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Millenium - Journal of Education, Technologies, and Health

versão impressa ISSN 0873-3015versão On-line ISSN 1647-662X

Mill  no.esp5 Viseu jun. 2020  Epub 30-Jun-2020

https://doi.org/10.29352/mill0205e.08.00306 

Educação e desenvolvimento social

Experiências de educação para a saúde com consumidores de substâncias psicoativas

Health education experiences with psychoactive substance users

Experiencias de educación sanitaria con usuarios de sustancias psicoactivas

Ilda Fernandes1 

Carlon Washington Pinheiro2 

Sara Câmara Tavares3 

Karla Maria Rolim4 

Firmina Albuquerque5 

Luisa Andrade1 

Rejane Milliones6 

1 Escola Superior de Enfermagem do Porto - ESEP, Porto, Portugal.

2 Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), Fortaleza, Brazil

3 Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas, Fortaleza, Brazil

4 Universidade de Fortaleza-UNIFOR, Fortaleza, Brazil

5 Universidade Federal do Amazonas-UFAM/ISB, Coari, Brazil

6 Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN, Natal, Brazil


Resumo

Introdução:

A educação popular em saúde consiste numa práxis político-pedagógica que visa a construção de processos educativos não convencionais através da valorização das experiências e do conhecimento da comunidade.

Objetivos:

Descrever a experiência de condução de um grupo de educação para a saúde, tendo como alvo os consumidores com uso problemático de drogas.

Métodos:

Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, realizado num Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas, localizado na regional II do município de Fortaleza, no estado do Ceará-Brazil. O período de realização das atividades ocorreu durante o mês de março de 2019. Participaram no estudo oito pessoas, selecionadas por conveniência. Os procedimentos de educação/investigação grupal integraram quatro (4) momentos: o primeiro de apresentação, o segundo momento de problematização sobre o tema escolhido. O terceiro momento designado de chuva de ideias, promove novas reflexões, seja por meio dos mediadores, seja dos participantes. O quarto momento é o de avaliação da atividade proposta e a escolha do próximo tema.

Resultados:

O temas abordados contemplaram: conceito de saúde, utilizando as representações por meio de pinturas, um jogo de mitos sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’S) e a comemoração do dia internacional da mulher, por meio da exibição de um documentário. As metodologias ativas proporcionam um maior grau de participação e autonomia, favorecendo a aprendizagem.

Conclusões:

A educação para a saúde, ao adotar metodologias ativas e efectivas, promove o desenvolvimento cognitivo, psicossocial e interpessoal e a modificação de atitudes e comportamentos, que se querem adequadas à promoção e ou manutenção da saúde.

Palavras chave: educação para a saúde; saúde mental; enfermagem

Abstract

Introduction:

Popular health education consists of a political-pedagogical praxis that aims at the construction of unconventional educational processes through the valorization of the experiences and knowledge of the community.

Objectives:

To describe the experience of conducting a health education group, targeting consumers with problematic drug use.

Methods:

Descriptive study, with a qualitative approach, of the experience report type, carried out in a Psychosocial Care Center - Alcohol and Drugs, located in regional II of the city of Fortaleza, in the state of Ceará-Brazil. The period of performance of the activities took place during the month of March 2019. Eight people participated in the study, selected for convenience. The group education / investigation procedures included four (4) moments: the first presentation, the second moment of problematization on the chosen theme. The third moment, called brainstorming, promotes new reflections, both through mediators and participants. The fourth step is to evaluate the proposed activity and choose the next topic.

Results:

The topics covered included: concept of health, using representations through paintings, a set of myths about Sexually Transmitted Infections (STIs) and the celebration of International Women’s Day, through the exhibition of a documentary. Active methodologies provide a greater degree of participation and autonomy, favoring learning.

Conclusions:

Health education, by adopting active and effective methodologies, promotes cognitive, psychosocial and interpersonal development and the modification of attitudes and behaviors, which are appropriate to promote and/or maintain health.

Keywords: health education; mental health; nursing

Resumen

Introducción:

La educación popular en salud consiste en una praxis político-pedagógica que apunta a la construcción de procesos educativos no convencionales a través de la valorización de las experiencias y el conocimiento de la comunidad.

Objetivos:

Describir la experiencia de dirigir un grupo de educación en salud, dirigido a consumidores con uso problemático de drogas.

Métodos:

Estudio descriptivo, con enfoque cualitativo, del tipo de informe de experiencia, realizado en un Centro de Atención Psicosocial - Alcohol y Drogas, ubicado en la regional II de la ciudad de Fortaleza, en el estado de Ceará-Brasil. El período de ejecución de las actividades tuvo lugar durante el mes de marzo de 2019. Ocho personas participaron en el estudio, seleccionadas por conveniencia. Los procedimientos de educación / investigación grupal incluyeron cuatro (4) momentos: la primera presentación, el segundo momento de problematización sobre el tema elegido. El tercer momento, llamado lluvia de ideas, promueve nuevas reflexiones, tanto a través de mediadores como de participantes. El cuarto paso es evaluar la actividad propuesta y elegir el siguiente tema.

