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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27  supl.1 Lisboa May 2020

https://doi.org/10.24950/rspmi/COVID19/CHUSJ/S/2020 

ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES

 

Imunidade na Infeção pelo SARS-CoV-2: O que Sabemos

SARS-CoV-2 Immune Response: An Overview

 

Cláudio Nunes Silva1
http://orcid.org/0000-0002-4694-1362

Filipa Ceia1
https://orcid.org/0000-0002-8382-750X

Margarida Tavares1,2
https://orcid.org/0000-0003-4518-2197

 

1Unidade de Doenças Infeciosas Emergentes, Serviço de Doenças Infeciosas, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto, Portugal

2EPIUnit, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Porto, Portugal

 

Palavras-chave: Anticorpos Neutralizantes; Betacoronavírus; COVID-19; Imunidade Celular; Infecções por Coronavírus/imunologia; Pandemia

 

Keywords: Antibodies, Neutralizing; Betacoronavirus; Coronavirus Infections/immunology; COVID-19; Immunity, Cellular; Pandemics; Betacoronavirus; Immunology; Cell-medianted Immunity, Humoral Immune Response; Innate Immunity; Neutralizing Antibodies.

 

Resumo:

Sobre a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, muito conhecimento tem sido produzido e dado a conhecer, mas muitas dúvidas permanecem por esclarecer acerca da sua interação com o ser humano, nomeadamente sobre se a resposta imune contra este novo coronavírus humano é protetora a longo prazo e qual a possibilidade de reinfeção. A COVID-19 pode assumir diferentes espetros clínicos, desde infeções assintomáticas até formas graves da doença, que resultam da inter-relação entre a patogenicidade própria do vírus e a resposta imune do hospedeiro. Esta revisão foca-se na imunologia da infeção, reunindo não só o conhecimento acumulado com as epidemias associadas ao SARS-CoV e MERS-CoV, mas também o que já se sabe sobre o SARS-CoV-2. Este conhecimento é fundamental e tem implicações quer para o controlo e prevenção da doença quer para o seu diagnóstico e tratamento.

 

Abstract:

Despite all that is recognized so far on the ongoing SARS-CoV-2 pandemic, many questions remain to be answered, particularly in what concerns pathogen interaction with the human host and whether or not the acquired immune response is protective against reinfection in the long-term. The spectrum of COVID-19 ranges from asymptomatic infections to progressive critical states, a direct upshot from the complex interplay between virus pathogenicity and host antiviral defense. This review focuses on the immunologic response and disarrangements underlying the SARS-CoV-2 pathophysiology, gathering the information not only from the lessons learnt from SARS and MERS-CoV epidemics but also from what is already known about SARS-CoV-2 to date. This knowledge is paramount from the standpoint of disease prevention and control as well as diagnostic pipeline and treatment.

 

Introdução

Nos primeiros quatro meses deste ano, quase todos os países do mundo enfrentaram uma doença vírica emergente, a COVID-19 (coronavirus disease 2019), com consequências sanitárias, sociais e económicas sem precedentes na era moderna. A COVID-19 é uma doença causada por um novo coronavírus, agora designado como severe acute respiratory syndrome coronavírus 2 (SARS-CoV-2), que foi inicialmente identificado como causa de um surto de infeções respiratórias agudas em Wuhan, na província de Hubei, China.1,2 Depois do primeiro alerta sobre esta emergência infeciosa ter sido dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 31 de dezembro de 2019,3 em 30 de janeiro de 2020 esta declarou-a como uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional.4 Finalmente, em 11 de março de 2020, quando já tinham sido confirmados mais de 118 000 casos em 114 países, e com 4291 mortes associadas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a COVID-19 uma pandemia global para intensificar as ações de controlo e prevenção no mundo.5

Este novo coronavírus é um vírus de ARN simples de sentido positivo, e o sétimo coronavírus identificado como causa de doença humana. A sua origem é zoonótica, embora a fonte da infeção seja ainda desconhecida e continuem a ser investigados os reservatórios e hospedeiros. Duas outras espécies de coronavírus com quem partilha muitas semelhanças, SARS-CoV e MERS-CoV, foram também previamente reconhecidos como vírus emergentes com origem em reservatórios animais, e causa de surtos de infeções respiratórias em humanos em 2003 e 2012, respetivamente. O tropismo que as proteínas de superfície (S) destas últimas espécies apresentam para recetores presentes no trato respiratório inferior justifica a apresentação na forma de pneumonia vírica potencialmente grave.6-8

