Cartas ao Editor
A Propósito de “Estarão Os Doentes Com Fibrilhação Auricular Correctamente Anticoagulados? Um Retrato de Um Hospital Português do Interior”
On “Are Patients with Atrial Fibrillation Correctly Anticoagulated? A Snapshot From A Portuguese Hospital on The Countryside”
1Serviço de Medicina Interna, Hospital dos Marmeleiros, Funchal, Portugal.
Resumo
Aplicamos o protocolo de análise descrito por Lima et al publicado na Revista Portuguesa de Medicina Interna a 211 doentes com fibrilhação auricular não valvular admitidos por acidente vascular cerebral isquémico ou acidente isquémico transitório. Detectamos 146 doentes (69,2%) elegíveis para anticoagulação que não estavam medicados em concordância. Estes apresentavam um índice de comorbilidade era mais elevado do que os anticoagulados. Consideramos que esta análise deverá ser contemplada em trabalhos futuros.
Palavras-chave: Anticoagulantes; Fibrilhação Auricular/tratamento farmacológico; Idoso; Prescrição de Medicamentos.
Abstract
We applied the analytic methodology described by Lima et published in Revista Portuguesa de Medicina Interna to a sample of 211 patients with non-valvular atrial fibrillation admitted due to acute ischemic stroke or transient cerebral ischemia. We report 146 patients (69,2%) eligible that were not anticoagulated. These patients presented a higher comorbidity index than those anticoagulated. We consider that future studies could in-clude this analysis.
Keywords: Aged; Anticoagulants; Atrial Fibrillation/drug therapy; Drug Prescriptions.
No trabalho de Lima et al publicado na Revista Medicina Interna foi identificada uma elevada percentagem de doentes com fibrilhação auricular não valvular (FANV) que, apesar elegíveis para anticoagulação oral (ACO), não se encontravam medicados em concordância.1
Similarmente, sentimos a necessidade de uma caracterização significativa deste problema na população portuguesa face à sua relevância na prevenção da doença cerebrovascular, epidemiologicamente apontada como primeira causa de morte.2,3Desta forma saudamos trabalhos como o de Lima et al. Contudo, como os autores salientaram, a extrapolação para a população a partir da casuística foi limitada.
Assim, a presente carta serve para partilhar a nossa ex-periência e refletir num achado de interesse.
Aplicamos uma metodologia equiparável à de Lima et al a uma amostra de 211 doentes com FANV internados por acidente vascular cerebral isquémico (AVCI) ou acidente isquémico transitório na nossa instituição ao longo de três anos (Tabela 1). Concordantemente, observámos uma larga proporção de doentes elegíveis que não estavam medicados com ACO (146 casos; 69,2%) e sublinhamos que 50 doentes (23,7%) apresentavam AVCI prévio e careciam da prescrição de ACO.
Tabela 1: Resumo das características da amostra e comparação entre grupos.
Salientamos que os doentes sem ACO apresentaram uma média dos índices de comorbilidade mais elevada do que aqueles com ACO. Esta observação concretiza uma das hipóteses discutidas no trabalho de Lima et al que se debruçou sobre possíveis preocupações sentidas pelos clínicos aquando da instituição da ACO.
Este aspecto deverá ser contemplado em investigações futuras, na forma de estudos mais robustos capazes aprimorar a relação risco-benefício e, deste modo, auxiliar a gestão clínica de doentes mais sensíveis.
Declaração de Contribuição / Contributorship Statement:
M. Bilreiro, B. Machado, L. M. Correia, R. Freitas - Análise dos dados, Redação, Revisão, Aprovação.
REFERÊNCIAS
1. Lima J, Aguiar J, Paixão-Ferreira M, Calixto R, Cesário V, Alves da Costa F, et al. Estarão Os Doentes Com Fibrilhação Auricular Correctamente Anticoagulados? Um Retrato De Um Hospital Português Do Interior. Rev Port Med Intern. 2021; 28: 344-9. doi:10.24950/rspmi.o.98.4.2021
[ Links ]
2. Hindricks G, Potpara T, Dagres N, Arbelo E, Bax JJ, Blomström-Lundqvist C, et al. 2020 ESC Guidelines for the diagnosis and management of atrial fibrillation developed in collaboration with the European Association for Car-dio-Thoracic Surgery: The Task Force for the diagnosis and management of atrial fibrillation of the European Society of Cardiology Developed with the special contribution of the European Heart Rhythm Association of the ESC. Eur Heart J. 2021;42:373-498. doi: 10.1093/eurheartj/ehaa612
[ Links ]
3. Eurostat. Causes and occurrence of deaths in the EU [internet]. Luxem-burgo: Eurostat; 2016 [consultado em 2021 Out 01] Disponível em https://ec.europa.eu/eurostat/en/web/products-eurostat-news/-/ddn-20190716-1
[ Links ]
4. Quan H, Li B, Couris CM, Fushimi K, Graham P, Hider P, et al. Updating and validating the Charlson comorbidity index and score for risk adjustment in hospital discharge abstracts using data from 6 countries. Am J Epidemiol. 2011;173:676-82. doi: 10.1093/aje/kwq433.
[ Links ]