcia de Orta (HGO) temos Internistas Diretores / Coordenadores nas seguintes áreas:

 

- Direção do Serviço de Medicina Interna - Direção da Consulta Externa

- Direção da Unidade de Hospitalização Domiciliária - Adjunto da Direção Clínica

- Coordenador do GCL-PPCIRA

- Coordenador da Equipa de Gestão de Altas - Coordenador da Equipa Gestão de Camas

- Coordenador do Gabinete de Codificação

 

O papel destes internistas foi fundamental e continua a serdesde o início da pandemia a SARS CoV 2.

A reorganização do hospital passou pela alteração de enfermarias e criação de circuitos específicos que passamos a descrever, criando uma dinâmica própria a manter o Hospital na “Onda da Organização” assim como uma linguagem interpares importante e acessível - distanciando e afastando a "ideia de tempestade “.

Com a redução da atividade cirúrgica programada a partir de Março houve redução das camas cirúrgicas, mas todas as especialidades existentes médicas ou cirúrgicas mantiveram camas de internamento sempre que necessárias. Os serviços de Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia organizaram-se de forma independente dado o volume de doentes ser muito menor.

Assim no HGO foram criadas novas enfermarias:

•  Enfermarias para doentes COVID positivos

•  Enfermarias para doentes COVID suspeitos a aguardar resultados (por vezes pelo grau de suspeição com necessidadede repetir o teste)

•  Enfermarias para doentes assintomáticos para COVID a aguardar resultado de teste (a partir do momento em que se começaram a triar todos os doentes internados)

• Enfermarias para doentes NÃO-COVID Daqui resultaram 3 circuitos:

 

Figura 1

 

Este circuito foi uma necessidade sentida desde o início, pelos Chefes de Equipa de Urgência, que são todos Internistas, criou-se, desta maneira, uma Equipa de Cuidados Intermédios “respiratórios” dentro do Serviço de Medicina Interna com escala própria 24 horas/dia.

Tem funcionado com resultados excelentes em que os doentes são adaptados precocemente a VNI com a utilização de capacetes (para minimizar o contágio dos profissionais), em quartos de pressão negativa até haver resultado do teste. Conseguiu-se também uma excelente resposta para os outros doentes COVID negativos. Estes doentes se mantiverem necessidade de cuidados intermédios passam para a Unidade do Serviço de Medicina Interna ou para os intermédios do Serviço de Medicina Intensiva consoante as vagas. Se positivos mantêm-se em quartos de pressão negativa.

É mais uma sobrecarga para os internistas, sendo também de louvar o trabalho realizado pelos Internos de Medicina Interna, que atualmente a partir do 3º ano colaboram em 4 escalas

(Enfermaria, Urgência Geral, Urgência Interna e Intermédios Respiratórios).

A reorganização da atividade clínica foi sempre adaptada dia a dia com orientações precisas, dada a alteração completa da estrutura de governação clínica do hospital.

No HGO foram criados 9 serviços para doentes COVID - em espaços físicos anteriormente atribuídos a serviços clássicos de uma estrutura hospitalar. Foram alterados também mais 13 serviços com lotação de camas diversa da original de forma a obter eficácia no processo.

Os internistas envolvidos foram fundamentais na avaliação diária e “drenagem” de doentes dos diferentes serviços, a saber, a Direção do Serviço de Medicina Interna na libertação de camas para dar resposta às enfermarias COVID e ao SU, a Coordenação de Gestão de Altas a encaminhar doentes para a RNCCI e para camas contratualizadas, a Coordenação da Gestão de Camas a resolver as necessidades de doentes internados eletivamente, a Coordenação do GCL-PPCIRA na (re) organização de circuitos de acordo com a evolução diária.

De salientar o papel essencial da Unidade de Hospitalização Domiciliária com aumento do número de doentes não-CO-VID para 25 e a capacidade de avaliação e admissão diária de doentes das diferentes enfermarias, incluindo doentes COVID.

A estrutura organizativa para enfrentar a pandemia foi e é possível devido ao empenho dos Serviços e Estruturas sob orientação de Internistas com a vocação que a sua Especialidade de Medicina Interna impõe.

Sem a Medicina Interna a Reorganização da atividade clínica no âmbito COVID não teria sido possível - sem qualquer limite!

 

REFERÊNCIAS

1. Serviço Nacional de Saúde. Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Interna [consultado 25 Abril 2020] Disponível em: https://www.sns.gov./sns/redes-de-referenciacao-hospitalar/        [ Links ]

 

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

Proveniência e Revisão por Pares: Comissionado; sem revisão externa por pares.

 

Ethical Disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare. Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship.

Confidentiality of Data: The authors declare that they have followed the pro-tocols of their work center on the publication of data from patients. Provenance and Peer Review: Commissioned; without externally peer reviewed.

 

© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.

© Author(s) (or their employer(s)) 2019. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.

 

Correspondence/Correspondência:

Francisca Delerue - mdelerue@hgo.min-saude.pt

Diretora do Serviço de Medicina Interna, Diretora da Unidade de Hospitalização Domiciliária, Coordenadora da Equipa de Gestão de Altas e Coordenadora do Gabinete de Codificação, Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal

Av. Torrado da Silva, 2805-267, Almada

 

Received/Recebido: 02/05/2020

Accepted/Aceite: 02/05/2020

 

Publicado/ Published:8 de Maio de 2020

 

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