Durante este período de contacto e vivência intensa e global com este novo coronavírus, muito conhecimento tem sido produzido e dado a conhecer, mas muitas dúvidas permanecem por esclarecer acerca de sua interação com o ser humano, nomeadamente a sua fisiopatologia e as implicações na história natural, e características a curto e médio prazo da doença que provoca. Clinicamente, cerca de 81% dos doentes infetados apenas apresenta sintomas ligeiros, 14% sinais e sintomas mais graves (dispneia, taquipneia e hipoxemia) e 5%, especialmente aqueles com idade superior a 60 anos ou com comorbilidades, progridem para formas críticas da doença, com ARDS, sépsis e/ou falência multiorgânica.9 Estes diferentes espetros de uma mesma doença resultam da combinação da patogenicidade do vírus e da resposta imunológica do hospedeiro.10 Esta revisão foca-se na imunologia da infeção, reunindo o conhecimento acumulado relativamente aos coronavírus, e sobretudo no que se aprendeu com as epidemias associadas ao SARS-CoV e MERS-CoV. Muito do que já sabemos decorre também da produção e disseminação intensa da experiência com esta nova infeção em muitos países do mundo. Pretende-se assim fazer um ponto de situação sobre o que já se sabe sobre a resposta imunológica à infeção por SARS-CoV-2, conhecimento essencial para a tomada de decisões individuais e populacionais no tratamento e controlo desta doença infeciosa emergente.

 

UM BRAÇO DE FERRO ENTRE O VÍRUS E A IMUNIDADE INATA DO HOSPEDEIRO: DA RESPOSTA DO INTERFERÃO À CRISE DE CITOCINAS

A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo. Durante uma infeção vírica, pode atuar inibindo a replicação vírica e promovendo a clearance viral, e funciona como desencadeador da resposta imune adaptativa.11

Os vírus são reconhecidos pelo sistema imune (SI) através de  recetores  de  reconhecimento de padrões (PRRs) que identificam padrões moleculares associados  a  patogénios (PAMPs).  Existem  diferentes tipos de PRRs  que induzem respostas diferentes consoante a via de sinalização ativada. Alguns PRRs como os toll-like receptors (TLRs), os RIG-I-like receptor (RLR) e os nucleotide-binding and oligomerization domain‐like receptors (NLR), quando expostos à ameaça por um vírus, promovem a síntese de interferão (IFN) do tipo I. A ativação da via do IFN limita a replicação vírica e induz a resistência de células não infetadas à infeção. Assim, alguns vírus como o SARS-CoV, embora sensíveis ao IFN, apresentam mecanismos de evasão à resposta antivírica do hospedeiro mediada pelo interferão. No caso do SARS-CoV, esta propriedade de evasão está associada à proteína da nucleocápside (N).11 Num estudo laboratorial realizado na Universidade do Texas, os investigadores compararam a replicação vírica do SARS-CoV e do SARS-CoV-2 em cultura de células Vero pré-tratada com IFN-I (IFN-á). Os resultados mostraram uma redução significativa do título viral na cultura de SARS-CoV-2 pré-tratada com IFN-I quando comparado com a cultura isenta de IFN-I, e que esta redução não se verificou na cultura pré-tratada de SARS-CoV. Adicionalmente, avaliando a produção de proteínas, os investigadores constataram um défice de proteína N na cultura de SARS-CoV-2 pré-tratada com IFN-I. Os autores concluem que a sensibilidade do SARS-CoV-2 ao IFN-I é diferente da previamente descrita para o SARS-CoV, sugerindo que o novo coronavírus tenha interações diferentes com o hospedeiro que poderão determinar resultados clínicos distintos.12

Tay M et al explicam o fenómeno a que chamamos crise de citocinas ou síndrome de libertação de citocinas. A replicação ativa do SARS-CoV-2 e a sua libertação causam a piroptose das células hospedeiras infetadas e a consequente libertação de moléculas associadas a dano. Estas moléculas são reconhecidas como sinais de perigo por células epiteliais, endoteliais e pelos macrófagos alveolares, levando à produção de citocinas e quimiocinas pro-inflamatórias (IL-6, IL-10, IFNã, MIP 1áe 1â, MCP1, IP-10). Estas proteínas recrutam leucócitos (predominantemente células T e monócitos) ao local de infeção. Na maioria dos doentes, as células recrutadas eliminam a infeção e a resposta imune recua de forma controlada. No entanto, em alguns casos, este recrutamento celular resulta em infiltração pulmonar por células do SI, desencadeando a produção exagerada de citocinas pro-inflamatórias e a consequente lesão pulmonar, bem como disfunção multiorgânica pelos efeitos sistémicos destas proteínas.13 Liao M et al caracterizaram a população leucocitária broncoalveolar em doentes com COVID-19 e encontraram um predomínio de macrófagos derivados de monócitos (FCN1+), com capacidade fortemente pro-inflamatória e de produção de quimiocinas nos doentes graves, potencialmente desencadeadores de crise de citocinas, contrariamente aos doentes com formas ligeiras, nos quais predominam macrófagos alveolares (FABP4+).14

