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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.30 no.1 Lisboa Mar. 2023  Epub Mar 10, 2023

https://doi.org/10.24950/rspmi.1092 

Cartas ao Editor/ Letters to the Editor

Cuidados Paliativos no Domicílio: Reflexões sobre a Experiência numa Equipa Comunitária

Palliative Care at Home: Reflections on the Experience in a Community Team

Margarida Paixão-Ferreira1  2 
http://orcid.org/0000-0002-9608-555X

1Serviço de Medicina Interna, Hospital José Joaquim Fernandes, Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, Beja, Portugal

2Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja+ - Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, Beja, Portugal


Caro Editor,

O artigo de revisão de Martins de Brito, Bertão & Freire1 faz uma revisão detalhada (e muito útil) sobre vias alternativas à via oral em Cuidados Paliativos, sublinhando o seu uso em domicílio. Neste contexto, penso que será importante destacar mais alguns pontos que a experiência prática de alternar entre o ambiente hospitalar e a comunidade me permitem reconhecer e, assim, enriquecer de alguma forma o trabalho notável desta revisão.

Estas vias não são um “exclusivo” do domicílio, sendo essencialmente alternativas à via oral, a via preferencial, e ganhando por isso maior importância na comunidade, uma vez que o ambiente é diferente do hospitalar (relembremo-nos que os doentes estão a ser cuidados, maioritariamente, no seu domicílio) e as ferramentas disponíveis são normalmente mais limitadas, sendo essencial optimizar as vias utilizadas para obtenção de um melhor controlo sintomático.2

No contexto da comunidade, o privilégio da via oral alia-se frequentemente ao uso precoce da via transmucosa oral (nos fármacos e nas situações em que tal é possível), dado que a facilidade de adesão e o baixo grau de desconforto associado são em tudo sobreponíveis, com alguma vantagem em termos de rapidez de absorção e com uma vantagem ainda mais significativa - o trabalho de preparação e antecipação para eventual perda parcial e/ou intermitente de via oral.

Este trabalho de antecipação2 é ainda mais fundamental na gestão de caso no domicílio, tendo em conta as limitações já mencionadas e a necessidade de prevenir sofrimento desnecessário.3 Além disso, a habitual situação de doença muito avançada (frequentemente em situações de últimas semanas ou dias de vida) na qual os doentes são referenciados para apoio por Cuidados Paliativos,4 um atraso que por si só já coloca em causa a sua qualidade de vida, torna o trabalho de antecipação de agravamento e/ou do momento de fim de vida uma situação emergente e necessária, sendo que a escolha da via de administração ideal e o planeamento de alternativas viáveis para aquela situação é um pequeno mas importante passo.

Importa salientar que a verdadeira “via alternativa” no domicílio é a via subcutânea, pois é a que permite controlo sintomático mais eficaz em sintomas refractários/situações de crise e, sobretudo, é aquela que permite gerir os sintomas no momento de últimos dias/horas de vida. Perante o momento de agonia, além de conseguir ultrapassar a indisponibilidade da via oral5 e as limitações de outras vias, a via subcutânea permite a antecipação sob a forma de bólus e/ou perfusão contínua, o que, juntamente, com o estabelecer e explicar de um plano de cuidados, tranquiliza os cuidadores.5 A importância do uso desta via no domicílio espelha-se então na possibilidade de manter o doente confortável e com sintomas controlados no seu domicílio, nas situações que mais facilmente poderiam desencadear uma ida ao serviço de urgência e o retorno a um ambiente mais propenso a medidas inapropriadas4 e a maior sofrimento.

Agradecimentos

À Dra. Cristina Galvão, à Dra. Inês Castiço, à Enf. Catarina Pazes, à Enf. Lúcia Gonçalves e à Enf. Vânia Ramos, pela partilha constante de conhecimentos e vivências que cimentam esta análise.

REFERÊNCIAS

1. Brito S, Bertão M, Freire E. Cuidados Paliativos no Domicílio: Vias Alternativas para a Administração de Fármacos. Med Interna 2022; 29:207-14. doi: 10.24950/rspmi.432. [ Links ]

2. Galriça Neto I. Modelos de Controlo Sintomático. In: Barbosa A, Pina PR, Tavares F, Galriça Neto I, editores. Manual de cuidados paliativos. 3ªed. Lisboa: AIDFM; 2016. p.43-8. [ Links ]

3. Finucane AM, Stevenson B, Gardner H, McArthur D, Murray SA. Anticipatory prescribing at the end of life in Lothian care homes. Br J Community Nurs. 2014 ;19:544-7. doi: 10.12968/bjcn.2014.19.11.544. [ Links ]

4. Monier PA, Chrusciel J, Ecarnot F, Bruera E, Sanchez S, Barbaret C. Duration of palliative care involvement and cancer care aggressiveness near the end of life. BMJ Support Palliat Care. 2020:bmjspcare-2020-002641. doi: 10.1136/bmjspcare-2020-002641. [ Links ]

5. Galriça Neto I. Cuidados na agonia. In: Barbosa A, Pina PR, Tavares F, Galriça Neto I, editores. Manual de cuidados paliativos. 3ªed. Lisboa: AIDFM; 2016. p.317-30. [ Links ]

Suporte Financeiro: O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsidio o bolsa ou bolsa.

3Proveniência e Revisão por Pares: Comissionado; Sem revisão externa por pares.

Financial Support: This work has not received any contribution grant or scholarship.

6Provenance and Peer Review: Commissioned; without external peer re-viewed.

7© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) e Revista SPMI 2023. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial. © Author(s) (or their employer(s)) and SPMI Journal 2023. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.

Recebido: 31 de Outubro de 2022; Aceito: 29 de Novembro de 2022

Correspondence / Correspondência: Margarida Paixão-Ferreira - margaridarpf19@hotmail.com Serviço de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, Hospital José Joaquim Fernandes, Beja, Portugal R. Dr. António Fernando Covas Lima, 7801-849 Beja

Conflitos de Interesse: Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.

Conflicts of Interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons