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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.30 no.3 Lisboa Sept. 2023  Epub Oct 25, 2023

https://doi.org/10.24950/rspmi.2358 

Editorial

Investigação Clínica: Um Desafio para os Serviços de Medicina Interna

Clinical Research: A Challenge for Internal Medicine Services

Nuno Bernardino Vieira1  2 
http://orcid.org/0000-0001-8168-8115

1Editor Associado, Revista Portuguesa de Medicina Interna, Lisboa, Portugal

2Coordenador do Centro de Formação em Medicina Interna (FORMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Lisboa, Portugal

3Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Unidade Hospitalar de Portimão, Serviço de Medicina 3, Portimão, Portugal


Atravessamos tempos de incerteza, mas simultaneamente desafiantes, para a Medicina Interna portuguesa. Algo que partilhamos com as restantes esferas da saúde em Portugal, particularmente num sistema nacional de saúde em crise e sob constante sobressalto, vítima duma sangria de profissionais. Procuram-se caminhos que permitam contornar os obstáculos e ultrapassar com sucesso estes desafios vigentes, recuperando o vigor que a especialidade vivia em meados da última década.

15.

Um dos caminhos de sucesso a percorrer passa certamente pela promoção da Investigação Clínica nos nossos serviços, tornando-os motores de uma cultura I&D nas unidades hospitalares onde se inserem. A vivência duma cultura de Investigação num serviço fomenta entre os seus elementos o rigor científico, o espírito crítico perante a realidade clínica ou o trabalho de equipa, entre outras valências. Tudo mais valias que se refletem na melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos utentes e na valorização científica interpares e externa dos nossos serviços, tornando-os mais atrativos ao recrutamento de novos profissionais.

16.

É consensual que a atividade científica, nomeadamente o desenvolvimento de projetos de Investigação, a par da atividade assistencial e formativa, é um dos três vetores que constituem a ação do Internista.1 Estes são três vetores que se cruzam e se complementam diariamente, contribuindo cada um deles de forma fundamental para a edificação da Medicina Interna. O programa da formação especializada em Medicina Interna2 contempla esta complementaridade, sendo referido que o interno na totalidade do seu internato deve adquirir progressiva autonomia em diversos itens, sendo um deles a “elaboração e execução de projetos de investigação”.

17.

Também a nível europeu, quando se discutem as competências básicas de um Internista, se valoriza a competência em investigação. Conhecimentos básicos em Investigação Clínica são essenciais para o Internista, independentemente do local onde exercem a sua atividade, nomeadamente, para a implementação de projetos de investigação e respetiva publicação dos resultados, como deterem as competências básicas que lhes permitam interpretar e analisar criticamente um artigo de estudos clínicos de diagnóstico, de prognóstico ou de avaliação de intervenção.3

18.

Embora possam existir alguns casos de boas práticas a sinalizar e divulgar, onde a Investigação é encarada como componente fulcral da formação especializada de Medicina Interna,4 todos temos a perspetiva que a realidade nacional é bem diferente. A realidade de sobrecarga assistencial para a escassez de recursos humanos impera nos nossos serviços e a disponibilidade de tempo é cada vez mais um bem precioso. No número anterior da Revista Medicina Interna, os orientadores de formação quando desafiados a identificar o que mudariam nos seus serviços para melhorar a formação,5 definem como prioritário o estabelecimento de tempo protegido no horário semanal para estas funções, na qual se inclui a promoção e orientação da realização de projetos de investigação clínica pelos seus internos.

19.

Urge então o estabelecimento de linhas de ação que sejam efetivas para a promoção da Investigação Clínica nos nossos serviços. Linhas que podem passar por fomentar a formação em metodologia da investigação, de forma a que os internistas detenham as ferramentas básicas para a realização de projetos de investigação bem estruturados e com rigor científico; por criar equipas de investigação, preferencialmente multidisciplinares, para que no serviço se possam desenvolver linhas de investigação em áreas de expertise do serviço; por reorganizar os serviços de forma a que os Internistas que o pretendam, principalmente para os internos em formação, possam ter tempo protegido para dentro do seu horário de trabalho semanal implementar projetos de investigação; por criar as condições necessárias para a participação do serviço em Ensaios Clínicos Multicêntricos, que para além da oportunidade para os investigadores do serviço conviverem com as boas práticas em investigação, podem ser uma atrativa oportunidade de financiamento para o próprio serviço. Não fugindo à responsabilidade, cabe também à Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, e à Revista Medicina Interna em particular, um papel de catalisador da Investigação Clínica nos nossos serviços, para o qual esperamos estar à altura. Uma responsabilidade de promoção e motivação dos Internistas portugueses para a Investigação, uma responsabilidade de disponibilização de ferramentas e recursos que possam ser úteis à atividade dos nossos investigadores e, finalmente, aquela para a qual certamente estamos mais vocacionados, a missão de publicar e divulgar os resultados dos projetos de investigação desenvolvidos. A Revista Medicina Interna pretende continuar a representar para os Internistas portugueses uma oportunidade de disseminar os resultados dos seus projetos de investigação, tratando-se de um open access journal já com presença em várias bases de indexação internacional, tornou-se bem real a possibilidade dos trabalhos aqui publicados terem repercussão internacional.

REFERÊNCIAS

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