SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.28 issue1Spanish and Portuguese Societies of Internal Medicine Consensus Guideline about Best Practice in End-of-Life CareOn “´Valuing Research in Internal Medicine” author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.28 no.1 Lisboa Mar. 2021  Epub Mar 15, 2021

https://doi.org/10.24950/ce/216/20/1/2021 

Cartas ao Editor/ Letters to Editor

A Propósito de “Diferenças de Género no Tratamento de Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral Isquémico”

On “Gender Differences in Acute Ischemic Stroke Treatment”

1Serviço de Medicina Interna, Hospital Central do Funchal, Funchal, Portugal


Palavras-chave: farmacológico; Factores Sexuais; Isquemia Cerebral/tratamento farmacológico

Key words:

No trabalho de Taulaigoet al1 publicado na Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna foram analisadas as diferenças entre os géneros relativamente às caraterísticas clínicas, tratamento de fase aguda e resultados. Reconhecemos a pertinência de salientar aspectos relacionados com a fibrilhação auricular identificada em maior proporção no grupo das mulheres. Tal como Taulaigoet al,1também reconhecemos as lacunas na evidência no que diz respeito à terapêutica endovascular aplicada à oclusão de grande vaso quando analisadas as diferenças entre os géneros. Serve, portanto, a presente carta para partilhar a nossa experiência que, apesar de limitada pela natureza retrospectiva e dimensão amostral, identificou um aspecto de interesse.

Aplicamos uma metodologia semelhante a uma amostra de 62 doentes adultos submetidos a terapia endovascular em contexto de oclusão aguda de grande vaso cerebral. A Tabela 1 sumariza as caraterísticas, abordagem e desfechos clínicos da amostra e as diferenças entre os géneros. Em ambos os trabalhos não se verificam diferenças no que diz respeito ao tratamento da fase aguda e aos resultados clínicos.

Assinalamos, porém, uma maior proporção de doentes com patologia da válvula mitral no grupo feminino. A patologia valvular cardíaca está fisiopatologicamente associada a fenómenos cardioembólicos directos ou indirectos através do seu contributo na fibrilhação auricular. Estes fenómenos podem culminar em eventos cerebrovasculares.2Apesar de não de discernir impacto nos desfechos major a curto prazo, poderá ter implicação na abordagem e nos desfechos a longo prazo, nomeadamente na seleção da terapêutica anticoagulante e recurso a procedimentos valvulares, em especial de doentes do sexo feminino. Assim, poderá constituir um aspecto a ser alvo de análise em trabalhos futuros.

Tabela 1: Sumário das características e desfechos dos doentes submetidos a terapia endovascular e comparação entre os géneros. 

Parâmetro Total (n = 62) Masculino (n = 32) Feminino (n = 30) p
Idade, mediana (AIQ), anos 70 (60-78) 69 (65-77) 74 (59-81) 0,855
Hipertensão arterial, n (%) 49 (79,0%) 23 (71,9%) 26 (86,7%) 0,153
Fibrilhação auricular, n (%) 21 (33,9%) 14 (43,8%) 7 (23,3%) 0,090
Diabetes mellitus, n (%) 15 (24,2%) 10 (31,3%) 5 (16,7%) 0,180
Dislipidemia, n (%) 30 (48,4%) 16 (50,0%) 14 (46,7%) 0,793
Tabagismo, n (%) 4 (6,5%) 3 (9,4% 1 (3,3%) 0,333
Valvulopatia mitral, n (%) 6 (9,7%) 0 (0,0%) 6 (20,0%) 0,008*
AVC prévio, n (%) 7 (11,3%) 5 (15,6%) 2 (6,7%) 0,265
Cardiopatia isquémica, n (%) 9 (14,5%) 7 (21,9%) 2 (6,7%) 0,089
NIHSS à admissão
mediana (AIQ) 14 (11-19) 16 (12-20) 13 (11-19) 0,392
≤5 4 (6,5%) 3 (9,4%) 1 (3,3%) 0,068
6-15 30 (48,4%) 11 (34,4%) 19 (63,3%)
≥16 28 (45,2%) 18 (56,3%) 10 (33,3%)
Território acometido
ACM M1 52 (83,9%) 26 (81,3%) 26 (86,7%) 0,379
ACM M2 7 (11,3%) 4 (12,5%) 3 (10,0%)
Artéria basilar 2 (3,2%) 2 (6,3%) 0 (0,0%)
Artéria carótida interna 1 (1,6%) 0 (0,0%) 1 (3,3%)
Intervenção
rt-PA + TE, n (%) 39 (62,9%) 19 (59,4%) 20 (66,7%) 0,674
TE apenas 23 (37,1%) 13 (40,6%) 10 (33,3%)
mTICI 2b ou 3, n (%) 49 (79,0%) 27 (84,4%) 22 (73,3%) 0,269
NIHSS à alta
mediana (AIQ) 12 (5-19) 12 (5-19) 13 (4-20) 0,950
≤5 18 (29,0%) 8 (25,0%) 10 (33,3%) 0,798
6-15 20 (32,3%) 11 (34,4%) 9 (30,0%)
≥16 23 (37,1%) 12 (37,5%) 11 (36,6%)
Desfechos
mRS ≤ 2, n (%) 16 (25,8%) 8 (25,0%) 8 (26,7%) 0,941
Óbito intra-hospitalar, n (%) 12 (19,4%) 7 (21,9%) 5 (16,7%) 0,604
Óbito aos 90 dias, n (%) 15 (24,2%) 9 (28,1%) 6 (20,0%) 0,455

* - resultado com significado estatístico p < 0,05, ACM - artéria cerebral média, AIQ - amplitude interquartis, AVC - acidente vascular cerebral, mRS - modified Rankin Scale mTICI - modified Treatment In Cerebral Infartion, NIHSS - National Institutes of Health Stroke Scale, rt-PA - alteplase, TE - terapia endovascular

.

REFERÊNCIAS

1. Taulaigo A, Pedro B, Mariano M, Nunes A. Diferenças de género no tratamento de fase aguda do acidente vascular cerebral isquémico. Medicina Interna. 2020; 27: 219-28. doi: 10.24950/O/34/20/3/20203. [ Links ]

2. Lip G, Collet J, Caterina R, Fauchier L, Lane D, Larsen T, et al. Antithrombotic therapy in atrial fibrillation associated with valvular heart disease: a joint consensus document from the European Heart Rhythm Association (EHRA) and European Society of Cardiology Working Group on Thrombosis, endorsed by the ESC Working Group on Valvular Heart Disease, Cardiac Arrhythmia Society of Southern Africa (CASSA), Heart Rhythm Society (HRS), Asia Pacific Heart Rhythm Society (APHRS), South African Heart (SA Heart) Association and Sociedad Latinoamericana de Estimulación Cardíaca y Electrofisiología (SOLEACE). EP Europace. 2017; 19: 1757-8. doi: 10.1093/europace/eux240 [ Links ]

Responsabilidades ÉticasEthical Disclosures3

Recebido: 29 de Setembro de 2020; Aceito: 06 de Outubro de 2020

Correspondence / Correspondência: Bela Machado - bela.belinha@gmail.com Serviço de Medicina Interna, Hospital Central do Funchal, Funchal, Portugal Av. Luís de Camões 6180, 9000-177, Funchal

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons