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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. v.17 n.4 Lisboa ago. 2010

 

Corpo estranho no bulbo duodenal

Foreign body in the duodenal bulb

 

Joana Saiote, Pedro Duarte, Teresa Bentes

Centro Hospitalar Lisboa Central – Serviço de Gastrenterologia

Correspondência

 

Doente do sexo feminino de 57 anos, realizou endoscopia digestiva alta por dor abdominal epigástrica, diurna e nocturna, vómitos alimentares pós-prandiais precoces e tardios. Esta sintomatologia dolorosa estendeu-se, sem alívio, durante seis meses.

O exame mostrou um corpo estranho com forma ovalada, bordos rombos com cerca de 20 mm de maior eixo no bulbo duodenal (Fig. 1). Após remoção com cesto de Dormia, observou-se erosão no apex bulbar. Não existiam outras lesões, nomeadamente na segunda porção do duodeno.

 

Fig. 1. Corpo estranho no bulbo duodenal. Protusão através do piloro.

 

A observação macroscópica após fragmentação, mostrou tratar-se de um caroço de fruto (Fig. 2). A doente referiu a ingestão acidental de caroço de ameixa cerca de 1 mês antes do início das queixas. Mantém-se assintomática desde o procedimento.

 

Fig. 2. Corpo estranho: caroço de ameixa após fragmentação.

 

Dos corpos estranhos ingeridos 90% passam espontaneamente através do trato gastrointestinal, 10 – 20% requerem a remoção endoscópica e 1% exigem cirurgia1.

Na população em geral, os corpos estranhos mais frequentemente encontrados são ingeridos acidentalmente, como sejam ossos, espinhas ou caroços de fruta1,2.

A maioria fica alojada nas constrições fisiológicas do esófago ou em locais de estreitamento anormal (estenoses, anéis ou tumores malignos). O bulbo duodenal é uma localização reconhecida, mas rara de impactação dos corpos estranhos, com incidência em estudos populacionais entre 0,5 e 4,6%3. Geralmente ocorre associada a patologia subjacente como ulcerosa, inflamatória, neoplásica, diverticular, pancreática, entre outras.

O tempo decorrido entre a ingestão e início dos sinto mas é por vezes difícil de estabelecer, visto que na maioria dos casos não há memória da ingestão do corpo estranho.

A intervenção endoscópica é a técnica indicada na remoção de corpos estranhos, sendo a eficácia dependente da forma, dimensões e localização dos mesmos, variando a taxa de sucesso entre 90 e 100%.

Para objectos lisos e redondos, como o caroço mumificado, o cesto de Dormia é uma solução adequada4.

Apresentamos este caso clínico pela sua raridade, no que diz respeito à localização do corpo estranho (bulbo duodenal sem patologia subjacente) e pelo tempo de permanência do corpo estranho no tubo digestivo alto (6 meses) até à sua remoção endoscópica. Na realidade, o caroço terá sido deglutido 1 mês antes do início das queixas, mas a endoscopia só teve lugar seis meses após o início da sintomatologia.

 

 

REFERÊNCIAS

1. Ginsberg GG. Management of ingested foreign objects and food bolus impactions. Gastrointest Endosc 1995;41:33-38.        [ Links ]

2. Katsinelos P, Kountouras J, Paroutoglou G. Endoscopic techniques and management of foreign body ingestion and food bolus impaction in the upper gastrointestinal tract: a retrospective analysis in 139 cases. J Clin Gastroenterol 2006;40:784-789.

3. Li ZS, Sun ZX, Zou DW, et al. Endoscopic management of foreign bodies in the upper-gastrointestinal tract: ex­perience with 1088 cases in China. Gastrointest Endosc 2006;64:485-492.

4. Faigel DO, Stotland BR, Kochman ML, et al. Device choice and experience level in endoscopic foreign object retrie­val: an in vivo study. Gastrointest Endosc 1997;45:490-492.

 

Correspondência:

Joana Saiote

Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar de Lisboa Central – EPE;

Serviço de Gastrenterologia

Avenida Santo António dos Capuchos

1169-050 Lisboa

E-mail: joana.saiote@gmail.com

Tel.: +351 919 067 901

 

Recebido para publicação: 23/02/2010 e Aceite para publicação: 16/05/2010.