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Medicina Interna

versão impressa ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.28 no.3 Lisboa set. 2021  Epub 01-Dez-2021

https://doi.org/10.24950/ce/208/21/3/2021 

Cartas ao Editor

A Pandemia COVID-19 e as Lições para o Vírus Influenza

COVID-19 Pandemic and the Lessons for the Influenza Virus

11Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, Santa Maria da Feira, Portugal


Os vírus do grupo influenza (INF) são responsáveis por surtos de infeções respiratórias agudas por todo o mundo (gripe).1 A maior carga vírica encontra-se nas secreções respiratórios dos indivíduos infetados pelo que a sua transmissão ocorre maioritariamente através de gotículas e aerossóis.1 Dados da Organização Mundial de Saúde estimam que, anualmente, existam cerca de 3 a 5 milhões de casos graves de gripe, responsáveis por 250 a 500 000 mortes.2

No Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga (CHEDV), entre outubro de 2018 e março de 2019, período no qual se regista habitualmente a maior incidência de gripe em Portugal, das 275 amostras colhidas em adultos para pesquisa de vírus em secreções respiratórias, cerca de 37% (n = 102) foram positivas, tendo o vírus INF-A sido o mais frequentemente isolado (87,2%; n = 82). Para a época gripal 2019-2020, os autores implementaram no CHEDV um protocolo de abordagem das infeções respiratórias de presumível etiologia vírica, com pesquisa por reverse transcription polymerase chain reaction (RT-PCR) do vírus INF e sincicial respiratório (VSR) em todas os casos suspeitos. Efetuaram-se 999 pesquisas, das quais 20% foram positivas (n = 203), tendo o vírus INF-A (55%; n = 112) sido o mais frequentemente identificado.

A pandemia COVID-19 (coronavirus disease 2019 out-break) impôs à comunidade médica e restante sociedade desafios epidemiológicos, clínicos e logísticos sem precedentes na história médica recente.1 Perante a imperiosidade de conter a transmissão comunitária do vírus (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) SARS-CoV-2, as sociedades por todo o mundo implementaram diversas medidas higieno-sanitárias para controlo da sua disseminação.3,4De entre estas, salienta-se a obrigatoriedade do uso de máscara facial a todos os cidadãos, inicialmente em espaços fechados e posteriormente alargado a todos os espaços e vias públicas.3,5Foram também instituídas regras para a redução da lotação máxima de espaços públicos fechados.5 Estas medidas, a par do dever/obrigatoriedade do confinamento de todos cidadãos ao seu domicílio, quer em território nacional, quer nos restantes países do mundo que as aplicaram, revelaram-se indispensáveis na contenção da disseminação comunitária da COVID-19.5

A partir de 20 de dezembro de 2020, a todas as pesquisas de SARS-CoV-2 por RT-PCR foi acrescentada sistematicamente a pesquisa dos vírus INF e VSR. Nenhum caso de infeção por INF A ou B foi detetado, contrariamente ao verificado em períodos homólogos de anos transatos.

Assim, estes dados corroboram a eficácia das medidas de etiqueta e proteção respiratória na contenção da transmissão dos vírus da gripe e VSR, atendendo aos seus mecanismos de disseminação comunitária.4,5A par disso, o aumento da afluência à vacinação contra o vírus influenza poderá ter também contribuído para este resultado.3,4

Findo o pico da incidência da COVID-19 em Portugal e a par com o aumento do número de vacinados contra COVID-19, assistimos atualmente ao faseado levantamento de medidas restritivas, equilibrando o retorno da sociedade às suas atividades pré-pandémicas com o controlo do número de novos casos. No entanto, os autores gostariam de alertar a comunidade científica para a necessidade de debater a manutenção da utilização da máscara facial na comunidade, principalmente durante a época de maior incidência da gripe e fundamentalmente nos doentes dos grupos de risco.

Assim, se é facto que a manutenção de outras medidas implementadas durante a pandemia como a redução das viagens e confinamento são insustentáveis a longo prazo, a continuidade da utilização das máscaras faciais, parece ser algo benigno e com provas na contribuição para a prevenção de uma nova epidemia, desta vez de influenza ou outro vírus respiratório.

AGRADECIMENTOS

Dra. Adriana Pedrosa, pela disponibilização dos dados aboratoriais.

REFERÊNCIAS

1. Flerlage T, Boyd DF, Meliopoulos V, Thomas PG, Schultz-Cherry S. In-fluenza virus and SARS-CoV-2: pathogenesis and host responses in the respiratory tract. Nat Rev Microbiol. 2021;19:425-41. doi: 10.1038/s41579-021-00542-7. [ Links ]

2. Paget J, Spreeuwenberg P, Charu V, Taylor RJ, Iuliano AD, Bresee J, et al. Global mortality associated with seasonal influenza epidemics: New bur-den estimates and predictors from the GLaMOR Project. J Glob Health. 2019;9:020421. doi: 10.7189/jogh.09.020421. [ Links ]

3. Jones N. How COVID-19 is changing the cold and flu season. Nature. 2020;588:388-90. doi: 10.1038/d41586-020-03519-3. [ Links ]

4. Olsen SJ, Azziz-Baumgartner E, Budd AP, Brammer L, Sullivan S, Pine-da RF, et al. Decreased influenza activity during the COVID-19 pandemic - United States, Australia, Chile, and South Africa, 2020. Am J Transplant. 2020;20:3681-5. [ Links ]

5. Hills T, Kearns N, Kearns C, Beasley R. Influenza control during the COVID-19 pandemic. Lancet. 2020;396:1633-4. doi: 10.1016/S0140-6736(20)32166-8. [ Links ]

2© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) e Revista SPMI 2021. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial. © Author(s) (or their employer(s)) and SPMI Journal 2021. Re-use permit-ted under CC BY-NC. No commercial re-use

Recebido: 25 de Maio de 2021; Aceito: 10 de Julho de 2021

Correspondence / Correspondência: Filipe Machado - filipejsmachado@gmail.com Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, Santa Maria da Feira, Portugal R. Dr. Cândido Pinho 5, 4520-211 Santa Maria da Feira

Responsabilidades Éticas Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho. Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares. Ethical Disclosures Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare. Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship. Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer re-viewed

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