O número 3 da nossa revista é particularmente rico, pois cobre todas as tipologias de artigos que a caracterizam. Desde os editoriais, passando pela mensagem do Presidente, importa destacar a quantidade de artigos originais. Não irei focar todos, pois apelo à sua leitura! No dia 5 de Maio de 2023 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim do estado de emergência em relação à COVID-19. O anúncio foi feito pelo Diretor Geral da OMS, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, num tom cheio de esperança.¹ No entanto, foi realçado que a pandemia não acabou, e que cabe refletir no que foi feito, e continuar a trabalhar no sentido de tornar os sistemas de saúde mais robustos e universais. Não temos maneira de saber de onde virá a próxima catástrofe.² Por isso, a publicação de dados a partir de um dos centros mais acometidos pela COVID-19 em Portugal, no artigo original deste número de Mariana Meireles e colaboradores, é de extrema importância. O trabalho levanta questões dos efeitos a longo prazo da COVID-19, e os dados apontam para uma necessidade do reforço de medidas de saúde pública no apoio à reabilitação e saúde mental. Dá que pensar.

O delirium é o diagnóstico neuropsiquiátrico mais frequente em todos os níveis de cuidados de saúde e no entanto, a maior parte dos profissionais de saúde não o detetam. É mesmo uma questão de saúde pública. O delirium é fator de risco para complicações clínicas, maior tempo de internamento e institucionalização em unidades de cuidados pós-agudos. Em relação aos resultados a longo prazo, os episódios de delirium estão associados a piores resultados de forma independente, mesmo controlando para a idade, sexo, comorbilidades, gravidade da doença e demência de base. Neste número, o artigo original de Rute Brás Cruz e colaboradores é assim muito atual e pertinente, pois levanta questões acerca de como podemos minimizar os danos do delirium, e, muito importante, como prevenir, numa área em crescimento como são os cuidados paliativos. Apesar de ser um estudo retrospetivo, é uma avaliação pragmática, que vem de encontro ao que é defendido por prestigiados investigadores em delirium: identificar o delirium a partir de registos clínicos para permitir desenhar com mais fundamento estratégias a nível populacional.³

Nesta minha curta prosa de abertura do número 3 da revista quero por fim destacar um tópico: temos tido uma grande atividade de cartas ao editor, o que demonstra que a Revista chega aos nossos leitores e que ela serve de es-paço de discussão. O discurso científico ocorre de muitas formas: pessoalmente entre colegas, em público em congressos científicos, durante o peer-review, e, muito importante, depois da publicação.⁴ Neste contexto, as cartas ao editor vêm no final da revista, passam muitas vezes desapercebidas e são consideradas por muitos “publicações menores”. Mas são aparências, porque no fundo mostram o espírito crítico que é a base primordial de todo o progresso do conhecimento. E não se esqueçam que a Revista Medicina Interna é boa de ler e de ouvir, pois a rúbrica de Podcasts veio para ficar!