Vários estudos foram demostrando a importância das citocinas na COVID-19. Num estudo realizado no Hospital Jin Yintan (Wuhan, China), indivíduos com doença grave apresentaram níveis plasmáticos mais elevados de IL-2, IL-7, IL- 10, G-CSF, IP-10, MCP1, MIP1á e TNFá.15 Um outro estudo de Liu J et al, mostrou que a concentração sérica de IL-6, IL-10, IL-2 e IFN-ã era maior nos doentes graves do que nos ligeiros, e que esse aumento era sustentado no tempo para a IL-6 e a IL-10. Nos doentes graves, a diminuição da IL-6 foi mais tardia, ocorrendo a partir do 16º dia de sintomas.16 Zhou F et al evidenciaram que em doentes graves os níveis de IL-6 continuam a aumentar com o tempo e são relativa- mente mais elevados em não sobreviventes do que em sobreviventes.17 No entanto, num estudo de Zheng HY et al, que incluiu 16 doentes com COVID-19, 10 com formas ligeiras e 6 com formas graves de doença, não foram encontradas diferenças nos níveis plasmáticos de IL-6 entre grupos, nem em comparação com controlos saudáveis.18 Numa análise do transcriptoma de 3 doentes levada a cabo por Ong EZ et al, a expressão de genes inflamatórios teve o seu pico após o nadir da função respiratória, exceto para a via da IL-1, na qual precedeu o nadir da função respiratória, o que, segundo os autores, pode levantar a possibilidade de a IL-1 e as vias pro-inflamatórias relacionadas poderem ter valor prognóstico na COVID-19.19

Assim, até ao momento, a evidência tem demonstrado que a crise de citocinas se associa a gravidade na COVID-19 e muitas estratégias de tratamento em estudo têm como alvo terapêutico citocinas e quimiocinas.

 

IMUNIDADE ADAPTATIVA, UMA SINFONIA COMPLEXA: DA BATUTA DA IMUNIDADE CELULAR AO ENCORE DA IMUNIDADE HUMORAL

A imunidade adaptativa caracteriza-se pela especificidade e memória da resposta imune. As células T têm um papel antivírico importante, particularmente os linfócitos T CD4+ e T CD8+.11  As células T CD8+ têm função citotóxica direta contra células infetadas pelo vírus, enquanto as células T CD4+ são cruciais na estimulação da imunidade mediada por anticorpos, na preparação de células T CD8+ e na produção de citocinas.13  Outro tipo de células importantes são as células apresentadoras de antigénios (macrófagos, células dendríticas), presentes nos tecidos infetados, que funcionam como ponte entre a imunidade inata e a imunidade adquirida, uma vez que são responsáveis por apresentar peptídeos víricos aos linfócitos.11  Na infeção por SARS-CoV, uma vez ativados, os linfócitos T CD4+ expressam IFNã, TNFá e IL-2, sugerindo uma resposta do tipo Th1, ou seja, mediada por células.13 Usando  o  modelo  de  SARS-CoV, todas as células T de memória são dirigidas contra proteínas estruturais do vírus e existe alguma evidência de que a resposta mediada por células T às proteínas S, M e N é duradoura e persistente.11  No entanto, no que se refere à infeção por SARS-CoV-2 pouco se sabe quanto à especificidade e à duração da imunidade mediada por células T.

