Os vírus do grupo influenza (INF) são responsáveis por surtos de infeções respiratórias agudas por todo o mundo (gripe).1 A maior carga vírica encontra-se nas secreções respiratórios dos indivíduos infetados pelo que a sua transmissão ocorre maioritariamente através de gotículas e aerossóis.1 Dados da Organização Mundial de Saúde estimam que, anualmente, existam cerca de 3 a 5 milhões de casos graves de gripe, responsáveis por 250 a 500 000 mortes.2
No Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga (CHEDV), entre outubro de 2018 e março de 2019, período no qual se regista habitualmente a maior incidência de gripe em Portugal, das 275 amostras colhidas em adultos para pesquisa de vírus em secreções respiratórias, cerca de 37% (n = 102) foram positivas, tendo o vírus INF-A sido o mais frequentemente isolado (87,2%; n = 82). Para a época gripal 2019-2020, os autores implementaram no CHEDV um protocolo de abordagem das infeções respiratórias de presumível etiologia vírica, com pesquisa por reverse transcription polymerase chain reaction (RT-PCR) do vírus INF e sincicial respiratório (VSR) em todas os casos suspeitos. Efetuaram-se 999 pesquisas, das quais 20% foram positivas (n = 203), tendo o vírus INF-A (55%; n = 112) sido o mais frequentemente identificado.
A pandemia COVID-19 (coronavirus disease 2019 out-break) impôs à comunidade médica e restante sociedade desafios epidemiológicos, clínicos e logísticos sem precedentes na história médica recente.1 Perante a imperiosidade de conter a transmissão comunitária do vírus (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) SARS-CoV-2, as sociedades por todo o mundo implementaram diversas medidas higieno-sanitárias para controlo da sua disseminação.3,4De entre estas, salienta-se a obrigatoriedade do uso de máscara facial a todos os cidadãos, inicialmente em espaços fechados e posteriormente alargado a todos os espaços e vias públicas.3,5Foram também instituídas regras para a redução da lotação máxima de espaços públicos fechados.5 Estas medidas, a par do dever/obrigatoriedade do confinamento de todos cidadãos ao seu domicílio, quer em território nacional, quer nos restantes países do mundo que as aplicaram, revelaram-se indispensáveis na contenção da disseminação comunitária da COVID-19.5
A partir de 20 de dezembro de 2020, a todas as pesquisas de SARS-CoV-2 por RT-PCR foi acrescentada sistematicamente a pesquisa dos vírus INF e VSR. Nenhum caso de infeção por INF A ou B foi detetado, contrariamente ao verificado em períodos homólogos de anos transatos.
Assim, estes dados corroboram a eficácia das medidas de etiqueta e proteção respiratória na contenção da transmissão dos vírus da gripe e VSR, atendendo aos seus mecanismos de disseminação comunitária.4,5A par disso, o aumento da afluência à vacinação contra o vírus influenza poderá ter também contribuído para este resultado.3,4
Findo o pico da incidência da COVID-19 em Portugal e a par com o aumento do número de vacinados contra COVID-19, assistimos atualmente ao faseado levantamento de medidas restritivas, equilibrando o retorno da sociedade às suas atividades pré-pandémicas com o controlo do número de novos casos. No entanto, os autores gostariam de alertar a comunidade científica para a necessidade de debater a manutenção da utilização da máscara facial na comunidade, principalmente durante a época de maior incidência da gripe e fundamentalmente nos doentes dos grupos de risco.
Assim, se é facto que a manutenção de outras medidas implementadas durante a pandemia como a redução das viagens e confinamento são insustentáveis a longo prazo, a continuidade da utilização das máscaras faciais, parece ser algo benigno e com provas na contribuição para a prevenção de uma nova epidemia, desta vez de influenza ou outro vírus respiratório.