Resultados:

Los temas cubiertos incluyeron: concepto de salud, uso de representaciones a través de pinturas, un conjunto de mitos sobre las infecciones de transmisión sexual (ITS) y la celebración del Día Internacional de la Mujer, a través de la exhibición de un documental. Las metodologías activas proporcionan un mayor grado de participación y autonomía, favoreciendo el aprendizaje.

Conclusiones:

La educación para la salud, al adoptar metodologías activas y efectivas, promueve el desarrollo cognitivo, psicosocial e interpersonal y la modificación de actitudes y comportamientos, que son apropiados para promover y/o mantener la salud.

Palabras Clave: educación en salud; salud mental; enfermería

Introdução

A educação popular em saúde consiste numa práxis político-pedagógica que visa a construção de processos educativos não convencionais através da valorização das experiências e do conhecimento da comunidade. Esta capacitação para a autonomia dos sujeitos, promove a aproximação entre o saber popular e o saber técnico-cientifico, a formação da consciência crítica, a cidadania participativa, o respeito das diversas formas de vida e por essa via a superação das desigualdades sociais e de todas as formas de estigma, violência e opressão (Brasil, 2014; Freire, 2003). Nesse sentido, tal proposta está em consonância com os atuais paradigmas de cuidados em saúde mental que visam promover o empoderamento e protagonismo dos sujeitos através da valorização das subjetividades e das particularidades dos mesmos (Brasil, 2015) Entretanto, algumas barreiras como hegemonia do conhecimento técnico-científico, as relações de poder entre profissionais e a população e a desvalorização do saber popular dificultam consolidação do protagonismo e da autonomia dos usuários e seus familiares nos serviços de saúde. Tais questões apontam para a necessidade de se repensar a formação dos profissionais da saúde e as práticas educativas desenvolvidas nas instituições de saúde. A fim de superar estas dificuldades deve ser acrescentada aos projetos políticos-pedagógicos, uma perspectiva integradora e holística do ser humano e do processo educativo, pois, o mesmo deve ser visto como um caminho para a emancipação e a humanização dos sujeitos e dos povos. Deve ainda considerar-se a capacidade da população construir histórias e transformar a realidade, partindo do princípio que as trocas e o diálogo são fundamentais nos processos de promoção e educação em saúde (Pulga, 2013). Sendo assim, torna-se importante a promoção de espaços de educação popular com foco na promoção da alfabetização funcional e da lieteracia para a saúde (Saboga-Nunes, Freitas, & Cunha, 2016), visto que, essa estratégia viabiliza a participação social, aproxima os profissionais e os utentes e promove a construção de saberes em diferentes vertentes do conhecimento. Neste âmbito, é objetivo deste estudo descrever a experiência de condução de um grupo de educação para a saúde, cujo alvo da intervenção formativa são os consumidores com uso problemático de drogas.

1. Métodos

Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, realizado num Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas, localizado na regional II do município de Fortaleza, no estado do Ceará-Brazil. O período de realização das atividades ocorreu durante o mês de março de 2019.

A intervenção grupal foi estruturada e os procedimentos integram quatro (4) momentos: - o primeiro momento é de apresentação; - o segundo de problematização sobre o tema escolhido; - o terceiro designado de chuva de ideias, promove novas reflexões, seja por meio dos mediadores, seja dos participantes; - o quarto e último momento, é o de avaliação da atividade proposta e a escolha do próximo tema.

1.1 Participantes

Participaram no estudo oito (8) pessoas, selecionadas por conveniência. Como critérios de inclusão dos participantes, consideraram-se como eligíveis todos os indivíduos que estavam em acompanhamento regular no CAPS, isto é, todos aqueles que vinham sendo acompanhados individualmente em consultas médicas, ou de enfermagem ou de psicologia, sendo excluídos aqueles que, no ato da sessão de formação, apresentassem sinais ou sintomas clínicos sugestivos de intoxicação em decorrência do uso de substâncias psicoativas ou que se recusaram a participar da atividade.

1.2 Instrumento de recolha de dados

A recolha de dados foi realizada por meio da realização de um grupo focal, onde no decorrer dos 4 momentos, a saber: apresentação, problematização, chuva de ideias e avaliação, os participantes puderam expressar suas percepções. A partir do conhecimento prévio os profissionais e outros participantes contribuíam com novas percepções e ampliavam os sentidos atribuídos, tornando essa construção mais comunitária e funcional.

Durante a intervenção formativa, os investigadores foram tomando notas para posterior análise.

1.3 Procedimentos formais, éticos e analíticos

Foram respeitadas às diretrizes e referências descritas na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, do Brasil, a qual prescreve as diretrizes e normas relacionadas com a investigação em seres humanos.