A linfopenia está presente numa grande proporção de doentes com COVID-19 e é habitualmente mais acentuada nas formas graves de doença.16,20-22 Estes doentes apresentam um rácio entre neutrófilos e linfócitos aumentado, sendo que o rácio entre neutrófilos e linfócitos T CD8+ foi identificado como um fator de prognóstico poderoso na COVID-19 grave.16 Tay M et al apontam a destruição direta dos linfócitos pelo vírus e a migração de linfócitos para o local de infeção como potenciais causas para13  Num estudo que incluiu 40 doentes, Liu J et al descrevem que a recuperação da linfopenia nos doentes graves ocorre gradualmente a partir dos 7-15 dias de sintomas e acalça níveis comparáveis aos doentes ligeiros a partir do 16º dia de sintomas.16

As subpopulações linfocitárias no sangue periférico foram caracterizadas em vários estudos. Wang F et al estudaram 60 doentes internados com COVID-19, tendo descrito uma contagem diminuída de células T CD4+, T CD8+, B e NK. No caso dos linfócitos T CD4+, T CD8+ e B, estas contagens eram mais baixas nos doentes mais graves.20  Num outro estudo que incluiu 68 doentes com COVID-19 e gravidade variável, a contagem de linfócitos, particularmente de linfócitos T CD8+, foi menor nos doentes que nos controlos saudáveis, e foi menor nos casos graves relativamente aos ligeiros.23 Liu J et al também verificaram descida sustentada de linfócitos T CD4+ e CD8+ nos doentes graves quando comparados com doentes ligeiros.16  Wang F et al mostraram que parece existir uma correlação negativa entre a contagem de linfócitos T CD8+ e o estado inflamatório e uma correlação positiva entre este estado e a razão CD4 +/ CD8 + na COVID-19.20

Num estudo de caracterização do microambiente imune do lavado broncoalveolar em doentes com COVID-19, a proporção de células T e NK foi significativamente maior em doentes do que em controlos saudáveis e a proporção de linfócitos T CD8+ menor em doentes graves. A maior proporção de células T CD8+, com expansão clonal, em doentes ligeiros indicia que estas células têm um papel importante na clearance viral e que a resposta é específica para o SARS-CoV-2, sugerindo uma resposta imune adaptativa mais robusta.14

Na COVID-19, a exaustão de células T e a redução da sua diversidade funcional prediz doença grave.13  O estudo de Zheng HY et al incluiu 16 doentes com COVID-19 (10 graves e 6 ligeiros) em comparação com controlos saudáveis, com o objetivo de avaliar a exaustão e a funcionalidade de linfócitos T na COVID-19. Os autores descrevem que moléculas relacionadas com a ativação e regulação de células T estão aumentadas em doentes face aos controlos, enquanto as relacionadas com a função estão diminuídas nos doentes graves face aos ligeiros. Os níveis de enzimas indutoras de apoptose de células alvo nos linfócitos T CD8+ foi superior nos doentes graves, assim como os seus níveis de moléculas reguladoras.18 Neste estudo, face aos controlos saudáveis e aos doentes ligeiros, a frequência de linfócitos T CD4+ multifuncionais (positivos para pelo menos duas citocinas) foi significativamente menor no grupo de doentes graves, enquanto a proporção de células não-funcionais (caracterizadas pela ausência de expressão de IFNã, TNFá e IL-2) foi superior. Nos linfócitos T CD8+, a frequência de células não-exaustas (que não expressam PD-1, CTLA-4 e TIGIT) foi menor na doença grave. Sendo o bloqueio funcional de PD-1, CTLA-4 e TIGIT benéfico para os linfócitos T CD8+ manterem imunidade antigénio-específica duradoura e os seus efeitos antivíricos, a exaustão excessiva das células T CD8+ na doença grave pode comprometer a resposta celular ao SARS-CoV-2. Os autores identificaram a perda da diversidade funcional dos linfócitos T CD4+ e o aumento da expressão de moléculas reguladoras nos linfócitos T CD8+ como fatores imunológicos distintivos de gravidade da COVID-19.18  Zheng M et al estudaram 68 doentes, 13 dos quais graves, usando a expressão de NKG2A como marcador de exaustão das células NK e dos linfócitos T citotóxicos (CD8+). Verificaram que na COVID-19, na admissão hospitalar, a expressão de NKG2A está significativamente aumentada face aos controlos saudáveis, e que, na fase de convalescença, a contagem de linfócitos T CD8+ aumenta e a percentagem de linfócitos T CD8+ NKG2A+ diminui. Os autores concluem que a expressão de NKG2A se relaciona com a exaustão funcional dos linfócitos citotóxicos e com a progressão da doença numa fase precoce da infeção.23

 

IMUNIDADE HUMORAL: DA DINÂMICA DA RESPOSTA HUMORAL APÓS A INFEÇÃO POR SARS-CoV-2 AO POTENCIAL DE REINFEÇÃO

Estudos em pré-publicação ou publicados recentemente têm permitido uma compreensão crescente sobre a dinâmica da resposta humoral após a infeçãopor SARS-CoV-2, sugerindo até que esta possa ser semelhante à das infeções pelo SARS-CoV e MERS-CoV. A maioria dos doentes com infeção confirmada por reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) apresentam seroconversão entre o 10º e o 14º dia após o início de sintomas. No entanto, os dados sobre se estes anticorpos conferem proteção  contra nova infeção e qual a sua duração são atualmente limitados e, em parte, baseados naquilo que se sabe sobre a SARS.24-29

