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Sociologia, Problemas e Práticas

versão impressa ISSN 0873-6529

Sociologia, Problemas e Práticas  n.56 Oeiras jan. 2008

 

EDITORIAL

A uma alargada circulação internacional da Sociologia, Problemas e Práticas tem correspondido um cada vez maior número de propostas de artigos de autores de diversos países, interessados em publicar os seus trabalhos nesta revista. É possível, assim, que o primeiro número de 2008 seja constituído integralmente por artigos de autores com larga reputação científica, de diferentes nacionalidades e pontos do globo, nalguns casos combinando co-autorias transcontinentais.

O presente volume abre, pois, com um artigo de Bernard Lahire, que questiona o tradicional quadro de pensamento da sociologia da cultura acerca das práticas e preferências culturais. No seu trabalho Lahire valoriza a importância do estudo das variações intra-individuais dos comportamentos humanos, propondo adoptar uma outra perspectiva para explicação dos fenómenos associados a tais variações, que designa por “sociologia da pluralidade disposicional e contextual”.

Catherine Wenden examina os processos de integração dos imigrantes, a partir do estudo que realiza sobre a história dos subúrbios das metrópoles em França. A autora desenvolve a sua análise através de um percurso cronológico e reflecte sobre as políticas públicas mobilizadas, as quais — na sua perspectiva — mais não têm sido do que medidas de curto prazo, muitas vezes concretizadas em nome do respeito pela diferença cultural, visando sobretudo clientelas eleitorais e não tanto a superação das fortes desigualdades sociais, dos problemas sociais de desemprego, discriminação, falta de oportunidades de mobilidade social e residencial que estas populações enfrentam e relativamente aos quais recorrentemente reagem.

O terceiro artigo, de Lise Isaksen, Uma Devi e Arlie Hochschild, centra-se no trabalho do cuidar à escala global, que entendem em crise. Protagonizado por mulheres de países com economias pobres deslocadas para os países mais abastados onde escasseia a oferta de prestadores de serviços interpessoais, o trabalho de prestação de cuidados estará a gerar um processo de care drain, com grande impacto nas famílias e nos filhos destas trabalhadoras globais, que permanecem nos respectivos países de origem.

Karina Kuschnir, por sua vez, fala-nos da experiência da maternidade e da amamentação e dos processos de construção identitária a ela inerentes, a partir da sua pesquisa junto de mulheres da Zona Sul do Rio de Janeiro. No seu estilo elegante de escrita e numa reflexão analítica em que sobressai o recorte biográfico, o artigo procura evidenciar a complexidade de que tal experiência se reveste, o modo como contribui para a transformação da identidade da mulher-mãe, e como pode estar associada à redefinição das relações familiares, tanto a nível da díade conjugal como dos laços com as outras mulheres e demais elementos da família.

Beth Perry e Tim May estudaram o papel da ciência, da investigação e do ensino universitário no quadro actual da globalização e da economia do conhecimento. Os autores discutem, numa perspectiva comparada, as lógicas subjacentes à definição de políticas públicas nesta área, analisando de que forma  se entrecruzam posicionamentos nacionais, regionais e globais e as resultantes das diversas orientações, com maior ou menor atenção aos contextos, que impregnam tais estratégias de governança.

Por fim, José Francisco Durán Vasquez apresenta uma análise das transformações ocorridas no valor moral do trabalho. Apresentando-nos, num itinerário analítico, a génese e transformação dos significados morais do trabalho, Durán Vasquez defende ser necessário compreender a nova ética do trabalho no quadro do processo histórico de mudança social e das experiências laborais de instabilidade e precariedade geradoras de desintegração e desmobilização colectivas.

Esperemos que os leitores encontrem, nesta diversidade de conteúdos, inspiração para novos caminhos de reflexão e pesquisa.

Maria das Dores Guerreiro

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