2. Resultados

Os temas abordados contemplaram: o conceito de saúde, utilizando as representações por meio de pinturas, um jogo de mitos e verdades sobre infecções sexualmente transmissíveis e a comemoração do dia internacional da mulher, por meio da exibição de um documentário.

Percebeu-se que os pacientes estão informados, no entanto, manifestam muitas dúvidas. Por se tratar de temas com os quais estão mais familiarizados, eles envolveram-se, colaboraram e tiveram grande interesse em participar no jogo de mitos e verdades com perguntas e respostas. Contribuíram ainda com histórias de conhecidos e familiares acometidos por alguma das doenças. Foram extremamente participativos, interessados e participantes na execução, sendo co-construtores do êxito de todas as atividades. O uso da metodologia ativa permitiu a reflexão, o pensamento crítico, a troca de ideias, de conhecimentos, de experiências e a expressão de sentimentos e inquietações.

Compreendendo a importância do cuidado integral à pessoa em sofrimento psíquico e considerando os diversos fatores que influenciam a qualidade de vida, a realização de encontros de educação para a saúde, mostrou ser uma ferramenta muito bem aceite pelos participantes. As metodologias ativas proporcionaram uma maior participação e autonomia dos participantes, porquanto através da partilha “horizontal do saber”, tornam o utente protagonista do seu tratamento.

3. Discussão

Os resultados decorrentes da implementação das acções educativas, vão de encontro à politica nacional de Educação Popular para a Saúde (EPS), do Sistema Único de Saúde do Brasil, pois, a mesma prevê que a problematização deve ser o elemento central das práticas educativas em saúde (Brasil, 2012).

A educação popular para a saúde, tendo como ênfase o sujeito práxico, que visualiza na ação de problematizar o caminho para a transformação e possibilidade de transformar o contexto vivido, produzirá conhecimento e cultura por intermédio das vivências (Freire, 2008). Além disso, a educação popular deve ser compreendida como um processo libertador e emancipatório, uma prática engajada no compromisso com a transformação da sociedade e com a construção de sujeitos individuais e coletivos, centrada na reflexividade, dispensando o autoritarismo, a persuasão e a imposição (Pulga, 2013). Ademais, as ações de educação popular para a saúde, podem ser uma estratégia importante para a qualificação das práticas nos serviços de saúde. Dado que a sua implementação induz a uma maior proximidade entre o saber dos profissionais e dos utilizadores, a educação popular para a saúde, assume-se como facilitadora da comunicação, da interatividade e da empatia, bem como do cuidado e da co-responsabilização entre ambos. (Silva, Matos, & França, 2017).

Conclusões

A educação popular para a saúde, ao adotar metodologias ativas, facilita o desenvolvimento cognitivo, psicossocial e interpessoal, pois, favorece uma discussão com mais efetividade devido à escolha de uma metodologia participativa. Sendo assim, que a educação popular para a saúde influencia, positivamente, a qualidade de vida e o bem-estar dos utilizadores. Constitui-se ainda como um importante espaço de aproximação entre o saber popular e o saber técnico-cientifico. Além disso, configura-se como uma proposta de interação entre os profissionais e os utentes. Para cumprir tais pressupostos e produzir ganhos em educação, a educação para a saúde com foco na cultura popular, necessita de maior aprofundamento na formação dos profissionais de saúde, carece também de mais estudos científicos e de maior valorização e visibilidade nos serviços de saúde.

Referências bibliográficas

Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde. (2012).Política nacional de educação popular em saúde. Brasília: Ministério da Saúde. [ Links ]

Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. (2014). II Caderno de educação popular em saúde. Brasília: Ministério da Saúde . [ Links ]

Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. (2015). Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde . [ Links ]

Freire, P. (2003). Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa(28ª ed.). São Paulo: Paz e Terra. [ Links ]

Freire, P. (2008). Educação e mudança (31ª ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra. [ Links ]

Pulga, V. L. (2013). Contribuições do movimento de mulheres camponesas para a formação em saúde. Traballho, Educação e Saúde, 11(3), 573-590. [ Links ]

Saboga-Nunes, L., Freitas, O. S., & Cunha, M. (2016). Renasceres®: Um modelo para a construção da cidadania em saúde através da literacia para a saúde. Servir, 59(1), 7-15 [ Links ]

Silva, K., Matos, J., & França, B. (2017). A construção da educação permanente no processo de trabalho em saúde no Estado de Minas Gerais, Brasil. Escola Anna Nery, 21(4), 1-8. [ Links ]

Recebido: 16 de Junho de 2019; Aceito: 27 de Fevereiro de 2020

Autor Correspondente Firmina Albuquerque Universidade Federal do Amazonas-UFAM Estrada Coari/Mamiá, 305- Bairro: Espírito Santo CEP - 69.460-000- Coari-AM, Brazil hermelindaanjo@hotmail.com

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