Quando se revê a literatura sobre a resposta humoral da COVID-19, um dos cuidados prende-se com o facto de diferentes  estudos  usarem  diferentes  métodos  serológicos, muitos deles ainda não validados comercialmente e sem a sensibilidade ou especificidade ótimas para responder a todas questões sobre a cinética da resposta humoral na infeção pelo SARS-CoV-2.

Os métodos de referência para a deteção de anticorpos contra determinado vírus são os testes de neutralização, que medem a capacidade dos anticorpos presentes numa amostra de soro de impedirem a infeção de células suscetíveis por uma carga padronizada de vírus. No entanto, devido à manipulação de vírus altamente patogénicos, o seu uso implica a existência de condições de biossegurança de nível 3. Uma das alternativas envolve a utilização de partículas virais pseudotipadas com o antigénio recombinante de interesse, como a proteína S do vírus SARS-CoV-2, e cujo genoma codifica uma enzima reportadora, de que é exemplo a luciferase. As células suscetíveis (i.e., que expressam o recetor para a proteína S) e que são “infetadas” pelo pseudovírus incorporam esta enzima no seu genoma, sendo a sua expressão proporcional ao número de células transduzidas. Uma vez que são utilizados pseudovírus, estes ensaios de neutralização podem ser feitos em laboratórios de biossegurança de nível 2. A atividade neutralizante é medida como a dose inibitória a 50% (ID50), ou seja, a diluição mais alta de plasma contendo anticorpos contra SARS-CoV-2 responsável por uma redução em 50% da luminescência da enzima luciferase em comparação com o controlo.30

Os testes de imunoabsorção enzimática (ELISA) e os testes imunocromatográficos de fluxo lateral permitem a deteção de anticorpos presentes contra determinado antigénio. Enquanto que os primeiros permitem medir o título de anticorpos presentes, os segundos são meramente qualitativos. Nenhum dos dois permite saber se os anticorpos presentes são protetores, ou seja, não medem a sua atividade neutralizante.31,32

De entre as 4 proteínas estruturais dos coronavírus, as proteínas M (membrana) e E (envelope) são necessárias na montagem das partículas virais. A proteína S pode ser clivada por protéases do tipo furina nos polipeptídeos S1 e S2. O subdomínio S1 é importante na adesão ao recetor das células hospedeiras, através da interação do seu domínio de ligação ao recetor (RBD) ao recetor da enzima de conversão da angiotensina II (ECA2). Já o S2, o subdomínio da proteína S mais conservado  entre  os  diferentes  coronavírus,  é  responsável pela fusão com a célula hospedeira. A proteína N (nucleocápside) está envolvida nos processos de transcrição e replicação do ARN viral e na encapsidação do genoma em viriões.33  As proteínas estruturais mais imunogénicas são a S e a N, pelo que os antigénios atualmente utilizados nos testes serológicos se baseiam em proteínas recombinantes N e S, no subdomínio N-terminal S1 (S1) ou na RBD da proteína S. As respostas neutralizantes são dirigidas contra a proteína S.34

Dinâmica da resposta humoral

Através de ensaios ELISA baseados na deteção de anticorpos contra a proteína recombinante da nucleocápside, Guo et al analisaram a cinética da resposta humoral IgA, IgM e IgG num total de 208 amostras de plasma de 82 casos confirmados e 58 prováveis de COVID-19. O tempo mediano até deteção das diferentes classes de anticorpos foi de 5 dias (âmbito interquartil 3-6) para a IgA e IgM, e de 14 dias (âmbito interquartil 10-18) para a IgG. As taxas de deteção foram de 92,7% e 85,4%, respetivamente, para a IgA e IgM nas amostras colhidas < 7 dias após o início de sintomas, e de 77,9% para a IgG em todas as amostras colhidas no estudo. O título de anticorpos IgA aumentou entre os dias 0-7 (título geométrico médio [GMT], 400) e os dias 8-14 (GMT, 597,24, p = ,000), sem aumento estatisticamente significativo subsequente. Esta dinâmica foi semelhante à observada para os anticorpos da classe IgM, enquanto que para os da classe IgG se verificou um aumento estatisticamente significativo desde os dias 0-7 (GMT, 490,45) até aos dias 15-21 (GMT, 2690,87, p = ,000), com um plateau subsequente.25

