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Millenium - Journal of Education, Technologies, and Health

versão impressa ISSN 0873-3015versão On-line ISSN 1647-662X

Mill  no.esp5 Viseu jun. 2020  Epub 30-Jun-2020

https://doi.org/10.29352/mill0205e.d.00302 

Editorial especial

A investigação qualitativa: integração nos diversos campos do conhecimento e nos cuidados de saúde

Qualitative research: integration in different fields of knowledge and health care

Investigación cualitativa: integración en los diferentes campos de conocimiento y atención médica

Stella Taquette1 

Cristina Lavareda Baixinho2 

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

2 Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Lisboa, Portugal


A investigação qualitativa cujo nascedouro repousa na grande área de conhecimento das Ciências Sociais vem paulatinamente se consolidando como fundamental em variados campos do saber, especialmente nas Ciências da Saúde, apesar da hegemonia dos métodos quantitativos na maioria deles. Nesta última, pode-se dizer que há uma crise na avaliação epidemiológica na saúde, pois esta não alcança solucionar os problemas que se apresentam e o facto de a epidemiologia persistir como um núcleo hegemônico na saúde colectiva, comporta vários desafios para o enfoque qualitativo. Alguns quantitativistas e positivistas da ciência questionam a cientificidade do conhecimento produzido nas pesquisas qualitativas, pois a veracidade da pesquisa qualitativa, amplamente narrativa, não pode ser apreciada por cálculos numéricos e estatísticos.

Há evidências de que os métodos qualitativos estão sendo cada vez mais indicados para responder questões de relevância que envolvem seres humanos em áreas de conhecimento diversas como Educação, Administração, Turismo, Engenharias, Psicologia, Medicina, Enfermagem, Odontologia, Saúde Pública, entre outras. O método qualitativo, portanto, é de fundamental importância na produção de conhecimento científico e frequentemente desempenha papel integrador dos múltiplos olhares que se tem para determinado objeto de investigação.

A diversidade de contextos implica que as necessidades e oportunidades para a produção de novo conhecimento não são iguais, o que traz implícito que é essencial reorientar e reinterpretar a interelação entre domínios do paradigma científico, de modo a possibilitar a evolução do conhecimento.

No campo da saúde, as alterações demográficas, as doenças crónicas e alterações de funcionalidade associadas ao aumento da esperança média de vida e ao desenvolvimento dos cuidados de saúde originaram necessidades de saúde específicas e com elas novos desafios para a pesquisa em saúde, com a emergência de abordagens metodológicas complexas para a sua compreensão, para a produção de novo conhecimento e sobretudo para colocar a evidência nos contextos da práxis.

O paradigma qualitativo e interpretativo é diversificado, anti-positivista, recorre à perspectiva dos indivíduos, privilegia significados e intenção de ação, possibilitando a compreensão de uma realidade que é dinâmica e associada à história específica de cada indivíduo e dos contextos.

Vamos um pouco mais além, neste editorial, ao considerar que esta abordagem conceptual possibilita uma compreensão profunda dos processos de saúde-doença, da pessoa que os experiencia, do seu ambiente e dos cuidados que precisa e quer receber, e da relação entre os metaparadigmas, originando novos padrões de conhecimento, para além do empírico.

A valorização do contexto adequa a pesquisa à realidade específica onde é produzido e promove a sua transferência para as práticas em saúde. A pesquisa qualitativa procura conhecer os sistemas de crenças, de valores, de comunicação e de relação, bem como compreender os significados e as intenções das ações humanas, de forma a integrar a complexidade social e cultural e permitir a evolução enquanto ciência. Este tipo de pesquisa permite a evolução de todas as ciências pelo olhar da interdisciplinaridade.

A questão central do rigor da investigação e da valorização e introdução dos resultados obtidos por métodos e técnicas não quantitativas não é um desaire de um grupo ou das preferências dos pesquisadores, é acima de tudo a chave para a verdadeira humanização e integração dos cuidados, evitando a desfragmentação dos mesmos.

O trabalho colaborativo e em proximidade entre a academia, os profissionais e os clientes dos cuidados de saúde, inseridos nos contextos específicos da prestação de cuidados, mediado pelo debate das experiências nas diferentes realidades, permite identificar problemas e dificuldades, mas também estratégias e soluções para uma resposta integrada e integradora aos novos desafios.

Por fim, destacamos que não é nosso objetivo contribuir para a dicotomização da investigação entre dois polos: quali e quanti, ao contrário, defendemos uma ciência com integração de métodos e técnicas diferentes para a compreensão da realidade. Ademais, não desperdiçamos a oportunidade de agitar pensamentos sobre os riscos de se valorizar um paradigma em detrimento de outro, dado que a realidade é dinâmica e associada à história específica de cada indivíduo e dos contextos.

Recebido: 08 de Maio de 2020; Aceito: 26 de Maio de 2020

Autor Correspondente Cristina Lavareda Baixinho Avenida Professor Egas Moniz 1600-190 Lisboa tella.taquette@gmail.com

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