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Millenium - Journal of Education, Technologies, and Health

versão impressa ISSN 0873-3015versão On-line ISSN 1647-662X

Mill  no.22 Viseu dez. 2023  Epub 31-Dez-2023

https://doi.org/10.29352/mill0221.31273 

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O futuro do trabalho - que desafios

João Dias da Silva1 

1 Secretário-Geral da FNE - Federação Nacional da Educação, Porto, Portugal


Como não podia deixar de ser, as transformações no mundo do trabalho estão associadas à evolução das técnicas e das tecnologias que agora ocorrem a uma velocidade bem superior àquela em que no passado essas transformações decorreram.

Que o mundo se transforma e que o mercado de trabalho também se transforma, todos sabemos, mas o que temos é de garantir que essas mudanças se façam num quadro de regras e valores de respeito pelas pessoas e pela dignidade do trabalho, isto é, dentro do quadro de princípios que associamos ao conceito de trabalho digno.

Deste modo, o que aqui se quer dizer é que estamos confrontados com uma realidade de mudança permanente, porque, como o Poeta já nos lembrava, os tempos são feitos sempre de mudanças, tomando sempre novas qualidades.

Essas mudanças integram novos saberes e novas competências, o que determina novas responsabilidades para a sociedade em termos de definição de novos enquadramentos que viabilizem a adaptação permanente que todos temos de fazer, no quadro daquilo que se designa por aprendizagem ao longo da vida.

Finalmente, importa sublinhar que estas mudanças, para serem ricas e enriquecedoras, requerem também ambientes de diálogo e de participação.

É, pois, um adquirido que estamos hoje confrontados com duas mudanças ou transições estratégicas e estruturantes do funcionamento da sociedade e do mundo do trabalho, a transição ambiental e a transição digital. Não vale a pena ignorá-las ou contorná-las, porque ambas avançam inexoravelmente e nós só não temos sabido encontrar o ritmo para, percebendo as suas consequências, agirmos em termos de as aproveitarmos ou com elas convivermos, promovendo o bem-estar das pessoas, com mais desenvolvimento e mais qualidade de vida. Temos estado sempre um passo atrás e, apesar dos alertas da mais diversa índole, somos sempre mais lentos e, portanto, sempre mais sujeitos às suas consequências mais negativas. São múltiplos os exemplos de apelos e orientações que visam a alteração de comportamentos e práticas, de que é paradigma a ONU, através da definição que fez dos Objetivos para um Desenvolvimento Sustentável.

Em termos de mercado de trabalho, todos têm sublinhado o impacto destas mudanças em termos de empregos que se extinguem, e sobretudo da falta de adaptabilidade dos trabalhadores cujos postos de trabalho se extinguem para responderem aos novos empregos que estão em ascensão, muitos dos quais nem sequer adivinhamos ainda.

Um mundo em mudança climática imparável exige das empresas adaptações do mais diverso tipo, quer ao nível do que fazem e produzem, quer das condições em que se organizam, de forma a responderem aos desafios da eficiência energética. As próprias necessidades da sociedade mudam, requerendo novos produtos ou produtos adaptados que respondam a estas preocupações ambientais. Estamos, assim, confrontados com a necessidade de pormos à disposição das pessoas novos produtos, novas máquinas, novas formas de intervenção aos mais variados níveis e que respondam a estas novas exigências.

No quadro destas mudanças, não podemos ignorar as alterações demográficas que têm esvaziado de pessoas as zonas rurais e o interior, canalizando-as para o litoral e agigantando as grandes cidades, sem esquecer o envelhecimento geral da população. Estas realidades têm de trazer consigo medidas que permitam gerir com novos produtos essas cidades, promover a atratividade das zonas rurais para diminuir a carga das cidades, e responder a uma nova dimensão da quantidade de pessoas séniores, uma vez que estar retirado do mundo do trabalho não significa estar retirado da vida, sendo, pois, aqui necessários também novos produtos e novas atividades.

Acresce aqui a outra mudança que se está a produzir a passo acelerado, a transição digital, onde a Inteligência Artificial assume hoje contornos que são novos todos os dias e que assustam muita gente. Veja-se o que o governo italiano tentou fazer procurando impedir o acesso ao ChatGPt. O digital tem de ser assumido como uma ferramenta indispensável aos mais diversos níveis e em todos os setores. O que de certeza não vai acontecer é que o digital substitua as pessoas no trabalho. O que tem de acontecer é que as pessoas têm de continuar a trabalhar, mas usando o digital como ferramenta.

Chegados aqui, temos como consequência óbvia que é imprescindível adaptarmos as nossas empresas e os nossos sistemas de educação e formação a uma lógica de aprendizagem ao longo da vida, em clima de interação permanente. As nossas instituições de educação e formação, de todos os níveis, têm de se reorganizar em termos de ofertas formativas, dos seus conteúdos e dos seus públicos. Aqui também é imprescindível uma capacidade de adaptação rápida, consistente, visível e atrativa. Mas as empresas têm também de assumir um crescimento efetivo de absorção de diplomados dos nossos diferentes setores de formação, de acordo com os seus alvos de mercado.

Finalmente, é fundamental que todas estas mudanças se operem num quadro de regras e de valores que garantam salários justos, não discriminação de género, compatibilidade do tempo de trabalho com a vida familiar. Ora, para que isto aconteça, é essencial promover o diálogo social, garantindo adequados níveis de participação dos trabalhadores na definição das políticas sociais das empresas.

Torna-se assim necessário trabalhar no sentido de preparar respostas adequadas aos desafios do futuro que o trabalho vai corporizar, na sua marcha inexorável de evolução, mas preservando sempre as pessoas e a sua dignidade.

Recebido: 14 de Maio de 2023; Aceito: 14 de Maio de 2023; Publicado: 14 de Maio de 2023

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