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Revista Portuguesa de Pneumologia

versão impressa ISSN 0873-2159

Rev Port Pneumol v.13 n.4 Lisboa jul. 2007

 

Malformação congénita das vias aéreas pulmonares – Experiência de cinco centros

Congenital cystic adenomatoid malformation of the lung – The experience of five medical centres

 

Gustavo Rocha1

Paula Cristina Fernandes2

Elisa Proença3

Conceição Quintas4

Teresa Martins5

Inês Azevedo6

Hercília Guimarães1

 

Resumo

Introdução: O espectro clínico da malformação adenomatóide cística pulmonar congénita (MACPC) varia desde lesões assintomáticas e dificuldade respiratóriano recém-nascido a hidrópsia fetal.

Objectivos: Avaliação da casuística de MACPC, realçando a história natural, tratamento e evolução.

Material e métodos: Análise retrospectiva dos processos clínicos de todos os recém-nascidos com o diagnóstico de MACPC, admitidos nas unidades de cuidados intensivos neonatais de cinco centros terciários do Norte de Portugal, entre 1996 e 2005.

Resultados: Foram identificados 15 recém-nascidos, 9F/6M, peso ao nascimento 3100 g (645-3975), idade gestacional de 38 semanas (24-40). A incidência de MACPC foi de 1:9300 nascimentos. Onze (73%) recém-nascidos apresentaram diagnóstico pré-natal de lesão pulmonar cística pelas 22 semanas (19-30). Esta ocorreu no hemitórax direito em seis (40%) casos e no lado esquerdo em 9 (60%). Foi documentada regressão in utero da lesão em dois casos. Foi necessária intervenção ante-natal (pleurocentese e colocação de derivação toraco-amniótica) num feto com hidrópsia fetal. Ao nascimento, cinco recém-nascidos apresentaram radiografia de tórax dentro da normalidade, sendo a tomografia axial computorizada diagnóstica da lesão. Três (20%) recém-nascidos tornaram-se sintomáticos durante o período neonatal (dificuldade respiratória) e um (7%) após o período neonatal (pneumotórax espontâneo). Dois (13%) faleceram. Seis (40%) doentes foram submetidos a toracotomia e exérese da lesão. O estudo anatomopatológico demonstrou achados definitivos de MACPC (classificação de Stoker: tipo I = 4; tipo II = 1; tipo III = 2). Oito (53%) crianças mantiveram-se assintomáticas e permanecem em vigilância clínica.

Conclusões: A MACPC com diagnóstico pré-natal tem bom prognóstico na ausência de sofrimento fetal; uma radiografia de tórax sem alterações ao nascimento não exclui MACPC; o tratamento da lesão assintomática é controverso; a cirurgia está indicada devido à baixa morbilidade e possibilidade de prevenção de complicações tardias, como a degenerescência maligna.

Palavras-chave: Congénito, malformação adenomatóide cística

 

Abstract

Background: The clinical spectrum of congenital cystic adenomatoid malformation of the lung (CCAML) ranges from asymptomatic lesions to neonatal respiratory distress and hydrops fetalis.

Aim: To review our experience with CCAML, emphasising natural history, management and outcome.

Material and methods: A retrospective chart review of all CCAML-diagnosed neonates admitted to the neonatal intensive care units of five tertiary medical centres in the north of Portugal between 1996 and 2005.

Results: Fifteen neonates with CCAML were identified, 9F/6M, birth weight 3100 g (645-3975), gestational age 38 weeks (24-40). The incidence of CCAML was 1: 9300 births. There were 11 (73%) cases of cystic lung lesion diagnosed during pregnancy, median age 22 weeks (19-30). The lesion was right sided in six (40%) and left sided in nine (60%) cases. In utero spontaneous regression of the lesion was observed in two cases. Antenatal intervention (pleurocentesis and thoracoamniotic shunting) was performed in one foetus with impending hydrops. Normal lung radiographic findings at birth were present in five cases, with an abnormal CT scan. Three (20%) neonates became symptomatic during the neonatal period (respiratory distress) and one (70%) after the neonatal period (spontaneous pneumothorax). Two neonates (13%) died. Six (40%) patients underwent thoracotomy and appropriate excisional surgery. Histological examination showed definitive features of CCAML (Stocker classification: type I = 4; type II = 1; type III = 2). Eight (53%) patients remain asymptomatic and did not undergo surgery.

Conclusions: Antenatally diagnosed CCAML has a good prognosis in the absence of severe foetal distress; normal radiographic findings at birth do not rule out CCAML; treatment of asymptomatic CCAML is controversial; surgery may be advocated because of its low morbidity and the prevention of late complications such as malignancy.

Key-words: Congenital, cystic adenomatoid malformation

 

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1Serviço de Neonatologia, Unidade Autónoma de Gestão da Mulher e da Criança (UAGMC), Hospital de São João (HSJ), Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) / Neonatal Unit, Unidade Autónoma de Gestão da Mulher e da Criança (UAGMC), Hospital de São João (HSJ), Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)

2Serviço de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos, Hospital Geral de Santo António / Neonatal and Paediatric Intensive Care Unit, Hospital Geral de Santo António

3 Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Maternidade Júlio Dinis / Neonatal Intensive Care Unit, Maternidade Júlio Dinis

4 Unidade de Neonatologia, Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Neonatal Unit, Paediatic Unit, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia

5 Unidade de Neonatologia, Serviço de Pediatria, Hospital Pedro Hispano, Matosinhos / Neonatal Unit, Paediatic Unit, Hospital Pedro Hispano, Matosinhos

6 Unidade de Pneumologia, UAGMC, HSJ, FMUP / Pulmonology Unit, UAGMC, HSJ, FMUP

 

Recebido para publicação/received for publication: 06.06.09

Aceite para publicação/accepted for publication: 07.02.05