Um estudo realizado no hospital de Shenzhen, na China, utilizou 3 ensaios serológicos diferentes para analisar a seroconversão em 535 amostras de 173 doentes com COVID-19: dois visando a determinação de anticorpos totais e da classe IgM contra a RBD da proteína S, e um outro para a determinação de anticorpos IgG contra a proteína N. Quando considerada a totalidade dos doentes, a taxa de deteção de anticorpos totais foi de 93,1%, com tempo mediano até seroconversão de 11 dias. Para a classe IgM, esta foi de 82,7%, com tempo mediano até seroconversão de 12 dias. Já a taxa de seroconversão IgG foi mais baixa (64,7%) e mais lenta (14 dias). Quando os doentes foram categorizados de acordo com o tempo após início de sintomas em que as amostras de plasma foram colhidas, verificou-se que a taxa de seroconversão foi < 40% para os diferentes ensaios na primeira semana, aumentando para 100% (anticorpos totais), 94,3% (IgM) e 79,8% (IgG) nos doentes cujas amostras foram colhidas a partir do dia 15.24

Estes dados são também sustentados por um outro estudo, que pretendia comparar dois testes ELISA baseados nas proteínas recombinantes S e N de SARS-CoV-2 em 214 doentes categorizados em 7 grupos de acordo com o momento de colheita das amostras de plasma: a taxa de seroconversão foi de 30%-50% nos primeiros 10 dias de doença, aumentando para os 88,9%-90,7% entre os dias 11-15. A taxa de deteção de anticorpos da classe IgM diminuiu a partir dos 35 dias após o início de sintomas.27

Assim, a dinâmica da resposta humoral parece seguir uma sequência bem definida, com anticorpos da classe IgA e IgM a aparecerem primeiro após a infeção primária e os da classe IgG mais tardiamente. À semelhança do SARS,35 a cinética da resposta humoral na COVID-19 inicia-se por volta do quinto, sexto dia de doença. O anticorpo da classe IgM é detetável, na maioria dos casos, entre o sétimo e o 10º dia e o da classe IgG entre o 10º e o 20º dia. No geral, a sensibilidade da serologia é baixa nos primeiros dias e pode aumentar para ≥ 70% após o 10º dia de doença.

No que diz respeito à relação entre o título de anticorpos e a gravidade da doença, Zhao J et al demonstraram que, a partir das 2 semanas após início de sintomas, os títulos de anticorpos foram estatisticamente superiores nos doentes críticos quando comparados com não críticos.24 Numa outra coorte de 285 doentes, em que 39 foram classificados como tendo infeção grave ou crítica, todos os doentes apresentavam seroconversão aos 17-19 dias de doença. Nas amostras colhidas entre os dias 7-14 de doença, o título de IgG foi significativamente mais alto naqueles com infeção grave, desaparecendo, no entanto, esta diferença nas amostras colhidas a partir do dia 15.36  Num estudo de colaboração europeu, Okba N et al apontam que, em 3 doentes com amostras de plasma colhidas longitudinalmente, a seroconversão foi mais precoce e os títulos de anticorpos mais elevados num doente grave comparativamente aos outros 2 doentes ligeiros, tal como já observado previamente para doentes com MERS.28 Também Wu F et al mostram uma correlação moderada entre o nível de anticorpos neutralizantes contra SARS-CoV-2, a idade do doente e os níveis de proteína C reativa, e uma correlação negativa com a contagem de linfócitos.37  No entanto, permanece por esclarecer esta relação entre a gravidade da doença e o título de anticorpos em coortes maiores compostas por indivíduos com diferentes graus de gravidade de doença, dado que existe pelo menos um outro estudo em Hong Kong, envolvendo 10 doentes graves e 13 ligeiros, onde tal não foi evidente.26

 

Reatividade cruzada com outros coronavírus

Nos estudos de Guo Li et al e Okba N et al verificou-se, em ensaios ELISA e por técnica de Western-blott, reatividade cruzada entre as proteínas recombinantes S1, S2, RBD e N de SARS-CoV e SARS-CoV-2, mas não com as de outros coronavírus (MERS-CoV, HKU1, OC43, NL63 e 229E). Este facto não é surpreendente uma vez que os vírus SARS-CoV-2 e SARS-CoV apresentam uma homologia de cerca de 77,2% e 90,5% nos aminoácidos que compõem a proteína S e N, respetivamente. Este grau de homologia é bem inferior no caso de outros coronavírus (Tabela 1). No entanto, o vírus SARS-CoV não circula na população humana desde 2003 e, tal como explicado mais abaixo, é altamente improvável que estejam atualmente presentes anticorpos contra esse vírus na população, pelo que não é expetável falsos positivos nas reações serológicas para SARS-CoV-2 provocados por outros coronavírus.25,28

