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Medicina Interna

versão impressa ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27 no.2 Lisboa abr. 2020

https://doi.org/10.24950/PP/2/2020 

PÁGINA DO PRESIDENTE/ PRESIDENT PAGE

 

As Camas Hospitalares São Tão Preciosas como Escassas

Hospital Beds Are as Precious as they are Scarce

 

João Araújo Correia
https://orcid.org/0000-0002-6742-3900

Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

 

Ficamos a saber no final de 2018 de que Portugal era o quinto País mais envelhecido do mundo, substituindo a Alemanha, numa lista liderada pelo Japão, a que se seguem a Itália, a Grécia e a Finlândia (PORDATA). Parece que em 2030, atingiremos o terceiro lugar, com uma idade média nacional de 50,2 anos.

Sempre me custou compreender a razão de não utilizarmos os factos que a estatística nos demonstra, com anos de antecipação, para adaptarmos as respostas do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Todos sabemos que o preço da longevidade é a multimorbilidade e a dependência, que temos de combater, mas que sempre avança, seja ela de carater motor ou cognitivo. Por isso, o peso no SNS do Doente Crónico Complexo vai-se acentuando cada vez mais, traduzidoem múltiplos recursos ao Serviço de Urgência e inúmeras hospitalizações, com tempos de internamento alargados.

É útil avaliar o número de camas por 100 000 habitantes e verificar se este é congruente com o envelhecimento da população. Portugal, tinha 395,9 camas/100 mil em 1985, tendo em 2017 339,3/100 mil, o que merece comparação com a média dos 27 Países da União Europeia, que é de 541,4 camas/100 mil. Vale a pena referir, que a Alemanha soube ler os números, como 6º País mais envelhecido do mundo, tendo 800,2 camas por 100 000 habitantes, para dar resposta ás espectáveis necessidades de internamento hospitalar da sua população.

A SPMI aproveitou o dia 18/2/2020, em que fazia com a Associação dos Administradores Hospitalares (APAH) a recolha de dados para o 4º Barómetro dos Internamentos Sociais, para fazer um estudo dos doentes internados com alta clínica e camas extra lotação, nos Serviços de Medicina Interna Portugueses. Responderam 70 Serviços de MI (68%), aos quais corresponde uma lotação base de 3447 camas. Destas, 864 camas estavam ocupadas por doentes com alta clínica (25,07%): 493 (57%) doentes aguardavam colocação na Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCC), 148 (17%) nos Cuidados Paliativos e 223 (26%) esperavam por um Lar. Nestes números, há que acrescentar o facto do tempo de espera na RNCC ounos CP ser inferior a 2 semanas, mas a demora média para colocação num lar supera os 6 meses! Para tornar ainda mais evidente o facto destas camas “mal ocupadas”  serem  muito  necessárias,  constatamos  que  os Serviços de MI eram responsáveis nesse dia por mais 1235 camas extra (+36%). Destas, 103 (9%) eram camas “acrescentadas” no espaço físico dos Serviços de MI, 597 (48%) estavam noutros Serviços e 535 (43%) eram doentes internados no Serviço de Urgência!

É a isto que eu chamo o paradigma da incongruência! Para além de não adequarmos o número de camas hospitalares á população portuguesa, cada vez mais envelhecida e doente, damo-nos ao luxo de ter 25% das camas dos Serviços de Medicina  Interna  ocupadas por  doentes  com  alta clínica. Depois, obrigamos os Internistas ao esforço adicional de serem responsáveispor mais 36% de doentes espalhados pelo Hospital, muitos deles a permanecerem vários dias no Serviço de Urgência.

Para estarmos mais preparados para uma pandemia, que é sempre disruptiva, o SNS não pode estar sempre a trabalhar nos limites, nas questões de material ou de pessoal. Há que corrigir estas ineficiências, para termos alguma folga nas camas e não termos os Médicos esgotados, logo no início da batalha!

 

© Author(s) (or their employer(s)) 2019. Re-use permitted under CC BY- NC. No commercial re-use.

© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.

 

Recebido/Received: 21/03/2020

Aceite/Accepted: 25/03/2020

 

Publicado / Published: 27 de Junho de 2020

 

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