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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. vol.19 no.6 Lisboa nov. 2012

https://doi.org/10.1016/j.jpg.2012.04.007 

Pseudolipomatose do tubo digestivo - uma entidade pouco reconhecida

 

Pseudolipomatosis of the digestive tract - a seldom recognized entity

 

Ricardo Veloso, Teresa Pinto-Pais, Carlos Fernandes, Sónia Fernandes, Ana Paula Silva, Ivone Amaral e José Fraga

Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia E.P.E., Vila Nova De Gaia, Portugal

*Autor para correspondência

 

A pseudolipomatose do tubo digestivo é uma entidade benigna, raramente descrita, diagnosticada durante a realização de endoscopia e cuja etiologia permanece por esclarecer. É mais frequentemente descrita no cólon com uma prevalência estimada entre 0,02 e 1,7% dos exames endoscópicos1, havendo pouco mais de 60 casos publicados2. A sua ocorrência no tubo digestivo superior é extremamente rara, existindo apenas um relato de pseudolipomatose gástrica e outro de pseudolipomatose duodenal, apesar de histologicamente não ser um achado tão raro. Esta entidade foi inicialmente descrita por Snover et al. em 19853 e caracteriza-se histologicamente pela presença de vacúolos oticamente vazios no córion, medindo entre 50 a 600 micrómetros, por vezes associado a um infiltrado inflamatório mononuclear. O aspeto endoscópico é característico, mas poucas vezes reconhecido, observando-se placas aderentes à mucosa, brancas ou amareladas, ligeiramente elevadas, por vezes múltiplas e confluentes, medindo entre alguns milímetros até 4 cm2.

Apresentam-se em seguida 3 casos:

Caso 1: mulher de 55 anos de idade, sem antecedentes patológicos de relevo, assintomática. Foi admitida ao nosso serviço para realização de colonoscopia esquerda para rastreio de cancro coloretal. À introdução do colonoscópio, no cólon sigmóide, observaram-se várias placas brancas, algumas das quais confluentes, intercaladas por mucosa endoscopicamente normal (fig. 1a). As biopsias das lesões revelaram mucosa cólica com vacúolos oticamente vazios no córion, observadas em Hematoxilina+Eosina (fig. 1b).

 

 

Caso 2: mulher de 47 anos de idade, sem antecedentes patológicos de relevo, efetuou colonoscopia para polipectomia de pólipo séssil com cerca de 10mm no cólon transverso. À retirada do endoscópio, após polipectomia com ansa diatérmica, observaram-se no cólon descendente, várias placas brancas dispersas de limites mal definidos, não sendo aparentes outras lesões da mucosa (fig. 2a). Essas lesões foram biopsadas observando-se espaços oticamente vazios no córion, com criptas estruturalmente normais (fig. 2b).

 

 

Caso 3: mulher de 66 anos de idade, com antecedentes de fibrilação auricular, hipocoagulada com varfarina. Foi admitida para realização de endoscopia digestiva alta para exérese de pólipo gástrico. No antro gástrico observou-se pólipo séssil com cerca de 8mm. Procedeu-se a injeção submucosa de adrenalina diluída em soro fisiológico (diluição 1/100.000) tendo-se observado uma reação local imediata no local da punção, com alteração da cor da mucosa, assumindo tonalidade esbranquiçada (fig. 3a). Essa alteração endoscópica foi biopsada, observando-se mucosa gástrica com vacúolos oticamente vazios no córion, confirmando pseudolipomatose gástrica (fig. 3a). Assumiu-se pseudolipomatose iatrogénica em provável relação com ar na agulha de injeção. (fig. 3b).

 

 

A pseudolipomatose do tubo digestivo é um achado endoscópico raramente descrito e que habitualmente resolve espontaneamente4. Surge predominantemente pessoas na sexta ou sétima década de vida e é assintomática. A sua etiopatogenia é ainda desconhecida, mas trata-se provavelmente de uma entidade iatrogénica resultante do barotrauma provocado pela penetração de gás na mucosa intestinal durante a realização de exames endoscópicos5. O diagnóstico diferencial faz-se com a pneumatose cística intestinal e o linfangioma cólico. O tratamento é conservador uma vez que na maioria dos casos resolve espontaneamente em 2-3 semanas, sem complicações.

 

Bibliografia

1. Nakasono M, Hirokawa M, Muguruma N, Okamura S, Ito S, Iga A, et al. Colonic pseudolipomatosis, microscopically classified into two groups. J Gastroenterol Hepatol. 2006;21:65-70.         [ Links ]

2. Brevet M, Chatelain D, Bartoli E, Geslin G, Delcenserie R, Braillon A, et al. Colonic pseudolipomatosis: clinical, endoscopical and pathological features in nine cases. Gastroenterol Clin Biol. 2006;30:9-13.         [ Links ]

3. Snover DC, Sandstad J, Hutton S. Mucosal pseudolipomatosis of the colon. Am J Clin Pathol. 1985;84:575-80.         [ Links ]

4. Waring JP, Manne RK, Wadas DD, Sanowski RA. Mucosal pseudolipomatosis: an air pressure-related colonoscopy complication. Gastrointest Endosc. 1989;35:93-4.         [ Links ]

5. Martinez CA, Souza CA, Noronha M, Alfredo C, Spadari A, Bartocci P, et al. Pseudolipomatose do cólon: relato de caso. Ver Bras Coloproct. 2008;28:104-7.         [ Links ]

 

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico: ricveloso@gmail.com (R. Veloso).

 

Recebido a 17 de novembro de 2011; aceite a 19 de dezembro de 2011