Num estudo de Wu F et al, apesar da ligação dos anticorpos presentes no plasma de doentes COVID-19 às proteínas recombinantes S1 e RBD de SARS-CoV em testes de imunoabsorção enzimática, estes não conseguiram inibir a infeção por pseudovírus de SARS-CoV em ensaios de neutralização in vitro, indicando que os epítopos responsáveis pela neutralização possam não estar conservados entre estes dois vírus e explicando o porquê do uso de plasma convalescente de doentes recuperados da SARS poder não ser eficaz em doentes COVID-19.37  Estes dados são apoiados por outros estudos: baseado em análises estruturais, Yuan et al determinaram que um anticorpo monoclonal humanizado contra a proteína S de SARS-CoV (CR3022) apresentava ligação cruzada a um epítopo altamente conservado próximo da RBD de SARS-CoV-2, sem, no entanto, conferir atividade neutralizante em ensaios in vitro.38 Também Ou et al, usando anticorpos policlonais (T62) contra a proteína S1 de SARS-CoV, provaram que estes conseguiam inibir a entrada de pseudovírus de SARS-CoV em células suscetíveis mas não de SARS-CoV-2.39

 

Será a imunidade humoral contra SARS-CoV-2 protetora?

Têm surgido vários estudos que pretendem avaliar se os anticorpos dos doentes recuperados têm atividade neutralizante. Os anticorpos neutralizantes (NAbs) específicos para determinado vírus têm a capacidade de inibir a infeção subsequente após uma infeção primária ou após vacinação contra esse vírus. Como tal, os seus níveis são muitas vezes usados como referência para avaliar a eficácia de determinadas vacinas, como é o caso da vacina contra a poliomielite e a gripe.40 Também a eficácia do tratamento com plasma convalescente, usado já com sucesso no SARS, Ébola e gripe, depende da concentração de anticorpos neutralizantes contra o vírus de interesse no plasma de dadores recuperados.41-43

Num estudo de Wu F et al foi feito um ensaio utilizando pseudovírus com o antigénio recombinante da proteína S do vírus SARS-CoV-2 para avaliar os níveis de anticorpos neutralizantes presentes no plasma de 175 doentes com sintomas ligeiros de COVID-19 considerados recuperados.37 Tal como em outros estudos,26,28 foi observada uma correlação positiva entre o nível de NAbs e o título de anticorpos, medidos por ELISA, contra proteínas recombinantes da RBD, S1 e S2 de SARS-CoV-2, sugerindo inclusive que anticorpos contra diferentes domínios da proteína S (RBD, S1 e S2) possam todos eles apresentar atividade neutralizante. Em 6 doentes nos quais foi feita monitorização longitudinal dos anticorpos neutralizantes, o seu título foi baixo nos primeiros 10 dias de doença (ID50: < 200), atingindo um pico máximo entre os dias 10-15, e mantendo-se estáveis desde então. A atividade neutralizante foi variável entre os 175 doentes, sendo que à data de alta 30% destes apresentavam níveis muito baixos de NAbs, 17% níveis médios, 39% altos e 14% muito altos. Em 47 doentes nos quais foi feito seguimento após a alta, não foi detetada uma diferença estatisticamente significativa nos títulos de NAbs às 2 semanas de seguimento, incluindo aqueles que tinham títulos baixos à data de alta. Assim, parece que uma proporção de doentes recupera sem desenvolver títulos altos de anticorpos neutralizantes, evocando o papel de outros braços da imunidade, nomeadamente a celular, na sua recuperação.37  Esta observação tem ainda implicações no uso de plasma convalescente no tratamento da COVID-19: uma vez que uma proporção de doentes recuperados apresenta títulos baixos de anticorpos neutralizantes, idealmente deverá ser feito o seu doseamento previamente à sua administração.

Um estudo preliminar em  pré-publicação,  usando um modelo de primatas não humanos (macacos rhesus) infetados com SARS-CoV-2, mostrou que macacos recuperados após infeção primária, e no qual foi feito um re-challenge imunológico com a mesma dose de SARS-CoV-2 aos 28 dias após a infeção primária, não sofreram reinfeção. Os títulos de anticorpos neutralizantes eram elevados aos 21 e 28 dias pós infeção primária e, aos 5 dias após a reexposição, estes aumentaram ou mantiveram-se constantes.44

Apesar de não existir até à data literatura definitiva que demonstre que a infeção primária por SARS-CoV-2 possa proteger contra exposições subsequentes, os dados provenientes destes estudos são encorajadores nesse sentido, permanecendo, no entanto, por esclarecer qual a duração dessa proteção. De facto, a duração da memória imunológica específica para determinado antigénio é variável. Estudos de re-challenge imunológico contra coronavírus da comunidade (HCoV-229E) sugerem que a imunidade protetora contra esses coronavírus possa desaparecer após 1 ano.45  Nas infeções por MERS-CoV, estudos sugerem que os títulos de anticorpos IgG tendem a ser mais baixos e transitórios naqueles com doença ligeira ou subclínica Quando comparados com aqueles com doença grave, nos quais foram detetáveis durante pelo menos 2 anos.46

No que diz respeito ao SARS, um estudo de coorte de 56 doentes recuperados revelou uma correlação positiva marcada entre os títulos de anticorpos da classe IgG e de anticorpos neutralizantes, que atingiram um pico máximo aos 4 meses após o início da infeção e que diminuíram de forma gradual subsequentemente, sendo que, aos 2 anos de seguimento, 11,8% dos doentes não apresentavam anticorpos detetáveis.47 Num período de seguimento de 3 anos, Cao et al demonstraram ainda que 74,2% e 83,9% dos doentes apresentavam, respetivamente, anticorpos da classe IgG e anticorpos neutralizantes contra SARS-CoV aos 36 meses.48  No entanto, num outro estudo composto por uma coorte de 176 doentes, apenas 50% dos doentes apresentavam anticorpos detetáveis por ELISA aos 3 anos.49 Tang F et al, numa casuística de 23 doentes recuperados de SARS com o maior tempo de seguimento, sublinham que 6 anos após a infeção apenas 8,7% dos doentes apresentam anticorpos IgG detetáveis e em títulos muito baixos. De forma a perceber se estes doentes manteriam uma resposta anamnéstica adequada perante uma potencial reinfeção, mediram a resposta de células B de memória periféricas contra SARS-CoV, que se encontrava ausente nos 23 doentes.50 Estes achados sugerem que os anticorpos neutralizantes e da classe IgG presentes no plasma desaparecem de forma mais marcada 2 anos após a infeção por SARS-CoV, com células B de memória específicas indetetáveis aos 6 anos. Em todos estes estudos, a cinética da resposta humoral variou de acordo com a gravidade de sintomas, sendo que aqueles com doença mais grave (i.e., necessidade de admissão em cuidados intensivos e/ou ventilação mecânica) apresentavam anticorpos em títulos mais elevados e detetáveis durante mais tempo.

 

Conclusão

A interação entre o SARS-CoV-2 e as defesas do hospedeiro são o cerne da patogenia da COVID-19, sendo determinante no espetro de manifestações que a doença pode assumir. Apesar da utilidade das lições aprendidas com o SARS e com outros coronavírus humanos, parece que este novo coronavírus apresenta alguns mecanismos ímpares de interação com o hospedeiro. No entanto, muito permanece ainda por esclarecer e a investigação básica na área da imunologia proporcionará  respostas necessárias quer para o controlo e prevenção da doença quer no seu diagnóstico e tratamento. Se a infecção por SARS-CoV-2 se tornar endémica e considerando que a imunidade protetora, à semelhança de outros coronavírus, desaparece com o tempo e parece ser dependente da gravidade da doença, o desenvolvimento de uma vacina será necessário quer para proteção da população naïve quer daqueles que sobreviveram à infeção e que demonstrem um declínio da resposta imune com o tempo.

 

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Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

Proveniência e Revisão por Pares: Comissionado; sem revisão externa por pares.

 

Ethical disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interestto declare.

Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship.

Confidentiality of Data: The authors declare that they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients.

Provenance and Peer Review: Commissioned; without externally peer re-viewed.

 

© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.

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Correspondence/Correspondência:

Margarida Tavares - margarida.tavares@chsj.min-saude.pt

Unidade de Doenças Infeciosas Emergentes, Serviço de Doenças Infeciosas, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto, Portugal

Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 202-451 Porto, Portugal

 

Received/Recebido: 07/05/2020

Accepted/Aceite: 08/05/2020

 

Publicado/ Published: 15 de Maio de 2020

 

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